quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

A MMM saúda as hermanas argentinas pela vitória da Lei de Legalização do Aborto.





 Maria Fernanda Marcelino, da executiva da Marcha Mundial das Mulheres, coloca em palavras tudo aquilo que hoje estamos sentindo: alegria e esperança!

Não há melhor forma de encerrar 2020 do que comemorando a vitória da legalização do aborto na Argentina.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Legalização do Aborto: O senado argentino aprovou o projeto de lei.


É uma notícia emocionante para todas as mulheres do mundo, e nos dá esperanças para nossa luta aqui.
As argentinas lutaram por anos incansavelmente para fazer com que o tema do aborto deixasse de ser um tabu, e assim ganharam corações e mentes para esse tema tão importante. Mostram, assim, que é possível sim fazer luta de massas pela legalização do aborto.
Viva a luta pela legalização do aborto! Viva a autonomia das mulheres!
Viva a luta feminista!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Nota de Repúdio ao Dep. Estadual Fernando Cury pelo assédio contra a Deputada Isa Penna

Nós, da MMM vimos a público expressar nosso repúdio ao Dep. Estadual Fernando Cury pelo assédio contra a Deputada Isa Penna

A violência contra a mulher está em todos os lugares onde estão homens e mulheres, é um componente estrutural do Patriarcado. A violência é um mecanismo de constrangimento das mulheres nos espaços públicos, é como se nós não tivéssemos o direito de estar nestes lugares.
Não esqueçamos que a 1ª vez que muitas de nós ouvimos falar em Bolsonaro foi quando ele, em uma discussão com a Dep. Maria do Rosário, disse que não a estupraria porque ela não merecia. Ele se colocou como quem é capaz de estuprar. E mesmo assim, apenas foi condenado por danos morais, tendo que pagar 10 mil reais à deputada. Isto é nada, ele deveria ter sido cassado. Quantos homens foram encorajados a praticar este crime, ouvindo tal frase de uma pessoa pública no parlamento?
Infelizmente nas eleições vimos mais uma vez e com maior intensidade a violência contra as mulheres, sejam elas cis, trans ou travestis, também vimos o racismo e as notícias falsas como um componente a mais, principalmente da extrema direita para constranger, humilhar e desestimular nossas participações nestes espaços.
A “mão boba” que tocou o corpo de Isa Penna é a mesma que toca os corpos das mulheres nos ônibus, trens e metrôs. Em São Paulo, segundo a pesquisa da Rede Nossa São Paulo, 63% das paulistanas já sofreram algum tipo de assédio em locais públicos, incluindo locais de trabalho.
Exigimos que o governo do Estado de SP e Assembleia Legislativa aprovem recursos para políticas preventivas e educativas de combate a violência contra a mulher. Indicamos a cassação do deputado porque é inadmissível que alguém que se elegeu com recursos públicos, um deputado que deveria neste lugar legislar para melhorar a sociedade, reproduza violências contra contra as mulheres.
À Isa Penna toda a nossa solidariedade e apoio.
Fora Bolsonaro, Doria e Fernando Cury!
“Resistimos para Viver, Marchamos para transformar!”
Marcha Mundial das Mulheres!


 

Solidariedade e apoio às companheiras do MAB


 O Movimento dos Atingidos por Barragens -MAB organiza a “Jornada de Lutas: 2 anos do crime da Vale em Brumadinho – Justiça só com luta e organização“. Um momento de apresentação da luta permanente da população atingida frente à mineradora Vale e o que a empresa representa, as consequências na vida concreta da população e defesa dos direitos humanos. O crime ocorrido em 25 de janeiro de 2019 causou a morte de 272 pessoas e afetou toda a bacia do Rio Paraopeba.

As atividades da Jornada, devido a pandemia do coronavírus, ocorrem por meio de atos virtuais e algumas atividades presenciais, que não gerem aglomeração.
Nós da Marcha Mundial das Mulheres nos juntamos em apoio e solidariedade às companheiras/os atingidas/os pelo crime da Vale em Brumadinho, e tantos outros crimes ambientais e sociais cometidos pelas transnacionais!
Acesse o site www.mab.org.br e saiba mais.
@atingidosporbarragens

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Nota Denúncia: Contra o decreto de nº 10.570 de Bolsonaro

 


Numa sucessão de decretos e medidas que desmontam políticas que estruturam nosso sistema público e dificultam a participação popular, o governo de Jair Messias Bolsonaro acaba de sair com mais uma de suas investidas que atacam diretamente as mulheres.
O Decreto de nº 10.570, publicado dia 9 de dezembro de 2020 cria a “Estratégia Nacional de Fortalecimento dos Vínculos Familiares”, que além de não deixar nítido suas ações especificamente e nem o que o governo considera como família, institui um “Comitê Interministerial da Estratégia Nacional de Fortalecimento dos Vínculos Familiares”.
Tal Comitê será presidido pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos na figura de Damares Alves, além de representantes da Casa Civil da Presidência da República, Ministério da Educação, Ministério da Cidadania e Ministério da Saúde.
Nós sabemos qual formato de família que Bolsonaro e de todos que estão em seu governo, especialmente a Ministra Damares, defendem: branca, heteronormativa e cristã.
O Decreto fere a possibilidade de autonomia e emancipação das mulheres na medida que reforça esse modelo que exclui a maioria dos lares brasileiros, chefiados por mulheres, majoritariamente negros, com filhos ou ainda por casais homoafetivos ou ainda as comunidades indígenas. Ao instituir essa Estratégia e a criação de um comitê, o governo quer ao mesmo tempo impor um modelo de família, perseguir e criminalizar casais LGBTs, restringir programas públicos de saúde.
Nós não nos enganamos com as palavras sobre reconhecimento do valor social do cuidado que, na perspectiva familista e conservadora que rege o projeto de Bolsonaro, significa o reforço da divisão sexual do trabalho, empurra as mulheres ao trabalho doméstico e de cuidados feito gratuitamente, exaltando as mulheres que abdicam da vida para serem donas de casa e relegando à nós apenas esse lugar de servidão.
Nessa ética reacionária do cuidado, o Estado e os homens continuam sem assumir responsabilidades efetivas com a sustentabilidade da vida.
Insistimos que não basta “reconhecer” o cuidado, é preciso reorganizar as dinâmicas e responsabilidades com o trabalho doméstico e de cuidado, tendo como horizonte a construção de igualdade.
Se Bolsonaro e Damares estivessem de fato preocupados com as famílias brasileiras, este governo não teria levado à cabo a reforma trabalhista e da previdência que empurra para a miséria milhares de pessoas, idosas em especial, não teria cortado pela metade o auxílio emergencial e estenderia até que a pandemia parasse de ceifar vidas. Teria um plano imediato de vacinação de toda a população brasileira e no mínimo teria respeito às mais de 180 mil famílias que perderam parentes e pessoas queridas para a covid-19.
Despatriarcalizar o estado!
Fora Bolsonaro!
Resistimos para viver, marchando para transformar!
✊🏾 Marcha Mundial das Mulheres

domingo, 13 de dezembro de 2020

Assédio sexual no TRF4: A luta é por todas nós!

 

Assédio sexual no TRF4: A luta é por todas nós!

As redes sociais vêm repercutindo mais um violento caso de assédio sexual no meio artístico. Graças à coragem da atriz Dani Calabreza, que denunciou os abusos, vieram a público os casos de assédio sexual ou moral praticados pelo ator global Marcius Melhem contra mais de 12 mulheres colegas de trabalho. Depois de omissões por parte da alta direção da Globo, na noite de 8 de dezembro o Jornal Nacional deu uma nota protocolar reconhecendo a existência do episódio e as providências que a emissora estava tomando em relação ao caso que, diga-se, não foi o primeiro. O caso teve repercussão nacional porque aconteceu no interior da maior empresa de comunicação de massa e do entretenimento do Brasil e mostra o quanto o assédio sexual é uma prática machista entranhada nos mais diversos ambientes profissionais. Seja no lugar supostamente mais glamouroso, seja no ambiente acadêmico, nas organizações partidárias, seja nas esferas do poder legislativo, executivo e judiciário, seja em ambientes domésticos, onde o trabalho doméstico remunerado se realiza. O mundo do trabalho é um ambiente de risco para a integridade moral, física e psíquica das mulheres. O caso da Globo foi relatado em detalhes pela Revista Piauí (leia aqui).

Casos como o assédio sexual ocorrido no interior da Rede Globo e a conduta machista e misógina de desrespeito às mulheres com reiteradas tentativas de minimizar a gravidade desse comportamento são graves. Mas, infelizmente, são comuns. Em geral, esses agressores aproveitam-se da sua condição de chefe para impor-se sexualmente e moralmente. Em caso de reação ou negativas, costumam humilhar, ameaçar, desprezar, desqualificar a vítima, assim como a denúncia. Ou ainda,  é comum comportamentos machistas em forma de “piadinhas” ou “brincadeirinhas” de que a condição física das vítimas  “justificariam” os ataques. Assim como aconteceu com Dani Calabreza, que foi tratada como “culpada” por “provocar” Milhem ao se referir a ela como um objeto “irresistível”, tornando-a uma “presa” diante do “predador”. Essa visão misógina e patriarcal também está presente na cultura do estupro que faz do Brasil um lugar onde a cada 8 minutos uma pessoa do sexo feminino, principalmente meninas, sejam as principais vítimas desse crime, praticado principalmente por pessoas próximas ou da própria família, conforme dados do Anuário de Segurança Pública (leia matéria aqui).

Além da tática comum de agressores e assediadores de minimizar a violência, ridicularizar a dor, tachar as mulheres de “loucas” ou de que “estão vendo coisas”, é estarrecedor perceber como são comuns os casos de silenciamento e tentativas de abafar as denúncias por parte das instituições e organizações empregadoras. Sejam elas públicas ou privadas. Em vez de adotar práticas de respeito e incentivo à equidade de gênero e raça, essas instituições costumam negligenciar as investigações, numa demonstração de como opera o machismo institucional que tenta “desculpar” condutas de homens predadores no ambiente de trabalho. Foi o que aconteceu com a Rede Globo que, dentre as “medidas” institucionais para enfrentar o assunto, sugeriu que o agressor deveria ser tratado não pela lei, mas pela psicanálise, como muito bem alertou a colunista e psicanalista Iara Iaconelli (aqui).

Infelizmente, o caso ocorrido no ambiente das organizações Globo não é um caso isolado. Ao contrário, milhares de mulheres já experimentaram em algum momento de sua vida profissional situações onde foram vítimas de algum tipo de assédio, seja ele sexual, moral, psicológico ou econômico. Uma pesquisa divulgada pela rede social LinkedIn em parceria com a consultoria de inovação social Think Eva ouviu 414 profissionais em todo o país, de forma online. Nessa amostra é possível observar a gravidade do assédio na vida das mulheres. De acordo com o levantamento, das entrevistadas que já haviam sofrido alguma forma de assédio sexual no ambiente de trabalho, a maioria delas eram mulheres negras (52%) e recebiam entre dois e seis salários mínimos (49%). A pesquisa mostra ainda que, mesmo entre as mulheres que ocupam posições hierárquicas mais altas, o assédio também é uma triste realidade. Entre as entrevistadas que declararam desempenhar a função de gerente, 60% afirmaram terem sido vítimas de assédio. No caso de diretoras, o número chegou a 55%. Mais de 95% das entrevistadas afirmam saber o que é assédio sexual no trabalho, mas pouco mais de 51% falam com frequência sobre o tema. Quanto maior o rendimento, maior a frequência com que as discussões acontecem. Entre as consultadas, 15% pediram demissão do trabalho após o assédio. E apenas 5% delas recorreram ao RH das empresas para reportar o caso (ver aqui).

Assédio no Trf4 – Porto Alegre

E o quê dizer quando o assédio acontece dentro das instituições do judiciário, esfera do Estado que deveria garantir o cumprimento da lei e dos direitos da pessoa? O que dizer quando o assédio é perpetrado por um alto cargo administrativo dentro do Judiciário Federal instalado no RS e um dos maiores TRFs do país? De que justiça estamos falando quando o machismo, o racismo e a lgbtfobia fazem parte da conduta de indivíduos que deveriam garantir a execução da lei e da Constituição? Conforme nota publicada pelo Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário Federal e MPU do RS (leia a integra aqui), desde outubro de 2019 se arrasta no interior do Tribunal Regional Federal – 4ª Região, uma denúncia de assédio sexual e assédio moral sofrido por trabalhadoras do TRF-4. Desde o final de 2019 as vítimas esperam que o presidente do TRF4, Victor Luiz dos Santos Laus, a quem compete determinar as medidas administrativas, tome providências e dê encaminhamento às apurações das denúncias contra o assediador,  cargo de confiança da presidência. Mas nada foi apurado. Isso a menos de um mês da chegada do recesso de 2020, em dezembro.

Depois de um ano da formalização da denúncia, foi aberto um procedimento interno e, em seguida arquivado, sem que nenhuma das partes fosse ouvida. Sim, o TRF4 simplesmente arquivou uma denúncia de assédio sexual e assédio moral em sua instituição sem nenhum procedimento de escuta das partes. Um segundo procedimento foi aberto, mas sem observância das formalidades, o que tornou o processo sem efeito, conforme o SINTRAJUFE-RS. Tais atitudes evidenciam tentativas de abafar e impedir que o assunto seja efetivamente discutido e tratado. Somente com a intervenção do sindicato, representando as vítimas, foi que, no final de setembro de 2020, o Conselho de Administração do TRF4 determinou a abertura de sindicância contra o denunciado, reformando a decisão anterior do presidente do Tribunal, que havia determinado o arquivamento.

Assim, mês a mês, vê-se o descaso do TRF4 com as graves denúncias que foram apresentadas. Pior, o assediador continua desempenhando normalmente suas funções na instituição, ocupando um importante cargo no Tribunal, permanecendo como “chefe” hierárquico de muitas servidoras e servidores (inclusive uma das vítimas, cujas funções começam a ser esvaziadas, caracterizando, também, assédio moral). Provavelmente, o agressor está convicto da impunidade sobre seus atos contra as colegas de trabalho. O fato de a Presidência, ciente de tudo, optar por não agir ou adotar medidas estranhas ao processo administrativo é parte dessa uma estrutura de poder que naturaliza e legitima o machismo. A psicanalista Iara Iaconelli, no artigo citado nesse texto, chama a atenção para o fato de que “um crápula sozinho não faz verão”. Ou seja, a cultura de violência contra as mulheres é algo acobertado por colegas de trabalho, autoridades, amigos, familiares e as instituições que ignoram ou ainda culpam as vítimas pelo assédio e pela violência que sofreram. Iaconelli alerta que, “sem um staff cúmplice, seria impossível a repetição do crime ou a impunidade”.

Em um estudo clássico, “O poder do macho” (1987), Helleieth Saffioti reforça que “a discriminação contra a mulher e o negro é socialmente construída para beneficiar quem controla o poder econômico e político. E o poder é macho e é branco”, diz a autora.  No caso do assédio sexual e do assédio moral, por exemplo, Saffioti mostra que são práticas de uma sociedade desigual que naturaliza a “cultura do macho”.  Aquele tipo de masculinidade tóxica e violenta que se impõe pela força, julgando-se no direito de subjugar sexualmente e moralmente as mulheres. Seja em casa, as companheiras; seja no ambiente de trabalho onde, na maioria dos casos, esses homens  atacam as mulheres que estão hierarquicamente subordinadas a eles. A ameaça de demissão é parte do método típico do assediador na tentativa de silenciar a vítima.

A naturalização desse comportamento é onde o machismo constrói sua base para a opressão e dominação. É também de onde brota a cultura do estupro que torna a todas nós, mulheres, mulheres negras, não negras, indígenas, cis, lésbicas, trans, jovens, crianças ou mais velhas, pobres ou migrantes pessoas sob risco de ataque constante.

É contra esse poder “invisível” que precisamos unir esforços com coragem e solidariedade. Precisamos unir esforços para denunciar essa cumplicidade criminosa. Como afirma a nota do Sintrajufe/RS, no momento em que os movimentos sociais, feministas, antirracistas e pela diversidade sexual vem combatendo todo o tipo de abusos praticados por causa do machismo, do racismo e da lgbtfobia não podemos aceitar que denúncias de assédio sexual e moral fiquem sem apuração. Principalmente dentro de um órgão público federal “que deveria primar pela idoneidade e pelo respeito à integridade física e psicológica de todos os que ali trabalham ou circulam”, reforça a nota do Sintrajufe/RS. Se a Constituição diz que “somos todos iguais perante a lei”, os frequentes casos de racismo e de assédios sexuais e morais contra as mulheres nos mostram que essa igualdade na “lei” não vale para todos na vida real. E, em muitos casos, os legisladores e os “guardiões” dessa Lei são agentes legitimadores, quando não são os próprios perpetradores dessas violências!

É contra esse modelo de sociedade e de instituições misógina, lgbtfóbica, machista, racista e desigual que todas nós, marchantes, lutamos.

A nossa solidariedade às vitimas do assediador no TRF-4 implica também em uma denúncia contra procedimentos institucionais misóginos e racistas. Se uma um órgão público do judiciário negligencia sobre denúncias de abusos e assédio dentro da própria instituição, o que esperar desses julgadores diante que temas que envolvam questões de gênero, classe social e raça? É o racismo e o machismo institucional que também se expressa nesses casos.  

Por isso, apoiamos todas as mulheres que corajosamente enfrentam e denunciam práticas abusivas como o assédio sexual e moral no ambiente de trabalho. Porque, assim, também estamos enfrentando o sistema patriarcal, racista e explorador que atua por dentro das instituições públicas.

Basta de julgadores que naturalizam as violências e tornam nossos corpos e nossas vidas objeto de ataque sistemático, quando deveriam atuar pelo direito à vida e à dignidade para todas e todes! Dizemos BASTA!

E ainda resta uma pergunta: divulgada a identidade do assediador, quantas vítimas mais aparecerão, além das três que hoje denunciam?

ATO PELO FIM DA IMPUNIDADE

QUANDO: Dia 15/12 – 14 horas

LOCAL: Em frente ao TRF4

Ninguém pode, sob pretexto nenhum, atingir a integridade física, psíquica, moral ou sexual de outra pessoa, muito menos forçá-la a algo que ela não queira”.

*Ato simbólico diante do quadro de pandemia, mas importante a presença, com segurança, de quem puder.





sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

A ação da @Jornada Continental por la Democracia y contra el Neoliberalismo

 



A ação da @Jornada Continental por la Democracia y contra el Neoliberalismo reuniu diversos movimentos sociais e organizações de base que denunciaram o avanço dos projetos de morte e defenderam a necessidade de seguirmos em luta pela defesa da democracia e de um projeto radicalmente democrático e popular.



segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Mudar a lei para envenenar a vida


Mudar a lei para envenenar a vida

Na última semana estamos acompanhando de perto o tema da audiência pública convocada pela Frente Parlamentar em Defesa da Alimentação Saudável juntamente com dezenas de entidades ambientalistas, movimentos sociais, setores de Universidades, Conselhos de controle social, entre outras organizações populares e sindicais. A audiência que acontecerá na segunda-feira dia 7 de dezembro, da continuidade ao debate e à tentativa de impedir que o governo do Estado modifique a legislação sobre agrotóxicos no Rio Grande do Sul (RS), em especial A LEI Nº 7.747, DE 22 DE DEZEMBRO DE 1982, que dispõe sobre o controle de agrotóxicos e outros biocidas a nível estadual.

Essa Lei sempre foi motivo de orgulho de quem luta pela agroecologia, pela saúde e por um ambiente seguro para reprodução da vida e do viver.  Foi uma das primeiras legislações de controle dos agrotóxicos no Brasil, sendo construída com ampla participação popular. No início da década de 1980 já havia no RS, principalmente em Porto Alegre, muitos ambientalistas denunciando a contaminação do Guaíba por diversos resíduos, entre eles o veneno da produção agrícola. Esta legislação foi pioneira, é o que podemos chamar de uma das “boas façanhas” dos legisladores do RS (no masculino porque na época eram apenas “eles”). No debate sobre a lei, foi adotado como critério geral a proibição do uso dos produtos que tivessem restrição de uso nos países de origem. Como sabemos, vários produtos têm sido banidos pela União Europeia e no Estados Unidos, sendo assim proibida a utilização destes em território estadual.

No dia 16 de novembro de 2020, o governador do estado encaminhou, em regime de urgência, à Assembleia Legislativa o Projeto de Lei n° 260/2020 que altera a Lei n° 7.747 de 22 de dezembro de 1982. O Projeto encaminhado pelo governador, argumenta a necessidade de equacionar a legislação do RS às normas nacionais. Todas devemos lembrar que o governo federal, cujo mandante não citarei o nome, juntamente com a bancada ruralista trabalham de forma incansável para consolidar os interesses do mercado de agrotóxicos no Brasil. A proposta do Governo do Estado se resume a um único Parágrafo: §2º Só serão admitidas, em território estadual, a distribuição e comercialização de produtos agrotóxicos e biocidas, seus componentes e afins, já registrados no órgão federal competente e que sejam cadastrados, respectivamente, nos órgãos estaduais competentes, conforme regulamento”. Ou seja, o alinhamento com a política nacional de agrotóxicos, que é considerada desastrosa, resulta em um retrocesso da lei vigente, permitindo a comercialização de produtos cujo uso é proibido no país de origem.

Sabemos que ocorre frequentemente o contrabando de venenos. Basta fazer uma busca na rede e algo assustador vai aparecer. A população em geral, inclusive que vive perto das áreas mais afetas por pulverização aérea, não faz a menor ideia do risco que corre. O gráfico abaixo foi retirado do site do MST. É uma informação do próprio governo e nos mostra o volume de solicitações de registro para fabricação e uso de agrotóxicos no Brasil. Nele podemos observar como tem avançado a passos bem largos nos últimos anos.


Fonte: https://mst.org.br/2020/11/12/agro-e-toxico-somos-o-pais-que-mais-consome-agrotoxicos-no-planeta/

O MST é uma das melhores fonte de materiais sobre esse tema e tem um trabalho de acompanhamento apoiado por pessoas que estudam e pesquisam em diversas áreas. A mobilização da população é fundamental nesse momento para motivar a tentativa de fazer com que o Governo do Estado, que é o autor do projeto, retire o regime de urgência é muito importante. Não custa lembrar que durante todo esse ano assistimos os interesses do mercado governando o RS. A tentativa constante de flexibilização da legislação ambiental para viabilizar os interesses das mineradoras. Com a pandemia, a restrição de mobilização presencial e a Assembleia Legislativa completamente cercada para reforma, assistimos mais um capítulo da triste história do papel exercido pelos governos como meros gestores dos interesses do mercado, nesse caso dos grandes fabricantes de veneno.

Nós mulheres feministas, anticapitalistas, antirracistas da Marcha Mundial de Mulheres, estamos nesta luta. Na luta por comida de verdade sem veneno e biodiversa. Na defesa dos bens comuns, da água, da terra, da saúde dos povos, da agroecologia como forma de viver produzir e reproduzir a vida, dos direitos dos povos originários.

 Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA) desde 2008 o brasil é um dos países que mais consome agrotóxico. Fabio Franke, Coordenador de alta complexidade em oncologia do Hospital de Caridade de Ijuí, Cidade ao Noroeste do Estado, afirma que não há dívidas na relação do veneno com a doença.  Só na unidade atendida pelo Dr. Franke são 3.600 mil novos caso por ano, ao todo já contabilizou 23 mil casos, 22 mil atendidos pelo SUS que desembolsa 12 milhões por ano de dinheiro público para a tratamento (ver matéria completa em: http://www.saude.ufpr.br/portal/observatorio/noticias/alto-indice-de-agricultores-gauchos-com-cancer-poe-agrotoxicos-em-xeque). Na mesma matéria, a Associação Brasileira de Saúde coletiva (ABRASSO) afirma que cada brasileiro consome em média 12 litros de veneno por ano. A bióloga Werner Ferreira, professora da Universidade UNIJUI diz que nessa região o consumo de agrotóxico pode ser três vezes maior. Segundo o INCA, nos sintomas crônicos do uso de agrotóxicos também incluem questões de saúde mental, de abortamento.

São as mulheres que cuidam das pessoas que adoecem na família. As mulheres também adoecem e morrem de câncer de mama e de útero, ficam muito cansadas e padecem com dor na alma. Precisamos falar das histórias das mulheres que gastam anos de suas vidas cuidando de familiares com câncer. O que sabemos das histórias das crianças assistem seus pais alagados pela dor durante toda a infância, cressem órfãos de afeto na escuridão da incerteza com a vida. Tudo isso promovido pela ganância do mercado que coloca o lucro acima da vida humana e da natureza.