Por Sirlanda Selau e Analine Specht, militantes da Marcha Mundial das Mulheres RS
O caso da Universidade Bandeirante, choca e envergonha brasileiros e brasileiras. É um retrocesso que excede a questão das liberdades individuais e afeta os direitos coletivos, abala os princípios constitucionais e o legado dos direitos humanos. Mas para alem disto, é uma cruel manifestação de preconceito, fundamentado no machismo, e de uma intolerância com precedentes históricos que a sociedade não pode mais admitir.
O episódio protagonizado, majoritariamente por jovens acadêmicos, ratificado pela própria direção da instituição é lamentável, pois tem como berço um espaço que deveria ser o espaço de vanguarda e de fortalecimento das relações sociais, da democracia e da liberdade pelo acesso e produção do conhecimento.
Aí o problema não é o tamanho do vestido! A demonstração da barbárie social neste episódio, tão somente, reproduz a violência e as formas de tratamento em relação a determinado grupo social. Uma demonstração de julgamento moral, no qual as mulheres estão permanentemente submetidas.
O machismo, através do patriarcado e do capitalismo, cuidou de atribuir às mulheres o papel de santa ou devassa. Fez da imagem da mulher mercadoria, exposta no varejo, das propagandas de cerveja, carro e produtos de limpeza. Determinou estereótipos de beleza e banalizou a sexualidade, de forma a estabelecer metas de consumo para as mulheres, quando não fazendo delas o próprio objeto de consumo. De outra forma, alicerçou na naturalização das desigualdades que derivam das relações de poder entre os sexos, o caminho necessário para incorporar a violência e a exploração da atuação feminina na sociedade, como parte natural da trajetória delas. Também arraigou na estrutura da sociedade a noção de “culpa” historicamente atribuída às mulheres e que legitima situações desta natureza a partir da culpabilização, concebida cultural e subjetivamente de acordo com a roupa que se usa e a possíveis “posturas provocativas femininas”, sendo que estupros e violências físicas são “explicados e justificados” não pelo machismo opressor, mas sim por responsabilidade das próprias mulheres.
A violência sofrida pela estudante da UNIBAN é a mesma, que milhares de mulheres são submetidas cotidianamente em seus lares, quando agredidas, especialmente por seus maridos e companheiros. A mesma que determina que as mulheres continuem a receber 70% do que recebem os homens. A mesma violência e a mesma naturalidade, como quem passa por uma mulher, que caminha na via pública, dirigindo a esta uma cantada, uma piada, um constrangimento, “que não tem maldade”, mas que também, ninguém lhe deu o direito de fazer.
O que se viu no ocorrido na UNIBAN, não deve ter a naturalidade de quem ri de uma “piada de loira”. Deve ter a indignação dos que pretendem que a liberdade seja uma realidade no país. Deve ter a critica dos que compreendem que a violência e a desigualdade que atinge as mulheres é a de sempre, e que é inadmissível, a uma sociedade que se pretende igualitária. Deve ter a percepção de que há muito que fazer para superar os profundos laços de submissão, intolerâncias e desigualdades, que as mulheres estão relegadas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário