*Por Daniela Anunciação e Raquel Duarte
“Mães do Mariani”, assim ficaram conhecidas as moradoras do bairro Mariani de Caxias do Sul, que se tornaram um exemplo de organização e luta das mulheres na cidade.
Elas saíram da reunião do Orçamento Comunitário do bairro (processo que substitui o Orçamento Participativo no município) com a certeza de que em breve teriam a tão esperada escola de educação infantil. Não podiam imaginar que aí iniciaria um verdadeiro martírio.
Em fevereiro deste ano, a prefeitura autorizou o início das obras. Porém para total surpresa, no terreno destinado à construção da “creche”, seria construída uma área de lazer.
Como assim? Ficaram sem entender como é que a grande prioridade do bairro – escola de educação infantil – tinha se transformado de uma hora para outra em uma área de lazer. Mas elas não ficaram paradas.
Sentindo-se extremamente injustiçadas, as mães do Mariani uniram-se para reivindicar seus direitos. Com a chegada das máquinas no terreno onde seria construída a área de lazer, impediram o início das obras com seus próprios corpos.
Em outro momento, participaram de audiência pública, cobrando posição d@s vereador@s do município, entregaram abaixo assinado para o Ministério Público, fizeram manifestações em frente à prefeitura, exigindo resposta do Prefeito, e nada.
Mas elas não se cansaram. Ocuparam simbolicamente o Centro Comunitário do Bairro, e lá organizaram uma verdadeira “creche comunitária”. Fizeram alimentação e organizaram atividades para mais de quarenta crianças. E a resposta do poder público municipal, para espanto, ou não, foi dizer que a partir de agora, a mobilização das mulheres se tornara um caso de polícia, mostrando total desrespeito para com os direitos humanos.
Mais uma vez, as mulheres não se intimidaram. Elas conhecem seus direitos!
Ora, o centro comunitário pertence aos moradores do bairro, e como sócias da Associação do Bairro, têm todo o direito de ocupá-lo pacificamente.
Ainda sem obter qualquer retorno positivo para a demanda, no dia 21 de março, as mulheres fizeram uma caminhada de 10 Km, do bairro Mariani até a prefeitura. Pararam o trânsito, e chamaram a atenção da população para a sua luta, que não é só delas, e sim de toda a cidade. A final, a realidade da educação infantil no município tem se mostrado muito aquém das necessidades da população Ao chegar à Prefeitura entregaram um documento ao representante do prefeito, com suas reivindicações.
A luta das mulheres pelas “creches públicas”, não é uma luta recente. Estudando a história do feminismo, percebe-se que em meados do século XIX, feministas como Clara Zetkin, Alexandra Kolontai, entre outras, afirmavam o papel do Estado na socialização das tarefas domésticas, por meio de serviços como lavanderias, restaurantes populares e “creches”.
Essa luta continua muito atual. A construção de escolas de educação infantil tornou-se um direito da criança e uma política pública para as mulheres. É um direito da criança, uma vez que é a primeira etapa da educação básica, e, portanto, um dever público.
Sem “creches públicas”, é impossível caminhar na direção da igualdade entre homens e mulheres. Claro, numa sociedade onde é latente a divisão sexual do trabalho, a quem recai a responsabilidade das tarefas do cuidado e da educação?
A garantia de vagas em “creches públicas” constitui-se em uma política pública básica para o acesso e a permanência das mulheres no mercado de trabalho e, também para acesso ao lazer, à educação e participação em espaços da sociedade. Reafirmando: a educação infantil, é um direito da criança, da mulher, da família, e responsabilidade do Estado.
Resultado da luta das “Mães do Mariani”? A prefeitura continua defendendo a prioridade da construção da área de lazer, deixando a construção da “creche” em segundo plano, ou melhor, fora dos planos, demonstrando um total desrespeito com toda a população, e uma insensibilidade tamanha com a luta das mulheres.
Neste exato momento, as mulheres estão acampadas no local onde deveria estar sendo construída a escola de educação infantil. Estão lá, com suas crianças, dia e noite, sob chuva e sol, contando com a solidariedade dos vizinhos e parceiros, e de lá, prometem não sair até uma resposta positiva do poder público.
As “Mães do Mariani” estão irredutíveis, incansáveis. Sua dura jornada já completará dois meses. Elas só querem que a prioridade eleita pelos moradores do bairro seja respeitada.
A luta das “Mães do Mariani” é uma luta de todas as mulheres. Construção de Escolas de Educação Infantil tem que ser prioridade. Todo apoio e solidariedade à luta das “Mães do Mariani”!
Daniela Andrade da Anunciação – Coletivo de Mulheres Estudantes/UCS e militante da Marcha Mundial de Mulheres
Raquel Pereira Duarte – Militante da Marcha Mundial de Mulheres
Olá mulheres!
ResponderExcluirTambém viemos expressar toda nossa solidariedade as "Mães do Mariani". Faz dois anos que trabalhamos neste bairro realizando os estágios do Curso de Agentes de Saúde e sabemos da realidade vivida pelas mães desta comunidade. Poxa vida, é muito reivindicar uma creche para seus filhos e para poderem dar sustentabilidade à eles?
"Vamos seguir lutando trabalhadoras, vamos construir o poder do povo, contra o imperialismo e a burguesia, contra os governos e à polícia..."
Samara, Cleunice e Jacilaine, militantes do MTD - Caxias do Sul.
Isso mesmo gurias... Podemos pensar algum ato em conjunto sobre o tema das escolas de educação infantil em Caxias. As mulheres do Loteamento Conquista também estão vindo à público, elas tiveram a creche prometida desde 2008, e até agora nada.
ResponderExcluir"Às mulheres seus direitos e nada a menos..." É só isso que queremos, nossos direitos!
Raquel- Cxs do Sul
Como atual Presidente da AMOB Mariani, resgatei esse grupo de mulheres e atualizo elas de todas as informações que nos passam, a luta continua começada la atrás por essas mães, tenho plena convicção que ate o ano que vem estamos com as crianças ja usufruindo essa escola infantil.
ResponderExcluir