segunda-feira, 26 de março de 2012

As mulheres na linha de frente do mundo árabe

por Soraya Musleh


Diferentemente do que se costuma difundir, no mundo árabe, o protagonismo feminino nos campos de batalha e em diversas áreas do conhecimento é histórico.

Por Soraya Misleh, em Escrevinhador

As revoluções no mundo árabe vêm derrubando não só ditaduras e trazendo à tona suas relações com o império. Vêm também desconstruindo estereótipos. Entre eles, as tão frequentes quanto equivocadas generalizações em relação às mulheres árabes.

No Brasil e em várias partes do globo, a imagem transmitida por agências de notícias internacionais e mídias corporativas é de um grupo absolutamente homogêneo. São mulheres cobertas com véus, submissas, que escondem uma sensualidade intrínseca por trás de suas pesadas roupas, normalmente de cor escura. O colorido da diversificada e rica sociedade árabe é deliberadamente omitido.

O primeiro mito que as revoluções que tiveram início na Tunísia em fins de 2010 e se alastraram por diversos países colocou por terra foi de que essas mulheres jamais se colocariam na linha de frente das batalhas por direitos. Os levantes que derrubaram até agora quatro ditaduras – e continuam em curso – demonstraram que seu protagonismo foi e tem sido fundamental para pôr fim a regimes opressores.

No Egito, é comum a cena de milhares de mulheres na Praça Tahrir. Ao se congelar essa imagem, outro mito é desfeito: o de que todas elas usam véus. O senso comum, fundamentado na ideia de que toda árabe é muçulmana, é desafiado (como se não houvesse outras religiões ou nenhuma fé no seio dessas sociedades e todas as islâmicas usassem obrigatoriamente véu, o que também é uma falácia). Há mulheres cobertas, descobertas, com roupas de todo tipo, como em qualquer outra sociedade.

A ideia de que as muçulmanas estão à margem desses processos também é desmontada no curso das revoluções. A egípcia feminista Nawal El Saadawi, que pôde ser vista ao lado de outras lutadoras nas grandes manifestações na Praça Tahrir, explica em seus escritos que o Islã chega a ser mais suave no que se refere às diferenças de gênero. O que ocorre é que a religião tem sido usada como meio de dominação, mediante distintas interpretações, de modo a favorecer o grupo político hegemônico e manter a opressão de classe.

O que ainda está por ser desconstruído é a ideia de que a participação feminina em revoluções no mundo árabe é novidade. Quem elucida esse tema é Nawal. Em seu único livro traduzido para o português, “A face oculta de Eva – as mulheres do mundo árabe”, ela salienta: “A história tem descrito, com falsidade, muitos dos fatos relacionados ao sexo feminino. As mulheres árabes não são mentalmente deficientes, como os homens e a história, escrita por eles, tendem a afirmar, tampouco são frágeis e passivas. Ao contrário, as árabes mostraram resistência ao sistema patriarcal centenas de anos antes que as americanas e europeias se lançassem a essas mesmas lutas.”

Sistema esse que passou a predominar a partir do surgimento da noção de propriedade privada e divisão de classes, como ensina Nawal em sua obra. Em tempos ancestrais, em que predominava o nomadismo e a agricultura de subsistência, as mulheres detinham a igualdade em assuntos sociais, econômicos e na esfera política.

Destituídas dessa posição e relegadas às camadas sociais inferiores, as mulheres da região, assim como em outras partes do globo, vêm assumindo a linha de frente na oposição a esse status quo. Assim, ao longo dos séculos, têm desempenhado papel fundamental nas lutas contra o colonialismo, a dominação, por direitos, justiça.

Não poderia ser diferente: acabar com a desigualdade de gênero é bandeira crucial na transformação dessas sociedades. Nesse ponto, Nawal é categórica: “Enquanto os assuntos do Estado ou do poder administrativo forem delegados à mulher dentro de uma estrutura social de classes, baseada no capitalismo e no sistema familiar patriarcal, homens e mulheres hão de permanecer vítimas da exploração.” Mudar esse estado de coisas mantém-se na ordem do dia de muitas mulheres.

Protagonismo histórico

Em seu livro, Nawal descreve uma série de acontecimentos que não deixam dúvidas de seu protagonismo histórico em diversas áreas – nos campos de batalha, na literatura, na poesia. Ela cita diversos nomes femininos que inclusive combateram nas fileiras do profeta Maomé ou contra ele e seus seguidores, na era islâmica. As próprias esposas do profeta eram exemplos de mulheres firmes, que não abriam mão de seus direitos.

Dando um salto no tempo até o início do século 20, a escritora relata que no Egito foram as mulheres as primeiras a deflagrar greves, ocupar fábricas e marchar por direitos. Participaram ativamente na revolução nacional de 1919, contra o imperialismo britânico. No país, em 1923, foi fundada a Federação das Mulheres. Em outra revolução, em 1956, arrancaram o direito a voto.

A autora complementa: “O Egito não foi o único país árabe no qual a mulher participou ativamente na luta contra o imperialismo estrangeiro e a opressão interna. A mulher em todo o mundo árabe lutou ombro a ombro com o homem pela libertação nacional e pela justiça social.”

Na Síria, no Líbano e na Argélia, tiveram papel fundamental contra a ocupação francesa. No Iraque, também se opuseram ao imperialismo e contribuíram “para acelerar as transformações sociais”. Na Jordânia, historicamente têm “organizado a luta nas frentes sociais, políticas ou econômicas”. No Sudão, tiveram papel destacado no movimento nacional de libertação contra os ingleses. No Kuwait, na Líbia, no Iêmen, no Marrocos, têm dado sua contribuição por justiça e liberdade.

Na Palestina, foram pioneiras em protestar contra a instalação dos primeiros assentamentos sionistas ainda no final do século 19, com fins coloniais – e têm resistido aos mais de 60 anos de ocupação israelense na linha de frente. “A extensa lista de mártires serviria para encher as páginas de todo um capítulo, mas entre as mais conhecidas estão Leila Khaled, Fátima Bernaw, Amina Dahbour, Sadis Abou Ghazala e outras cujos feitos intrépidos um dia serão admirados pelas futuras gerações de jovens e mulheres.”

sexta-feira, 23 de março de 2012

Movimentos sociais assinam carta em defesa do Estado laico


Movimentos sociais se reuniram para articular ações em defesa do Estado laico | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Samir Oliveira

Mais de 30 movimentos sociais e entidades da sociedade civil organizada do Rio Grande do Sul e de outros estados do país assinaram uma Carta em defesa dos direitos laicos. O ato ocorreu durante uma reunião destas organizações nesta quinta-feira (22), na Assembleia Legislativa.

O evento foi organizado pelas entidades que ingressaram com o pedido – acatado pelo Tribunal de Justiça (TJ-RS) – de retirada dos crucifixos católicos das dependências do Judiciário gaúcho. A ação foi movida pela Liga Brasileira de Lésbicas (LBL), a Marcha Mundial das Mulheres, a Rede Feminista de Saúde e as ONGs Themis, Somos e Nuances.

Fonte: Sul 21


terça-feira, 20 de março de 2012

Manifesto da Marcha Mundial das Mulheres pelo Estado Laico


Nós mulheres da Marcha Mundial das Mulheres - movimento internacional de mulheres feministas, anticapitalista e antipatriarcal, defendemos o Estado Laico, tal qual consta na Constituição Federal, lei maior deste país.

A redemocratização do estado brasileiro somente se completou quando a Assembleia Nacional Constituinte reunida (1988) instituíu o Estado Democrático de Direito regido pelos princípios, direitos e garantias dispostos na Constituição Federal.

Desta forma, resta vedado aos entes federativos e isto vale para os três poderes, conforme artigo 19, I da CF:estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou mater com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma de lei, a colaboração de interesse público”. Sendo assim, não há razão para que o judiciário ostente em suas dependências, crucifixos como a imposição de um Deus a permear as decisões ali tomadas.

Não admitimos que critérios religiosos interfiram nas decisões jurídicas e políticas que poderiam vir a beneficiar a vida das mulheres, sobre tudo as mais pobres e negras.

Acompanhamos diariamente a intervenção de grupos religiosos vetando políticas públicas para as mulheres, resultando assim em mais violências e desigualdades.

Lembramos que tais símbolos religiosos são resquícios de um tempo que procuramos esquecer, a ditadura militar, bem como os exemplos que temos de outros países, onde o fundamentalismo religioso interfere no Estado, gerando injustiças e guerra entre os povos.

Defendemos sim, um Estado efetivamente laico, baseado na igualdade, no respeito das escolhas individuais, na concretização de direitos, sem a interferência de crenças religiosas, as quais se materializam através de seus símbolos.

A imparcialidade do Estado, livre de crenças religiosas, deve garantir a todas as pessoas, avanços que até agora nos são negados, como a autonomia da mulher sobre o seu próprio corpo, estudos com celulas tronco, respeito e direitos a diversidade.

Historicamente, nós mulheres estamos entre as mais criminalizadas, consideradas pecadoras – estigmatizadas, assim como a população LGBT pelos preceitos religiosos das igrejas cristãs, exatamente aquelas cujos símbolos se encontram expostos nos espaços públicos.

A criminalização das mulheres e de todas as suas lutas libertárias, como o direito ao seu corpo e suas vidas, é mais uma expressão reacionária, vinda justamente de setores religiosos fundamentalistas que buscam retirar direitos conquistados e manter o controle sobre as pessoas, especialmente sobre os corpos e a sexualidade das mulheres.

Assim, acreditamos que a decisão do Conselho de Magistratura do Tribunal de Justiça do Estado do RS demonstra lucidez e obediência a lei e aos princípios de um Estado Democrático .

Por fim, a Marcha Mundial das Mulheres reitera o seu apoio aos movimentos que deram origem a esse pedido vitorioso de retirada dos crucifixos dos órgãos públicos e chama a todos os movimentos a se somarem nesta luta que deve ser de todas e todos que acreditam que nosso símbolo maior deve ser a liberdade de expressão de todos os símbolos.

Seguiremos em Marcha até que todas sejamos livres!

MARCHA MUNDIAL DAS MULHERES

terça-feira, 13 de março de 2012

Violência contra mulheres por parte do Estado Japonês, por Yuko Tonohira

por Yuko Tonohira*
Estou aqui para falar com você sobre o impacto do desastre nuclear no trabalho reprodutivo, e muitas vezes são as mulheres que estão sobrecarregadas com várias lutas na vida cotidiana. Primeiro, eu gostaria de atualizá-lo com alguns fatos.
O desastre nuclear de Fukushima está longe de terminar.
Os reatores ainda estão vazando substâncias nucleares radioativas.
O governo ainda não está nos dizendo que há riscos para a saúde
No momento nós não podemos ver como os efeitos da radiação vão ser, mas precisamos esperar pior do que o que já sabemos.
Claramente, área muito mais ampla em torno da planta Fukushima precisa ser evacuada.
No rescaldo do acidente nuclear, o governo japonês não nos dizem os níveis de contaminação no ar, a água, o solo, a comida. Em vez disso, eles disseram que não há efeitos imediatos para a sua saúde.
O governo, com ajuda da mídia, pediu às pessoas para continuar com suas vidas e até mesmo continuar a comer produtos da área de Fukushima, alegando que ser um ato patriota. Se você ligasse a tv que você veria celebridades mordendo vegetais das área atingidas por desastres e dizendo que é delicioso, e seguro.
O governo informou às mulheres grávidas e mães com crianças que a água é segura para beber e, mesmo se eles comerem alimentos contaminados, não terá efeitos na saúde. Disse também que o leite do seu seio é completamente seguro, e que se elas ficam muito preocupadas com a radiação haverá efeitos negativos para seus bebês.
As mulheres são mentalmente confundidas, entre a propaganda de segurança por parte do governo e a luta contra as ameaças diárias de radiação que é invisível, mas certamente deve contaminá-las.
Mais uma vez, tudo o que ouvem do governo é que não há efeitos imediatos para a saúde.
Devo evacuar? Ou devo ficar?
Que devo comer ou não?
Devo usar uma máscara?
Devo fazer os meus filhos usam máscaras?
Devo deixá-los jogar ao ar livre?
Eu deveria levantar a minha voz ou manter minha boca fechada?
Estas são as perguntas que todos se fazem todos os dias.
Por aqui, nós também vivemos sob o mesmo sistema baseado no mito de segurança e mentiras.
A energia nuclear é originada do desenvolvimento de tecnologia militar, em meados do século 20. Desde que a energia nuclear foi introduzida no Japão pelas corporações dos EUA, como a GE e a Westinghouse, durante a década de 50, manteve-se como um importante programa nacional, para o bem das relações de ‘segurança’ EUA-Japão.
Agora, as pessoas em Fukushima foram feitas de pesquisa para os experimentos nucleares. Isso é uma pesquisa sem tratamento.
Em setembro do ano passado o governo deu às crianças e mulheres grávidas crachás de dosímetros de pequena radiação. Os resultados são recolhidos pelo governo local a cada três meses e enviados para o centro nacional de câncer. O governo decidiu também que mais de 360 mil pessoas, além de recém-nascidos serão ao longo da vida objetos de exame de câncer de tireóide. Se o objetivo desta pesquisa é o de proteger as vidas humanas, deveriam ser evacuados para um lugar mais seguro em primeiro lugar.
Tantas vidas e recursos naturais são sacrificados apenas para a energia nuclear permanecer aqui, com ou sem acidentes.
Então, o que os japoneses estão fazendo? Para resumir:
-Desde 11 de março as pessoas foram rapidamente educar-se sobre diferentes tipos de materiais radioativos e seus vários efeitos ao corpo humano.
-Eles estão monitorando o nível de radiação em suas próprias comunidades, com os seus próprios contadores Geiger em suas mãos. Essas atividades baseadas na comunidade começou muito autônoma, fora da sua necessidade de obter informações mais ninguém oferece.
-As mulheres, especialmente aquelas com filhos estão protestando contra as autoridades. Na semana passada, as mulheres de todo o Japão começaram a ocupar ruas em torno do ministério da economia, e manter negociações diretas com funcionários governamentais para exigir a evacuação das crianças, a divulgação de todas as informações contaminação de alimentos e etc.
Um mês atrás, uma mãe de Fukushima visitou NY para falar sobre sua experiência. Ela disse para nós, que se pergunta se Fukushima aconteceu para toda a humanidade para mudar nossa percepção sobre o valor monetário, e para todos nós percebermos quão valiosos são nossos bens comuns: o ar, solo, água.
A luta pela abolição das armas nucleares envolve todos os elementos do nosso mundo que ainda é controlada pela sociedade altamente consumista baseada no capitalismo à custa do bem-estar humano. Como eu disse anteriormente, as mulheres são as mais fortemente opostas à propaganda do governo sobre o patriotismo e sacrfifício. Elas estão lutando para resistir a essa lógica suicida, o que exige de suas famílias consumir produtos radioativos para mostrar ao mundo que tudo está bem neste país e que energia nuclear é algo que podemos conviver. Sua resistência precisa do nosso apoio. Por favor, conecte-se conosco e preste atenção em nossas atividades aqui e no Japão.
*Yuko Tonohira é militante ecofeminista japonesa da luta anti-nuclear, que atualmente mora nos EUA. Tradução Ticiana Gabrielle Amaral Nunes.

MANIFESTO DO ENCONTRO “MULHERES UNIDAS CONTRA A PRIVATIZAÇÃO DA ÁGUA”

Cíntia Barenho participa do debate MULHERES UNIDAS CONTRA A PRIVATIZAÇÃO DA ÁGUA”, realizada pelo Fórum em Defesa da Água Pública de Santa Cruz do Sul/RS. Foto Patricia Schuster
Cíntia Barenho participa do debate MULHERES UNIDAS CONTRA A PRIVATIZAÇÃO DA ÁGUA”, realizada pelo Fórum em Defesa da Água Pública de Santa Cruz do Sul/RS. Foto Patricia Schuster
As mulheres e o homens, reunidos na plenária aberta “MULHERES UNIDAS CONTRA A PRIVATIZAÇÃO DA ÁGUA”, realizada pelo Fórum em Defesa da Água Pública na Câmara de Vereadores de Santa Cruz do Sul no dia 08 de março de 2012, após a palestra das convidadas Cintia Barenho, bióloga, mestre em Educação Ambiental, integrante da Marcha Mundial das Mulheres e do Centro de Estudos Ambientais e de Maria Luiza Castro Smielewski, vice-presidenta do 38° Núcleo do CPERS e do Movimento Mulheres em Luta CSP-CONLUTAS e após intervenções do público no sentido da necessidade do poder público ser o impulsionador de políticas protetivas à vida, declaram que ÁGUA NÃO É MERCADORIA. Por isso, aprovam os seguintes encaminhamentos:
1)Que a prefeita Kelly Moraes e o vice-prefeito Luiz Augusto Costa a Campis realizem imediatamente uma negociação com a Companhia Riograndense de Saneamento – CORSAN, para juntos construírem o Contrato de Programa com o objetivo de manter a prestação dos serviços de água e tratamento de esgoto sob a responsabilidade da empresa estatal, respeitando assim a vontade da comunidade santacruzenze. A última proposta apresentada pela empresa estatal em novembro de 2011 já é superior ao Plano de Saneamento do município e ainda pode ser melhorada. Não podemos admitir que esta proposta vantajosa sequer tenha sido alvo de negociação e o Poder Executivo de Santa Cruz do Sul ficar firmemente insistindo para cometer um dos maiores crimes que um gestor público pode cometer: TRANSFORMAR A ÁGUA EM MERCADORIA, ESTE BEM COMUM ESSENCIAL PARA A SOBREVIVÊNCIA DE TODA A HUMANIDADE;
2)Que apoiamos a Emenda à Lei Orgânica do Município de Santa Cruz do Sul protocolada na Câmara de Vereadores nesta semana e que visa impedir a privatização da água em nosso município. Apelamos que os vereadores votem favorável a este importante instrumento de proteção à vida e à saúde;
3)Que apoiamos a Proposta de Emenda Constitucional (PEC 206/2011), em tramitação na Assembleia Legislativa gaúcha, Apelamos para que os deputados votem favorável a este importante instrumento para barrar a privatização da água em todo solo riograndense;
4)Que queremos que a Presidenta Dilma e o Congresso Nacional(Câmara dos Deputados e Senado) revoguem urgentemente toda legislação que permite a privatização da água, um crime insidioso contra o povo brasileiro. Que a legislação seja protetiva das águas com controle social deliberativo;
5)Que queremos que a CORSAN, junto com a comunidade de Santa Cruz do Sul, implemente uma política permanente, utilizando as melhores práticas, de preservação ambiental do Lago Dourado e do local de captação das águas no Rio Pardinho. Queremos ainda que seja dada toda a atenção ambientalmente responsável da área do entorno, preservando a vegetação nativa e realizando melhorias com plantio de árvores também nativas. Além disso, há necessidade de especial atenção com a urbanização e as lavouras nas proximidades. Para tanto, é imperioso que todos os órgãos municipais e estaduais afins e a comunidade cumpram sua parte para concretizar uma efetiva preservação das águas do precioso Lago. Mais do que isso, nós presentes neste evento já nos comprometemos em abraçar a causa para juntos preservarmos a mais importante reserva de água, sinônimo de vida e saúde, que abastece nossa cidade e o meio rural.
Este documento deve ser encaminhado pelo Fórum em Defesa da Água Pública de Santa Cruz do Sul para a prefeita Kelly Moraes, para o vice Luiz Augusto Costa a Campis, para o presidente da Câmara de Vereadores de Santa Cruz do Sul e demais vereadores, para o presidente da Assembleia Legislativa e demais deputados, para o presidente da CORSAN, para o presidente da Câmara dos Deputados e demais deputados, para o presidente do Senado Federal e demais senadores e para a Presidenta da República Federativa do Brasil, Dilma Rousseff.
Além disso, deve ser dada a mais ampla divulgação aos demais órgãos competentes para a preservação do Rio Pardinho e nas mídias disponíveis.

domingo, 11 de março de 2012

Por onde andaram as militantes da MMM-RS neste 8 de março

Desde o dia 4 estamos participando de atividades pelo 8 de março, e vamos até o dia 31 com ações em comemoração a este dia de lutas das mulheres.





Formação Feminista com a Via Campesina, na Jornada de Lutas, dia 6 de março.



Acadêmicas da Universidade Federal da Fronteira Sul realizaram no dia 08 de março uma ação no Campus de Cerro Largo de sensibilização sobre a Marcha Mundial de Mulheres, a luta feminista e a plataforma de lutas do 08 de março. O encontro contou com alunas do curso de Ciências, Letras e Administração, resultando na constituição do Coletivo de Mulheres que irá somar-se a Marcha Mundial de Mulheres RS e organizará atividades da Marcha no Campus da UFFS.







Ato no 8 de março, no centro de Porto Alegre. Presentes a MMM e a LBL, entre outros movimentos


















Reunião na Secretaria de Direitos Humanos - Sobre a retirada dos Crucifixos dos lugares públicos.


Ato pelo 8 de março em Esteio.












Fotos de Lenadro Silva e MMM

Machismo ainda é inimigo a ser enfrentado no Dia Internacional da Mulher

por Raquel Duarte

Elza Fiúza / ABr

Manifestações como a Marcha das Vadias combatem manifestações machistas e pedem respeito aos direitos e à integridade das mulheres | Foto: Elza Fiúza / ABr

A cada 16 segundos uma mulher é agredida no Brasil. Em pleno Século XXI e diante de importantes conquistas de direitos, as mulheres ainda sofrem violência, principalmente por um agressor que sobrevive há décadas: o machismo. De acordo com a pesquisa Percepções sobre a Violência Doméstica contra a Mulher no Brasil, realizada pelo Instituto Avon em 2011, a crença de que os homens são superiores às mulheres é apontada como principal fator para as agressões. O mesmo estudo aponta que a maioria dos agressores são os maridos ou namorados das vítimas e que, por medo, elas não denunciam os companheiros. Neste dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, alguns especialistas ouvidos pelo Sul21 propõem uma reflexão sobre o papel das próprias mulheres na inversão dos valores que ainda as subjugam e violentam.


Leia toda a reportagem AQUI

sábado, 10 de março de 2012

As Atividades da Marcha em esteio que marcou o dia 08 de Março, aconteceram em vários momentos.



No dia 07 de Março foi organizada uma atividade pelo Conselho Municipal de Direitos das Mulheres, onde cada entidade que compões o Conselho se apresentou para a sociedade. A Marcha foi irreverente na sua apresentação feita pela conselheira e vice-presidente do conselho a Militante da Marcha Mundial de Mulheres Janaina Santos, falando desde a vinda da Marcha para o Brasil, sobre Ação de 2010 e o núcleo da Marcha Municipal.


Já no dia 09 ocorreu a Plenária Municipal da Marcha mundial das Mulheres organizada pelas militantes Elenieser, Suely e Janice Fagundes.

Tivemos uma palestra com a psicóloga e militante da Marcha Suzana Nardi, que falou sobre a violência doméstica e debate com as militantes e representantes do Movimento de Idosas, Judiciário representado pela Juíza Uiara Castilhos, Parlamentares e Movimento Comunitário.


No final da Plenária depois de muito debate, saímos em marcha pelas ruas da cidade, até a rua coberta onde estava acontecendo um ato público organizado pela coordenadoria da Mulher.


Com muita alegria e irreverência da nossa batucada chamamos a atenção da comunidade com a Musica da 3º Ação de 2010. Na Marcha tivemos a participação das trabalhadoras da Câmara Municipal, d@s parlamentares, Mulheres da Liga de Combate ao Câncer, Grupo de Idosas Esperança, todas levando bandeira e pirulitos com nossas palavras de ordem.


Ao chegar na Rua Coberta as marchantes foram recepcionadas pelo prefeito da cidade.


A Militante da Marcha Janaina fez uma fala de apresentação da Marcha e leitura do documento do 08 de março, sobre a mercantilização da vida , finalizando a fala e afirmando que:

“ Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!!!!!”

Dia Internacional da Mulher: “Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres”





Qui, 08 de Março de 2012 11:46

No Dia Internacional da Mulher, o SindBancários aproveita a oportunidade para destacar assuntos que ambientam o dia-a-dia das bancárias e que não podem ser esquecidos, nem tratados com menor relevância. A convite da entidade, a feminista Cláudia Prates concedeu uma entrevista à imprensa do sindicato, apontando as evoluções e os entraves que as mulheres enfrentam, confrontando-se com o machismo conservador que muitas vezes habita seu cotidiano no trabalho, na política, ou até mesmo dentro de suas próprias casas.

Além de militante feminista da Marcha Mundial das Mulheres, Cláudia Prates também integra o Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres. Confira a entrevista no texto abaixo:

A Bancária - Como está o mercado para a mulher trabalhadora, num ângulo de oportunidades e igualdades?


A participação das mulheres no mercado de trabalho vem crescendo de forma contínua, porém ainda há o peso da divisão sexual do trabalho na estrutura de nossa sociedade. O fato dos cargos de direção e poder estarem, majoritariamente, ocupados por homens é reflexo disso. Além disso, o fato das mulheres ganharem até 70% a menos que os homens para o mesmo cargo, mesmo tendo a mesma escolaridade, é reflexo do pensamento machista que ainda funciona na lógica de que a mulher pode ganhar menos porque o seu salário complementa o do marido. Se ela for negra, a discriminação é dupla, receberá, em média, 50% a menos que uma mulher branca. Ou seja, a igualdade é um objetivo a ser perseguido e alcançado.


Quanto às oportunidades, é visível o crescimento. As mulheres estão ocupando, cada vez mais, postos que eram exclusivamente masculinos. Entretanto, a divisão sexual do trabalho mantém algumas profissões como espaços femininos e ligados ao estereótipo da “dona de casa”. É o caso das empregadas domésticas e educadoras, que, aliás, historicamente são mal remuneradas por terem seus trabalhos vistos como expressão de um dom natural das mulheres. Outro exemplo é o da construção civil, onde cresce a capacitação de mulheres através de cursos oferecidos pelos sindicatos ligados à construção civil e também através de políticas públicas (Programa mulheres construindo cidadania). Mas ainda é comum ouvirmos profissionais, como arquitetos e engenheiros, dizerem que contratam mulheres nas obras porque elas são mais caprichosas, não desperdiçam material e “humanizam” os canteiros de obras.

Leia mais AQUI

quinta-feira, 8 de março de 2012

sobre o 8 de março, por Natalia Doria*


Diariamente nós mulheres sofremos variados tipos de opressão de gênero. Somos desrespeitadas, maltratadas, ignoradas. Forçadas a se colocar na frente do roupeiro e se perguntar com que roupa sair na rua para não sermos violentadas, a medir as palavras para sermos respeitadas, a gritar para sermos escutadas.

O 8 de março é um dia, em 365, que os holofotes se viram para nós. Mulheres do mundo se organizam, não só para o 8 de março, mas para que Março seja um mês cheio de programações que denunciem a opressão, a violência, o desrespeito e o descaso da sociedade machista em que vivemos o ano inteiro.

Infelizmente, apesar de todos os esforços de anos de lutas, não só em março, é nesse mês que as grandes lojas usam o dia da mulher para incentivar o consumismo. Lojas fazem propaganda de seus produtos dizendo que a mulher merece tais produtos por seus esforços por cuidar do lar. Mulheres devem ganhar eletrodomésticos porque são muito ocupadas com sua dupla jornada de trabalho e precisam de maquinas que lhes permita fazer mais de uma tarefa ao mesmo tempo. Empresas de estética investem em “você merece se sentir linda” para outros, quando na verdade você merece ter a certeza que é igual ao homem que trabalha ao seu lado.

Para alcançarmos igualdade de fato, como diz na constituição, ainda tem muito chão. Um estudo do Banco Mundial, sobre desenvolvimento mundial afirma que a inclusão de mulheres no mercado de trabalho no Brasil aumentou, em 30 anos, 22%. Porém o salário pago as mulheres corresponde a 73% do pago aos homens. O Brasil avança em alguns pontos, porém se mantêm estagnado em outros.

O mesmo estudo também afirma que a participação das mulheres na vida política do país melhora a qualidade das políticas publicas. Na Argentina, por exemplo, depois de imposta uma cota de mulheres, a participação das mulheres passou a representar 30% do parlamento do país, enquanto no Brasil, as mulheres são só 8,7% do parlamento. Portanto, a garantia da presença das mulheres em espaços públicos de decisão é fator imprescindível para que haja mais conquistas de políticas publicas para mulheres. Se não fosse as lutas das mulheres brasileiras pela igualdade, não teríamos hoje uma Presidenta da Republica.

É uma data de luta, e deve ser comemorada relembrando os direitos conquistados, para que sejam mantidos e que as tantas mulheres que morreram sem ver essas conquistas, sejam homenageadas.

* Natália Dória é militante feminista da Juventude do PT e da Marcha Mundial das Mulheres de Novo Hamburgo

Leia também: Dia da Mulher: “Para alcançarmos igualdade de fato, ainda há muito chão”, avalia jovem mulher

Representando aquelas que buscam mais semelhanças entre os gêneros, Natália Doria, participante da Marcha Mundial de Mulheres, escreve ao novohamburgo.org e cita alternativas.

Dia Internacional da Mulher em Santa Cruz

é dia de luta contra privatização da água



O Fórum em Defesa da Água Pública promove uma plenária, nesta quinta-feira (8), às 19h, na Câmara de Vereadores de Santa Cruz do Sul. A atividade agrega uma nova bandeira de luta ao Dia Internacional da Mulher: a não privatização da água no município. Há mais de um ano que o Fórum vem lutando contra a privatização dos serviços de abastecimento de água e tratamento de esgoto em Santa Cruz do Sul, projeto defendido pela administração Kelly Moraes (PTB), que tem o PT na vice-prefeitura (Luiz Augusto Costa Campis).

Entre as painelistas convidadas para o debate desta quinta-feira, estarão presentes Cíntia Barenho, bióloga, integrante da Marcha Mundial das Mulheres e do Centro de Estudos Ambientais, Maria Luiza Castro Smielewsk, professora da rede pública estadual e integrante do Movimento Mulheres em Luta – CSP-Conlutas e uma representante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).

Segundo Célia Zingler, coordenadora do Fórum em Defesa da Água Pública e diretora presidenta da APCEF (Associação do Pessoal da Caixa Econômica Federal do Rio Grande do Sul), a urgência das duas lutas justifica sua unificação: “Se não mantivermos a água sob controle público, a vida no planeta corre perigo. Além disso, as mulheres seguem sendo vítimas do sistema patriarcal e capitalista, que se beneficia com a desigualdade de gênero”.

O encontro, intitulado de “Mulheres unidas contra a privatização da água”, servirá também para lançar um movimento nacional pela água pública. O grupo pretende levar ao plenário um manifesto em favor da Proposta de Emenda Constitucional (PEC), que tramita na Assembleia Legislativa gaúcha, e outro endereçado à presidenta Dilma Rousseff, a fim de que ela reverta as concessões já cedidas à iniciativa privada e promulgue uma lei evitando novas ações nesse sentido.

Fonte: RSUrgente

Moção das Mulheres em apoio a Comissão da Verdade


8 de março de 2012

Moção das Mulheres em apoio a Comissão da Verdade.

A gente conta a História como quem conta histórias. Decorrência de nossa tradição oral.

Histórias de Maria, de Rose, de Nair, de Amelinha, de Clara, de Clarice, de Eleonora, de Dilma, e também de João, de Vlado, de Pedro, de Paulo, de Chico, de Márcio, de José...

Durante anos, sombras dominaram o país por um longo período. Tempos em que se restringiu a liberdade de expressão, de reunião, de informação, de ir-e-vir, de pensar e de agir, da população. Tempos em que as pessoas que te visitavam tinham que se identificar com o zelador, que passava a lista à polícia. Tempos em que não se podia votar, eleger, decidir, escolher.

Uma geração de homens e mulheres valorosos dedicaram os melhores anos de sua vida para restabelecer a democracia que vivemos hoje. Escolheram os caminhos mais diversos – a atividade parlamentar (enquanto ainda não proibida), a luta armada, a greve, o exílio ou auto-exílio, o estudo, a discussão, a resistência, a solidariedade, o apoio, a mobilização nas ruas, mesmo que proibidas.

Enquanto isso, nos porões da ditadura militar, eles se valeram de sua posição de autoridade, de representantes do Estado, para prender, torturar, fazer desaparecer.

Neste processo, as mulheres presas políticas aguentaram requintes de crueldade, sofrendo também constrangimentos, estupros, ameaças de ou torturas inomináveis nascidas de mentes perversas, torturas de seus filhos ante os seus olhos.

Foi também das mulheres a iniciativa de construir o Movimento Feminino pela Anistia, que logo foi engrossado pela sociedade e, em pouco tempo, fomos ficando tantos e tantas, que não houve outra saída senão redemocratizar o país e anistiar a todos.

Essa história, não se conta na escola. Ainda.

Muitos anos depois, ouvindo o nosso clamor, o Congresso finalmente aprova a criação de uma Comissão da Verdade, para averiguar as ignomínias não-esclarecidas. A mídia começa a se ocupar do caso.

O general Rocha Paiva, atribuindo-se o papel de porta-voz, se permite ironizar e duvidar do relato de tortura da atual presidenta Dilma, da causa de morte do Wladimir Herzog, e questionar a legitimidade da estruturação da Comissão.

Pronunciamentos de militares sobre duas de nossas ministras – Maria do Rosário e Eleonora Menicucci – bem como questionando a autoridade do Ministro da Defesa, tentam criar um fato e um constrangimento político.

Por isso nós, mulheres reunidas neste 8 de março – dia internacional da mulher – vimos a público afirmar o nosso apoio integral à Comissão da Verdade.

Que nossa história seja finalmente revelada, que a verdade seja estabelecida, que se revele o destino dos desaparecidos, que se iluminem os porões.

Que se restabeleça a memória e a história, para que nunca mais ninguém se permita tentar reinstituir os mesmos mecanismos de exceção e opressão.

Envie email para: marchamulheres@sof.org.br

Assinam

Observatório da mulher

Marcha Mundial das Mulheres

SOF- Sempreviva organização feminista

Articulação Mulher e mídia

Secretaria Municipal de Mulheres do PT

CIM


Peticion online:

http://www.peticaopublica.com.br/Default.aspx

quarta-feira, 7 de março de 2012

O DNA socialista e revolucionário do 8 de março


Vanessa Gil*

Com a proximidade do Dia internacional da Mulher somos bombardeadas (os) com imagens de mulheres reproduzindo os papéis que lhes foram impostos nos espaços privados: mãe, esposa e filha. Na mídia, as propagandas e anúncios dão a impressão de que quase todos poderiam ser reaproveitados para as comemorações do Dia das Mães. No espaço público é valorizada pelas qualidades que adquiriu nos cuidados com a família: a trabalhadora é sensível como as mães, organizada como as donas de casa e assim por diante. Mas esse ideal da mulher cuidadora em nada reflete os reais fatos que levaram ao oitavo dia de março ser dedicado às mulheres. A data foi escolhida por ter sido nela em que as mulheres russas iniciaram aquela que seria, com seus equívocos e acertos, a maior revolução do século 20.

O papel das mulheres na Revolução 1917 foi apagado da história. Durante quase um século tivemos como referência, para o inicio das comemorações do dia 8 de março, Dia Internacional da Mulheres, o incêndio ocorrido nos Estados Unidos onde trabalhadoras de uma indústria têxtil morreram queimadas. Tal fato realmente ocorreu, mas nada há de ligação entre esse triste dia e o início das comemorações.

A partir de novas pesquisas, sabemos que unificar as comemorações do Dia Internacional da Mulher em 8 de março foi proposto na II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, em Copenhague, em 1910. Anteriormente, sem dia definido, acontecia em diferentes datas ao redor do mundo. Foram as mulheres russas que fizeram do oito de março um dia tão marcante, conforme conta Trotsky:

“O dia 23 de fevereiro (8 de março no calendário russo, orientado pelo calendário juliano) era o Dia Internacional da Mulher. Os círculos da social-democracia tencionavam festejá-lo segundo as normas tradicionais: reuniões, discursos, manifestos. Na véspera, ainda ninguém poderia supor que o Dia da Mulher pudesse inaugurar a Revolução. Nenhuma organização preconizara greves para aquele dia, tal foi a linha preconizada pelo Comitê na véspera do dia 23, e parecia ter sido aceita por todos. No dia seguinte, pela manhã apesar de todas as determinações, as operárias têxteis de diversas fábricas abandonaram o trabalho e enviaram delegadas aos metalúrgicos, solicitando-lhes que apoiassem a greve. Foi contra a vontade, escreve Kayurov, que os bolcheviques entraram na greve, secundados pelos operários mencheviques e socialistas-revolucionários. Visto tratar-se de uma greve de massas, não havia outro remédio senão fazer com que todos descessem rua e tomar a frente do movimento. Ninguém, absolutamente ninguém, supunha que o dia 23 de fevereiro marcaria o início de uma assalto decisivo contra o absolutismo.” (Gonzalez, 2010, p.55)

Ou seja, foi o protesto e a organização das mulheres contra a guerra que tirava a vida de seus filhos e maridos, aumentava a escassez de alimentos, a fome e o descaso do governo czarista, que levou em dois dias mais de 190 mil mulheres às ruas em Petrogrado. A partir das suas reivindicações, da força de seu protesto, surgiu vitoriosa a Revolução Russa. E como afirma a pesquisadora Ana Isabel Álvarez Gonzalez:

“Foi para relembrar a ação das mulheres na história da Revolução Russa que o Dia Internacional das Mulheres passou a ser comemorado de forma unificada no dia 8 de março. A decisão de unificação da data foi tomada na Conferência de Mulheres Comunistas, coincidindo com o congresso da Terceira Internacional, realizado em Moscou em 1921...” (2010, p. 15)

Sendo a história escrita até hoje pelas mãos dos vencedores, a luta das mulheres nas trincheiras desapareceu. Pouco se fala sobre seu papel na Comuna de Paris, poucos sabem das Marianas, nome dado ao pelotão de mulheres que venceu ao lado de Che Guevara e Fidel Castro, em Cuba. A história apagou a luta feminina do cenário oficial. Mas ela existiu, existe e sempre existirá, uma vez que é improvável que, sendo metade da população mundial, não exista em parte alguma vozes e consciências femininas a reivindicar o reconhecimento de seu protagonismo, sua autonomia, sua liberdade, sua história.

Inventar novas versões para a fatos históricos é, desde muito, umas das principais formas para perpetuar a dominação. Desvendá-los é a melhor forma de rompê-la. Por isso devemos sempre voltar a falar das origens do oito de março.


Vanessa Gil é socióloga, pós-graduada em Pensamento Marxista.

Referência: As origens e a comemoração do Dia Internacional das Mulheres. Ana Isabel Álvarez González. São Paulo: Expressão Popular ‐ SOF ‐ Sempreviva Organização Feminista, 2010.

terça-feira, 6 de março de 2012

48 horas de ativismo digital e panos roxos nas janelas


48 horas de ativismo digital e coloque panos roxos nas janelas:

Neste 8 de março, além das várias agendas que já estamos programadas, vamos dar visibilidade nas redes sociais e colorir sua cidade.

Por isto, vamos fazer 48 horas de ativismo digital nas redes sociais (emails, twitter, facebook, orkut, msn e blogs) - as frases serão as dos lambes e dos adesivos (abaixo). A partir das 20h do dia 06 até as 20h do dia 8 de março!

Para dar mais colorido na cidade, vamos colocar panos roxos (ou lilás) nas janelas.

Pode ser lenços, bandeiras, toalhas, lençóis, cangas - o que for! O importante é pintarmos a cidade de roxo neste 8 de março.

Ou a revolução será feminista ou não será!

As frases para o ativismo digital:
  • Nem Papas nem Juízes - as mulheres decidem!
  • Mudar o mundo para mudar a vida das mulheres!
  • Feminismo para um mundo sem violência.
  • Direito ao nosso corpo - Legalizar o aborto!
  • Eu aborto, tu abortas - somos todas clandestinas!
  • Essa hipocrisia, dá hemorragia.
  • Aborto não é assunto de papas nem de polícia.
  • Viver sem violência é um direito das mulheres.
  • A violência contra a mulher, não é o mundo que a gente quer.
  • Machismo Mata!
  • O mundo não é uma mercadoria – e as mulheres também não!
  • Se o papa fosse mulher, o aborto seria legal!
  • A nossa luta é todo dia, somos mulheres e não mercadoria!
  • A nossa luta é por respeito, mulher não é só bunda e peito!
  • Eu não sou miss nem avião, minha beleza não tem padrão.
Mande as fotos e notícias das suas atividades.


A coordenação executiva da MMM-RS

segunda-feira, 5 de março de 2012

Declaração Internacional da MMM para o 8 de março


Neste 8 de março, nós, as mulheres da Marcha Mundial das Mulheres, seguimos marchando, resistindo, e construindo um mundo para nós, os outros, os povos, os seres vivos e a natureza. Nossas ações continuam enfrentando embates com o paradigma mortal do capitalismo, com suas falsas soluções para as crises e com a ideologia fundamentalista conservadora.

Vivemos uma crise do sistema capitalista, racista e patriarcal que, para se sustentar, impõe brutais “medidas de austeridade” que obrigam a nós, os povos, a pagar por uma crise que não provocamos: são cortes nos orçamentos de todos os serviços sociais, diminuição de salários e de pensões, estímulo à guerras e avanço da mercantilização de todas as esferas da vida. Nós, as mulheres, pagamos o preço mais alto: somos as primeiras a ser demitidas e, além das tarefas domésticas mais habituais, somos obrigadas a assumir as funções antes cobertas pelos serviços sociais. Tais medidas carregam o peso da ideologia patriarcal, capitalista e racista e são expressão de políticas de incentivo para que voltemos ao mundo privado, ao mesmo tempo que estimulam o avanço da prostituição e da venda das mulheres, o aumento da violência contra nós, o tráfico e as migrações.

Denunciamos a contínua imposição de acordos de livre comércio, que tentam transformar os bens comuns como saúde, educação e água em mercadorias, e aprofundam um mercado de exploração da mão de obra barata nos países do Sul. Recusamos a cultura do consumo que empobrece mais as comunidades, gerando dependência e exterminando as produções locais.

Nos solidarizamos com as mulheres em luta na Europa, especialmente na Grécia mas também em Portugal, Galicia, Estado Espanhol, Itália e Macedonia, que se estão organizando para resistir à ofensiva neoliberal e retrógrada promovida pelas instituições financeiras e políticas, e seus próprios governos, a serviço dos interesses das corporações transnacionais. Nos solidarizamos também com todas as mulheres do Sul que enfrentam a fome, a pobreza, a superexploração do trabalho e a violência, mas que seguem construindo sua resistência.

Denunciamos o avanço da militarização em todo mundo como estratégia de controle dos nossos corpos, vidas, movimentos e territórios. A militarização garante o neocolonialismo, o novo saque e apropriação do capital sobre os recursos naturais e a manutenção do enriquecimento da indústria armamentista frente à crise. Constatamos com temor a ameaça de retorno do militarismo e do autoritarismo como valores na sociedade em diferentes países ao redor do mundo, como: no Oriente Médio, na Tunisia, Líbia e Egito, onde as mulheres e os povos continuam em luta contra todo tipo de ditadura fundamentalista e por uma verdadeira democracia; na Palestina onde as mulheres lutam contra o colonialismo e o sionismo; em diversos países Africanos – como em Senegal onde o governo se utiliza da força do exército por interesses eleitorais, ou no Mali onde grupos armados aterrorizam a população civil em sua luta pelo controle da região norte; em Honduras, México, Guatemala e Colômbia onde há processos de re-militarização; e em diversos países em Ásia-Oceania onde a presença das tropas militares dos Estados Unidos está sendo reforçada.

Nos solidarizamos com as mulheres e os povos em resistência e luta em todos os territórios que estão em guerra, sob controle militar e em risco de serem controlados, ou aqueles que vivem os impactos nefastos da presença militar estrangeira. Apesar disso, nós, mulheres, continuamos defendendo nosso território, corpo e terra da exploração dos exércitos regulares e irregulares, estatais e privados.

Denunciamos a estratégia coordenada dos meios de comunicação globalizados que buscam revigorar dogmas e valores conservadores, e que põem em risco as conquistas e avanços das mulheres em todo o mundo.

Os espaços de participação são fechados, o protesto é criminalizado, e o direito a decidir sobre nossos corpos é cerceado. Nossa autodeterminação reprodutiva está ameaçada onde a conquistamos, como, por exemplo, em diversos países da Europa (como Portugal e Espanha) e da América do Norte, nos quais o aborto é legalizado, mas este direito é atacado na prática por cortes dos orçamentos públicos que têm como alvo os hospitais e os serviços de interrupção da gravidez. Em muitos outros países, como na América Latina e vários países da Ásia-Oceania, as mulheres que abortam seguem sendo criminalizadas, como no Brasil, Japão e Vanuatu. No México, o aborto é legalizado no Distrito Federal e criminalizado no resto do país. Em Honduras, a pilula do dia seguinte foi proibida. Na Nicarágua, o aborto mesmo em situações de risco de vida para a mãe ou em casos de estupro se torna um crime através de uma Reforma Constitucional. A Rússia segue este exemplo com a primeirda dama à frente de campanhas para proibir o aborto em qualquer situação. Grupos auto-intitulados “pró-vida” defendem na realidade a morte das mulheres, insultam a nós e às profissionais de saúde na América do Norte, pressionam o parlamento para rever a lei na África do Sul e impedem qualquer discussão no Paquistão.

Nos solidarizamos com todas as mulheres que seguem lutando e enfrentando conflitos com a polícia, o Estado e o poder judiciário injusto, bem como com aquelas que enfrentam a violência que sofrem.

Frente a estas situações, estamos nas ruas, temos alternativas que já estamos construindo e vivenciando. Reiteramos que seguiremos nos fortalecendo, a partir de nossos corpos e territórios em resistência, aprofundando nossos sonhos de transformações estruturais em nossas vidas e marchando até que todas sejamos livres!

Fazemos um chamado à articulação de nossos movimentos e às alianças com os outros movimentos sociais, pois só assim construiremos um mundo em liberdade.

Em todo o mundo, 8 de março de 2012