por Mariane Travi Ceconello* | |
Recentemente assisti ao filme “A Fonte das Mulheres”, que narra a história de uma pequena vila muçulmana no norte da África. A trama retrata a seca, o desemprego e o machismo daquele lugar. Após muitos anos em que a comunidade se viu sob extrema pobreza quase que inerte, as mulheres são as primeiras a se movimentarem contra uma série de injustiças que recaíam sobre elas. A história mostra uma revolução feminista centrada no dia a dia daquelas mulheres. São mulheres sofridas, guerreiras; mulheres que trazem consigo a persistência e a força do gênero feminino em contraponto ao papel de sexo frágil que a sociedade lhes impõe. Tudo se inicia com a revolta gerada por mais um aborto ocorrido porque são elas as responsáveis por conseguir água em uma fonte longe e de difícil acesso, carregando baldes nas costas. A partir dali, diversas outras desigualdades e injustiças sexistas são percebidas pelas mulheres. Como na vida real, muitas delas não querem romper com a “tradição” e, logicamente, os homens negam-se a realizar trabalhos que são destinados às mulheres. O embate de dá de forma brutal e difícil, com agressões por parte dos homens e mais pressão sobre as mulheres. O que o filme nos faz refletir, é como encaramos o feminismo oriental, que é muito diferente do ocidental. São lutas diferentes e vistas sob a ótica de quem tem toda uma história social, religiosa e cultural distante da nossa e que devem ser respeitadas. Uma das principais pautas das mulheres árabes é o direito de poder se manifestar e reivindicar. É ter o direito de resistir à realidade machista em que se encontram. Suas lutas inclusive estão conectadas a sua religião. O filme traz essa realidade quando mostra as mulheres dando sua própria interpretação ao Corão que, sob muitos aspectos enaltece a mulher e a coloca em pé de igualdade ao homem. Hoje o mundo árabe está em efervescência política e econômica e são as mulheres também que estão tomando a frente de muitas manifestações. São elas que percebem e enfrentam diariamente a pobreza e a desigualdade de um mundo muçulmano que ainda está por libertá-las. Interessante é perceber o quanto a história dessas revolucionárias feministas árabes tem em comum com a nossa: além da luta por seus direitos, a irreverência com que levantam suas bandeiras. Para serem escutadas pela comunidade e pelos homens, elas colocaram nas suas músicas e danças as suas angústias e reivindicações, de uma forma leve e alegre. Isso mostra que a tática da Marcha Mundial das Mulheres de levar suas lutas através da música e de outras formas criativas, traz resultados em qualquer lugar do mundo! * Mariane Travi Ceconello é militante feminista da Marcha Mundial das Mulheres, Caxias do Sul, RS |
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