Mulheres
em luta contra a mercantilização da natureza e da vida!
Marcha Mundial das
Mulheres
Mulheres
e homens de todo o mundo resistem ao fato de que a natureza seja
considerada como recurso a serviço do lucro de empresas, visto como
inesgotáveis ou como mercadorias mais caras à medida que se
esgotam, pela má utilização. As mulheres em especial são muito
ativas nessas lutas. A experiência que vivenciam de invisibilidade e
desvalorização de seu trabalho de cuidados das pessoas é muito
similar à invisibilidade e desvalorização da natureza. O tempo e a
energia das mulheres em cuidar das pessoas, preparar a comida, os
cuidados e a disponibilidade para a escuta não são visíveis e são
elásticos. As mulheres são as primeiras a se levantar e as últimas
a dormir na maioria das famílias. O tempo e a energia dos processos
de regeneração da natureza são ocultados e tratados como
impedimentos a serem superados para que a máquina de consumo
funcione a todo vapor. As mulheres seguem sendo pressionadas para
ajustar lógicas e tempos opostos – o da vida e o do lucro-
assumindo as tensões geradas. Seu trabalho é instrumentalizado para
amenizar ou ocultar as injustiças promovidas por instituições
multilaterais, governos e empresas.
A sociedade capitalista e patriarcal se estrutura em uma divisão sexual do trabalho que separa o trabalho dos homens e o das mulheres e define que o trabalho dos homens vale mais que o das mulheres. O trabalho dos homens é associado ao produtivo (o que se vende no mercado) e o trabalho das mulheres ao reprodutivo (a produção dos seres humanos e suas relações). As representações do que é masculino e feminino é dual e hierárquica, assim como a associação entre homens e cultura, e mulheres e natureza.
Na Marcha Mundial das Mulheres (MMM) lutamos para superar a divisão sexual do trabalho e, ao mesmo tempo, pelo reconhecimento de que o trabalho reprodutivo está na base da sustentabilidade da vida humana e das relações entre as pessoas na família e na sociedade. Acreditamos que é possível estabelecer (e em alguns casos reestabelecer) uma relação dinâmica e harmoniosa entre as pessoas e a natureza e que as mulheres com sua experiência histórica têm muito para dizer sobre esse tema.
No Rio+20, seguiremos na luta contra o capitalismo verde e afirmaremos as alternativas das mulheres.
Entre os dias 15 e 23 de junho será realizada na cidade do Rio de Janeiro, a Cúpula dos Povos por Justiça Social e Ambiental: contra a mercantilização da vida e da natureza e em defesa dos bens comuns. A Cúpula será no Aterro do Flamengo, em paralelo a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, chamada de Rio + 20. A reunião oficial marca o vigésimo aniversário da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92 ou ECO 92).
A Cúpula
é um amplo espaço construído desde a sociedade civil global para
propor uma nova forma de vida no planeta em solidariedade, contra a
mercantilização da natureza e em defesa dos bens comuns. Enquanto a
agenda oficial da Rio + 20 privilegia a chamada “economia verde”,
as instituições globais, movimentos e organizadores da Cúpula dos
Povos – da qual nós da MMM fazemos parte- se posicionam contra
essa nova roupa do mesmo modelo de produção e consumo capitalista,
este sim responsável pela crise atual do planeta. Mais de 30 mil
pessoas são esperadas para estas ações.
Um Comitê
Facilitador da Sociedade Civil Brasileira (CFSC), integrado por
movimentos sociais, organizações não governamentais, coletivos e
redes, se atém a todos os detalhes (metodologia, comunicação,
mobilização, território). O CFSC é coordenado pelo chamado “Grupo
de Articulação”, que reúne muitos movimentos sociais e redes
nacionais como a MMM, a CUT, a Via Campesina, a Rede Brasileira de
Integração dos Povos (Rebrip), movimentos de jovens e
ambientalistas. A partir dos debates nessas instâncias, se chegou ao
seguinte desenho para as atividades da Cúpula:
05: Dia
de Ação Global contra o Capitalismo
15 e 16:
Atividades Autogestionadas de Articulação
17:
Plenárias de convergência pré-assembleia
18:
Mobilizações e Atividades Autogestionadas de Articulação (manhã),
Plenárias de convergência pré-assembleia (tarde)
19:
Mobilizações e Atividades Autogestionadas de Articulação (manhã),
Assembléia dos Povos – Causas estruturais da crise e Falsas
Soluções (tarde)
20: Dia
de Mobilização Nacional/Global. Uma grande manifestação no Rio de
Janeiro e em várias cidades brasileiras para expressar a luta dos
povos contra a mercantilização da natureza e em defesa dos bens
comuns.
21:
Atividades Autogestionadas de Articulação e mobilizações (manhã),
Assembleia dos Povos – Nossas Soluções
22:
Assembleia dos Povos – Agendas de luta e campanhas (manhã), Ato
cultural de encerramento - Ecoar das vozes dos povos
23:
Avaliação
Dentro da
Cúpula, junto a outros movimentos sociais que compartilham nossa
visão anti-capitalista, anti-patriarcal e anti-racista, nós, da
MMM, estamos colocando ênfase na Assembleia Permanente dos Povos
(APP), que é o espaço onde, através dos depoimentos e análises,
dos intercâmbios e da solidariedade, da mobilização e das ações
concretas, teremos o desafio de fortalecer as lutas presentes e
convocar a novas ações e iniciativas, geradoras de novas
plataformas de unidade. A APP se organizará ao redor de três eixos:
-As
causas estruturais da atual crise de civilização, a partir de
exemplos concretos como das crises energética, financeira, alimentar
e ambiental, e denúncia das falsas soluções apresentadas pelo
mercado.
-A
reafirmação das práticas de resistência, os novos paradigmas e
alternativas construídas pelos povos;
-A agenda
política de lutas para o próximo período.
Um grupo
de trabalho de Metodologia está discutindo a melhor forma de
organizar este processo de convergências para a Assembléia dos
Povos, para visibilizar e fazer valer nossos novos paradigmas.
Mais
informações sobre a Cúpula: www.rio2012.org.br
Rio
+20: um olhar sobre o processo oficial
Em
janeiro de 2012, a ONU lançou o rascunho zero do documento
preparatório para as discussões oficiais com o título “O futuro
que queremos”. O documento tem muitos problemas: apresenta a
economia verde e a participação do setor privado como solução
para os problemas que eles mesmo criaram e criam; reafirma a Rodada
de Doha da OMC, a declaração de Paris sobre cooperação
internacional e a COP-17, todos acordos que reforçam o interesse das
corporações. E, ao final, propõe como medidas concretas o
estabelecimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Quem
segue o tema chama a atenção de que isso é a repetição o que
foram os Objetivos do Milênio;, ou seja, acordos rebaixados que
colocaram no lixo todos os acordos do ciclo de conferência sociais
das Nações Unidas nos anos de 1990.
Nós da
MMM Brasil nunca vimos com muito entusiasmo os resultados deste ciclo
de conferências. Nos preocupa muito o contrato de acordos amplamente
aceitos que criam as bases para novos negócios, como foi, por
exemplo, o Acordo de Dublin e a posterior expansão da privatização
dos serviços de água.
No
processo oficial da Rio+20, há um Major Group de Mulheres. Elas
apresentaram suas contribuições para o rascunho zero em novembro de
2011. Neste documento há considerações de medidas concretas com as
quais em parte estamos de acordo como, por exemplo, a proposição de
medidas concretas para a rápida redução e eliminação dos
subsídios a energias não sustentáveis como a nuclear; a afirmação
do princípio de precaução; a necessidade de proteção aos
sistemas de conhecimento tradicionais das mulheres indígenas frente
a sua exploração pelas corporações. O grupo é critico do termo
"economia verde", propõe substituí-lo por "economia
equitativa e sustentável" e descreve seus princípios. Além
disso, chamam a atenção sobre os limites do PIB como medida de
bem-estar e propõem indicadores para avaliar os impactos de gênero.
Contudo,
todas essas contribuições não aparecem no rascunho zero da ONU,
que só faz uma referência genérica à desigualdade de gênero,
mencionando que o desenvolvimento sustentável depende da
contribuição das mulheres, que é necessário remover barreiras que
impedem as mesmas de serem participantes integrais na economia e
priorizar medidas que promovam a igualdade de gênero. O rascunho
zero também incorpora a necessidade de desenvolver indicadores que
contemplem de uma só vez o econômico, o ambiental, e o social.
Consideramos
que uma análise restrita aos impactos diferentes de gênero pode se
limitar a uma descrição dos impactos positivos e negativos de uma
maneira fragmentada. Por exemplo, no ápice da globalização
neoliberal, o aumento do trabalho remunerado das mulheres nas
máquillas e a agricultura de exportação eram vistos como efeitos
positivos: as mulheres tinham um rendimento próprio e por isso era
mais provável que tivesse maior autonomia. Porém, havia também
impactos negativos, sobretudo nas condições precárias de trabalho.
Nessa lógica, se propõem medidas que equilibram os aspectos
positivos e negativos. Mas nós priorizamos um olhar que analisa como
o capitalismo faz uso de estruturas patriarcais no seu atual processo
de acumulação e, por isso, construímos uma luta e resistência
feminista e anticapitalista.
A MMM
e os debates sobre a Rio+20
Nós
estamos presentes na construção da Cúpula dos Povos como parte de
um processo global de resistência ao capitalismo, que é patriarcal
e racista e que hoje se expande cada vez mais dentro de todas as
esferas a vida.
Nosso objetivo com a participação neste processo é conseguir, antes mesmo da Cúpula dos Povos, dar visibilidade aos processos de luta contra as falsas soluções e contra o capitalismo verde que estamos envolvidas desde nossos países. E, a partir de uma posição feminista (anti-sistemica e crítica), provocar um debate aberto para desmascarar as intenções das transnacionais e de muitos governos sobre a economia verde, denunciando o entrelaçamento desta proposta com o aumento da opressão das mulheres. Ao mesmo tempo, queremos dar visibilidade às propostas alternativas das mulheres para o bem viver e conviver através de nossa participação ativa e em aliança com os movimentos sociais.
Temos como ponto de partida os debates e ações organizadas ao longo de nossa história como movimento que estão sintetizados em nossos campos de ação, especialmente em “Bens comuns e serviços públicos”:
(http://74.207.232.136/mmm2010/documentos/MMM_Internacional_bens_comuns.pdf/at_download/file)
Posicionamos o feminismo desde o campo da crítica às falsas soluções à crise ambiental e para afirmar que o novo discurso capitalista, que hoje se traduz no termo “economia verde”, é o mesmo modelo de mercado que mercantiliza nossas vidas, nossos corpos e nossos territórios. Dizemos Não! às falsas soluções propostas pelo mercado e seus agentes, como os créditos de carbono, os agrocombustíveis, os mecanismos de REDD e REDD++ e a Geoengenharia. Não aceitamos “soluções” que só geram mais negócios e não mudam o modelo de produção, consumo e reprodução social. Mas, também, afirmamos que as alternativas construídas e propostas pelos povos devem integrar uma dimensão geradora de igualdade, enfatizando que, para que as mesmas sejam alternativas globais verdadeiras, devem contemplar a igualdade entre mulheres e homens, o direito das mulheres a uma vida sem violência e a divisão do trabalho doméstico e de cuidados entre homens e mulheres. Para isso, partimos dos conhecimentos que acumulamos a partir da economia feminista, colocando a sustentabilidade da vida humana como objetivo.
Posicionamos o feminismo desde o campo da crítica às falsas soluções à crise ambiental e para afirmar que o novo discurso capitalista, que hoje se traduz no termo “economia verde”, é o mesmo modelo de mercado que mercantiliza nossas vidas, nossos corpos e nossos territórios. Dizemos Não! às falsas soluções propostas pelo mercado e seus agentes, como os créditos de carbono, os agrocombustíveis, os mecanismos de REDD e REDD++ e a Geoengenharia. Não aceitamos “soluções” que só geram mais negócios e não mudam o modelo de produção, consumo e reprodução social. Mas, também, afirmamos que as alternativas construídas e propostas pelos povos devem integrar uma dimensão geradora de igualdade, enfatizando que, para que as mesmas sejam alternativas globais verdadeiras, devem contemplar a igualdade entre mulheres e homens, o direito das mulheres a uma vida sem violência e a divisão do trabalho doméstico e de cuidados entre homens e mulheres. Para isso, partimos dos conhecimentos que acumulamos a partir da economia feminista, colocando a sustentabilidade da vida humana como objetivo.
Esse
debate de crítica ao capitalismo e ao desenvolvimento de
alternativas não se realiza nos marcos institucionais da ONU ou em
seus espaços de diálogo com a sociedade civil, que muitas vezes se
restringem a adicionar cláusulas de gênero em seus tratados, em uma
lógica similar ao que tem passado nas negociações da Organização
Mundial do Comércio (OMC).
Acreditamos
que o debate sobre alternativas só pode avançar com muito trabalho
de conscientização junto às mulheres e em espaços de aliança com
outros movimentos sociais que também se contrapõem e lutam contra o
capitalismo, patriarcal e racista. Com esta perspectiva, estivemos
presentes em vários espaços dos povos, paralelos às cúpulas
oficiais como a COP (Conferencia das Partes) da Convenção sobre
mudanças climáticas da ONU realizadas em Bali (2008), Copenhaguen
(2009), Cancún (2010) e Durban (2011). Também participamos de
processos construídos junto aos povos, em especial, a Cúpula dos
Povos sobre Mudanças Climáticas e Direitos da Mãe Terra
(Cochabamba, Bolivia, 2010) e no Fórum Social Temático Crises do
Capitalismo justiça ambiental e social (Porto Alegre, Brasil, 2012).
5 de
Junho: dia de mobilização internacional
Conscientes
da necessidade de gerar um processo mais amplo de crítica à
economia verde, durante o Fórum Social Temático "Crise
capitalista, justiça social e ambiental”, realizado em Porto
Alegre (RS), Brasil, de 24 a 29 de Janeiro de 2012, a Assembleia de
Movimentos Sociais definiu a construção de um dia mundial de ação
comum: o 05 de Junho, com o objetivo de mandar uma forte mensagem a
cada um de nossos governos antes da Conferência da ONU (Rio+20).
Nessa data, que coincide com o Dia Internacional do Meio Ambiente,
vamos destacar nossas posições, que são contrárias às políticas
que servem as corporações transnacionais e implicam na
mercantilização da natureza, de nossas vidas e nossos corpos, e
afirmar nossas alternativas.
Como
parte de nossas alianças, reforçamos nossos eixos comuns de lutas,
decididos em 2011, em Dakar: contra as empresas transnacionais, pela
justiça climática e soberania alimentar, contra a violência contra
as mulheres e contra a guerra, o colonialismo, as ocupações e a
militarização de nossos territórios.
Para ler
a declaração da Assembleia de Movimentos Sociais em Porto Alegre
2012, clique aqui:
http://www.marchemondiale.org/alliances_mondialisation/asamblea-movimientos-sociales/declarations/poa-2012/es
http://www.marchemondiale.org/alliances_mondialisation/asamblea-movimientos-sociales/declarations/poa-2012/es
No
Brasil, também, durante os dias da Rio + 20 prepara-se para o 20 de
Junho uma mobilização com forte presença nacional e internacional.
Seguiremos
em marcha até que todas sejamos livres!
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