Rubia Abs da Cruz[1]
“Elas gostam de apanhar” –
esse foi o título de um artigo publicado na Folha de São Paulo, por Luiz Felipe
Ponde, com muitas referências a Nelson Rodrigues e que se fundem no texto. E
exatamente por isso, resolvi manifestar contrariedades, à leviandade de um
texto, que em tempos de “Gabriela”, se torna ainda mais temerário.
Contrária ao que escreveu
Pondé, penso que o mundo é um lugar bom! Mas temos pessoas não tão boas no
mundo. Talvez eu não seja “adulta” o suficiente, o que nesse caso, acho até
bom. Desculpem, mas creio que serei irônica vez que outra.
Aproveito para saudar a democracia e o
processo civilizatório! Assim podemos debater o que pensamos sem violência
física, ao menos. Possibilidade recente, advinda de um novo contexto social, já
que nós mulheres não tínhamos direto a dizer ou escrever o que pensávamos, e
tampouco à educação e profissionalização. Assim, saúdo também ao feminismo!
No que se baseia a separação entre mulher e
prostituta?
Deveríamos ter realizado
mais marchas das vadias para nos
fazermos entender. Queimarmos as calcinhas talvez... Essa dualidade ou cisão foi
criada e absorvida pela humanidade. Seria bom contar com mais pessoas que
chegaram até Simone de Beauvoir. Não somente lendo, mas compreendendo sua
filosofia enquanto “especialista na alma humana” (Ponde). Mas somente ler não
basta. Já tentava dizer Nietzsche, quando não era compreendido por grande parte
da humanidade! Ainda bem que a alma humana tem muitos especialistas
para além de Nelson Rodrigues.
Aproveito algo que
circulou na mídia para exemplificar, e pergunto: - Sandy tem um lado devassa ou
tem uma devassa dentro dela?
A mulher não encena, a
mulher sente! Embora todos e todas nós possamos encenar em vários contextos do
dia-a-dia e da noite também. Mas sinto muito, por quem somente vivenciou encenações
e se relacionou com pessoas que se vendem!
Na vida e no sexo!
E
partindo de uma das máximas de Nelson Rodrigues trazido no texto, "Dinheiro compra até amor
verdadeiro." Busco refletir:
- O dinheiro pode comprar quase
tudo! O dinheiro compra homens!
Não compra somente
mulheres.
Pois então, aí reside “ A
prostituta que há no homem”. Alguns se vendem pela comida gostosa todo dia...
Brincadeiras à parte, gostaria que fizéssemos um exercício de pensar que o
“homem” da frase acima, fosse compreendido, como usual na nossa linguagem, como
homens e mulheres. É assim que a linguagem também exclui o feminino. Homem quer
dizer homem e mulher! Poderíamos dizer que: - O homem é interesseiro. Que o
homem só pensa em
dinheiro. O homem engravida. Nesse último cabe um comentário,
porque o homem, nesse caso o macho, engravida sim. Quando não usa
preservativo... e aí, a responsabilidade não é somente da mulher como se
costuma dizer por aí.
Não buscarei a hipocrisia
e nem viver no “mundo de Alice”, mas admito que não consegui “escapar dessa
armadilha que é interior", e devido a um “desejo incontrolável”, quase
pecaminoso, segundo Sábato Magadi, descrito por Ponde, de me manifestar, pois
poderia simplesmente ignorar mais um artigo dessa linhagem.
Então, já que caí na
armadilha desse texto, sigo: “que ensinem mais Nelson Rodrigues e menos
Foucault”, não seria o principal problema da abordagem, (embora discorde) não
fosse a máxima rodriguiana que mais me preocupou: "a vida é sempre amor e
morte".
Dependendo da
interpretação, pode estimular homens a matarem suas mulheres, por se sentirem
legitimados socialmente. Quantas vezes escutamos dizer que ele matou porque
amava muito ou devido ao ciúmes. Isso é alguma outra coisa, mas não amor. No
nosso Estado 50 mulheres foram mortas nessas circunstâncias em 8 meses. Menos mídia
as desgraças sociais talvez pudesse ajudar. Exatamente por isso, não se
noticiam suicídios! Ou talvez menos programas como “Gabriela”, onde homens
matam as mulheres e a polícia nem se preocupa em investigar. A Lei
Maria da Penha surgiu devido a um caso semelhante. A vida como ela é!
“A submissão ao macho
desejado” colocado por Pondé, faz com que muitos homens submetam mulheres ao
sexo, contra sua vontade, fazendo com que tenhamos atualmente uma média de 90
mulheres estupradas por mês somente no Rio Grande do Sul e de meninas, sobe
para a média de 200 casos mensais. Esses dados não podem ser ignorados.
Devemos ser responsáveis
por nossas ideias em uma sociedade de desigualdades intelectuais, com “mulheres
normais” e com homens que gostam de bater e de submeter às mulheres ao seu
prazer. Esse “homem” também pode ser interpretado como homem e mulher. Ou não?
Sei que responder a esse
texto é perigoso, e que alguns homens e também mulheres, podem pensar sobre
mim: - Que idiota moral!
Brincadeira. Poderão
pensar quase que de forma condicionada, adjetivos piores. Não me importa. Na
nossa sociedade mulheres que pensam, reagem e se posicionam também são
consideradas prostitutas. Não precisamos nos vender nem fazer sexo para assim
sermos nominadas. Basta pensar e transgredir!
O que é ser um idiota moral mesmo?
* artigo relacionado ao artigo de Pondé, intitulado "Elas Gostam de Apanhar"
[1] Advogada,
Diretora Departamento de Justiça da Secretaria da Justiça e Direitos Humanos do
Estado do Rio Grande do Sul, Especialista em Direitos Humanos
das Mulheres e Sistema ONU, Professora Curso de Educação Ética e Direitos
Humanos da UFRGs.
._,___
http://www.recantodasletras.com.br/pensamentos/3860395
ResponderExcluirUma mensagem, sobre o preconceito que homens também sofrem.
no antepenúltimo parágrafo há um erro de interpretação, vejo eu.
ResponderExcluir" “A submissão ao macho desejado” colocado por Pondé, faz com que muitos homens submetam mulheres ao sexo, contra sua vontade, fazendo com que tenhamos atualmente uma média de 90 mulheres estupradas por mês somente no Rio Grande do Sul e de meninas, sobe para a média de 200 casos mensais. Esses dados não podem ser ignorados."
O Pondé cita "A submissão ao macho DESEJADO" e na sequencia quando se cita a quantidade de estupros não se diz que as mulheres estupradas foram estupradas por machos INDESEJADOS. Se fossem DESEJADOS não seria estupro.
é assim que eu vejo, abraço!