São
muitos os fatores que constróem uma mentalidade preconceituosa e
agressiva. Não precisamos ser mestras em psicologia para entendermos
isso. No entanto, destes fatores a cultura e a educação - ou a falta da
educação para a diversidade - são, sem dúvida, os mais preponderantes.
No Brasil, país de muitos preconceitos, desde muito
cedo é comum ver as crianças praticando o hoje chamado bulling
preconceituoso: chama-se negros e negras de macacos em qualquer campo de
futebol; loiras de burras em salas de aula, meninos sensíveis de
veadinhos e meninas com atitude de machorras. Pior: estes xingamentos
são considerados "comuns da idade" na maioria das escolas, afastando o
enorme grau de preconceito que trazem embutidos neles.
Esta "cultura" reproduzida pelas crianças é formada
pelos exemplos domésticos (piadinhas, xingamentos ou termos inadequados
usados ao corrigir o comportamento das crianças) e, mais forte que
tudo, pelas imagens rotineiras dos programas de televisão e constróem
cotidianamente adultos que têm preconceito e muitas vezes não sabem nem
mesmo o porquê, ou de onde esta aversão (por isso o uso do termo fobia)
veio.
Ensinar a pensar é uma das grandes tarefas que tem a
escola na educação das crianças e um dos questionamentos mais
importante é sem dúvida: porque existem papéis definidos para homens e
mulheres? A quem estes papéis favorecem?
Nos assusta a quantidade de reações violentas com
homossexuais nas ruas, praticadas por "cidadãos comuns", sem
antecedentes - o que dificulta a punição, quase sempre convertida em
trabalhos comunitários ou pagamento de cestas básicas.
O problema é que a falta de ação pública, como
política de Estado (e não em ações de governo, como insistem alguns
"gênios" hoje em dia), só faz piorar as coisas, transformando a
impunidade em fator que reforça a cultura machista, racista e
lesbofóbica no Brasil.
O fato, hoje, é que a homofobia no Brasil, assim
como o machismo, é violenta: ela escolhe um alvo, ameaça, decide que vai
acabar com aquela vida e MATA! Execuções bárbaras, sumárias, geralmente
cometidas com requintes de crueldade, por motivos fúteis e,
invariavelmente levadas a cabo por homens. Será, mesmo, que isso não
quer dizer alguma coisa? Será mesmo que esta cultura tem de ser
preservada?
No centro deste debate um fator me solta aos olhos:
os fundamentalismos! Falo no plural porque dependendo da cor da pele e
do gênero atacado, o fundamentalismo social entra em ação, mas o
fundamentalismo religioso, este está no centro da grande maioria dos
casos. Igrejas que esolhem ou escolheram alvos durante toda a sua
história e que hoje voltam suas armas para nós, homossexuais.
Não que a religiosidade das pessoas seja problema.
Entender isso no meu texto seria o equivalente a enteder que quando falo
nos crimes cometidos por homens, imagino que todo o homem seja um
criminoso. Não, óbvio que não se trata disso. Acontece que a
religiosidade não é um problema quando manifesta por pessoas que têm
cultura, discernimento, ou foram educadas pela escola ou pela vida de
forma inclusiva, compreendendo a natureza e a riqueza da diversidade
humana.
No entanto, esta mesma religiosidade, transformada
em dogma sectário (como todo o dogma é) e fanático como a ignorância o
faz ser, esta religiosidade, sim, é perigosa, porque está sendo usada
como motor para o ódio, para a apropriação das mentes das pessoas e,
inclsuive, dos espaços de poder nas esferas públicas. A frase "Deus vai
te punir" é o recurso da hora quando nos atacam nas ruas, hoje em dia.
Falo tudo isso porque esta semana dezenas de
lésbicas, ativistas do movimento LGBT do estado do Paraná, foram alvo de
violência direcionada: e-mail e telefonemas ofensivos, ameaçadores, com
termos de baixo calão foram direcionados para várias das nossas
companheiras. Em muitos deles o termo DEUS apareceu várias vezes.
Tomamos providências, é claro, e certamente
encontraremos as pessoas que as fizeram. No entanto, esta situação nos
faz pensar a cada noite, antes de dormirmos: até quando? Quanto tempo
mais teremos de vencer o medo diário de sairmos às ruas sem sabermos se
não seremos nós as próximas vítimas? Até quando esta visbilidade
escancarada ou a invisibilidade forçada serão as únicas armas
disponíveis para nos defendermos?
Continuaremos lutando diariamente para mudar esta
CULTURA que separa homossexuais de heterossexuais, mulheres de homens,
negros de brancos, bons de maus, como forma de, polarizando, nos colocar
em lados opostos da natureza humana, situação utilizada para justificar
o medo, a aversão, o preconceito que leva à agressão, à violência e
tantas vezes à morte. Mas não podemos mais fazer isso sozinhas!
Esperamos, infelizmente ao som de marchas fúnebres, que todas as vozes
se levantem!
"O que está
acontecendo? O mundo está ao contrário e ninguem reparou? O que vocês
está fazendo? Eu estava em paz, quando você chegou..." - Nando Reis -
Relicário.
* Liga Brasileira de Lésbicas - articulação Regional Sul
LBL-RS - Liga Brasileira de Lésbicas - RS
lbl.rs@brturbo.com.br
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