sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Sobre o 20 de setembro, “Dia da Revolução Farroupilha”

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*Por Cheron Moretti
Sobre o 20 de setembro, “Dia da Revolução Farroupilha”: numa semana como essa em que a gauchada se vangloria de feitos e de sua identidade regional, escondem que homens brancos e livres, é claro, tanto imperiais como farrapos podiam colocar homens escravizados (negros) em seu lugar para virar bucha de canhão.
Essa “revolução” que se comemora era uma guerra entre brancos onde morriam, preferencialmente, negros. E o lugar das mulheres? Só pra gente ter uma ideia -porque esse “detalhe” da história universal boa parte dos homens esquecem ou apagam- no século XVIII se discutia se as mulheres eram seres humanos. Os homens brancos iluminados debatiam se estávamos mais próximos deles ou de animais.
Foi apenas no final do século XIX que pudemos ter direito à educação (!). Isso me faz concluir que eles concluíram que estávamos mais próximos deles, homens. Ufa, nos atribuíram alguma racionalidade! Porém, foi só no século XX que se “descobriu” que as mulheres têm uma história – século em que nós nascemos! Bem, uma das questões é a de que o fato de reconhecerem que temos uma história e que nós mesmas podemos contá-la para transformá-la incomoda muito os machos, inclusive os esquerdomacho!
Então, a gente pode contar a história das mulheres nessa mesma “revolução” desde diferentes perspectivas. 1) como as mulheres apoiaram os farrapos ou os imperiais e se engajaram na disputa pela república ou pelo império (por uma questão de classe…pode ser, né?); 2) como as mulheres viveram a violência da guerra, enfrentaram a miséria, os estupros e as privações durante e pós guerra desses “homi”; 3) como as mulheres escravizadas -negras-foram duramente atingidas pela guerra (colocadas ainda mais próximas ao não-humano).
Não existe romantismo nessa data que não seja invenção e versão de um dos lados. A outra questão, então, é a de que a tal “dúvida” que pairava lá no século XVIII não foi superada! O sistema-mundo (colonial-imperial-patriarcal e capitalista) tá aí. Enfim, no fundamental, qualquer história que se conte sobre esse 20 de setembro sem as mulheres, não será a história de todas e todos nós.
Não há novidade no fato de mulheres que se unem pelo #ForaTemer e defendem a democracia tenham que enfrentar os macho dos/nos piquetes por aí. Afinal, a política é para poucos e tem cor e sexo.
*Cheron Moretti é militante da Marcha Mundial das Mulheres no Rio Grande do Sul.

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