sexta-feira, 21 de abril de 2017

24 DE ABRIL: DIA INTERNACIONAL DE AÇÃO FEMINISTA!



No dia 24 de Abril, relembramos o massacre ocorrido em Rana Plaza, Bangladesh. Em 2013, cerca de mil mulheres foram feridas ou perderam suas vidas devido ao colapso do edifício onde trabalhavam em condições desumanas por um salário imoral. Nós, militantes da Marcha Mundial das Mulheres, em solidariedade unimos nossas vozes para denunciar a ganância do capitalismo, a exploração e expropriação do trabalho produtivo que, de diversas formas, acontece diariamente em nossas vidas.
O capitalismo se reestrutura permanentemente usando os mesmos mecanismos violentos de acumulação que estão em sua origem: a apropriação das terras e da natureza, a exploração do trabalho, o controle sobre o corpo das mulheres, a violência e o poder militar. Esse sistema manifesta-se de forma diretamente articulada com o neocolonialismo e o patriarcado.
As corporações organizam a sua produção e toda a cadeia de valor de forma distribuída pelo mundo, tendo como alvo os países do sul global, considerados “paraísos fiscais” onde a mão de obra é barata. Contudo, a força de trabalho só pode ter menos custo quando não são garantidos os direitos das/os trabalhadoras/es. Mulheres, principalmente negras, asiáticas e/ou imigrantes enfrentam, inclusive nos países do norte, condições precárias de trabalho, longas jornadas e recebem os salários mais baixos.
Por causa da usurpação de terras das comunidades, da transformação da agricultura familiar em agricultura para exportação, do desmatamento, da contaminação dos rios resultante das atividades das transnacionais, a situação para as mulheres é de ausência dos recursos básicos para manter o bem-estar cotidiano das famílias e comunidades, ter acesso a alimentos saudáveis e água. Passamos, assim, a depender do mercado para poder ter alimentos e, se que não temos poder de compra, caminhamos longas distâncias para procurar água. A presença das corporações nas comunidades forma uma classe de trabalhadores emigrantes urbanos - na sua maioria composta por homens - que impulsiona a prostituição, casamentos prematuros e ou outras formas de controle da sexualidade das mulheres como alternativa para as dificuldades financeiras que as mulheres e suas comunidades enfrentam.
A indústria alimentar que defende e produz alimentos geneticamente modificados (GMO) instalou-se nos nossos mercados. Para ela, a aparência dos alimentos tem mais importância do que sua qualidade nutricional, e assim vemos a nossa saúde e bem-estar gravemente afetados. As indústrias da moda e da tecnologia, através da manipulação midiática para o consumo acelerado, produzem diariamente necessidades superficiais e nos vendem a ideia de que o consumo nos dá um status elevado, serve como forma de relaxamento e culto à nossa autoestima. Contestamos a falsa ideia de que “ser mulher” se sustenta na quantidade e no custo do que se compra.
Este contexto que afeta diariamente as mulheres surge como consequência do chamado “livre comércio” - que não é uma novidade, e também nada tem de livre. Os Tratados de Livre Comércio (TLCs) são instrumentos que estabelecem regras muito rígidas, formuladas através de um processo extremamente antidemocrático e que tem como objetivo tornar estas regras irreversíveis, para que assim as empresas transnacionais ampliem seu poder sobre nossas vidas, o controle sobre as políticas dos Estados e a exploração da força de trabalho das mulheres. Com os TLCs, as corporações querem se apropriar cada vez mais do conhecimento produzido historicamente pelos povos. Querem patentear a vida, as sementes, o conhecimento – e ter o monopólio destas patentes por mais tempo. São exemplos de TLC: o acordo Transpacífico (TPP), o Transatlântico (TTIP) e o acordo sobre comércios e serviços (TISA). 
Nós mulheres lutamos contra os TLCs porque esses acordos são muito mais do que simples regulações do comércio entre países: são estratégias de dominação das pessoas. Eles ampliam o alcance do mercado, aprofundam as desigualdades entre os países e entre os povos. Eles colocam em perigo a sustentabilidade da vida na terra pela destruição que causam à camada do ozônio, à biodiversidade terrestre e marinha e ainda pela ganância desmedida em conquistar e explorar a Lua e outros planetas. As transnacionais contam com a impunidade: violam os direitos humanos, contaminam a natureza, os nossos corpos e seguem impunes. Elas mudam de nome, marca e deslocam o lugar de sua produção conforme seja melhor para seus lucros.
Quando enfrentamos o livre comércio, estamos questionando um modelo de desenvolvimento que, na sua combinação do machismo e do racismo no mercado capitalista, beneficia apenas uma pequena elite. Denunciamos as estratégias de avanço permanente do capital sobre os territórios e a biodiversidade dos países do sul. Denunciamos a financeirização da vida.
Nos, mulheres da MMM, reafirmamos o 24 de Abril como uma data de resistência e luta contra o poder e impunidade das TLCs e contra todas as formas de exploração capitalista neoliberal. Convidamos nossas militantes e aliados a se unirem nessa reflexão-ação sobre o seu contexto específico, incorporando suas lutas locais nesta discussão mais ampla. O nosso questionamento é o fundamento para as alternativas que estamos construindo com base na soberania alimentar, agroecologia e economia solidária. Defendemos o trabalho como um espaço para a liberdade daquelas que são produtoras e suas consumidoras/res.
A nossa ação nos fortalece e impulsiona as lutas e resistências na diversidade de mulheres que somos e representamos local e internacionalmente. 

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