sábado, 27 de fevereiro de 2021

Intersocial Feminista 8M: Rivera y Livramento RESISTIENDO!

 


2020 - O ano que não mudou a vida das mulheres!

*Ane Cruz

 

O ano de 2020 foi um ano que muita gente avaliou como um ano atípico por causa da pandemia. Que tudo parou ou que muita coisa mudou. Para nós mulheres, não foi diferente. Para o movimento feminista também não foi. Mesmo com a pandemia da Covid-19, 2020 foi um ano que tivemos de ir às ruas, pedir para pararem de nos matar, de nos violentar, de violentar nossas filhas. Foi mais um ano que o machismo e o patriarcado manteve sua rotina como nunca.

Afirmamos isso, com base nos dados que indicam que “a violência contra a mulher permanece como a mais cruel e evidente manifestação da desigualdade de gênero no Brasil” (Monitor da Violência/2020) e segundo um estudo de Organização das Nações Unidas, o Uruguai tem a segunda maior taxa de mulheres assassinadas por companheiros ou ex-companheiros na América Latina.

Não há lugar seguro para as mulheres no Brasil. Não há separação entre espaço público e privado para elas – a morte e a violência sempre estiveram presentes dentro das casas, no transporte público, nas praças, nos templos religiosos, nos espaços de educação e lazer e nos espaços de poder e decisão.

De acordo com levantamento do ‘Monitor da Violência’ (USP), as principais vítimas de feminicídio são mulheres negras, ou seja, 73% das vítimas. Segundo o levantamento, 631 desses crimes foram de ódio, motivados pela condição de gênero, ou seja, feminicídio.

Somente nos primeiros oito meses de 2020 os assassinatos de pessoas trans aumentou 70% comparado ao mesmo período do ano anterior, segundo o dossiê do Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos (CBDDH), este dado só comprova o quanto as pessoas trans estão mais vulneráveis ainda em plena pandemia.

Já o desemprego, não só no Brasil, mas em toda América Latina, alcançou recordes históricos. A Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) projetou que “o desemprego regional iria bater 13,5% no final de 2020, o que significa 44,1 milhões de pessoas desempregadas”. Isso representa um aumento de quase 18 milhões de desempregados com relação ao ano de 2019, quando tínhamos cerca de 26,1 milhões de desempregados na América Latina. Nesse contexto de crise global, as mulheres têm sido as mais afetadas, por alguns motivos em especial. Em primeiro lugar, as mulheres ocupam os principais setores afetados pela pandemia, como hotelaria, alimentação e serviços domésticos, principalmente aqueles setores historicamente ligados aos cuidados (de crianças, idosos ou doentes). Também possuem uma taxa de informalidade relativamente superior aos homens; de acordo com a Cepal, 11,4% das mulheres latino-americanas se dedicam ao trabalho doméstico remunerado, sendo que 77,5% dessas trabalhadoras são informais.

O outro fator diz respeito à paralisação de aulas presenciais, que provocou uma grande demanda de trabalho voltado ao cuidado (trabalho reprodutivo). Pasmem, isto significa, pelo menos 113 milhões de crianças que estão dentro de casa há quase um ano e que geram uma imensa sobrecarga de trabalho. Obviamente que as mulheres que conseguiram manter seus empregos, nesse contexto, estão enfrentando extremas dificuldades em conciliar duplas (ou triplas) jornadas de trabalho.

Na Fronteira Rivera-Livramento que une Uruguai e Brasil, o movimento feminista começou o ano de 2020 organizando e mobilizando as mulheres e em março mais uma vez como é nossa tradição fomos para as ruas em marcha dizendo: “Mulheres livres, nenhum passo atrás com Cristina Benavides”. Fazendo uma homenagem a uma das nossas que deixou seu legado de luta, e o 8 de março de 2020 aconteceu de forma extraordinária na fronteira. Conseguimos unir mulheres de todas as raças e gerações, profissões, religiões, idades, orientação sexual e política, avisando que não daríamos nenhum passo atrás.

Já em Brasília, todas as regiões do Brasil se mobilizaram e foram mais de 3.500 “Mulheres em luta, Semeando resistência” no primeiro encontro nacional das mulheres do MST. Muitas de nós estavam chegando em suas casas quando o Brasil já anunciava oficialmente a chegada da pandemia.

Ficamos abril e maio em casa isoladas, observando o nosso país e o mundo lidarem com a nova Covid 19. Mas os lares das mulheres não são lugares seguros de violência. “O registro de agressão contra a mulher equivale às vítimas da Covid, vale dizer que vivemos duas pandemias no século XXI: da violência contra a mulher e a Covid-19”, denuncia o FONAVID/2020.

Junho chegou frio e calculista, com o aumento dos feminicídios no Uruguai. Fizemos uma Campanha em frente às nossas casas, nas nossas janelas, denunciando os feminicídios e a violência contra as mulheres. Em Sant’Ana do Livramento o feminicídio de Mariana, que foi torturada um final de semana inteiro em seu quarto de hotel onde residia, nos fez sair às ruas denunciando mais uma vez um crime brutal contra uma mulher.

Uma pesquisa do Governo Uruguaio realizada em 2019 afirmava que 76,7% das mulheres disseram ter sofrido violência de gênero ao longo de sua vida, e 47% disseram ter sofrido de companheiros ou ex-companheiros. Segundo as autoridades uruguaias, nos primeiros 45 dias de confinamento do ano de 2020, em comparação com o mesmo período do ano anterior, as consultas e pedidos de ajuda via telefone sobre violência de gênero aumentaram de forma drástica em 80%. Até seu oitavo mês houve 19 feminicídios atrozes e 10 tentativas que deixaram as vítimas gravemente feridas, segundo a base de dados mais ampla sobre esses crimes, compilada por organizações feministas.

Antes do final de junho, um debate latente de nos organizarmos para além da realização do 8M, nos encaminhou para a criação da Intersocial Feminista 8M Rivera –Livramento, então, nasce aqui uma articulação das organizações, coletivos, movimentos de mulheres unificadas pelo feminismo e contra o machismo, a violência de gênero, contra o patriarcado e todas as suas formas de opressão.

E junho nem tinha acabado, quando veio à tona o caso da menina de São Mateus/ES, de 10 anos, estuprada pelo tio e que obteve autorização da justiça para a realização de um aborto no SUS, em Recife/PE. Com isso, o que vimos nas mídias sociais e na imprensa a manifestação cruel das ditas “pessoas de bem” culpabilizando uma menina de 10 anos, e não o estuprador. Os dados sobre aborto no Brasil é estarrecedor!  Até junho de 2020, ao menos 642 meninas de até 14 anos foram internadas no SUS para fazer um aborto: a maioria por complicações na gravidez e tentativas de interrupção da gestação. No ano anterior, em 2019, a cada 100 internações por aborto de um total subnotificado de 195 mil, apenas uma tinha sido autorizado pela Justiça (DataSus).

Em julho acontece mais um feminicídio em Rivera, e organizamos o ato na Praça Artigas contra a morte de Sofia.  Enquanto isso em Montevidéu uma grandiosa marcha feminista de alerta, encheu mais uma vez a avenida central 18 de Julho da capital, na qual as mulheres recentemente assassinadas foram lembradas.

Agosto chegou marcando os 14 anos da Lei Maria da Penha no Brasil. Mas em tempos de Covid-19, a situação de violência doméstica só se agravou aumentando a dificuldade das mulheres para notificar as ocorrências, o que foi sendo relatado, entre outras instituições, pela ONU Mulheres e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Somente no primeiro semestre de 2020, foram 119.546 registros de lesão corporal em contexto de violência doméstica , em média, 664 mulheres agredidas por seus companheiros dentro de casa por dia. Esse é o resultado da pandemia. O mesmo aconteceu com os casos de estupro e estupro de vulnerável, os quais chegaram a uma média de 126 casos de estupro e estupro de vulnerável, por dia no primeiro semestre de 2020.

Estes fatos só confirmam o descompromisso do Governo Federal com a aplicação dos recursos com políticas públicas para o enfrentamento à violência contra as mulheres.

Um estudo da consultoria da Câmara Federal apontou a baixa execução orçamentária na área, enquanto denúncias de violência contra a mulher ao Ligue 180 cresceram 35% durante pandemia. Enquanto isso, o Governo gastou apenas R$ 5,6 milhões de um total de R$ 126,4 milhões previstos com políticas para mulheres.

O fato da fronteira Brasil-Uruguai promover uma articulação das organizações de mulheres em torno do feminismo, é também o resultado do emergente movimento feminista nos últimos anos contra o fascismo nos governos.

Esses movimentos tiveram resultados positivos nas eleições municipais no Brasil, por exemplo. Várias orgaanizações feministas decidiram disputar os espaços e da institucionalidade, seja por meio de mandatos individuais ou coletivos em todo país. As mulheres representaram 52,49% das 147,9 milhões de pessoas aptas a votar nas eleições de 2020 (TSE). Nas urnas, das 50 candidaturas de mulheres pobres, negras e trans às Câmaras Municipais efetivamente apoiadas pelo “Levante das Mulheres”, 17 foram eleitas. No Uruguai a continuação da esquerda Frente Amplista com a eleição da engenheira Carolina Cosse do Frente Amplo, para administrar a capital Montevidéo, foi uma grande vitória.

As eleições mal tinham se encerrado no Brasil e fomos obrigadas pedir justiça por Mariana Ferrer e tantas outras mulheres, contra a cultura do estupro. As urnas se fecharam e o dia contra a violência contra as mulheres chegou em 25 de novembro quando fomos pra frente dos Poderes Judiciários de Livramento e Rivera, pedir justiça às mulheres violentadas e mortas, pedir respostas sobre os processos que andam à passos lentos nas mãos da justiça. Fomos pedir maior punição e agilidade para os casos de violência doméstica. Fomos denunciar o caso do professor Braseiro, abusador de Rivera e que recentemente fugiu da sua prisão domiciliar deixando na janela de sua casa a tornozeleira. Sim, nós avisamos.

Dezembro chegou sem piedade e os casos de abuso sexual e estupro contra meninas e mulheres foram registrados como nunca em nossa fronteira. Enquanto isso, a face mais perversa do machismo se declarava logo após a noite de natal, avisando que eles, os machistas não iriam parar. Foram 16 facadas que mataram a juíza Viviane na Barra da Tijuca,Rio de Janeiro, em frente às filhas. Esse caso comprova mais uma vez que não há raça nem classe social quando querem nos matar. Não estamos protegidas, nem as pobres, nem quem faz parte do sistema de justiça.

Faltam poucos dias para o 8M de 2021. Nós não vamos parar, na vamos ficar assistindo ao extermínio das mulheres e nem ao avanço do machismo, da misoginia, da impunidade e da morosidade dos Poderes Executivo e Judiciário e da cumplicidade da sociedade que não diz um basta à violência contra as mulheres.

Exigimos: “Mulheres vivas nas ruas, nos lares. Em todos os lugares. Nenhum direito à menos!”

 

 *Feminista, socióloga, ativista da Intersoscial Feminista 8M Rivera-Livramento.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Rearticulando os núcleos da MMM RS a partir do debate da Cultura – Carnaval 2021

Encontros virtuais dos núcleos regionais da MMM do Rio Grande do Sul ocorreram em dias diferentes, aproveitando o feriado de carnaval que neste ano foi diferente em função da pandemia pelo Covid-19, e teve como proposta principal a discussão sobre a temática da Cultura e dos seus desdobramentos: A Cultura e a condição da mulher negra na sociedade, a condição das mulheres em relação ao feminicídio, e o combate à uma cultura patriarcal machista e racista que possui como linguagem a violência contra às mulheres, e a tua a diversidade de expressão que foge aos seus domínios de poder. A rearticulação e auto-organização dos núcleos regionais também era objetivo desta atividade proposta, como enfrentamento dos desafios atuais e a intensa agenda que inicia principalmente no dia 8 de março de 2021. Os núcleos que se auto-organizaram para as atividades foram: capital Porto Alegre e Canoas, Região Centro (Santa Maria e Encruzilhada do Sul), Região do Vale do Gravataí (Cachoeirinha, Viamão, Gravataí e Alvorada), Região Sul (Rio Grande e São José do Norte) e Região do Litoral Norte (Torres, Maquiné, Tramandaí e Osório).

            O tema da Cultura se apresenta como uma questão central para a luta de direitos cidadãos, e na luta por uma cidadania que favoreça a compreensão das diferenças culturais, dos direitos políticos, e da livre expressão crítica de um povo. Dito isso, é um tema central para pensarmos as condições de como um povo vive, cria, recria e acessa as suas relações pessoais, individuais e coletivas. Como nos direitos conquistados e que ainda estão em disputas pelos grupos políticos feministas de forma plural e progressista, assim como LGBTQ+, e pelos seus movimentos sociais em reivindicações pelos direitos mínimos de direitos sociais.

A cultura se torna um termômetro para dizer se ela está em uma fase de crises, lutas e conquistas, e no caso do Brasil a cultura é um dos ramos sociais mais afetados, e identifica a transição que estamos sofrendo pelo desmonte social, político cultural. Também expressa a transformação na sociedade da livre expressão democrática e laica, para a do peso da sociedade que censura através do olhar fundamentalista religioso, e particularista de um grupo e vertente social. Nos últimos dois anos o tema da Cultura no Brasil demarca em pleno século XXI o retorno da censura.

 A cultura é responsável para podermos encontrar algumas explicações históricas das lutas pela igualdade e pela equidade, pois inseridas em hábitos arcaicos da exploração do pensamento e dos corpos que possuem cor, raça e gênero, gritamos pela complexidade de ser, ainda mais em um país que não reconhece suas próprias origens e ancestralidade. Antes de se enxergar como povo brasileiro, há identificação com grupos de privilegiados em detrimento da exploração e retirada de direitos de outros grupos sociais.

A música, o teatro, o esporte não definem uma visão única da cultura no Brasil, mas a cultura também se define pelas lutas de movimentos feministas e populares, como a própria MMM que atravessa o muro da localidade e se encontra no nível de movimento internacional e longo histórico agregador da América Latina e global.

A mesma cultura que reproduz o machismo patriarcal, também é afetada pelo aumento significativo dos movimentos feministas antirracistas e de sua pluralidade, em que cultura é carnaval, direito a felicidade, mas também é passível de críticas dos poderes que assolam um país que foi colonizado.

 A falta de incentivos às produções artísticas e os tabus entorno das censuras marcam uma fase do país vista em governo ditatoriais, assim como no Brasil de 1964. E esta comparação marca o ritmo de um pensamento em que a liberdade de expressão e a diversidade marca um novo momento da formação de uma identidade nacional.

O Brasil e sua dificuldade de reconhecimento pela identidade Latino Americana é um lugar de espaços de festas, mas de amarras do patriarcado e do fundamentalismo que se direciona diretamente para o corpo das mulheres. Ora pode ser usurpado e retirado de suas expressões de um corpo, ora lançado ao corpo de mulher entre “sagrado e o profano”, em um jogo que tenta se apoderar de um corpo que fala e grita por seus direitos. Direitos que vão além de uma origem, mas sim de uma ancestralidade. A origem é romantizada no mito de um país miscigenado. A saber, marcados por uma ancestralidade, lembramos conscientes da verdadeira face construída pelos genocídios, estupros e dizimação de direito à vida de expressividade laica.

Nestes encontros foi levantada a questão: Como as mulheres negras ainda são/foram representadas em um país racista e misógino? Como se desenvolvem os direitos em uma sociedade com grandes índices de feminicídios e de violência de gênero? Quais são os direitos garantidos para que as mulheres negras não sejam vistas e taxadas apenas como corpos de carnaval? Até quando a visão da mulher negra será vista apenas como liberdade de expressão apenas no carnaval? Até quando a população negra será apenas livre nos dias marcados para se esquecer quem se é?

Assim, a Marcha Mundial das Mulheres luta pela cultura de promover direitos, por uma cultura de respeito, educação e retorno político social. A cultura não é estática, e em disputa pede que tenhamos como características o reconhecimento de nossa força e dos direitos conquistados para todas. Apenas seremos livres quando todas forem livres. Por uma cultura de direitos conquistados! Por uma cultura feminista antirracista, anticolonial e antipatriarcal!



   

Encontro virtual dos núcleos Porto Alegre e Canoas - 06/02/2021

Encontro virutal da Região do Vale do Gravataí (Cachoeirinha, Alvorada, Viamão e Gravataí) - 09/02/2021


 

 

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Fórum Aborto Legal RS e Themis publicam Guia do Aborto Legal e Cuidado à Pessoa em Situação de Violência Sexual


 Plenária ampliada do Fórum Aborto Legal Rio Grande do Sul será realizada na quinta-feira (25/2).


Em um momento de graves ameaças aos direitos reprodutivos das mulheres brasileiras, a Themis – Gênero, Justiça e Direitos Humanos e o Fórum Aborto Legal RS publicaram nesta segunda-feira (22/2) o Guia do Aborto Legal e de Cuidado à Pessoa em Situação de Violência Sexual e um vídeo explicativo sobre o mesmo tema.


O material tem o objetivo de ampliar o acesso à informação, reunindo informações sobre violência sexual e direito à interrupção legal da gravidez no país e elencando também os hospitais de referência no atendimento à violência sexual e ao aborto legal no Rio Grande do Sul.


A edição 2020 do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2020 mostrou que 181 estupros são registrados por dia no país - e 57,9% das vítimas têm até 13 anos. A gravidez que decorre por abuso sexual é um dos casos nos quais o aborto é permitido por lei, mas a pandemia de coronavírus aumentou ainda mais os obstáculos para o acesso aos serviços de saúde, especialmente para as mulheres e meninas mais pobres.


Em formato de e-book, o guia foi elaborado durante o projeto "Articulando redes para ampliar o acesso e qualificar o atendimento de mulheres em situação de aborto legal no SUS”, desenvolvido em 2020 com o apoio da Fundação Luterana de Diaconia. Os resultados do projeto serão apresentados na quinta-feira (25), durante a Plenária ampliada do Fórum Aborto Legal Rio Grande do Sul. Para maiores informações, escreva para o e-mail forumabortolegalrs@gmail.com.


Além da contribuição da Themis - Gênero, Justiça e Direitos Humanos e do Fórum Aborto Legal RS, o texto do guia teve apoio e cooperação do Ministério Público Federal. "O lançamento do guia neste momento é relevante, na medida em que encontramos muitas informações contraditórias a respeito do tema circulando na mídia. O guia vem esclarecer às mulheres vítimas de violência sexual a respeito de seus direitos e dos serviços de saúde disponíveis para o seu acolhimento", afirma a procuradora da República no Rio Grande do Sul Suzete Bragagnolo.


Leia o guia em bit.ly/GuiaAbortoLegal.



Assista ao vídeo em bit.ly/VideoAbortoLegal
https://www.instagram.com/p/CLnBs4-hqhv/?igshid=1lnbipdfvkm77

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Carta de apoio a Casa Mirabal - Centro de Referência da Mulher Mulheres Mirabal, Casa de Acolhimento e Abrigo para mulheres em situação de risco e violência

Em apoio a permanência do Centro de Referência da Mulher - Mulheres Mirabal, Casa de Acolhimento e abrigo para mulheres em situação de risco e violência, a MMM RS escreveu uma carta ao poder judiciário e ao Prefeito de Porto Alegre, assim como diversas outras entidades escreveram e manifestaram apoio e reconhecimento ao trabalho fundamental realizado na casa. Apoie a Casa Mirabal: https://pt br.facebook.com/MulheresMirabal/

Segue carta na íntegra:

Ao Poder Judiciário
Ao Exmo. Prefeito do Município de Porto Alegre/RS,
Sr. Sebastião Melo

Senhores,

O Centro de Referência da Mulher - Mulheres Mirabal, Casa de Acolhimento e abrigo para mulheres em situação de risco e violẽncia, é fundamental para a cidade e seu entorno. Este equipamento teve sua origem na urgência de proteção às vidas das mulheres, diante da incapacidade do poder público municipal de agir na defesa e na proteção da vida das mulheres do Município o Movimento de mulheres Olga Benário apoiado pelo restante das entidades, coletivos e movimentos se organizou de forma voluntŕia para prestar este serviço essencial. 

Desde a primeira ocupação no centro da cidade, as mulheres denunciaram o encolhimento das políticas públicas, principalmente as ações articuladas de prevenção, tratamento e enfrentamento a violência doméstica contra as mulheres. 

A Lei Maria da Penha, foi uma conquista da sociedade brasileira, ao mesmo tempo que deu visibilidade a violência sofrida pelas mulheres, indicou formas legais para prevenir e tratar em todas as áreas: educação; saúde; assistência social; desenvolvimento econômico, cultura e lazer. A lei coloca o estado brasileiro como central para sua implementação e na garantia dos direitos e das vidas de todas nós.

O Centro Mirabal, ao longo dos anos, tornou-se referência inclusive para a escassa rede municipal de serviços públicos de atendimento à mulher. O centro é também referência no diálogo com os movimentos sociais de Direitos Humanos na cidade e, a partir de Porto Alegre, é referência nacional de diversas ações das mulheres de autoproteção da vida, é um espaço de alternativas geradas pela organização das mulheres diante da pouca presença do poder público em assumir seu papel na elaboração e implementação de políticas públicas para as mulheres que sofrem com as situações de risco social onde tem poucas e nenhuma condição de superar sozinhas, sem apoio, pelo simples fato de serem mulheres.

A Casa é hoje um lugar de proteção à vida das mulheres e de seus filhos. É um lugar de aprendizado coletivo para as mulheres que tem suas vidas devastadas pela violência de gênero. Possui um amplo diálogo com a comunidade em torno da escola que é o espaço físico cedido pelo poder público. Desenvolve programas de geração de renda como estratégia de rompimento com o ciclo da violência se tornando um fator definitivo para a estruturação da autonomia econômica das mulheres que necessitam de apoio. 

A manutenção do espaço para o Centro de Referência é fundamental diante do agravante de violência que vivemos neste período de pandemia. O Rio Grande do Sul, figura entre os locais mais violentos para as mulheres. O município de Porto Alegre, não dá sinais de ampliação dos programas sociais para as mulheres, mesmo diante da escalada da violência doméstica, expressa no número assustador de feminicídios nos últimos anos. 

Nesse sentido, a Marcha Mundial de Mulheres como parte das organizações de defesa dos direitos humanos das mulheres, se solidariza com o Centro de Referência Mirabal, solicitando a manutenção pela Prefeitura do espaço físico ocupado. 

Por fim, é fundamental reafirmar que cada vida importa e as mulheres organizadas tomam iniciativas para defendê-la ao mesmo tempo que exigem dos poderes públicos o investimento necessário para implementação de políticas públicas de prevenção, tratamento e enfrentamento a violência contra as mulheres.

Porto Alegre, 17 de fevereiro de 2021.

Coordenação da Marcha Mundial das Mulheres – RS
Seguiremos em Marcha até que todas sejamos livres!

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Lojas HAVAN e o retrato do domínio capitalista sobre nossos territórios e nossas vidas

 

LOJAS HAVAN E O RETRATO DO DOMÍNIO CAPITALISTA SOBRE NOSSOS TERRITÓRIOS E NOSSAS VIDAS*




Em 25 de janeiro de 2021 moradores da cidade de Canoas-RS denunciam destruição de área de preservação ambiental, na beira do Arroio Araçá, para construção de mais uma Loja HAVAN no estado. Além desta, há novas lojas sendo construídas nas cidades de Canela (região serrana) e Capão da Canoa (litoral norte), além das lojas já abertas em Caxias do Sul, Erechim, Gravataí, Ijuí, Passo Fundo, Pelotas, Santa Cruz do Sul, Santa Maria, Viamão e Guaíba. A rede de lojas catarinense sob comando de Luciano Hang é expressão do capitalismo desenfreado, que se expande e invade territórios, promove o desmatamento, destrói os tecidos sociais locais como de mercados e consumo, e ainda alega desenvolvimento aos municípios por geração de alguns poucos empregos, mas soma mais de 2 milhões em sonegação de impostos dentre outras violações administrativas e aos direitos humanos.

Denunciamos o poder corporativo das transnacionais que, através de muitos instrumentos, colocam os Estados a serviço dos seus lucros, articulando com diferentes esferas de poder econômico, político, cultural e jurídico. Luciano Hang acumulou sua riqueza com empréstimos no BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, com dinheiro público. E em 2018 foi um dos maiores investidores na campanha para presidência de Jair Bolsonaro e seu governo genocida.

As lojas HAVAN seguem um modelo de megalojas que vendem produtos de diversos segmentos, por preços mais baratos que o mercado local oferece. Isso só é possível porque compram e importam mercadorias produzidas em países pobres, de pessoas que trabalham em situações análogas à escravidão, como na Ásia e principalmente na área de têxtil. Relembramos o desabamento do edifício Rana Plaza, em Bangladesh, no ano de 2013, que matou 1138 mulheres que confeccionavam roupas de grandes marcas da indústria da moda. Com isso, através do discurso do “livre mercado” as lojas Havan acabam por destruir tecidos sociais locais de comércio e consumo, controlando esses segmentos nos territórios.

A tentativa das transnacionais em manter seus nomes descolados das inúmeras violações com programas e ações de “responsabilidade social empresarial” chamamos de maquiagem verde ou maquiagem lilás, sendo uma estratégia para ocultar a violência e exploração da acumulação capitalista. As lojas Havan tem destruído áreas de conservação ambiental, desmatado, alterado a dinâmica das águas, e contribuído para um sistema de livre comércio de importação de produtos que explora, principalmente o trabalho das mulheres, acumulando todo o lucro gerado, desde a extração de matéria-prima até a produção e distribuição de bens e serviços, poluindo o ar e as águas com seus transportes marítimos de grande escala.

A rede de aliança feminista pelo mundo, com suas teorias e práticas, transforma a realidade de pobreza e destruição da natureza, reconstruindo laços comunitários, buscando justiça social e ecológica e pondo a sustentabilidade da vida no centro das nossas práticas e resistências. Denunciamos as inúmeras violações nos territórios que as lojas Havan, seus donos, em parceria com os governos municipais e estaduais, têm causado. Lutamos por outras formas de promover o trabalho e o comércio das cidades, em conexão com a produção ecológica de alimento no campo, com valorização e reconhecimento do trabalho das mulheres com o cuidado e reprodução da vida, e que este seja partilhado de forma justa como responsabilidade de todos e todas.

Desejamos outras formas de desenvolvimento econômico no nosso estado, de forma auto-gestionada, e que as mulheres sejam ouvidas e participantes das decisões. Nosso trabalho sustenta a economia! Não precisamos de empresas transnacionais para viver, precisamos de transformação da lógica da sociedade, mudando radicalmente do lucro para a vida como central.              

FONTE:

-https://www.marchamundialdasmulheres.org.br/mulheres-debatem-enfrentamento-as-empresas-transnacionais-em-24h-de-solidariedade-feminista/

-https://www.extraclasse.org.br/economia/2018/02/havan-expandiu-atividades-com-dinheiro-publico/

-https://noticiasdaaldeia.com/2021/01/27/grupo-quer-parar-obras-da-havan/

obs: para construção deste texto, nos inspiramos em produções feitas pelas militantes da MMM Brasil para a 5º Ação Internacional de 2020, utilizando de frases e ideias encontradas no 
MMM Blog e MMM Site.

*Por Gabriela Cunha e Luci Jorge, militantes da Marcha Mundial das Mulheres no Rio Grande do Sul.