quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Rearticulando os núcleos da MMM RS a partir do debate da Cultura – Carnaval 2021

Encontros virtuais dos núcleos regionais da MMM do Rio Grande do Sul ocorreram em dias diferentes, aproveitando o feriado de carnaval que neste ano foi diferente em função da pandemia pelo Covid-19, e teve como proposta principal a discussão sobre a temática da Cultura e dos seus desdobramentos: A Cultura e a condição da mulher negra na sociedade, a condição das mulheres em relação ao feminicídio, e o combate à uma cultura patriarcal machista e racista que possui como linguagem a violência contra às mulheres, e a tua a diversidade de expressão que foge aos seus domínios de poder. A rearticulação e auto-organização dos núcleos regionais também era objetivo desta atividade proposta, como enfrentamento dos desafios atuais e a intensa agenda que inicia principalmente no dia 8 de março de 2021. Os núcleos que se auto-organizaram para as atividades foram: capital Porto Alegre e Canoas, Região Centro (Santa Maria e Encruzilhada do Sul), Região do Vale do Gravataí (Cachoeirinha, Viamão, Gravataí e Alvorada), Região Sul (Rio Grande e São José do Norte) e Região do Litoral Norte (Torres, Maquiné, Tramandaí e Osório).

            O tema da Cultura se apresenta como uma questão central para a luta de direitos cidadãos, e na luta por uma cidadania que favoreça a compreensão das diferenças culturais, dos direitos políticos, e da livre expressão crítica de um povo. Dito isso, é um tema central para pensarmos as condições de como um povo vive, cria, recria e acessa as suas relações pessoais, individuais e coletivas. Como nos direitos conquistados e que ainda estão em disputas pelos grupos políticos feministas de forma plural e progressista, assim como LGBTQ+, e pelos seus movimentos sociais em reivindicações pelos direitos mínimos de direitos sociais.

A cultura se torna um termômetro para dizer se ela está em uma fase de crises, lutas e conquistas, e no caso do Brasil a cultura é um dos ramos sociais mais afetados, e identifica a transição que estamos sofrendo pelo desmonte social, político cultural. Também expressa a transformação na sociedade da livre expressão democrática e laica, para a do peso da sociedade que censura através do olhar fundamentalista religioso, e particularista de um grupo e vertente social. Nos últimos dois anos o tema da Cultura no Brasil demarca em pleno século XXI o retorno da censura.

 A cultura é responsável para podermos encontrar algumas explicações históricas das lutas pela igualdade e pela equidade, pois inseridas em hábitos arcaicos da exploração do pensamento e dos corpos que possuem cor, raça e gênero, gritamos pela complexidade de ser, ainda mais em um país que não reconhece suas próprias origens e ancestralidade. Antes de se enxergar como povo brasileiro, há identificação com grupos de privilegiados em detrimento da exploração e retirada de direitos de outros grupos sociais.

A música, o teatro, o esporte não definem uma visão única da cultura no Brasil, mas a cultura também se define pelas lutas de movimentos feministas e populares, como a própria MMM que atravessa o muro da localidade e se encontra no nível de movimento internacional e longo histórico agregador da América Latina e global.

A mesma cultura que reproduz o machismo patriarcal, também é afetada pelo aumento significativo dos movimentos feministas antirracistas e de sua pluralidade, em que cultura é carnaval, direito a felicidade, mas também é passível de críticas dos poderes que assolam um país que foi colonizado.

 A falta de incentivos às produções artísticas e os tabus entorno das censuras marcam uma fase do país vista em governo ditatoriais, assim como no Brasil de 1964. E esta comparação marca o ritmo de um pensamento em que a liberdade de expressão e a diversidade marca um novo momento da formação de uma identidade nacional.

O Brasil e sua dificuldade de reconhecimento pela identidade Latino Americana é um lugar de espaços de festas, mas de amarras do patriarcado e do fundamentalismo que se direciona diretamente para o corpo das mulheres. Ora pode ser usurpado e retirado de suas expressões de um corpo, ora lançado ao corpo de mulher entre “sagrado e o profano”, em um jogo que tenta se apoderar de um corpo que fala e grita por seus direitos. Direitos que vão além de uma origem, mas sim de uma ancestralidade. A origem é romantizada no mito de um país miscigenado. A saber, marcados por uma ancestralidade, lembramos conscientes da verdadeira face construída pelos genocídios, estupros e dizimação de direito à vida de expressividade laica.

Nestes encontros foi levantada a questão: Como as mulheres negras ainda são/foram representadas em um país racista e misógino? Como se desenvolvem os direitos em uma sociedade com grandes índices de feminicídios e de violência de gênero? Quais são os direitos garantidos para que as mulheres negras não sejam vistas e taxadas apenas como corpos de carnaval? Até quando a visão da mulher negra será vista apenas como liberdade de expressão apenas no carnaval? Até quando a população negra será apenas livre nos dias marcados para se esquecer quem se é?

Assim, a Marcha Mundial das Mulheres luta pela cultura de promover direitos, por uma cultura de respeito, educação e retorno político social. A cultura não é estática, e em disputa pede que tenhamos como características o reconhecimento de nossa força e dos direitos conquistados para todas. Apenas seremos livres quando todas forem livres. Por uma cultura de direitos conquistados! Por uma cultura feminista antirracista, anticolonial e antipatriarcal!



   

Encontro virtual dos núcleos Porto Alegre e Canoas - 06/02/2021

Encontro virutal da Região do Vale do Gravataí (Cachoeirinha, Alvorada, Viamão e Gravataí) - 09/02/2021


 

 

Um comentário:

  1. Muito legal companheiras. Articular a resistência das mulheres! Fora Bolsonaro!

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