Encontros virtuais dos
núcleos regionais da MMM do Rio Grande do Sul ocorreram em dias diferentes, aproveitando o feriado de carnaval que neste ano foi diferente em função da pandemia pelo Covid-19, e
teve como proposta principal a discussão sobre a temática da Cultura e dos seus
desdobramentos: A Cultura e a condição da mulher negra na sociedade, a condição
das mulheres em relação ao feminicídio, e o combate à uma cultura patriarcal
machista e racista que possui como linguagem a violência contra às mulheres, e
a tua a diversidade de expressão que foge aos seus domínios de poder. A
rearticulação e auto-organização dos núcleos regionais também era objetivo
desta atividade proposta, como enfrentamento dos desafios atuais e a intensa
agenda que inicia principalmente no dia 8 de março de 2021. Os núcleos que se
auto-organizaram para as atividades foram: capital Porto Alegre e Canoas,
Região Centro (Santa Maria e Encruzilhada do Sul), Região do Vale do Gravataí
(Cachoeirinha, Viamão, Gravataí e Alvorada), Região Sul (Rio Grande e São José
do Norte) e Região do Litoral Norte (Torres, Maquiné, Tramandaí e Osório).
O
tema da Cultura se apresenta como uma questão central para a luta de direitos
cidadãos, e na luta por uma cidadania que favoreça a compreensão das diferenças
culturais, dos direitos políticos, e da livre expressão crítica de um povo.
Dito isso, é um tema central para pensarmos as condições de como um povo vive,
cria, recria e acessa as suas relações pessoais, individuais e coletivas. Como
nos direitos conquistados e que ainda estão em disputas pelos grupos políticos
feministas de forma plural e progressista, assim como LGBTQ+, e pelos seus
movimentos sociais em reivindicações pelos direitos mínimos de direitos
sociais.
A cultura se torna um
termômetro para dizer se ela está em uma fase de crises, lutas e conquistas, e
no caso do Brasil a cultura é um dos ramos sociais mais afetados, e identifica
a transição que estamos sofrendo pelo desmonte social, político cultural.
Também expressa a transformação na sociedade da livre expressão democrática e
laica, para a do peso da sociedade que censura através do olhar fundamentalista
religioso, e particularista de um grupo e vertente social. Nos últimos dois
anos o tema da Cultura no Brasil demarca em pleno século XXI o retorno da
censura.
A cultura é responsável para podermos
encontrar algumas explicações históricas das lutas pela igualdade e pela
equidade, pois inseridas em hábitos arcaicos da exploração do pensamento e dos
corpos que possuem cor, raça e gênero, gritamos pela complexidade de ser, ainda
mais em um país que não reconhece suas próprias origens e ancestralidade. Antes
de se enxergar como povo brasileiro, há identificação com grupos de
privilegiados em detrimento da exploração e retirada de direitos de outros
grupos sociais.
A música, o teatro, o esporte
não definem uma visão única da cultura no Brasil, mas a cultura também se
define pelas lutas de movimentos feministas e populares, como a própria MMM que
atravessa o muro da localidade e se encontra no nível de movimento
internacional e longo histórico agregador da América Latina e global.
A mesma cultura que reproduz
o machismo patriarcal, também é afetada pelo aumento significativo dos
movimentos feministas antirracistas e de sua pluralidade, em que cultura é
carnaval, direito a felicidade, mas também é passível de críticas dos poderes
que assolam um país que foi colonizado.
A falta de incentivos às produções artísticas
e os tabus entorno das censuras marcam uma fase do país vista em governo
ditatoriais, assim como no Brasil de 1964. E esta comparação marca o ritmo de
um pensamento em que a liberdade de expressão e a diversidade marca um novo
momento da formação de uma identidade nacional.
O Brasil e sua
dificuldade de reconhecimento pela identidade Latino Americana é um lugar de
espaços de festas, mas de amarras do patriarcado e do fundamentalismo que se
direciona diretamente para o corpo das mulheres. Ora pode ser usurpado e
retirado de suas expressões de um corpo, ora lançado ao corpo de mulher entre “sagrado
e o profano”, em um jogo que tenta se apoderar de um corpo que fala e grita por
seus direitos. Direitos que vão além de uma origem, mas sim de uma
ancestralidade. A origem é romantizada no mito de um país miscigenado. A saber,
marcados por uma ancestralidade, lembramos conscientes da verdadeira face
construída pelos genocídios, estupros e dizimação de direito à vida de
expressividade laica.
Nestes encontros foi
levantada a questão: Como as mulheres negras ainda são/foram representadas em
um país racista e misógino? Como se desenvolvem os direitos em uma sociedade
com grandes índices de feminicídios e de violência de gênero? Quais são os
direitos garantidos para que as mulheres negras não sejam vistas e taxadas
apenas como corpos de carnaval? Até quando a visão da mulher negra será vista
apenas como liberdade de expressão apenas no carnaval? Até quando a população
negra será apenas livre nos dias marcados para se esquecer quem se é?
Assim, a Marcha Mundial das Mulheres luta pela cultura de promover direitos, por uma cultura de respeito, educação e retorno político social. A cultura não é estática, e em disputa pede que tenhamos como características o reconhecimento de nossa força e dos direitos conquistados para todas. Apenas seremos livres quando todas forem livres. Por uma cultura de direitos conquistados! Por uma cultura feminista antirracista, anticolonial e antipatriarcal!
Encontro virtual dos núcleos Porto Alegre e Canoas - 06/02/2021
Muito legal companheiras. Articular a resistência das mulheres! Fora Bolsonaro!
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