Dando
continuidade às ações em defesa da LAICIDADE no estado, as 44 entidades
que assinam a CARTA DO RS PELOS DIREITOS LAICOS (abaixo) CONVOCAM o
movimento social organizado e toda a sociedade gaúcha para o lançamento
do FÓRUM GAÚCHO EM DEFESA DAS LIBERDADES LAICAS.
O QUÊ: Lançamento do FÓRUM GAÚCHO EM DEFESA DAS LIBERDADES LAICAS
QUANDO: Dia 06 de Novembro de 2012, às 18h30min
ONDE: Sala do Fórum Democrático, no saguão da Assembléia Legislativa
QUEM: Entidades, conselheir@s
e demais pessoas interessadas em reafirmar o Direito Democrático
expresso pelo princípio Consitutucional da Laicidade do Estado
Brasileiro.
==============
CARTA DO RIO GRANDE DO SUL PELOS DIREITOS LAICOS
Desde
de novembro de 2011, o Rio Grande do Sul, ancorado na sua tradição
democrática e republicana, enfrenta de forma direta e corajosa um
importante debate - hoje com repercussão nacional - sobre a LAICIDADE DO
Estado, sua natureza e seus reflexos, seus princípios e as práticas que
devemos adotar para garantir sua legalidade.
O
debate teve início a partir da iniciativa de seis importantes grupos de
direitos civis, feministas e LGBTs do RS, que, amparados pelos
princípios constitucionais da laicidade, da impessoalidade do Estado,
bem como pelo princípio da igualdade (arts. 19, 37 e 5º da CF)
questionaram a presença de símbolos religiosos em espaços de órgão
públicos Gaúchos, peticionando pela sua retirada no TJ-RS, Executivo
Estadual, Assembleia Legislativa do Estado e Câmara de Vereadores de
Porto Alegre.
Este
debate secular, reforçado há cinco meses pela entrada das petições,
ganhou destaque nas mídias oficiais (rádios, jornais, canais de TV) e
nas mídias alternativas (blogs, sites e redes sociais da internet) não
apenas no RS, mas em todo o território Brasileiro, a partir da histórica
decisão do TJ-RS que acatou o pedido de retirada de "todos os símbolos
religiosos das dependências do Tribunal em todo o Estado". Ganhou,
também, corações e mentes com o crescimento da posição favorável de 11%,
na 1a. enquete do Programa Conversas Cruzadas, em novembro de 2011,
para 42% agora em março (enquete publicada na ZH, em 17 de março de
2012). Mesmo índice alcançado pela Folha de São Paulo.
Isso,
por si só – e diferentemente do que tentam fazer crer algumas correntes
de pensamento que discordam da iniciativa e pretendem obstaculizar o
debate com seus seculares argumentos dogmáticos - demonstra o quanto o
tema é relevante para o exercício da democracia e dos princípios
republicanos adotados em nossa constituição, reforçando que o debate
democrático é a via mais adequada para a solução dos temas importantes
para a nossa sociedade.
Democracia,
como todos sabem, é um conjunto de princípios e práticas que protegem a
liberdade humana; é a institucionalização da liberdade. Assim, seguindo
estes princípios democráticos, o Estado Brasileiro tem o dever de
respeitar a todas e a todos, indistintamente, "sem preconceitos de
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação" (CF, Art. 3o. IV, 1988). Se um direito garantido em lei é
violado, cabe-nos, nas regras do jogo democrático, recorrermos a quem
de direito para dirimir o conflito.
Da
mesma forma que a Democracia, o Estado LAICO e o respeito às liberdades
religiosas são amplamente asseguradas na Carta Constitucional, como
forma de garantir a cultura multifacetada e diversa da população
brasileira.
A
discussão acerca do Estado LAICO e dos direitos laicos dele decorrentes
encerra uma série de pautas nacionais que têm sido tratadas por nossos
governantes (e aqui falamos das três esferas de governo: Executivo,
Legislativo e Judiciário, em todas as suas instâncias) como pautas
proibidas, ou tabus, por conta de uma subserviência histórica e cultural
a uma filosofia religiosa que impõe sua moral e costumes à toda a
população, seja ela religiosa ou não, siga ela esta crença filosófica ou
não. Isto não apenas é autoritário, como antidemocrático e
inconstitucional.
Temas
como Direitos Civis da população LGBT; estudo com células embrionárias e
células tronco; direitos sexuais e reprodutivos; debates de saúde
pública, como a distribuição de "pílulas do dia seguinte" ou insumos
como camisinhas em eventos e festas nacionais, a exemplo do carnaval; a
legalização do aborto e descriminalização da prática do aborto; a
educação inclusiva ou para a diversidade; e mesmo coisas mais simples,
como campanhas públicas sobre saúde, educação, sexo seguro e combate às
DST/HIV-AIDS têm sido, sempre, pautados e sujeitadas por esta moral
religiosa, dita majoritária e muitas vezes confundida ou revestida de
estatal, o que nos faz recuar e algumas vezes retroceder em temas
relevantes para toda a população.
Paralelo
a isso, uma ofensiva por cargos e funções públicas, reivindicando
espaços de ministérios, por parlamentares que se movimentam através de
bancadas religiosas, forçam ações que retrocedem no sentido da laicidade
do Estado. Vejamos, por exemplo, a nomeação de um ministro, pelo motivo
exclusivo de ser evangélico, e com a finalidade externada de acomodar
esta bancada no governo federal, ainda que as posições por ele
defendidas sejam contrárias ao interesse de grandes fatias da população.
Ou situações piores, como o acordo Brasil-Vaticano, retrocesso que faz
concessões à ação da igreja católica em espaços privilegiados, como
escolas, além da seção pelo Estado de terras e outros espaços públicos.
Ou ainda, o retrocesso violento na distribuição do Kit Anti homofobia,
por pressão fundamentalista, que chantageou o Governo Federal, jogando
por terra o compromisso deste com a educação inclusiva no País.
O
Brasil e o Estado do RS precisam respeitar as Constituições Estadual e
Federal, fazendo valer o que está escrito nelas, e que foi amplamente
discutido e aprovado. Separar o Estado da Religião, o público do
privado, o legal do ilegal, é dever constitucional de cada gestor e ente
público, independentemente da religião, filosofia ou cor partidária que
este gestor segue na sua vida individual.
Se é
verdade que a religião, em especial as religiões majoritárias no Brasil,
têm um papel importante na cultura nacional, na arte e, inclusive, no
direito (veja-se o direito canônico), também é verdade que os valores
sociais evoluem de acordo com o crescimento da nação e que os valores
religiosos devem orientar aqueles, e apenas aqueles, que escolhem,
livremente e deforma autônoma, submeter-se a esses valores e princípios.
Também é
necessário reconhecermos como verdadeiro o valor histórico e cultural
das religiões ditas minoritárias e mesmo do pensamento politeísta,
agnóstico e ateu para a formação de nosso Estado, em especial, e do
Brasil, de forma mais ampla.
Não
seríamos quem somos não fosse as negras e negros africanos e sua vasta
cultura de fé, aprisionada e oprimida, como aqueles, pelo regime
escravocrata - culturalmente defendido naquele momento e justificado
pela falta de alma dos cativos. Não seríamos quem somos não fosse a
influência da religião xamânica e das pajelanças das nações indígenas,
ricas em sincretismos e simbologias que remetem aos fenômenos da
natureza e sua importância para os seres humanos. Não seríamos quem
somos, não fosse a influência dos imigrantes europeus, seu anarquismo
revolucionário que negava a existência de Deus e combatia a fé
professada naquela época de forma confessional pelo Estado, o que gerou
perseguição e fomentou o debate que nos fez uma nação de tantas facetas.
O
direito de escolher determinada fé religiosa ou de não ter crença alguma
é um dos vários direitos humanos assegurado na Constituição Federal e
Estadual. Porém, para que essa igualdade possa ser garantida é
fundamental que o Estado seja LAICO. Sem a Laicidade inviabilizada está a
igualdade preconizada no art. 5º da CF.
Desta
forma, os movimentos sociais reunidos nesta Assembleia Popular,
ratificam sua crença na democracia, nas liberdades laicas e nos direitos
constitucionais, afirmando, como disse o relator do processo que
deferiu a demanda no TJ Gaúcho, Des. Claudio Baldino Maciel, que:
"resguardar o espaço público do judiciário para o uso somente de
símbolos oficiais do Estado é o único caminho que responde aos
princípios constitucionais republicanos de um Estado laico, devendo ser
vedada a manutenção de crucifixos e outros símbolos religiosos em
ambientes públicos dos prédios do Poder Judiciário no Estado do Rio
Grande do Sul".
Atitude
que esperamos, como entidades de representação da ampla gama de
movimentos sociais organizados no Estado e nacionalmente, seja seguida
pelo Executivo Estadual, Câmara de Vereadores de Porto Alegre e
Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul.
Porto Alegre, 22 de março de 2012.
ASSINAM ESTE DOCUMENTO:
-
Liga Brasileira de Lésbicas - Nacional
-
SOMOS – Comunicação, Saúde e Sexualidade
-
Marcha Mundial das Mulheres – Nacional
-
NUANCES – Grupo pela Livre Expressão Sexual
-
Rede feminista de Saúde – Nacional
-
THEMIS – Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero
-
Igualdade-RS – Associação de Travestis e Transexuais do RS
-
Também Pelotas – Grupo Pela Livre Expressão Sexual
-
Organização Livre Pensadores
-
Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos – Nacional
-
Maria Mulher – Organização de Mulheres Negras
-
Fuxico de Terreiro
-
Grupo Curumim – Brasil – Nacional
-
CFEMEA – Nacional
-
UBM – União Brasileira de Mulheres
-
Associação dos Artistas Visuais do RS
-
Rede Feminista de Saúde – Nacional
-
Associação Casa da Mulher Catarina – Regional Santa Catarina
-
Espaço Mulher – Regional Paraná
-
Centro de Informação à Mulher – Regional São Paulo
-
Conselho Nacional de Saúde – Regional Rio de Janeiro
-
Instituto Mulher Saúde Integral e Direitos Sexuais e Reprodutivos – Plataforma Dhesca Brasil Regional Bahia
-
Associação Mulheres do Graal – Regional de Minas Gerais
-
Campanha por uma Convenção dos Direitos Sexuais e Reprodutivos – Associação Coturno de Vênus – Regional Distrito Federal
-
Forum de Mulheres da Amazônia Paraense – Regional Pará
-
Espaço Mulher – Regional Paraná
-
Plataforma Dhesca Brasil
-
Rede de Mulheres Negras do Paraná
-
Coletivo LGBT/UFRGS
-
Rede Relações Livres
-
Conselho Municipal de Direitos da Mulher-Viamão
-
Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileira(RENAFRO-RS)
-
Guayi – Democracia, Participação e Solidariedade
-
Quizomba Lilás
-
Secretaria de Mulheres do PT - Porto Alegre
-
Federação de Trabalhadores-as das Instituições Financeira
-
Central Única dos Trabalhadores - CUT - Nacional
-
Frente pela Descriminalização das Mulheres e Legalização do Aborto - Nacional
-
Cunhã, Coletivo Feminista
-
Diretoria de Mulheres da UNE
-
Diretoria Colegiada do Sintrajufe-RS - Sindicato dos Trabalhadores no Judiciário Federal-RS
-
Frente Negra, Popular e Quilombola
-
Centro de Estudos Ambientais - CEA Pelotas-Rio Grande
-
Rede Ibero-americana pelas Liberdades Laicas
aberto para assinaturas de entidades pelo e-mail mmm_rs2004@yahoo.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário