Mulheres em marcha
A inspiração para a criação da
Marcha Mundial das Mulheres (MMM) partiu de uma manifestação realizada em 1995,
em Quebec, no Canadá, quando 850 mulheres marcharam 200 quilômetros, pedindo,
simbolicamente, “Pão e Rosas”. No final desta ação, diversas conquistas foram
alcançadas, como o aumento do salário mínimo, mais direitos para as mulheres
imigrantes e apoio à economia solidária.
As mulheres do Quebec buscaram
contatos com organizações em vários países, para compartilhar essa experiência
e apresentar a proposta de criar uma campanha global de mulheres. O primeiro
contato no Brasil foi com as mulheres da Central Única das Trabalhadoras e
Trabalhadores (CUT). Foram elas que marcaram as reuniões para discutir a
proposta e definir as representantes brasileiras para o primeiro encontro
internacional da MMM, que aconteceu em 1998, em Quebec, e teve a participação
de 145 mulheres de 65 países e territórios. Nesse encontro foi elaborada uma
plataforma com 17 reivindicações para a eliminação da pobreza e da violência
contra as mulheres. E ali foi convocada a Marcha Mundial das Mulheres como uma
grande campanha a ser desenvolvida ao longo do ano 2000.
“Com essa marcha muita
coisa vai mudar”: um movimento permanente
Aqueles eram tempos de pensamento
único, o neoliberalismo era fortemente hegemônico e parecia não haver
alternativa. As mulheres propuseram ir além do possível e ousaram seguir
atuando juntas para construir a MMM como um movimento permanente, uma consequência
das novas forças e sinergias mobilizadas em cada local.
Desde então, a MMM desenvolveu um
método para a definição de consensos e uma forma de atuação que implica a
construção permanente da relação entre o local, o nacional e o internacional. A
preparação das ações internacionais, a cada cinco anos, marca processos de
sínteses políticas da plataforma da Marcha.
1ª Ação Internacional,
2000
2000
razões para marchar contra a pobreza e a violência sexista!
A convocatória para a campanha
realizada no ano 2000 teve um largo alcance e deu origem à construção da MMM
como um movimento internacional. A ação mobilizou milhares de grupos de
mulheres em mais de 150 países e territórios, em atividades de educação popular
e manifestações públicas de apoio às 17 reivindicações mundiais.
No Brasil, entre 8 de março e 17
de outubro, daquele ano, foram realizadas atividades em todos os estados. O
grande momento nacional desta ação foi a realização da Marcha das Margaridas,
proposta pelas mulheres da Confederação Nacional dos Trabalhadores na
Agricultura (Contag). O nome desta Marcha, uma referência a Margarida Alves,
tornou visível a trajetória de lutas das mulheres rurais que, desde os anos
1980, atuam de forma organizada no Brasil.
As mobilizações culminaram em 17
de outubro, dia de luta pela erradicação da pobreza, com marchas simultâneas em
40 países, e atos em frente à sede do Banco Mundial e do Fundo Monetário
Internacional, em Washington, nos Estados Unidos. As mulheres denunciaram os
efeitos devastadores do neoliberalismo em seus países e em suas vidas. Em um
ato simbólico em frente à sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova
York, foram apresentadas mais de 5 milhões de assinaturas recolhidas em apoio
às demandas da Marcha. Logo após esse ato público, as delegadas de diferentes
países se reuniram no 2º Encontro Internacional da MMM e ali decidiram que era
necessário continuar o movimento.
2ª Ação Internacional,
2005
Mulheres em movimento
mudam o mundo!
Para a ação de
2005, elaboramos a Carta Mundial das Mulheres para a Humanidade após um amplo
debate e construção coletiva de uma posição comum entre mulheres, com
diferentes experiências e culturas políticas. A Carta apresenta o mundo que
queremos construir, baseado em cinco valores: liberdade, igualdade, solidariedade,
justiça e paz.
No dia 8 de março
de 2005, durante uma passeata com a participação de 30 mil mulheres de todo o
Brasil, em São Paulo, a Carta iniciou sua viagem ao redor do mundo. Até 17 de
outubro, ela passou por 53 países e territórios.
Nestes países, as
Coordenações Nacionais da Marcha expressaram as suas lutas e propostas em um
retalho de tecido. Estes retalhos foram sendo costurados em uma Colcha da
Solidariedade, que foi concluída na última parada em Ouagadougou, Burkina Faso,
um dos países mais pobres do mundo.
Enquanto isso,
ações foram realizadas em 17 de outubro, ao meio-dia, em cada meridiano, em uma
vigília de 24 horas de Solidariedade Feminista. A “onda” começou nas ilhas do
Pacífico (Nova Caledônia, Samoa e outras), foi para a Ásia, Oriente Médio,
África e Europa simultaneamente, terminando nas Américas.
3ª
ação internacional, 2010
Seguiremos
em Marcha até que todas sejamos livres!
A Terceira Ação
Internacional foi realizada em 2010. No Brasil, 3 mil mulheres marcharam entre
as cidades de Campinas e São Paulo. Os quatro campos de ação: Trabalho e
autonomia econômica das mulheres; violência; bens comuns e serviços públicos; e
paz e desmilitarização – concretizaram a plataforma da MMM. Esta ação teve três
focos: expressar demandas nacionais por meio de marchas e/ou caravanas; marcar
o 100º aniversário do Dia Internacional de Luta das Mulheres, por meio da
recuperação da história de mulheres lutadoras; amplificar a voz das mulheres
que sofrem violência em situações de conflito armado, e apoiá-las em seus
esforços para expor as causas dos conflitos e encontrar soluções para
superá-las. Mais de 100 mil mulheres de 75 países participaram em ações
nacionais, regionais e internacionais.
A grande
contribuição desta ação foi convidar as mulheres de todos os países a refletir
sobre a militarização da vida cotidiana e sua relação com o modelo capitalista
e patriarcal, bem como a visibilizar os interesses que existem por trás dos
conflitos. O eixo paz e desmilitarização marcou as ações regionais na Turquia,
especialmente pela contribuição das mulheres dos Bálcãs e das curdas, nas
Filipinas e na Colômbia, onde ocorreram mobilizações diante das bases militares
dos Estados Unidos.
O ato de
encerramento da ação em Bukavu, na República Democrática do Congo, foi uma
experiência única da diplomacia popular e da solidariedade internacional. Dez
anos após a entrega das 17 demandas internacionais à ONU, a MMM questionou esta
instituição no terreno em que atua, afirmando que os direitos das mulheres
inscritos em convenções, tratados e resoluções da ONU só fazem sentido quando
são reais para todas as mulheres do mundo.
4ª
Ação Internacional, 2015
Enraizar a MMM e
fortalecer as regiões são alguns dos objetivos da próxima ação internacional,
que está em construção. A proposta é fortalecer a defesa dos “territórios das
mulheres”, que são compostos por seu corpo, pelo lugar onde vivem, trabalham e
desenvolvem suas lutas, suas relações comunitárias, sua história.
Durante a ação será
construído um mapa das resistências das mulheres, e outro com as alternativas
feministas. A ação será realizada entre os dias 8 de março e o 17 de outubro de
2015. No dia 24 de abril, sairemos às ruas nas 24 horas de solidariedade
feminista, entre 12h e 13h.
No Brasil,
diferente de outros momentos em que as mulheres de todos os estados se reuniram
em uma ação comum, a ação de 2015 será um processo enraizado em nível local.
Está em construção a proposta de realizar ações descentralizadas, para
visibilizar as lutas que nós mulheres realizamos em nossos territórios, nossas
resistências e seguiremos em marcha até
que todas sejamos livres!
Agenda da Ação Internacional
no Brasil
Em marcha até que todas
sejamos livres! – no 8 de março todos os
núcleos, estados e municípios as militantes da MMM organizaram ações de rua,
atividades de formação, oficinas e debates. Alguns núcleos já realizaram o
lançamento da 4ª Ação Internacional da MMM. Outros, organizarão até junho.
Seguiremos em marcha: afirmando
nossa auto-organização como nossa estratégia para mudar o mundo e a vida das
mulheres em um só movimento, as mulheres do norte do Brasil se encontraram em
Palmas, no Tocantins. Auto-organização, formação e mobilização irão expressar
nossa visão feminista, anticapitalista e anti-racista na primeira ação regionalizada
no nosso país, ocorreu entre 15 e 17 de abril.
Em defesa da água e da agroecologia, as mulheres enfrentam a
mineração: Logo em seguida, entre
18 e 20 de abril, as mulheres do norte de Minas Gerais irão receber, em
Varzelândia, companheiras dos estados do Sudeste e da Bahia para uma ação que
tem a defesa da água como eixo. As mulheres enfrentam atualmente a ganância de
empresas mineradoras que buscam ampliar a exploração de ferro e ouro em seus
territórios. A ação vai acontecer em Varzelândia, junto com a 5ª Marcha das
Mulheres na região, organizada pelo coletivo de mulheres do Norte de Minas.
24 horas de solidariedade feminista: No dia 24 de abril, realizamos as 24 horas de solidariedade
feminista. Essa é uma forma de ação da MMM em que atuamos para
que o mundo fique mobilizado pelas mulheres durante 24 horas. Para isso, em cada país onde estamos organizadas,
acompanhando o ciclo do sol ao redor da terra, as mulheres saem às ruas das 12
às 13 horas, para manifestar sua solidariedade criando assim uma onda
feminista.
Na quarta ação este dia será para relembrar a morte de centenas
de mulheres fruto do desabamento do prédio Rana Plaza situado em Dhaka, capital
de Bangladesh, em 24 de abril de 2013. O edifício abrigava oficinas de costura
de lojas famosas no mundo, como a Benetton, e a tragédia expressou a realidade
de milhares de mulheres exploradas pela indústria da moda e beleza que escondem
o horror do trabalho sem qualquer direito ou proteção.
Nas 24 horas de solidariedade feminista denunciamos o poder e a
impunidade das empresas transnacionais. Denunciamos que a divisão sexual e
internacional do trabalho se combinam para controlar e explorar a nossa força
de trabalho. E que as imposições sobre o nosso corpo, acentuadas pela
mercantilização, formam parte desse controle que propicia lucros para grandes
empresas transnacionais da indústria da confecção ou de cosméticos.
Em Porto Alegre fizemos um ato em frente as Lojas Renner
denunciando a apropriação de trabalho análogo ao escravidão, realizado na
produção de suas roupas. Muitas roupas da Renner vêm de Bangladesh.
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