*Por Roseane Arévalo
Vira e mexe, nos deparamos com situações de violação dos direitos das mulheres. No dia 09 de junho, veio a público uma notícia sobre a laqueadura da Janaína Aparecida Quirino, moradora da cidade de Mococa (SP). O procedimento utilizado pelo Ministério Público de realizar a laqueadura dessa mulher sem seu consentimento só demostra o quanto ainda nossos corpos são violados dentro da sociedade.
As gestantes em situação de rua, presidiárias e usuárias de drogas, acabam tendo seus direitos violados quando vão dar a luz nas maternidades. Em alguns casos, elas são induzidas pelos profissionais de que o acolhimento para o filho, adoção e laqueadura é a melhor solução. Essas atitudes são formas de tirar os direitos das mulheres exercerem a maternidade.
Essas mães são totalmente invisíveis. Antes da gestação, já vivenciavam a violência do Estado, que nunca se importou com elas. Quando cito a ausência do Estado com relação a essas mulheres, o que acontece é o não olhar para elas, que são julgadas culpadas por estarem nessa situação, o que vem a ser uma prática totalmente conservadora, baseada em princípios machistas.
O número de filhos/as que essas mulheres têm não justifica que se tome providências por elas. Muitas vezes esses filhos podem ter sido gerado por violência sexual e a figura paterna em nenhum momento é cobrada, colocando assim mais uma vez a culpa nelas.
O ato de tirar o bebê da mãe, entregar para adoção ou fazer laqueadura traz um enorme sofrimento para essa mulher que já têm outras marcas de abandono no decorrer de sua vida.
Dentro dos espaços públicos e privados que as mulheres procuram atendimento, devemos ter uma escuta qualificada, não podemos de forma alguma realizar pré-julgamentos sobre suas condições de vida. O acompanhamento deve ser feito antes, durante e depois da gestação, caso ela deseje ficar com o bebê.
Impor que a mulher faça uma laqueadura, entregue o bebê para adoção é uma forma de violência, às vezes elas veem a maternidade como alternativa para sair dessa condição de exclusão. As mulheres têm o direito de escolha de querer ser mãe ou não, o Estado precisa garantir esse direito com políticas públicas efetivas para que isso aconteça e não é tomando atitudes como essa que tudo vai se resolver.
Várias formas de residência podem ser pensadas, como por exemplo: o poder público pode e deve construir políticas públicas durante e depois da gestação. A sociedade também tem papel fundamental na participação popular na construção da igualdade gênero. Precisamos politizar o debate nos espaços em que essa demanda aparece e problematizar esse problema para encontrar soluções abrangentes.
*Roseane Arévalo é assistente social e militante da Marcha Mundial das Mulheres em São Paulo
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