*Por Maria Júlia Montero
Desde 2014, a polarização política no Brasil se acentua. Se há 4 anos passamos por uma campanha polarizada, este ano nos vemos diante de um cenário de escancarada agudização da luta de classes no Brasil.
O fascismo cresce a passos largos em nosso país. A candidatura fascista de Jair Bolsonaro, tragicamente, tem chances reais de vitória. Se isto ocorrer teremos a frente da presidência da república mais um “homem de bem”, temente a Deus, misógino, racista e homofóbico, falso nacionalista, que governará para aqueles que ele representa, a saber: a burguesia e o grande capital financeiro internacional. Para realizar seus objetivos, eliminará tudo e todos aqueles que entrem em seu caminho – inclusive fisicamente –, como já vêm fazendo alguns de seus seguidores, que atacaram inúmeras pessoas, e assassinaram, comprovadamente, três brasileiros/as, Mestre Moa, Priscila e Laysa. Caso a nossa mobilização consiga virar o jogo e eleger Fernando Haddad, também teremos muitos desafios pela frente, pois os monstros que foram tirados do armário pelos golpistas temerários e pela família Bolsonaro não voltarão para casa após a derrota.
Nesse cenário, é natural que estejamos com medo, principalmente aqueles e aquelas marcados como alvos pelo candidato: mulheres, LGBTs, negros/as e indígenas. Basicamente, qualquer um que não seja um homem, branco e heterossexual – mas cuidado, porque caso você esteja de vermelho, ou quem sabe com um boné do MST, pode também virar um alvo.
Porém, apesar do avanço do fascismo, é preciso olhar, principalmente, para os nossos avanços e possibilidades de enfrentamento a essa realidade tão dura. O movimento feminista (ou de mulheres) tem se colocado o desafio de ser vanguarda no enfrentamento ao fascismo – nas ruas e também nas urnas. Foi o movimento de mulheres que chamou atos por todo o país, entendendo que era preciso organizar algo além da campanha eleitoral – e algo que também fosse para além das redes sociais.
Contrariando as afirmações feitas por alguns desavisados, estamos certas de que foram as mulheres e sua luta que barraram a vitória de Bolsonaro no primeiro turno. Se por um lado, Bolsonaro obteve uma porcentagem alta de votos, nós, mulheres, fizemos grandes atos no dia 29 de setembro. Em São Paulo, foram 500 mil pessoas. Meio milhão de pessoas nas ruas contra Bolsonaro! Em outras cidades, o grande número se repetiu: 500 mil em Recife, mais de 100 mil em Belo Horizonte, 20 mil em João Pessoa; em Petrolina, 30 mil. No dia 20 de outubro, repetimos a dose: organizamos grandes atos Brasil afora, e os números se repetiram.
Isso acontece, pois para nós, Bolsonaro é um perigo claro. Seu discurso evoca, ao mesmo tempo, o machão e a perda de direitos sociais, das quais as mulheres são as maiores vítimas. Ele representa, portanto, o marido que bate na esposa (que conseguiu se livrar da violência em grande medida por causa das políticas dos governos petistas, como a valorização do salário mínimo, Bolsa Família, além das políticas específicas de enfrentamento à violência), e também o desemprego, precarização da saúde e educação, entre outros.
Muitas companheiras estão fazendo panfletagem de porta em porta, dialogando com diversas mulheres. Em mais de um relato está presente a divergência entre o marido e a esposa: a mulher que vem conversar e o marido que vem tentar segurá-la, afirmando que o voto da casa toda é de Bolsonaro. Não é uma surpresa. Os homens se beneficiam individual e coletivamente do patriarcado. Mas hoje, não somos mais o que éramos há 10, 20, 30 anos. Temos mais autonomia, mais direitos e inclusive mais acesso a determinadas informações. O discurso de Bolsonaro é um refúgio para os homens que se sentem “atacados” pelo avanço do feminismo no Brasil – feminismo que muitas vezes não aparece com esse nome, mas vem entranhado em uma postura mais firme das mulheres perante os desmandos de seus maridos, namorados, ou mesmo do patrão. É com isso, entre outras coisas, que Bolsonaro pretende acabar.
A história nos mostra que é possível derrotar o fascismo – mas isso só é possível com muita, muita gente na rua. As mulheres deram o pontapé no que pode ser uma grande resistência contra o fascismo no Brasil. Além dos grandes atos, estamos organizando inúmeras atividades. São muitas mãos, muita energia, homens e mulheres, de movimentos organizados ou não. Isso significa que há muita, mas muita gente disposta a fazer luta no Brasil. E é esse o caminho. A única forma de enfrentar o fascismo é ampliar a nossa organização e nossa capacidade de construir grandes mobilizações de massa. O fascismo será derrotado com muita luta e nas ruas.
*Maria Júlia é militante da Marcha Mundial das Mulheres em São Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário