Não há dúvidas que até o
momento a melhor estratégia de combate ao COVID-19 (Coronavírus) é a
quarentena, para quem tem a opção. Isolar-se em casa é uma medida de segurança
para as cidadãs e cidadãos, ou deveria ser. Aqui precisamos fazer um recorte e
lembrar que para muitas mulheres em nosso país e com destaque para o RS, seus
próprios lares não são lugares seguros.
Vivemos em um país que passa
por crescentes casos de violência contra as mulheres e feminicídios, somado a
um governo conservador e fundamentalista de extrema-direita, misógino,
armamentista, que propaga discursos de ódio contra as minorias e promove
retirada de direitos. É difícil saber onde estamos seguras. Somado a isso, a
chegada do Coronavírus ao Brasil em meados de março e a determinação dos
governos de que as pessoas devem permanecer em isolamento social para evitar a
transmissão trouxe à superfície, novamente, outra epidemia que o Brasil vive: a
violência doméstica.
O Brasil corre o risco de
ver seus índices de violência contra a mulher, que já são elevados, alavancar.
O isolamento social devido ao Coronavírus obriga as mulheres a compartilharem o
local de isolamento com seus agressores 24 horas por dia ou perto disso e por
tempo indeterminado, tendo em vista que quase metade dos casos de violência
contra mulher é praticado por parceiros e ex-parceiros. No estado do Rio de
Janeiro já foi registrado um aumento de 50% nos casos de violência doméstica
durante o período de isolamento social. Autoridades de São Paulo acompanham com
preocupação que o mesmo ocorra no estado. Outros países que passam pela
pandemia também registraram aumento da violência doméstica, é o caso da China.
Após o fechamento da
Secretaria Estadual de Políticas para as Mulheres, durante o governo Sartori,
houve uma redução drástica no aporte orçamentário que chegava a R$10.073.313,89
em governos anteriores. O governo Eduardo Leite destinou R$20.000,00 para
políticas de enfrentamento a violência contra as mulheres. Em 2019, o RS foi o
terceiro estado que mais matou mulheres, foram 100 casos de feminicídio. Até a
segunda quinzena de fevereiro de 2020 foram registrados 12 feminicídios no
estado, um aumento de 233%, conforme os dados do Relatório Preliminar da Força
Tarefa Interinstitucional de Combate ao Feminicídio.
Esses dados são do período anterior ao decreto de quarentena, o que nos leva a crer que esses números serão elevados, o que representa mais mulheres vítimas de violência. São vidas que podem ser exterminadas a qualquer momento, já que estão confinadas no mesmo ambiente que seus agressores. O risco é de aumento de uma curva tão preocupante quanto a do Coronavírus.
Esses dados são do período anterior ao decreto de quarentena, o que nos leva a crer que esses números serão elevados, o que representa mais mulheres vítimas de violência. São vidas que podem ser exterminadas a qualquer momento, já que estão confinadas no mesmo ambiente que seus agressores. O risco é de aumento de uma curva tão preocupante quanto a do Coronavírus.
A ministra da Mulher,
Família e Direitos Humanos, Damares Alves recentemente fez um pronunciamento
pedindo às pessoas que denunciem casos de violência e abuso. A relatora
especial da ONU sobre Violência contra Mulher, Dubravka Simonovic recomendou
que os estados devem adotar medidas urgentes para esse tipo de violência.
Contudo, nenhuma delas toca no cerne da questão. A violência contra as mulheres
é um mecanismo de poder e de controle. É resultado de um sistema de dominação
masculino e capitalista, pois as mulheres são exploradas no mercado de trabalho
concentradas em empregos menos valorizados, com menos direitos e
sobrecarregadas com a naturalização da divisão sexual do trabalho, que coloca
as tarefas de cuidado com a casa, com os filhos e os idosos como
responsabilidade exclusiva das mulheres, sem remuneração. Embora o trabalho
doméstico e o cuidado sejam fundamentais para a reprodução social dos
trabalhadores, quando se trata de remunerar essa atividade, o sistema
capitalista se relaciona com a cultura colonialista e escravocrata brasileira ao
inferiorizar a atividade e desvalorizar sua remuneração, desempenhada em sua
maior parte por mulheres negras. Enquanto vivermos em uma sociedade organizada pela
exploração capitalista, pelo machismo que mata as mulheres e pelo racismo que
estrutura a profunda desigualdade e a exploração no Brasil, toda crise será
motivo para que ocorram aumentos nos casos de violência e de mortes das
mulheres, principalmente nas comunidades periféricas das cidades, do campo e
das florestas. Somente uma sociedade pautada em valores coletivos como justiça
social, saúde pública e gratuita, educação pública gratuita e de qualidade a
todas e todos, distribuição de renda, direitos ao trabalhador e a trabalhadora
e remuneração adequada, soberania alimentar e dos territórios e povos, poderá
promover ambientes mais seguros às mulheres.
Por isso gritamos “RESISTIMOS PARA VIVER, MARCHAMOS
PARA TRANSFORMAR!”.
Por isso gritamos “RESISTIMOS PARA VIVER, MARCHAMOS
PARA TRANSFORMAR!”.
No Rio Grande do Sul, a
Força Tarefa Interinstitucional de Combate ao Feminicídio informa que agora é
possível registrar ocorrência envolvendo violência doméstica através da
delegacia online (www.delegaciaonline.rs.gov.br e
seguir o passo a passo) ou através do Disque 180, Disque 100 e da Brigada
Militar 190.
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