Em 05 de junho 1972, em Estocolmo, durante uma das conferência da ONU sobre o meio ambiente, foi instituído o Dia Mundial do Meio Ambiente. Neste 05 de junho de 2020, em meio a uma crise causada pela pandemia do Coronavírus, não há o que se comemorar. A pandemia é fruto de um sistema econômico capitalista, patriarcal e racista, que tem o lucro como centralidade e objetivo primordial, assim considerando os territórios e os bens comuns como “recursos” e espaços a serem explorados ao máximo, muitas vezes até a degradação. A complexa relação globalizada entre as importações e exportações de alimento, lixo, explorações minerais, desmatamento, violação de direitos humanos, proporcionou o cenário para a crise sanitária.
Aonde há resistência, há violência, expulsão e morte. Lembramos dos rompimentos das barragens de mineração na bacia do Rio Doce, do desastre da usina nuclear de Chernobil, da expulsão de milhares de famílias que moravam entorno do rio Xingu para construção de Belo Monte, a violência estatal contra quem vivia nas áreas urbanas sedes dos megaeventos como copa do mundo e olimpíada, o genocídio há 500 anos dos povos indígenas, entre tantos outros. A lista é gigantesca.
Neste 05 de junho de 2020, algumas semanas depois do ministro do meio ambiente do governo Bolsonaro, Ricardo Salles, declarar que é um bom momento para “passar a boiada” enquanto a mídia está voltada para o Covid, declarou, em outras palavras, que o momento está favorável para afrouxamento de legislações protetoras de territórios, de desmonte de políticas públicas de fiscalização dos crimes socioambientais como, por exemplo, o desmatamento, articulando ações que facilitam e legitimam a violência e o acaparamento*. O incentivo ao agronegócio para as empresas transnacionais, das grandes monoculturas que não matam a fome do povo e negam o direito a terra e ao trabalho pra milhões de famílias, em vez do incentivo de uma agricultura familiar e ecológica, é também incentivar o aceleramento das mudanças climáticas e de novos cenários às novas pandemias. Aqui, percebe-se que o exercício do pensar e, não menos importante, do sentir as relações entre todos esses elementos, naturais, culturais e energéticos, apesar de muito complexos, é potência de luta para resistir e transformar.
O recesso da economia e o distanciamento social humano em tempos de pandemia não deve ser visto como “bom para a natureza”, pois esta forma de pensar exclui os seres humanos como seres naturais, animais, que em um longo e contínuo processo de interação com o planeta terra e seus elementos evoluiu, construindo uma biodiversidade riquíssima. Este momento está sendo cruel com aqueles que historicamente são vítimas de processos de exclusão, segregação, violação de direitos, e será assim com as mudanças climáticas (que já estão acontecendo). As mulheres, ainda mais as mulheres negras, estão sofrendo imensamente com a falta de renda, emprego, aumento da violência doméstica e tantas outras faltas e dificuldades para garantir vida digna para si e para suas famílias. Se é ruim para uma grande parte dos seres humanos, é ruim para natureza – essencialmente.
Os acordos internacionais estabelecidos pela ONU de venda e compra de carbono e da lógica de compensação, mercantilizando a natureza, não transforma as raízes profundas desses problemas. Manter a visão dos bens comuns como mercadorias a serem valoradas apenas sob valores monetários, é sustentar essa economia de devoção ao lucro que tanto faz mal à natureza.
Para o feminismo, o capitalismo não tem eco e que isso ecoe a todos os cantos, urgentemente, antes que voltemos pós pandemia ao mesmo ritmo frenético de exploração e violência ou, em pior cenário, mais intenso numa busca de compensação do tempo “perdido”. A consigna da MMM mudar o mundo para não mudar o clima, e mudar o mundo para mudar a vida das mulheres em um só movimento, é também, em última instância, conservar a biodiversidade e os bens comuns, essenciais para sustentabilidade da vida.
#ForaBolsonaro #ForaSalles #MarchaEmAção2020
A natureza não é mercadoria, assim como o corpo das mulheres não são.
Para o feminismo, o capitalismo não tem eco e que isso ecoe a todos os cantos, urgentemente, antes que voltemos pós pandemia ao mesmo ritmo frenético de exploração e violência ou, em pior cenário, mais intenso numa busca de compensação do tempo “perdido”. A consigna da MMM mudar o mundo para não mudar o clima, e mudar o mundo para mudar a vida das mulheres em um só movimento, é também, em última instância, conservar a biodiversidade e os bens comuns, essenciais para sustentabilidade da vida.
#ForaBolsonaro #ForaSalles #MarchaEmAção2020
*processo de monopólio do todo existente nos territórios
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