Sem Parar: o trabalho e a vida das mulheres na pandemia mostra, em dados e relatos, impactos do contexto de isolamento social na crise da saúde para a vida das mulheres, considerando desigualdades de raça. Estudo foi realizado por Gênero e Número e SOF Sempreviva Organização Feminista.
O cuidado está no centro da sustentabilidade da vida. As tarefas de cuidado e trabalho se sobrepõem de forma mais intensa na pandemia. Não há a possibilidade de discutir o mundo pós-pandemia sem levar em consideração o quanto isso se tornou evidente no momento de crise global, que também nos fala sobre uma “crise do cuidado”. Para identificar e revelar os efeitos da pandemia sobre o trabalho, a renda das mulheres e a sustentação financeira da casa, a Gênero e Número e a SOF Sempreviva Organização Feminista realizaram uma pesquisa de percepção com mais de 2.600 mulheres brasileiras. As respostas foram coletadas, por formulário online, entre abril e maio. O resultado se encontra em um site exclusivo e um relatório, que organizam e debatem as informações coletadas.
As dinâmicas de vida e trabalho das mulheres se contrapõem ao discurso de que “a economia não pode parar”, mobilizado para se opor às recomendações de isolamento social. Os trabalhos necessários para a sustentabilidade da vida não pararam – não podem parar. Pelo contrário, foram intensificados na pandemia. A economia só funciona porque o trabalho das mulheres, quase sempre invisibilizado e precarizado, não pode parar. Por isso, entender a situação do cuidado durante a pandemia é fundamental para concretizar ações que sejam capazes de transformar essas dinâmicas de desigualdade que imbricam gênero, raça e classe.
Se os dados mostram que metade das mulheres brasileiras passaram a cuidar de alguém na pandemia, os recortes indicam como a realidade não é a mesma para todas: ao olhar apenas mulheres que estão em ambientes rurais, nada menos que 62% das respondentes afirmaram que passaram a ter esse tipo de responsabilidade. Além das diferenças, as desigualdades estão expostas no levantamento. Os dados mostram que as mulheres negras têm menos suporte nas tarefas de cuidado.
A pesquisa também coletou depoimentos, que mostram como é complexa a leitura da condição de vida e de trabalho neste momento. Mesmo as que seguem trabalhando, com renda, podem estar sob condições diferentes, mais precarizadas, em relação ao período anterior ao da quarentena. “Eu estou fazendo isolamento e trabalhando de casa, porém minha renda despencou”. “A empresa reduziu o pagamento a apenas 50% sem reduzir a jornada (minha situação é informal) e isso me força a reorganizar a vida financeira, porque acabo tendo ainda mais gastos com mercado, energia, etc”.
Uma pesquisa com várias vozes
Para o lançamento, pesquisadoras feministas foram convidadas a escrever artigos que jogam luz em questões centrais da pesquisa. “Mulheres rurais em meio à pandemia: desigualdades e práticas econômicas para a vida” é assinado por Miriam Nobre, da SOF. “Trabalho, solidariedade e estratégias das mulheres negras” é o texto da jornalista e também pesquisadora Bianca Santana. Marilane Teixeira, economista do CESIT/Unicamp e presidenta da SOF, escreve sobre “A pandemia do coronavírus e os seus efeitos sobre as mulheres trabalhadoras”. Tica Moreno, da equipe da SOF e pesquisadora de temas relacionados ao cuidado, assina o artigo “Cuidado e sustentabilidade da vida: mulheres que não podem parar”.
Também convidamos militantes feministas para uma série de entrevistas: Neneide Lima, da Rede Xique Xique, fala sobre a realidade das mulheres da economia solidária; Luiza Batista, da Federação Nacional de Trabalhadoras Domésticas, denuncia a ausência do direito ao isolamento social para a categoria; e Atiliana Brunetto, da Direção Nacional do MST, fala sobre as estratégias feministas e agroecológicas das mulheres camponesas.
Acesse
No site da pesquisa, estão disponíveis as análises de dados, os artigos, entrevistas, uma reportagem e um relatório completo, organizando os temas do trabalho, do cuidado e do enfrentamento à violência contra as mulheres sob uma perspectiva feminista.
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