Impaciência “hermana”
por Ingrid Wink
Ultimamente a mídia brasileira resolveu divertir o tema Futebol/Copa do Mundo, com uma suposta rivalidade histórica entre Brasil e Argentina, no sentido de diminuir a figura do sujeito argentino, enfatizando ridicularizações do povo vizinho, como se essa fosse a expressão do sentimento do “verdadeiro brasileiro”.
Nos jornais, na internet e nas campanhas publicitárias, resolveram achar que acabar com a imagem do argentino dava ibope. E assim, alimentando dia-a-dia uma rivalidade que ultrapassa o futebol, e vai parar no desrespeito ao trato humano, a grande mídia opta por instituir uma espécie de raiva de forma subliminar, velada, e até mesmo escancarada.
Este lado da raiva e da ridicularização ao argentino, é apenas um lado: o lado do projeto de sociedade que quer a todo custo instituir que as nações latinoamericanas não devam ser amistosas ou tampouco devam unir-se em nome de um “outro” projeto. Este “outro” projeto que falo, é aquele em que os povos historicamente subjugados deste continente, constituem, a cada dia, uma nova identidade, uma nova perspectiva de relações humanas, uma tentativa contra-hegemô nica na condição global, um bloco forte de consciência histórica que independa das potências europeias e do imperialismo dos EUA, enfim, um lugar em contínua efervescência política de esquerda.
Desorganizar uma construção de uma América Latina sem fronteiras político-ideoló gicas, e enfraquecer o empoderamento humanista deste território, passa a ser, sutilmente, uma ação por parte do setor do “projeto egoísta, individualista e meritocrático” da sociedade. Em bom português, passa a ser um feito velado da parte de quem não quer ver “povo nenhum unido com povo vizinho nenhum.” Afinal de contas, povo unido é perigo na certa.
Assim como a mídia podre brasileira planta uma rivalidade “supra-futebolí stica” entre Brasil e Argentina, a mídia também podre Argentina faz o mesmo em relação aos brasileiros.
Outro dia estava na frente da TV, e vi uma propaganda de “latinhas de cerveja que falam”... e no final, a latinha de cerveja brasileira chama o argentino de “maricón”. Chamar alguém de “maricón” na Argentina, é agressivo como chamar alguém de “veado” no Brasil.
Até onde sei, nunca vi uma propaganda nacional que chame alguém escancaradamente de “veado”, pois mesmo que tenhamos muitas manifestações homofóbicas aqui, ao menos nas propagandas, isso não acontece dessa forma. E por que em referência aos argentinos, isso pode? Se é aos argentinos não é homofóbico? Não é agressivo? Não compreendo a falta de criatividade e até mesmo de inteligência de parte da publicidade brasileira.
Se fôssemos elencar os avanços no tema da diversidade sexual entre Brasil e Argentina, poderiam ser destacados vários elementos em que a Argentina sai na frente... mas não é esta a proposta aqui, pois os dois países também possuem suas peculiaridades histórico-sociais.
Ridicularizar o Maradona, também faz parte do processo, afinal de contas, é amigo íntimo de Fidel Castro, e assim, boa gente não pode ser. Nesse caso fica muito parecido com a bobagem caricata que a Globo fala constantemente em relação ao Chávez. Enfatizar uma suposta “soberba” argentina, também é questionável. .. pois não se julga um povo inteiro em detrimento de algumas falas isoladas.
Esses são apenas poucos exemplos da segregação brasileiros/ argentinos que a mídia quer impor. Voltar na história para compreender a rivalidade entre os dois em relação ao futebol? Isso não me contenta... pois a rivalidade que supostamente quer ser instituída, é uma rivalidade entre relações humanas, e o futebol acaba por ficar secundário, esquecido ao final do processo.
* Ingrig Wink é secretária de juventude do PT de Gravataí -RS, e Militante da Marcha Mundial das Mulheres RS
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