Por Yara Manolaque
Diariamente, nas diversas mídias, circulam notícias, relatos e denúncias de inúmeras violências realizadas contra as mulheres. Como nós, mulheres, conseguimos ainda cumprir com nossas tarefas cotidianas, sejam elas domésticas ou não?!
É sofrível levantar da cama, olhar para o espelho e pensar: mais um dia para enfrentar olhares, insultos, fiu-fiu, expressões insinuantes, ruas escuras, piadas machistas, lesbofóbicas, transfóbicas e racistas, violência sexual, violência doméstica, diferença salarial, violência nas redes sociais, ou seja, as mais diversas agressões advindas de indivíduos, do Estado e de instituições, que deveriam prezar pela proteção, valorização e respeito às mulheres.
Quando queremos, geramos filhas e filhos, que venderão sua força de trabalho ou serão exploradxs para a manutenção do sistema capitalista. Somos nós mulheres, do campo ou da área urbana, que, muitas vezes, sustentamos os lares com nosso trabalho doméstico, formal ou informal.
Somos nós que educamos, orientamos, cuidamos, protegemos os indivíduos da instituição família, principalmente nos moldes heterossexual e patriarcal. É muito peso. Muita dor, violências e exploração.
E o que fazer quando não queremos, ou não esperamos e somos mãe? O que fazer?! O Estado não protegeu, não cuidou, não zelou, não educou, não realizou sua função, ao contrário, culpa, incrimina, julga e pune.
Mulheres salvadorenhas são condenadas em até 40 anos de prisão porque abortam. Nós, mulheres salvadorenhas, hondurenhas, nicaraguenses, dominicanas abortamos e somos presas em até 40 anos de prisão.
Punidas porque somos mulheres, não somos donas de nossos corpos. Pertencemos ao Estado, aos desconhecidos, aos maridos, aos pais, os quais, em muitos momentos, nos invadem e nos oprimem.
Nós, mulheres da América Central, somos denunciadas por médicos e levadas às prisões, mesmo em situação de aborto espontâneo, complicações obstétricas e partos extra- hospitalares.
Desde 1998, El Salvador mantém a proibição total a qualquer tipo de aborto, incluindo casos nos quais mulheres e meninas sofreram violência sexual ou corriam o risco de perder a vida.
Desde 1998, El Salvador mantém a proibição total a qualquer tipo de aborto, incluindo casos nos quais mulheres e meninas sofreram violência sexual ou corriam o risco de perder a vida.
Na tentativa de denunciar o que ocorre em El Salvador, grupos feministas e de direitos humanos lutam pela absolvição das “Las 17”, em referência às 17 mulheres presas e condenadas a 40 anos de prisão por realizarem aborto ou simplesmente por sofrerem aborto natural.
Entre 2000 e 2011, das 119 mulheres processadas, 49 foram condenadas. São feitos em El Salvador, segundo o ministério da Saúde local, cerca de 19 mil abortos clandestinos por ano, mas as estimativas das organizações de direitos das mulheres são de pelo menos o dobro disso.
Um quarto das mulheres que abortam tem menos de 18 anos, a maioria é pobre e vive na região rural. É comum, porém, que mulheres mais abastadas tenham acesso a clínicas de aborto clandestinas particulares, ou que viajem ao México ou à Colômbia para obtê-los.E assim, o sistema de saúde público nos acusa e nos denuncia. A justiça nos nega o amplo direito de defesa.
Não passarão mais por cima dos nossos cadáveres. Legalizar o aborto, direito ao nosso corpo.
Fontes: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/03/as-mulheres-condenadas-a-40-anos-de-prisao-porque-abortaram.html (acessado 01/04/2015)
http://www.brasilpost.com.br/2014/04/28/aborto-el-salvador_n_5227513.html? (acessado 01/04/2015)
http://www.brasilpost.com.br/2014/04/28/aborto-el-salvador_n_5227513.html? (acessado 01/04/2015)
*Yara Manolaque é professora e ativista da Marcha Mundial das Mulheres de Pernambuco – Núcleo Agreste
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