*Por Letícia Raddatz
Entre os dias 27 e 29 de março de 2015, mais de 500 trabalhadoras de todo o país se reuniram em Brasília, no 8º Encontro Nacional das Mulheres da CUT, que teve como tema “Trabalhadoras em Luta por Igualdade, Liberdade e Autonomia”. No encontro foram debatidas questões como políticas públicas e o papel do Estado para as trabalhadoras da cidade, do campo, da floresta e das águas. O encontro foi aberto para todas as mulheres que quiseram participar, oportunizando para muitas delas o primeiro contato com o feminismo.
O objetivo do encontro foi estabelecer estratégias e ações a serem incorporadas nas pautas e lutas prioritárias da Central Única dos Trabalhadores (CUT), a aplicação da paridade de gênero nas instâncias da Central e o fortalecimento, organização e mobilização das mulheres para avanços e ampliação de direitos, assim como a construção coletiva com demais movimentos de mulheres.
Esse evento, organizado pela Secretaria Nacional de Mulheres da CUT, foi resultado de um processo de encontros estaduais, nos quais foi debatido um texto base previamente elaborado. Dos debates estaduais resultaram propostas de alterações e emendas para serem debatidas em nível nacional.
O texto final, resultado do processo democrático, descentralizado e participativo, contempla os objetivos e as estratégias de luta das mulheres cutistas para o atual período, tocando em temas cruciais para a classe trabalhadora como a democratização da mídia, a reforma política (com o necessário recorte de gênero), além da luta pela legalização do aborto e o direito ao próprio corpo. De maneira estratégica, o centro do debate foi a implementação da paridade de gênero nas direções da CUT em nível nacional e estadual.
Os debates foram fomentados por diversos painéis “Conjuntura nacional e internacional e os impactos para a vida das mulheres”, “Paridade: Por uma nova democracia sindical!”, “Democratização do Estado, reforma política, democratização dos meios de comunicação e a luta feminista”, “Trabalho e Autonomia: A presença das mulheres no mundo do trabalho e a situação das mulheres negras”.
Nós, mulheres da Marcha Mundial das Mulheres estivemos representadas por muitas militantes de diversos segmentos de trabalhadoras. Na noite do dia 28, as militantes da MMM se reuniram para debater sobre a 4ª Ação Internacional de 2015.
Dentro do movimento sindical, como em todos os espaços da sociedade, as mulheres sofrem com o machismo. Mesmo em categorias majoritariamente femininas, o que ocorre é o predomínio dos homens nos cargos de direção dos sindicatos. E quando as mulheres compõem as direções, geralmente é nos cargos de menor poder e visibilidade.
Assim, o dia-a-dia da luta sindical configura-se como um desafio especial para as mulheres. Nos embates políticos típicos das instâncias sindicais, os homens reagem das maneiras mais violentas quando elas argumentam posições contrárias às deles. Vão desde questionar a sua qualificação para o debate até tentar abafar seus argumentos aos gritos.
Assim, o dia-a-dia da luta sindical configura-se como um desafio especial para as mulheres. Nos embates políticos típicos das instâncias sindicais, os homens reagem das maneiras mais violentas quando elas argumentam posições contrárias às deles. Vão desde questionar a sua qualificação para o debate até tentar abafar seus argumentos aos gritos.
A participação das mulheres nas atividades sindicais é muitas vezes dificultada pois os horários e locais são pensados sem considerar que ainda são as principais responsáveis pelo trabalho doméstico, fruto da manutenção machismo e patriarcado. Além disso, para elas as longas viagens para conferências, congressos e outros fóruns, nos quais são debatidas as políticas e as pautas de luta, são mais difíceis porque a educação dos filhos e demais cuidados da família ainda são considerados papel feminino.
Ainda é comum a naturalização de casos de assédio moral, sexual, e demais violências contra a mulher, muitas vezes reproduzidos desde as bases até os ambientes sindicais. Já se registrou até mesmo casos de violência física dos homens contra as mulheres dentro dos sindicatos.
Para fazer frente a essa situação nós, mulheres cutistas, focamos estrategicamente no debate sobre a paridade de gênero nos cargos de direção da CUT. Entendemos que conquistando a paridade neste âmbito, poderemos avançar apoiando, incentivando e empoderando as mulheres trabalhadoras para que assumam o protagonismo na luta sindical, concorrendo aos cargos de direção dos seus sindicatos e fazendo gestões que contemplem as pautas da mulher trabalhadora.
O feminismo é muito mais amplo e revolucionário do que as pautas sindicais. Mas é importante que as mulheres ocupem o seu espaço dentro da organização sindical, já que são trabalhadoras que ganham comprovadamente menos do que os homens pelo trabalho “produtivo” e sua jornada engloba também o trabalho “reprodutivo” não remunerado no âmbito doméstico e familiar.
Oprimidas duplamente, pelo machismo e pelo capitalismo, as mulheres trabalhadoras não podem esperar que os homens defendam as suas reivindicações. Não esperaremos. Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres.
*Letícia Raddatz, é bancária, dirigente sindical e militante da Marcha Mundial das Mulheres no Rio Grande do Sul.
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