A Frente Nacional Pela Legalização
do Aborto é formada por diversas instituições e coletivos feministas
do Brasil; sua proposta é promover a conscientização a respeito da questão do
aborto e lutar pela conquista do aborto legal, seguro e gratuito para todas as
mulheres.
No dia 28 de Maio é o Dia
Internacional da Luta Pela Saúde da Mulher, a Frente produziu um folheto
informativo que tira dúvidas básicas e derruba vários mitos a respeito do
aborto. Entre os temas abordados, o folheto menciona que o número de abortos realizados
costuma diminuir quando o procedimento é legalizado no país, tendo como exemplo
o Uruguai, Cuba e e outros. Fica evidente que a legalização do aborto é a única
opção viável e realmente efetiva para a saúde pública das mulheres.
Leia o texto do material:
“Aborto
não deve ser crime
Neste dia de luta denunciamos a situação
de saúde das mulheres que praticam aborto clandestino e que, ao chegarem aos
hospitais com infecções e hemorragias, são maltratadas e denuncias por
profissionais de saúde, tendo o sigilo violado.
Nenhuma mulher faz aborto porque gosta.
Um aborto acontece porque, naquele momento da vida, é a única saída frente a
uma gravidez indesejada. Todo mundo conhece uma pessoa que já precisou fazer
aborto, seja parente, colega de trabalho, vizinha ou amiga. O aborto é uma
realidade na vida das mulheres. No Brasil, o aborto é considerado crime (de
acordo com nosso Código Penal, de 1940), exceto quando a gravidez é resultado
de estupro, causa risco de vida à mulher ou quando o feto tem má-formação que
não o deixa sobreviver depois que nasce (anencefalia). Por isto, muitos abortos
são feitos e forma clandestina.
As mulheres que têm dinheiro tomam a
decisão e fazem de forma tranquila, segura e sem risco a sua saúde. As mulheres
pobres e negras, do campo e das periferias das cidades, fazem o aborto com
métodos mais perigosos, o que pode afetar sua saúde e levá-las à morte. Muitas
morrem à espera de atendimento de urgência nas longas filas dos serviços de
saúde, onde são tratadas como criminosas. O Estado é negligente em ações
efetivas que combatam essas mortes, que poderiam ser evitadas. A
clandestinidade do aborto alimenta o mercado das clínicas que realizam de forma
insegura o procedimento mediante o pagamento de valores altos.
Propostas de regulamentação
do aborto no Congresso
Há uma proposta no Senado Federal
conhecida como SUG 15/2014 (Sugestão legislativa) que consiste em regulamentar
o atendimento no SUS da interrupção voluntária da gravidez, dentro das 12
primeiras semanas de gestação. Isto é, as mulheres terem o direito a fazer
aborto neste período da gravidez, se assim decidirem ou necessitarem.
Neste 28 de Maio, esta proposta está
sendo debatida no Congresso Nacional, mas há muitos/as deputados/as e
senadores/as conservadores/as lutando para que as mulheres não acessem esse
direito. Acreditam que as mulheres são seres inferiores e irresponsáveis e que
são incapazes de tomar decisões.
As mulheres, sim, têm o direito de
decidir sobre seu corpo e sua via. Por isto é importante quebrar o silêncio sobre
o tema do aborto, discutir nas ruas, nas universidades, no trabalho e se
organizar em grupos de mulheres para defender nossos direitos. Este Congresso
machista não nos representa!
As mulheres têm o direito de decidir se
querem ou não ser mães. A maternidade não deve ser uma obrigação nem um
castigo. Portanto, a legalização o aborto contribui para que as mulheres tenham
autonomia para tomar uma decisão cujo significado elas conhecem mais do que
ninguém.
É importante saber:
1) A legalização
aumenta o número de abortos? Não.
Nos países em que a legalização veio
acompanhada de educação sexual e acesso aos serviços de saúde e aos métodos
anticoncepcionais, o número e abortos diminuiu.
2) O aborto é
considerado crime em todo o mundo? Não.
Em mais de um terço dos países do mundo,
especialmente nos chamados países desenvolvidos, o aborto é legalizado Na
América Latina, o aborto é permitido no Uruguai, Cuba, na cidade do México e na
Guiana Francesa.
3) É verdade que a
maioria das mulheres que fazem aborto são jovens e solteiras?
Na realidade, mulheres de todas as
idades, casas e solteiras, fazem aborto. Pesquisa realizada pela UnB (2007)
demonstrou que a maioria das que abortam são casadas, mães, trabalham fora,
têm, em média, de 20 a 29 anos, são católicas, com alguma escolaridade e
decidem pelo aborto com o parceiro.
4) Com a legalização
todas as mulheres vão fazer aborto? Não.
Fazer aborto pode ser uma decisão
difícil para muitas mulheres, sem contar que, mesmo realizado de forma segura,
o aborto é um procedimento médico que envolve consulta ginecológica,
entrevistas com psicólogos/as, assistentes sociais. Além disso, o direito ao
aborto não obriga ninguém a fazê-lo, cada uma decide a partir de seus valores e
sua consciência. As que decidem pelo aborto devem ser respeitadas em sua
decisão, sem correr risco de saúde, morte ou prisão.
5) É verdade que, se
todas as mulheres tivessem acesso a métodos contraceptivos, não precisariam da
legalização do aborto?
Na realidade, a gravidez indesejada
sempre existirá, porque os contraceptivos falham, seja pelo uso inadequado ou
por falha do próprio método, seja porque, muitas vezes, as mulheres são
obrigadas a ter relações sexuais com maridos ou namorados. Muitas vezes, os
parceiros se negam a usar preservativos. Algumas religiões defendem o não uso
de anticoncepcionais e preservativos, o que coloca as mulheres em risco de
engravidar e de pegar doenças sexualmente transmissíveis, e esta é uma
orientação que pode ser acatada, ou não, por quem professora fé e segue esses
preceitos. Não deve ser imposto a todas as mulheres brasileiras, sobretudo às
que não sguem religião, respeitando assim o princípio da laicidade do Estado
brasileiro, que separa as decisões políticas da influências dos dogmas
religiosos. E o serviço de saúde tem o dever de atender igualmente todas as
mulheres com respeito, dignidade e justiça. Nenhum/a funcionário/a da rede
pública de saúde tem o direito de impor seus valores e preceitos morais e
religiosos durante o atendimento prestado no serviço.
6) Os grupos de
mulheres que lutam pela legalização do aborto respeitam a vida? Sim!
- As mulheres são seres humanos com
direito a tomar decisões sobre sua vida com autonomia;
- A criminalização não evita o aborto no
Brasil. Aqui, são realizados cerca de 700 mil a um milhão de abortos por ano.
Muitas mulheres vão parar no hospital com complicações para a saúde. Segundo o
Ministério da Saúde, a prática do aborto inseguro é a quarta causa da morte
materna;
- O movimento de mulheres entende que é
inaceitável a morte de mulheres por aborto. O Estado tem que proporcionar todas
as condições para que a mulher que decide pelo aborto possa fazê-lo no serviço
público com segurança;
- Queremos o aborto legalizado no
Brasil;
- Queremos o fim da criminalização e dos
maus-tratos a mulheres em situação de abortamento nos hospitais;
- Exigimos que todos os hospitais no
Brasil tenham equipes capacitadas para atender de forma humanizada as mulheres
em situação de abortamento.”
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