Somos clandestinas, estamos em marcha, seremos livres! Documento da Primavera pelo Direito ao Corpo e a Vida das Mulheres
Somos mulheres argentinas, brasileiras e uruguaias em marcha por autonomia e liberdade. Nos encontramos entre os dias 26 e 28 de setembro de 2015 na Primavera pelo Direito ao Corpo e a Vida das Mulheres, que é parte da Quarta Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheres no Brasil.
Nesta ação, estamos construindo e fortalecendo a defesa dos territórios das mulheres, que são nossos corpos, os lugares aonde vivemos, trabalhamos e desenvolvemos nossas lutas, nossas relações e nossas histórias.
Nos encontramos na fronteira Brasil-Uruguai, em Santana do Livramento-Rivera, para colocar em prática o sentido da palavra fronteira como espaço comum e compartilhado, na perspectiva da integração dos povos. Somos mulheres que compartilhamos uma realidade de controle sobre os nossos corpos, nossa sexualidade e nossas vidas, mas também a força, a teimosia e a irreverência feminista que muda o mundo.
O aborto faz parte da vida das mulheres. Estamos em luta pelo fim da hipocrisia e do fundamentalismo religioso que hoje criminaliza pune e mata milhares de mulheres, principalmente as pobres e negras, pela clandestinidade do aborto.
Enquanto a criminalização do aborto nos empurra para a clandestinidade, a solidariedade entre as mulheres salva vidas e garante nossa autonomia. Inspiradas pelas companheiras argentinasSocorristas en Red, nos comprometemos a disputar os sentidos do aborto, como uma experiência de autonomia e autodeterminação.
Com as companheiras uruguaias reconhecemos os avanços mas também conhecemos os limites da lei que legalizou parcialmente o aborto em 2012. As mulheres uruguaias se deparam com uma série de obstáculos e limites para ter acesso a esse direito. Nossa defesa da legalização do aborto é para que sejam as mulheres que decidam os rumos da sua vida, e não os médicos, o Estado ou as igrejas.
Sentimos em nosso cotidiano os efeitos do poder médico e da indústria farmacêutica que nos vendem pílulas para todos os tipos de dor, mas que nos afastam da possibilidade de praticar a decisão sobre a maternidade de forma autônoma. Recuperamos os saberes das mulheres e intercambiamos experiências de promoção da saúde das mulheres. Recuperamos os saberes e a ancestralidade das mulheres negras e fortalecemos na prática a construção de um feminismo antirracista que ainda tem muitos caminhos por percorrer.
Construímos nestes 3 dias resistência e solidariedade com a nossa auto-organização como mulheres. Conhecendo as experiências das mulheres e revelando nossas vozes e nossa diversidade, estamos convencidas de que o direito ao aborto é fundamental para nossa autonomia. O aborto é uma experiência que faz parte das nossas vidas, e estamos em luta para que seja uma experiência vivida de forma autônoma, segura e que seja respeitada por toda a sociedade.
O encontro de mais de 500 mulheres em movimento pela legalização do aborto é em si uma resposta ao conservadorismo que se apresenta hoje nas diferentes esferas da nossa sociedade. Reafirmamos a defesa do Estado Laico: as leis não devem ser influenciadas pela religião.
Afirmamos que a defesa e a conquista de nossa autonomia é um assunto tão urgente como o enfrentamento a crise econômica e política. Não deixaremos esta luta para depois! Nos somamos ao conjunto dos coletivos, movimentos de mulheres, movimentos sociais e feministas de todos os matizes no repúdio à possibilidade de rebaixamento da Secretaria de Política para as Mulheres, sendo absolutamente contra a fusão da SPM, SEPPIR, SDH e Secretária da Juventude em um único ministério, com recursos centralizados e fora do controle de cada uma destas pastas. Afirmamos que isso significa uma grande retrocesso, uma derrota simbólica para as mulheres e uma vitória estrondosa de setores obscurantistas, conservadores e misóginos, que hoje trabalham para derrubar tudo o que construímos em termos de estruturas de atendimento e de políticas públicas nos municípios, nos estados e, agora, na União.
Denunciamos todas as iniciativas e os projetos de lei que são apresentados no Congresso Nacional para cercear ainda mais nossa autonomia e liberdade, reduzindo direitos civis de LGBTs, atacando as mulheres e a população indígena e buscando reduzir a possibilidade de direito de decisão ao aborto: é inadmissível que as mulheres, adolescentes ou adultas vítimas de violência sexual, tenham negado o acesso à contracepção de emergência. Da mesma forma, também é absurdo que aquelas que acompanham estas mulheres que decidem abortar sejam criminalizadas, e que em nome de uma vida em potencial as vidas concretas das mulheres – seus desejos, projetos e relações – sejam descartadas. É ainda inadmissível que as mulheres continuem ameaçadas com a possibilidade de não poder fazer aborto fruto de um estupro.
Somos mulheres e não mercadorias, somos mulheres e não incubadoras. Dizemos basta ao tratamento dado aos nossos corpos como disponíveis para os homens e para o sistema capitalista e patriarcal. Nossos corpos não podem continuar sendo tratados como territórios de experimentos da indústria farmacêutica que caminha de mãos dadas com a indústria dos agrotóxicos que envenena os alimentos, contamina a terra e expulsa as camponesas e indígenas de seus territórios. Resistimos à combinação nefasta do mercado com o machismo e o racismo que colonizam nossos corpos e nossos territórios.
Pela autonomia e autodeterminação dos nossos corpos, estamos em marcha pelo fim da violência contra as mulheres! Denunciamos os feminicídios, a lesbo-bi-transfobia que se expressa de forma violenta no cotidiano daquelas mulheres que ousam questionar a imposição da heterossexualidade e os papéis sociais de gênero. A superação da heteronormatividade é uma condição para que todas sejamos livres!
De Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul, nos somamos as nossas companheiras do Ceará e Rio Grande do Norte que entre os dias 15 e 17 de outubro realizam a última etapa da quarta ação internacional da MMM no Brasil, afirmando nossas resistências e alternativas, em defesa dos nossos corpos e territórios. E, em 18 de novembro, reforçaremos nosso compromisso na construção de um feminismo antirracista na Marcha das Mulheres Negras.
Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!
Santana do Livramento, 28 de setembro de 2015
Somos mulheres argentinas, brasileiras e uruguaias em marcha por autonomia e liberdade. Nos encontramos entre os dias 26 e 28 de setembro de 2015 na Primavera pelo Direito ao Corpo e a Vida das Mulheres, que é parte da Quarta Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheres no Brasil.
Nesta ação, estamos construindo e fortalecendo a defesa dos territórios das mulheres, que são nossos corpos, os lugares aonde vivemos, trabalhamos e desenvolvemos nossas lutas, nossas relações e nossas histórias.
Nos encontramos na fronteira Brasil-Uruguai, em Santana do Livramento-Rivera, para colocar em prática o sentido da palavra fronteira como espaço comum e compartilhado, na perspectiva da integração dos povos. Somos mulheres que compartilhamos uma realidade de controle sobre os nossos corpos, nossa sexualidade e nossas vidas, mas também a força, a teimosia e a irreverência feminista que muda o mundo.
O aborto faz parte da vida das mulheres. Estamos em luta pelo fim da hipocrisia e do fundamentalismo religioso que hoje criminaliza pune e mata milhares de mulheres, principalmente as pobres e negras, pela clandestinidade do aborto.
Enquanto a criminalização do aborto nos empurra para a clandestinidade, a solidariedade entre as mulheres salva vidas e garante nossa autonomia. Inspiradas pelas companheiras argentinasSocorristas en Red, nos comprometemos a disputar os sentidos do aborto, como uma experiência de autonomia e autodeterminação.
Com as companheiras uruguaias reconhecemos os avanços mas também conhecemos os limites da lei que legalizou parcialmente o aborto em 2012. As mulheres uruguaias se deparam com uma série de obstáculos e limites para ter acesso a esse direito. Nossa defesa da legalização do aborto é para que sejam as mulheres que decidam os rumos da sua vida, e não os médicos, o Estado ou as igrejas.
Sentimos em nosso cotidiano os efeitos do poder médico e da indústria farmacêutica que nos vendem pílulas para todos os tipos de dor, mas que nos afastam da possibilidade de praticar a decisão sobre a maternidade de forma autônoma. Recuperamos os saberes das mulheres e intercambiamos experiências de promoção da saúde das mulheres. Recuperamos os saberes e a ancestralidade das mulheres negras e fortalecemos na prática a construção de um feminismo antirracista que ainda tem muitos caminhos por percorrer.
Construímos nestes 3 dias resistência e solidariedade com a nossa auto-organização como mulheres. Conhecendo as experiências das mulheres e revelando nossas vozes e nossa diversidade, estamos convencidas de que o direito ao aborto é fundamental para nossa autonomia. O aborto é uma experiência que faz parte das nossas vidas, e estamos em luta para que seja uma experiência vivida de forma autônoma, segura e que seja respeitada por toda a sociedade.
O encontro de mais de 500 mulheres em movimento pela legalização do aborto é em si uma resposta ao conservadorismo que se apresenta hoje nas diferentes esferas da nossa sociedade. Reafirmamos a defesa do Estado Laico: as leis não devem ser influenciadas pela religião.
Afirmamos que a defesa e a conquista de nossa autonomia é um assunto tão urgente como o enfrentamento a crise econômica e política. Não deixaremos esta luta para depois! Nos somamos ao conjunto dos coletivos, movimentos de mulheres, movimentos sociais e feministas de todos os matizes no repúdio à possibilidade de rebaixamento da Secretaria de Política para as Mulheres, sendo absolutamente contra a fusão da SPM, SEPPIR, SDH e Secretária da Juventude em um único ministério, com recursos centralizados e fora do controle de cada uma destas pastas. Afirmamos que isso significa uma grande retrocesso, uma derrota simbólica para as mulheres e uma vitória estrondosa de setores obscurantistas, conservadores e misóginos, que hoje trabalham para derrubar tudo o que construímos em termos de estruturas de atendimento e de políticas públicas nos municípios, nos estados e, agora, na União.
Denunciamos todas as iniciativas e os projetos de lei que são apresentados no Congresso Nacional para cercear ainda mais nossa autonomia e liberdade, reduzindo direitos civis de LGBTs, atacando as mulheres e a população indígena e buscando reduzir a possibilidade de direito de decisão ao aborto: é inadmissível que as mulheres, adolescentes ou adultas vítimas de violência sexual, tenham negado o acesso à contracepção de emergência. Da mesma forma, também é absurdo que aquelas que acompanham estas mulheres que decidem abortar sejam criminalizadas, e que em nome de uma vida em potencial as vidas concretas das mulheres – seus desejos, projetos e relações – sejam descartadas. É ainda inadmissível que as mulheres continuem ameaçadas com a possibilidade de não poder fazer aborto fruto de um estupro.
Somos mulheres e não mercadorias, somos mulheres e não incubadoras. Dizemos basta ao tratamento dado aos nossos corpos como disponíveis para os homens e para o sistema capitalista e patriarcal. Nossos corpos não podem continuar sendo tratados como territórios de experimentos da indústria farmacêutica que caminha de mãos dadas com a indústria dos agrotóxicos que envenena os alimentos, contamina a terra e expulsa as camponesas e indígenas de seus territórios. Resistimos à combinação nefasta do mercado com o machismo e o racismo que colonizam nossos corpos e nossos territórios.
Pela autonomia e autodeterminação dos nossos corpos, estamos em marcha pelo fim da violência contra as mulheres! Denunciamos os feminicídios, a lesbo-bi-transfobia que se expressa de forma violenta no cotidiano daquelas mulheres que ousam questionar a imposição da heterossexualidade e os papéis sociais de gênero. A superação da heteronormatividade é uma condição para que todas sejamos livres!
De Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul, nos somamos as nossas companheiras do Ceará e Rio Grande do Norte que entre os dias 15 e 17 de outubro realizam a última etapa da quarta ação internacional da MMM no Brasil, afirmando nossas resistências e alternativas, em defesa dos nossos corpos e territórios. E, em 18 de novembro, reforçaremos nosso compromisso na construção de um feminismo antirracista na Marcha das Mulheres Negras.
Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!
Santana do Livramento, 28 de setembro de 2015
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