domingo, 1 de agosto de 2021

É também sobre bananeiras! de Isabel Freitas.

É também sobre bananeiras!


Hoje, 1 de agosto de 2021, foi dado mais um passo na desconstrução do pensamento e prática que a indústria da comida quer afirmar como caminho único para a humanidade. Foi também a semana em que os movimentos sociais do nosso continente ergueram-se para protestar, organizar e resistir à ofensiva do mercado em mandar na nossa comida.

A caminhada para construção da pequena e potente horta comunitária no Morro da Cruz, é a prova de que temos condições de apaixonar as pessoas, principalmente as mulheres, da nossa capacidade coletiva de plantar comida em toda parte.  Comida boa, limpa, produzida coletivamente. Pode ser que a produção da horta, não dê conta de forrar tantos estômagos quanto seja necessário. Estamos vivendo um momento duro de desemprego massivo e precarização dos serviços públicos, principalmente nos serviços de assistência social. Tão importante como a comida é o resgate das possibilidades de produzi-las em qualquer terra, já dizia Ana Primavesi “não existe terra morta, a terra é um organismo vivo, precisamos alimentá-la". Pra quem não sabe, Ana é uma mulher pioneira no pensamento e pratica agroecologia no Brasil. A mística da Horta é também um espaço de troca das militantes feministas, antirracistas e anticapitalistas, com as mulheres do morro. É uma energia poderosa movida pela esperança de dias melhores. Enquanto os poderosos do mundo se acantonam para pensar como dominar o mercado do alimento; como dominar totalmente a natureza; como dominar os povos, as sementes, as águas, como nos matar envenenados pela comida que eles fabricam, as mulheres sobem o morro para alumiar as possibilidades de redesenhar essa história.

Um dia, depois de uma exposição tensa sobre a ofensiva do capital sobre a vida das mulheres feita pela companheira Miriam Nobre, estudiosa do tema da agroecologia e do feminismo, eu perguntei a ela, qual alternativa que temos? Ela, calmamente respondeu: “em tempos de crise extrema a nossa melhor alternativa é acender nossas lanternas em cima das coisas boas que as mulheres sabem fazer, isso nos dá força”, concluiu a Miroca, como a chamamos carinhosamente.  Eu sempre penso nessa frase dela. Estamos num período em que as vezes nem enxergamos o túnel, quem dera a luz que deveria estar no seu final. Nossa horta ainda está engatinhando mas, nossa esperança galopa! Vieram muitas mulheres, muitas crianças. As mulheres logo pegaram na enxada e perceberam que a terra do morro era muito dura.

No entanto, a dureza não ensaiou desistência. Hoje plantamos bananeiras para filtrar um vazamento de esgoto. Diz a lenda que bananeira é uma planta feminina, ela produz um cacho apenas, depois não teria mais utilidade. Na base da bananeira nascem filhas que vão reproduzir netas e assim a vida da bananeira se reproduz contando a história da planta mãe.  Nos sistemas agroecológicos as plantas mães, alimentam a pobre terra pobre.  Hoje na horta comunitária a planta mãe também vai servir para filtrar o descaso do poder público com o esgoto onde brincam as crianças filhas dos mais pobres de cima do morro.

E nós seguimos ressignificando nossas práticas fazendo resistência e também plantando bananeiras!  

Isabel Freitas é Assistente Social especialista em saúde mental coletiva e educadora popular agricultora urbana, militante feminista da Marcha Mundial das Mulheres.





2 comentários:

  1. Lindo Artigo da Comp. Marchante Isabel Freitas! Nós Mulheres plantadoras da Agricultura Familiar e as bananas somos nós as mulheres as árvores .. multiplicadoras de alimento nutritivo a banana é símbolo da continuidade!

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  2. Texto maravilhoso! Vamos juntas colocar a lanterna sobre as coisas boas que fazemos!

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