quarta-feira, 7 de julho de 2021

Mais um passo na construção da horta comunitária do Morro da Cruz.




E você é de onde? 

Uma história de pertencimento pela horta e a possibilidade de comida de verdade.


por Carol Ferraz*

Isabel Freitas**

Gabriela Cunha***

No sábado 3 de julho, foi mais um passo na construção da horta comunitária do Morro da Cruz, zona leste de Porto Alegre. Um sopão aqueceu os corpos de mulheres e crianças que se reuniram para um mutirão de organização do espaço para receber o plantio na horta comunitária. Foi mesmo um sábado de esperanças, as ruas estavam cheias de pessoas que com muito cuidado e distanciamento recomendado, foram dizer NÃO apolítica genocida.

No morro, o grupo de mulheres Mãos Unidas do Morro da Cruz se misturaram com as mulheres da Aliança Feminismo Popular para pensar e fazer uma horta comunitária. Engatamos uma prosa sobre o que conhecemos de comidas. Lá encontramos mulheres que vieram de: Cachoeira do Sul; Roque Gonzáles; São Luiz Gonzaga; Candido Godoi; Santa Maria e outras localidades do RS. É um bom momento para lembrar da massiva busca das famílias rurais por uma vida melhor nas cidades, animadas pela promessa do emprego e uma vida melhor para os filhos e filhas, entrando coletivamente na estratégia do capitalismo agrário e da falta de recursos para uma vida digna na roça.

Junto com o trabalho pesado de limpeza do terreno e preparo do espaço das composteiras para receberem os resíduos de alimentos das casas da própria comunidade e que, degradados, se transformarão em matéria orgânica e retornarão como composto para a própria horta, falamos sobre solidariedade. Maria[1], que veio das missões do RS, terra que um dia já abrigou uma civilização do povo guarani, falou da sua experiência de viver um ano dependendo da solidariedade para conseguir cestas básicas. Ela nos contou que é faxineira e com a pandemia perdeu o emprego, só não passou fome porque encontrou mulheres solidárias. Vamos ouvir muitas histórias, iremos contar as nossas também, como feministas e como mulheres que se organizam para construir um mundo melhor, sem racismo, machismo, para corroer o capitalismo. 

A correção de rota das nossas estratégias tem como central nossa solidariedade, nossa capacidade de alicerçar um modo de vida ancorado no saber coletivo, na organização e na esperança de que o feminismo libertário é a saída para humanidade. Quando falamos em correção de rota, não quer dizer que estivemos erradas, quer dizer que temos uma mudança significativa no Brasil e no Mundo, isso requer repensar os caminhos focando nossa luz bem perto das potencialidades das mulheres negras, periféricas e das alianças que temos capacidade de construir. 

Ainda discutimos juntas possíveis soluções para o vazamento de esgoto na área, e ficou encaminhado entrarmos em contato com DMAE para buscar ajustes de longo prazo no saneamento básico. Ainda, a técnica de filtragem com pneus e cascalhos com plantio de bananeiras, que são plantas que gostam de solos úmidos, ajudará a resolver a contaminação da terra, porque funciona como um filtro biológico.

São 116,8 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar no Brasil, de acordo com pesquisa divulgada em abril desde ano pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), que reúne pesquisadores e professores ligados à segurança alimentar. Em um contexto de crise alimentar, a construção de hortas urbanas e peri-urbanas apoiam com a multiplicação da educação popular e permanência dos saberes populares sobre ervas e alimentos variados, além do fortalecimento das redes locais, especialmente entre as mulheres, na transformação desta realidade.

Naquele sábado vieram mulheres que já constroem estratégias coletivas no território, visto que lá já tem uma horta, um ateliê de costuras e muitas outras iniciativas em andamento. As mulheres que vieram trouxeram seus quitutes e artesanatos feitos pelas companheiras do grupo. A troca de mudinhas de plantas veio acompanhada de curiosidades e prosas sobre a importância de conhecer o potencial de cada planta. 

Enfim, foi um dia lindo de muitos passos, parafraseando o poeta educador: caminhando fazemos o caminho.


[1] Nome fictício por não ter pedido autorização de citação...

* Carol Ferraz é jornalista e integra a equipe do Amigos da Terra Brasil e a Aliança Feminismo Popular

** Isabel Freitas é Assistente Social,  militante da MMM RS e Aliança Feminismo Popular

*** Gabriela Cunha é Engenheira Ambiental, militante da MMM e Aliança Feminismo Popular





 Leia outras notícias no site da  ALIANÇA FEMINISMO POPULAR 🍀

Nenhum comentário:

Postar um comentário