É mais um dia que as trabalhadoras domésticas denunciam a
precarização da vida [i]. No início da pandemia,
segundo dados oficiais (PNAD Continua), as domésticas formavam uma categoria de
quase 7 milhões de trabalhadoras, mais de 90% mulheres e quase 70% mulheres
pretas ou pardas. Na América Latina e no Caribe representam uma média entre
10,5 e 14% do emprego das mulheres, o que significa que uma parte importante da
população ativa realiza esse trabalho em condições precárias e sem acesso a
proteção social. Os países com maior proporção de mulheres empregadas no
serviço doméstico são Paraguai, Argentina e Brasil. Segundo um informe
publicado pela ONU Mulheres OIT e CEPAL os rendimentos das trabalhadoras, nessa
região, são iguais ou inferiores ao 50% da média de todas as pessoas ocupadas.
Isso acontece mesmo que em quase todos os países exista um salário mínimo de
referência - como no caso do Brasil. O trabalho doméstico é uma das marcas
deixadas pela escravização das pessoas negras num continente marcado pela
colonização violenta. Durante a pandemia a Federação Nacional das
Trabalhadoras Domésticas (FENATRAD) vem tensionando para que a classe patronal
cumpra minimamente o que as autoridades de saúde estão indicando para o
conjunto dos empregadores. A luta pelo direito à dispensa remunerada; acesso a
equipamentos de higiene e segurança no trabalho; direito aos benefícios em caso
de desemprego; auxilio emergencial para todas que estão na informalidade;
direito prioritário à vacina, são algumas das questões que continuam a formar a
agenda de mobilização pela vida das trabalhadoras domesticas na pandemia. Para
essas trabalhadoras, a pandemia se transformou na luta diária pelo direito
de existir. O desgoverno na gestão da pandemia transformou cada mulher pobre em
alvo fácil para o vírus. Além disso, o desespero da falta de recursos básicos
para o sustento de suas famílias. As trabalhadoras domésticas, em suas redes de
organização coordenadas pelos sindicatos e FENATRAD, enfrentam a pandemia
mobilizando solidariedade de classe, mesmo sendo as primeiras a assistir a
morte de suas companheiras. Como no caso da primeira morte de uma trabalhadora
doméstica por COVID-19 no Rio de Janeiro, as trabalhadoras choraram com a mãe
vítima de negligencia com seu filho em Recife, enxugam as lágrimas e seguem
mostrando o quanto ainda temos por fazer num país que mata sua juventude negra,
suas mulheres e cria milhões de excluídos para aumentar a riqueza de
poucos. Nós, feministas antirracistas anticapitalistas, que marchamos pela
vida das mulheres, não vamos parabenizar pelo dia da Trabalhadora Doméstica,
vamos parabenizar pela resistência reafirmando nosso compromisso na luta por
direitos, na luta pela vida, pela solidariedade como princípio entre
nós. Reafirmamos nossa solidariedade feminista antirracista para derrubar
o genocida que governa o Brasil, pela vacina para todos e todas; pela taxação
das riquezas como forma de pagar a dívida econômica gerada pelos ricos; por
auxilio emergencial de 600 reais para todas as pessoas que precisam; pelo
fortalecimento do SUS. Pelo fim do racismo, do feminicidio e do extermínio dos
povos originários, pelo fim da escravização das mulheres negras nos quartinhos
de despejo do capitalismo moderno. A luta é grande, saudamos a resistência das
trabalhadoras domésticas. Seguremos em Marcha até que todas sejamos livres!
Se inscreva e acompanhe o canal do youtube da FENATRAD Nacional aqui.
[i]
No texto trabalhamos com a orientação da FENATRAD compreendendo como trabalhadoras domésticas como as pessoas, na maioria mulheres e negras que se
deslocam de suas casas para realizar trabalho remunerado em residências
particulares.
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