quinta-feira, 23 de julho de 2020

O dia 25 de julho é Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. por Cláudia Prates


Foi desde 1992, que mulheres negras de 32 países da América Latina e do Caribe se reuniram na República Dominicana para tornar visíveis as lutas e a resistência das mulheres afro latino americanas e definir estratégias para enfrentar o racismo na perspectiva feminista. Um dos resultados dessa reunião foi marcar esta data como um dia de luta, reflexão e resistência.

No governo da Presidenta Dilma, em 2 de junho de 2014, foi instituído por meio da Lei nº 12.987, o dia 25 de julho como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, numa forma de reconhecimento e resgate da memória desta importante liderança negra, símbolo da luta contra a escravização, que viveu no século 18 e que foi morta em uma emboscada.

Por mais de 500 anos sofremos com a escravidão, onde para as mulheres negras sempre teve um peso maior, mais cruel e mais letal. Mesmo sofrendo com a opressão histórica e o preconceito na pele, não iremos deixar que apaguem a nossa memória, tampouco apaguem da história do Brasil ser o último país do Ocidente a abolir a escravização.

 O mês de julho tem sido para as mulheres negras, indígenas e de comunidades tradicionais um espaço na agenda para organizarem atividades para contribuir com o fortalecimento desta luta. Para que cada vez mais jovens negras sintam orgulho de sua origem histórica, da cor da sua pele e do crespo dos seus cabelos.

Vivemos num país onde a população negra corresponde a 54% do total, segundo o IBGE. Na América Latina e no Caribe, 200 milhões de pessoas se identificam como afrodescendentes, de acordo com a Associação Mulheres Afro. Porém, tanto no Brasil quanto fora dele, essa parcela populacional também é a que mais sofre com a pobreza: três em cada quatro são pessoas negras, também segundo o IBGE.

 As mulheres negras estão em situação mais precária em comparação às mulheres brancas, seja em termos de acesso à educação, à universidade, emprego, salários e qualidade de vida.

Além destes campos, vimos a representatividade das mulheres negras ao longo da história completamente invisibilizada. Na representação política é ainda mais difícil encontrarmos mulheres negras nos parlamentos do Brasil. Isto é reflexo da realidade brasileira.  

Neste sentido que muitas vozes negras tem ecoado ao longo da história, resistido na luta, e mesmo sob a chibata, as balas do fuzil ou a botina no pescoço, insistem em seguir gritando. Para alcançar a visibilidade que queremos é fundamental o engajamento de todas e todos, independente da cor da pele.

" Numa sociedade racista, não basta não ser racista é preciso ser antirracista" Ângela Davis

Neste 25 de julho não estaremos nas ruas, não teremos marchas, mas estaremos nas redes sociais enegrecendo as telas, pois os nossos desafios são ainda maiores. Neste período de pandemia vimos as desigualdades agudizarem - as mulheres negras sofrem violência doméstica no confinamento com o opressor, também são mais exploradas no trabalho doméstico das casas que não lhes dá o direito de se cuidar e se isolar como seus colonizadores. São elas que estão adoecendo e morrendo, são elas que estão sem renda, são elas que sofrem suas dores sem que ninguém veja.

Apesar deste cenário, temos assistido cada vez mais mulheres conseguindo romper este apagamento e denunciando o extermínio da juventude negra e periférica. Mas precisamos ser ainda mais. Precisamos beber na fonte das mulheres que escrevem sobre o racismo estrutural e o machismo, que nos mostram que, para que a gente consiga pensar juntas sobre o nosso futuro precisamos reconhecer nossa história sem deixar que ninguém mais queira escrever ou falar por nós.


Resistimos para viver, marchamos para transformar!


*  Cláudia Prates é educadora popular, e militante feminista da MMM RS

Um comentário:

  1. Salve mulheres negras! Continuamos em marcha até que todas sejamos livres.

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