domingo, 26 de julho de 2020

A Juventude negra quer viver, por Estela Balardin*

Somos a maioria, estamos em diversos lugares do nosso país com algo em comum, a vulnerabilidade. Somos a maioria na ocupação de postos de trabalho precarizados e a minoria dentro das universidades. Somos a maioria no sistema carcerário e a minoria nos espaços de poder. Nossas vidas são descartáveis para um sistema que nos coloca a margem de uma sociedade que nos oprime, vulgarizam nossos corpos, criminalizam nossa cultura e tornam invisível a nossa história.
Já na infância o preconceito bate em nossas portas, não nos vemos nas marcas nem na televisão. Aprendemos a sentir vergonha do nosso cabelo, traços e cor de pele. Sabemos e sentimos na pele as dificuldades impostas pelo racismo, um racismo que tira nossas vidas e nossos sonhos. Entrar na universidade é um sonho inexistente para a maioria, pois a nós, cabe trabalhar para ajudar em casa. Os rostos virados, o semblante de medo quando andamos na rua, as drogas e a falta de acesso nos colocam em um papel de inferioridade, que muitas vezes nós mesmos acreditamos, e que nos impõe a não aceitação sobre nós mesmas e por não nos enxergamos, achamos que há lugares que não são para nós.
O racismo quando se junta com o machismo de nossa sociedade esmaga nossa dignidade. Nós jovens, mulheres e negras precisamos passar por um processo de aceitação e de conquista de uma liberdade individual que nunca tivemos, nesse processo a luta coletiva é fundamental, organização de mulheres e negras fortalece a luta e nos fortalece.   É na coletividade que podemos acreditar em nossa capacidade de ocupar espaços, de falar sem medo e de viver rumo a um futuro que nos pertence. Para vencermos o racismo que estrutura nossa sociedade precisamos que a branquitude reconheça seus privilégios e participe desse processo, precisamos de políticas públicas, de uma educação emancipadora, de visibilidade para nossa história, de conhecimento e conscientização.

*Estela Balardin, participa do Enegrecer, movimento estudantil e é minitante feminista da MMM Caxias do Sul RS

Um comentário:

  1. UHUUU Linda matéria, lindos artigos escritos pelas companheiras Marchantes, pelo referenciamento ao dia da Mulher Negra e no Brasil infelizmente as mídias "jornalões" mostram as mulheres e seus corpos como produtos de consumo tentando alienar as mulheres que ainda não despertaram para o rompimento da reprodução do machismo. Então não nos calarão! mesmo na pandemia vamos ocupar as redes e jornais ou rádios comunitárias cavar os espaços falando das pautas das nossas demandas, sem tomar o espaço também das nossas companheiras negras!

    ResponderExcluir