sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

CHAMADO A AÇÃO E APOIO A MARCHA MUNDIAL DAS MULHES EM WASHINGTON



Queridas companheiras e amigas da MMM,

No dia 21 de janeiro de 2017, estaremos todas mobilizadas em solidariedade a nossas companheiras dos Estados Unidos!
A Marcha Mundial das Mulheres dos Estados Unidos irá se manifestar contra a eleição de Donald Trump no dia 21 de janeiro de 2017. A ação será em Washington, onde chegarão pessoas de várias partes do país. Nós, mulheres irmãs de todo o mundo nos unimos em solidariedade e queremos fazer com que chegue uma forte mensagem à administração de Trump nos EUA, para dizer que seguiremos lutando contra todos os governos reacionários de direita no mundo todo.

Trump subiu ao poder insultando, demonizando e ameaçando muitas (os) de nós nos Estados Unidos. Entre seus objetivos, estavam mulheres, imigrantes de todos os lugares, pessoas que se identificam como LGBT, indígenas, negras e negros, pessoas com deficiência, pobres e sobreviventes de agressão sexual.
Seus defensores mais fervorosos incluem a supremacistas brancos, e Trump é uma ameaça para a sustentabilidade da vida humana em nosso planeta.

O ascenso de Trump à presidência também está no contexto do surgimento de governos direitistas e reacionários em todo o mundo. Temos visto como os movimentos sociais e os direitos democráticos têm sido atacados com o surgimento desses governos e somos solidárias  com nossas irmãs do mundo todo que tem estado à frente dessas lutas.
Juntas, devemos construir uma resistência ampla e vibrante contra as políticas de ódio e divisão que definem este novo presidente dos Estados Unidos e todos os governos conservadores.

A proposta é que todas as Coordenações Nacionais da Marcha Mundial das Mulheres apoiem este chamado global para que todas e todos as/os defensores dos direitos humanos, a dignidade e a justiça se unam a nossas irmãs estadunidenses. Façamos ações junto com elas no dia 21 de janeiro.
Estaremos unidas pelo amor e o desafio para seguir avançando rumo à democracia, à justiça social e econômica e à vida que merecemos viver.
Mais informações e contato com helena@ggjalliance.org ou via skype: helenaswong.

Seguem algumas sugestões:

1) Organize uma marcha/demonstração em seu próprio país com outras mulheres. Você pode registrar seu evento aqui: https://www.womensmarch.com/sisters
Por favor,  avise se planejam  fazer isso para que possamos segui-las.

2) Se não puder organizar uma marcha, pode tirar uma foto com um cartaz com as seguintes #hashtags:  #womensmarch #globalwomen4justice
Depois de tirar a foto envie para, helena@ggjalliance.org e  info@marchemondiale.org ou através do skype: helenaswong

3) Escreva uma declaração de solidariedade de seu país e faremos uma declaração como MMM internacional. A proposta é que nas declarações e posicionamentos se façam conexões entre os governos de direita e a política reacionária em seu próprio país, e também qual foi o impacto do militarismo estadunidense e o imperialismo em seu país. Difunda a ação do dia 21 de janeiro em sites da internet dos  movimentos aliados, blogs e páginas de Facebook e nos meios de comunicação alternativos e redes sociais.


Seguiremos em Marcha até que estejamos livres!!!!

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Misoginia: uma psicopatia estruturante da sociedade Patriarcal

*Por Bruna Rocha e Maria do Carmo Bitencourt

Ação da MMM Campinas
Mulheres reunidas em Campinas-SP em repúdio à chacina feminicida ocorrida na cidade
É duro perceber que somente nos casos mais brutais de ódio, a luta das mulheres contra a violência cotidiana do Patriarcado tem ressonância na sociedade. Ainda assim, há uma disputa intensa de narrativa sobre qual razão, motivo ou circunstância especial leva um homem a matar a mãe de seu filho, seu filho e toda a família dela e se suicidar em seguida. Os jornais da grande mídia insistem em generalizar o crime como um ato de psicopatia, já que uma chacina não poderia ser classificada, explicada pelo argumento já cĺássico da passionalidade, perda momentânea da consciência ou perda da sanidade por excesso de “amor”. Teses defendidas e bem elaboradas nos blogs, colunas e mídia em geral, dominada pelos homens intelectualizados, ainda que a carta que o exterminador de Campinas deixasse nítido suas motivações misóginas e fascistas.
Na Bahia, três dias depois da chacina em Campinas, um homem incendiou sua própria família dentro de casa em Feira de Santana. O crime, relatado pela sua esposa, que sobreviveu com muitos ferimentos à tentativa de feminicídio, teve um nítido caráter de crueldade e misoginia. O assassino ateou gasolina no corpo da mulher e de todas as pessoas que estavam na casa (uma mulher grávida e o restante, crianças, algumas delas seus próprios filhos), trancou-as e tocou fogo, mesmo diante do pedido desesperado da mulher para que não fizesse aquilo.
Pois bem, se a sociedade insiste em tipificar os feminicidas como doentes mentais que sofrem de transtornos psicológicos e sociológicos, tratemos aqui do machismo como uma doença sim, uma psicopatia social que atinge homens e mulheres, pois desumaniza aqueles e submete estas, podendo muitas vezes nos levar à morte. (Dados do Mapa da Violência de 2015 mostram 13 feminicídios diários).
Pensar nesta doença social não nos remete apenas às características dos indivíduos, às subjetividades das pessoas, aos comportamentos humanos e práticas culturais dos homens, sobretudo, à um Estado de Violências profundamente institucionalizado. Falar da Chacina Feminicida de Campinas e em Feira de Santana (nome correto) é falar da negligência do Estado perante à violência permanente à qual nós, mulheres, estamos expostas. A saga de perseguição e cerceamento da liberdade da vítima de Campinas não começou na noite do dia 31 de dezembro de 2016, mas já vinha desde a sua opção em se separar de seu algoz, em 2012. De lá para cá, foram cinco boletins de ocorrência, uma verdadeira travessia no sistema de Justiça por proteção para si e para seu filho, que esta mulher enfrentou até o dia de sua morte trágica. Com certeza, era semelhante a situação da família na Bahia.
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Foto: Jornalistas Livres/Reprodução do Facebook
Notícias na internet e nos grandes jornais de televisão insistem em ratificar que a vítima de Campinas negou ser beneficiária das medidas protetivas que a Lei Maria da Penha poderia lhe assegurar, mas nenhum destes veículos aprofundou a investigação sobre a incongruência de uma mulher que teve a coragem de se separar de um agressor ameaçador, que teve coragem de denunciá-lo à Polícia e à Justiça, ter recuado diante da medida protetiva. Quantas ameaças ela não deve ter sofrido para tomar essa dura decisão. E se ela tivesse aceito, estivesse sobre proteção do Estado, será que estaria viva hoje? Afinal na maioria das vezes o papel que o judiciário emite garante o que mesmo na prática? Garante nenhuma proteção policial mais rápida ou atendimento especializado nos raros Centros de Referência em Atendimento às Mulheres em Situação de Violência no país. Garante abrigagem em casa protegida só quando já somos sobreviventes de atentados à vida ou ameaças graves, isso se houver Casa Abrigo, se houver vaga e se a mulher em meio ao desespero e caos solicitar, convencendo as autoridades de sua situação de extremo risco. Neste momento quem tem uma familia protetiva e acolhedora escolhe ficar neste lugar, pois mesmo sabendo das intenções violentas deste homem, todas só queremos acabar com este sofrimento e seguir em frente, desejo de liberdade e autonomia negado às mulheres pela sociedade e o Estado que necessita das mulheres submissas em casa, no trabalho reprodutivo e de cuidados.
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Jornalistas Livres/Reprodução do Facebook
Acreditamos que as políticas conquistadas a partir do tensionamento promovido pelas lutas das mulheres contra o Estado Patriarcal, a exemplo da Lei Maria da Penha e da Lei do Feminicídio, foram e são fundamentais para o acúmulo histórico do feminismo na construção de uma sociedade livre da violência misógina. Por outro lado, sabemos que as tensões existem nas duas vias, e há muita resistência do Estado em assimilar estas leis afirmativas e igualitárias em suas estruturas retrógradas e conservadoras. Sabemos que ainda não existem o mínimo de equipamentos necessários, suficientemente qualificados para lidar com as violências estruturantes da sociedade patriarcal e a reinserção social das mulheres que, geralmente, são praticamente encarceradas, distanciadas de suas famílias e ciclos sociais, para que possam se proteger do agressor
É fundamental fazermos um debate sistêmico sobre a Chacina Feminicida de Campinas e Feira de Santana. O Patriarcado está em todas as atitudes do atirador misógino: na violência com que tratava sua mulher, na sua concepção racista e fascista de Estado explícita em suas opiniões sobre o sistema carcerário do Brasil, o qual chamava de “paizeco” em sua carta, na violência sexual que praticou contra seu próprio filho, na forma como se referia às mulheres e ao feminismo, à legislação que deve nos proteger, apelidando-a macabramente de “Lei Vadia da Penha”. O mais interessante e importante para pensarmos o quanto este tipo de feminicida é comum e camuflado em nossa sociedade patriarcal é a entrevista do vizinho do assassino, o qual discorre sobre uma conduta “tranquila”, “normal” e “alegre” que o homem tinha em seu dia a dia. Psicanalistas talvez dirão que estes são sintomas de uma ou outra doença neuropsicológica. Nós, mulheres alvos da violência cotidiana, afirmamos com certeza: esta doença é social, é racional e atende à um projeto de poder. Essa doença se chama machismo e sim, ela também mata homens, mas é feita para matar mulheres. Continuaremos em marcha, resistindo e gritando nas ruas e nas redes: A violência contra a mulher não é o mundo que a gente quer!
*Bruna Rocha e Maria do Carmo Bitencourt são militantes da Marcha Mundial das Mulheres

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Chacina em Campinas foi provocada pela misoginia



Na madrugada da virada do ano de 2017, Sidnei Araújo invadiu uma casa no interior de Campinas onde acontecia uma festa de réveillon. Matou a ex-esposa, o filho e mais dez pessoas, entre membros da família, amigas e amigos. O assassino se matou e deixou uma carta amplamente divulgada pela grande imprensa. No documento ele atribuía à ex-esposa, Isamara Fillier, a culpa da violência brutal que cometeu.

As mulheres de todo o mundo ecoam suas vozes dizendo “Nem uma a menos, vivas nos queremos” porque queremos erradicar o machismo, a misoginia e queremos viver livres de violência. Conhecemos a violência patriarcal porque vivemos cotidianamente suas manifestações. Nossas lutas contra tal violência nos mostram que ela está entranhada nas práticas sociais, nas instituições, nas mentes. Convivemos permanentemente com a negligência das instituições e das pessoas em geral porque naturalizam a violência, porque as mulheres estão sempre sob desconfiança. Até mesmo em casos hediondos, como na chacina de Campinas, a primeira tendência é buscar os supostos erros das mulheres. Estamos sempre em vias de sermos acusadas ou transformadas de vítimas em culpadas.

É com essa compreensão que nós da Marcha Mundial das Mulheres manifestamos nossa indignação em relação a chacina cometida em Campinas. Foi um crime premeditado, planejado, que utilizou de vários artefatos. Portanto, um criminoso que anunciou a uma ou mais pessoas que cometeria o crime, sem nenhum impedimento ou constrangimento para dar seguimento a seu plano. O assassino expressou na carta seu ódio às mulheres, ao feminismo e às leis que o impediam de subjugar sua ex-esposa.

O fato de que ela teve que recorrer a todos os mecanismos legais contra ele, denunciando abuso sexual do filho, pedindo e conseguindo medidas judiciais de proteção em relação aos dois é uma demonstração inquestionável da violência e de que a reação brutal dele se deu em função de não ter a posse dela e do filho.

Nesse momento em que expressamos nossa solidariedade aos familiares, amigas e amigos das vítimas, queremos também declarar nosso repúdio à banalização da violência contra a mulher. Reiteramos que essa escalada conservadora, que se expressa no aumento da violência em geral, e em particular no feminicídio, está diretamente ligada aos enfrentamentos que travamos ao patriarcado. Por isso reafirmamos nossa luta para que os governos avancem em políticas de combate à violência machista, da implantação de um projeto de educação não sexista, impedindo que continue o desmonte em curso de várias políticas.

É fundamental a apuração total desse crime e que o conjunto da sociedade, dos governos, dos meios de comunicação, dos movimentos sociais se comprometam com erradicação da violência. Nós mulheres seguiremos em marcha contra todas as formas de opressão e violência. A reação patriarcal não nos deterá e só fará que juntemos mais força e mais mulheres nessa marcha.

Basta de cumplicidade, basta de omissão!!! Não há desculpas que justifiquem a violência.

Marcha Mundial das Mulheres
03 de janeiro de 2017