quarta-feira, 22 de maio de 2019

Saneamento básico e a vida das mulheres: porque dizemos não a MP 868/2018

Por Gabriela Oliveira da Cunha – militante da Marcha Mundial das Mulheres RS e acadêmica de Engenharia Ambiental e Sanitária

Os ataques aos diretos básicos e duramente conquistados da classe trabalhadora do Brasil por uma “onda” política reacionária e conservadora, que ascendeu através do golpe de estado em 2016, já estão sendo sentidos no cotidiano da esmagadora maioria dos e das brasileiras, e deve vir mais por aí. Esta “onda” é essencialmente machista e alicerçada na ordem patriarcal, pois é promovida por homens brancos e serão as mulheres as mais atingidas e prejudicadas. Neste texto apresentarei o porquê disto aprofundando o pensamento sobre um dos setores da nossa sociedade no qual é direito fundamental e uma atividade essencial à produção da vida digna e saudável: o saneamento básico. 

O saneamento básico é um conjunto de atividades, infraestrutura e serviços que cuidam do abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, gestão de resíduos (lixo), limpeza urbana e gestão das águas pluviais (chuva). É reconhecido e estabelecido como um direito básico e fundamental para todas pessoas, pois ninguém cresce e se desenvolve com saúde e felicidade sem água potável, em um meio insalubre, sujo, fedorento e com alto potencial de transmitir diversas doenças. O saneamento básico é o cuidado com os meios em que vivemos e com a natureza, e está profundamente ligado com a qualidade das águas do planeta.

No final do ano de 2018, a MP 868 foi aprovada sem nenhum diálogo com o setor do saneamento e da saúde pública, pelo ilegítimo presidente Temer que assumiu de maneira antidemocrática e perversa. Esta medida provisória altera a legislação do setor, modificando nossa Política Nacional de Saneamento Básico de 2007 que foi criada e aprovada como um compromisso com a sociedade brasileira em valorizar o bem-estar e a saúde a partir do desenvolvimento do saneamento básico. Esta medida abre espaço para o setor privado, no momento que alterou o artigo que diz que os municípios e as empresas estaduais públicas de saneamento podem fechar contrato sem precisar passar por todo um processo burocrático e competitivo licitatório. Agora, com esta alteração, as empresas públicas devem entrar em um processo de competitividade junto a empresas privadas, perdendo nossa garantia de prestação de serviço por entidade pública que visa a universalidade e não o lucro individual de seus proprietários. Outro impacto significativo será a perda do subsídio cruzado, uma maneira que as empresas públicas encontravam para subsidiar os investimentos nas pequenas cidades e regiões mais periféricas usando dos rendimentos das grandes cidades e regiões mais ricas. Com a mudança, as empresas privadas vão disputar pelo o atendimento destas áreas mais lucrativas e não vão subsidiar as menores e mais pobres. Hoje, a MP encontra-se em discussão no congresso pois estamos em luta contra a implementação do texto atual. Queremos que as mudanças e reformas sejam feitas de maneira democrática, com diálogo com a população e principalmente com os mais atingidos como, por exemplo, as mulheres.

As mulheres são as mais atingidas e prejudicadas quando não acessam o saneamento básico, uma vez que, desde que nascem, são ensinadas a dar conta de toda a responsabilidade dos cuidados da família. Historicamente as mulheres se veem sobrecarregadas de trabalhos domésticos no qual não é reconhecido e remunerado, além de muitas vezes também estarem ocupando cargos de trabalhos ditos formais, tendo jornadas triplas de trabalho. Onde não há saneamento básico, há doenças, e são as mulheres as responsáveis por cuidar dos doentes. Também, são as mulheres responsáveis pela seguridade da alimentação e, caso não haja água de qualidade, isto torna-se uma tarefa arduamente difícil. Quando as comunidades e famílias estão doentes, significa que mulheres estão doentes, porém mais sobrecarregadas que os restantes de trabalho, preocupação e carentes de cuidados de si mesmas.      

Este é apenas um setor, dos muitos, que estão sendo pauta de discussão no congresso nacional que ferem nossos direitos. A MP 868/2018 vem disfarçada de “medida necessária para conquistar o acesso universal do saneamento básico já que o setor público não tem recursos”. Há um grande lobby acontecendo, e não é de hoje, com o objetivo de enfraquecer o setor público que fornece esses serviços, construindo uma imagem de insuficiência e incapacidade perante a sociedade. Afinal, na lógica do lucro, grande ideia mercantilizar este setor, não é mesmo? Pois, sendo a água o bem mais essencial para se viver, absolutamente todas as pessoas necessitam dela. Assim, dominam e decidem, mercantilizando o setor. Consequentemente decidem por nós, pelo bom desenvolvimento da nossa vida ou não, decidem as áreas prioritárias para avançar os serviços, decidem quem merece ou não merece acessá-lo. E, por óbvio, as áreas escolhidas são as quais podem gerar mais lucros e manter os privilégios aos privilegiados. É por isso que este serviço deve ser público, no qual a prioridade seja a universalidade e que os rendimentos sejam investidos em mais expansão de qualidade de vida há quem ainda não têm. 

Por isso resistimos para viver e marchamos para transformar esta realidade. Estamos juntas aos movimentos sociais que lutam pela defesa do meio ambiente saudável e dos bens comuns, e somos contra a mercantilização da água assim como o patriarcado faz com os nossos corpos. Lutamos pelo acesso ao saneamento básico àqueles territórios que atualmente são precarizados, pois só assim é possível transcender a situação de pobreza, doença e violência. Transformar esta realidade é transformar a vida das mulheres.



quarta-feira, 15 de maio de 2019

MULHERES CONTRA OS CORTES DE VERBA NA EDUCAÇÃO!

Hoje, dia 15 de maio, milhares de brasileiras e brasileiros vão as ruas defender a educação livre, pública e de qualidade! O corte de verbas para educação do governo Bolsonaro, que pode levar instituições a falência, mostra o quanto desprezam o desenvolvimento da educação pública e de qualidade. As universidades já vem sentindo os cortes desde a aprovação da EC 95 lá no governo Temer, pós golpe de 2016, e mais cortes irá impossibilitar a continuidade destas instituições.

Defendemos a educação pública e de qualidade pois defendemos a autonomia das pessoas, que se desenvolve com conhecimento e troca de saberes. O acesso a educação universal, e o livre pensamento dentro destes espaços, é fundamental para o desenvolvimento da ciência e da tecnologia brasileira para nossa soberania.

É por isso que as mulheres são contra o projeto Escola Sem Partido, que fere o livre pensar, que se diz imparcial e não ideológico, quando na verdade aprofunda a realidade que é desigual, aprofunda a pobreza e a violência que milhares de mulheres que sofrem todos os dias. Pois, sendo a educação socialmente referenciada, esta acaba sendo referenciada na sociedade racista e machista como é. Não permitir o pensamento crítico e diverso, é impossibilitar a construção de uma outra sociedade coletiva que transcenda esta realidade tão cruel.

Defender a educação pública é defender o direito de todas e todos a ter acesso a escolas e universidades, sem seletividade baseada em renda, cor e privilégios.

Hoje vamos as ruas fazer balbúrdia contra todos os retrocessos e retiradas de direitos que este governo promove. 

Vamos marchar!

Em Porto Alegre as atividades começam desde cedo nas ruas. A partir das 14h concentração no Instituto de Educação General Flores da Cunha (Avenida Osvaldo Aranha). Depois, abraço ao Instituto e a Faced - Faculdade de Educação da UFRGS. Após, caminhada passando pela UFSCPA, IFRS e INSS.

Às 18h, concentração na esquina democrática!

Acompanhe as atividades de Porto Alegre pelas redes: 

Acompanhe as atividades de outras cidades do RS:
https://www.facebook.com/events/435119220579263/ - Ato em Defesa da Educação - Caxias do Sul
https://www.facebook.com/events/417283392162708/ - ATO - Tira A Mão Do Nosso IF! Campus Sapucaia Em Luta!
https://www.facebook.com/events/457689675002748/ - Dia de mobilização em defesa da educação em Canoas


segunda-feira, 13 de maio de 2019

Negação da Violência Obstétrica: mais uma medida machista do Governo Bolsonaro

Violência obstétrica é a recusa de atendimento, intervenções e procedimentos médicos não necessários, além de agressões verbais e ameaças, muitas vezes veladas. Pode ocorrer no pré-natal, no parto ou pós-parto e no atendimento em casos de abortamento. A maioria das mulheres sequer percebe que sofreu a violência, uma vez que são muito comuns os maus-tratos durante o ciclo da gravidez, parto e puerpério.
A prática da violência obstétrica revela a naturalização e obrigação da maternidade, reduzindo a mulher a um útero, a um processo reprodutivo do qual tem de se recuperar facilmente e sem queixas, reproduzindo a “máxima” de que as mulheres são mais tolerantes à dor.
Segundo estudo realizado em 2010 pela Fundação Perseu Abramo em parceria com o Sesc, uma em cada quatro mulheres é vítima de violência obstétrica no Brasil. As mulheres negras são as mais afetadas pois predomina a ideia de que são fortes e dão conta de aguentar tudo. 
Negando uma realidade presente na vida da mulher brasileira, uma nova orientação do Ministério da Saúde recomenda que seja evitado e, na medida do possível, abolido o termo” violência obstétrica”. O documento emitido pela pasta (e assinado por uma mulher: Mônica Almeida Neri ) afirma que a definição tem um viés ideológico socialista e que o termo se refere ao uso intencional da força e, portanto, não é aplicável a todos os incidentes que ocorrem durante a gestação, parto ou pós-parto.
Mais uma vez, o Governo Bolsonaro dá um passo atrás no avanço de políticas de saúde e de direito das mulheres, reforçando um atendimento desumanizado em um dos momentos mais difíceis na vida de uma mulher.
A própria Organização Mundial de Saúde reconhece a existência dessas agressões e define o termo violência obstétrica como “uso intencional de força física ou poder, em ameaça ou na prática, contra si próprio, outra pessoa ou contra um grupo ou comunidade que resulte ou possa resultar em sofrimento, morte, dano psicológico, desenvolvimento prejudicado ou privação.

TIPOS DE VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA
Violência por Negligência
Esse tipo de violência impõe à gestante uma peregrinação por atendimento durante o pré-natal e por leito na hora do parto, dificultando o acesso da gestante aos serviços de Saúde. Também diz respeito à privação do direito da mulher em ter um acompanhante, o que é protegido por lei desde 2005.

Violência Física
A violência física é uma das mais comuns na hora do parto, marcada pela prática de intervenções desnecessárias e violentas, tais como lavagem intestinal, posição de parto não escolhida pela mulher, não oferecimento de alívio para dor, uso de fórceps, ruptura artificial da bolsa, pressão sobre a barriga, ponto do marido (para deixar a vagina mais apertada), além da imposição da cesariana, ainda que sem indicação clínica. O Brasil, segundo a Organização Mundial de Saúde, é o segundo país com maior percentual de partos realizados por cesárea.

Violência Verbal
É corriqueiro que as mulheres, durante a gestação e no momento do parto, sofram com agressões verbais por meio de comentários constrangedores, ofensivos e humilhantes, inferiorizando as mulheres por sua raça, idade, orientação sexual ou número de filhos. É comum que no momento do parto as mulheres sejam pressionadas a fazer força porque senão, matarão seu próprio filho. As gestantes também costumam ouvir que “na hora de fazer tava bom, não gritou de dor”.

Violência Psicológica
A violência psicológica é marcada por toda ação que causa na mulher sentimento de inferioridade, vulnerabilidade, abandono, instabilidade emocional e insegurança.

Violência Obstétrica em caso de abortamento
Em casos de abortamento é muito comum que as mulheres sejam humilhadas com a negação ou demora no atendimento, acusação sobre a causa do aborto, procedimentos invasivos, culpabilização e denúncia criminal. A mulher é condenada de antemão por não ter levado a gestação adiante influenciando uma depressão pós-parto e um processo vexaminoso durante o atendimento.
A violência obstétrica pode ser cometida por médico obstetra, por enfermeiras, anestesistas e toda equipe de saúde, inclusive os atendentes do hospital.
Enfrentamento ao Governo Bolsonaro
Nós, da Marcha Mundial das Mulheres, continuaremos denunciando toda a forma de violência contra a vida, o corpo e os direitos das mulheres. Denunciaremos e enfrentaremos esse governo reacionário, machista, misógino todos os dias!
Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!