segunda-feira, 18 de abril de 2011

Jornada de formação feminista da Marcha Mundial das Mulheres encerrou neste domingo (17).


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Contando com a participação de lideranças feministas de várias partes do RS, a Marcha Mundial das Mulheres encerrou neste domingo , 17, a Jornada de Formação Feminista que abordou os temas da Plataforma de Ação para os próximos 5 anos (2010-2015).

No dia 15 de abril, durante o Seminário Estadual sobre o Mundo do Trabalho - uma crítica a sociedade de mercado, foram abordados temas como autonomia econômica e a divisão sexual do trabalho, as desigualdades salariais entre mulheres e homens e as experiências profissionais das mulheres.

A pesquisadora da FEE, Irene Galease, apresentou uma análise da publicação Mulher e Trabalho, que traz dados sobre a situação da mulher da RMPA.

Ao final do Seminário Renata Moreno (a Tica) fez o lançamento do caderno “Cuidado, Trabalho e Autonomia das Mulheres: Um retrato da realidade das mulheres no mercado de trabalho no Brasil e no mundo”, organizado por Nalu Faria e Renata Moreno, uma das painelistas do Seminário, da Sempreviva Organização Feminista (SOF). Ainda no dia 15 foi exibido o documentário Mulheres Invisíveis da SOF.

No dia 16 de abril (sábado), no Parque de Exposições de Esteio foi realizada a Formação para Formadoras, com a participação de 36 lideranças feministas de várias partes do estado. Nesta formação as mulheres puderam aprofundar os temas da Plataforma Feminista da Ação da Marcha Mundial das Mulheres. Depois de um dia intenso de estudos, foi formado o grupo de formadoras, que deverão reproduzir a formação em outros municípios. As formadoras são: todas da executiva (Raquel, Carina(Nex), Cintia, Claudia, Estela e Janaina) e também VaNessa, Valda, Cristina, Ana Paula, Mariane, Camila, Natalia, Cristiane, Cheron, Alexandra e Débora.

A Plenária Estadual da MMM, realizada no dia 17 de abril, encerra a Jornada de Formação Feminista com a indicação da nova executiva para os próximos 12 meses, que agora conta também com a participação da Janaína, do núcleo de Esteio. Na Plenária foi afirmado o carater e os princípios da MMM RS onde não abrimos mão da nossa pauta e tampouco recuaremos nos nossos temas. As militantes devem realizar reunião nos núcleos a partir da plenária para também fazer uma avaliação e planejamento para os próximos meses.

A executiva da MMM RS

quarta-feira, 6 de abril de 2011

E você? O que é que você tem a ver com isso?...

por Naiara Malavolta*

Adrieli Camacho de Almeida, tinha 16 anos. “A flor da idade”, onde todos os sentimentos surgem como tsunami's, varrendo tudo!



Estava apaixonada – vivia um grande amor? - mas descobriu cedo que
nesta sociedade absurda, sustentada por uma moral hipócrita, algumas
coisas são puníveis com a morte.






A família de quem estava do outro lado deste romance adolescente não
concordava com ele: mudou-se de município para impedir que o casal se
encontra-se, ameaçou Adrieli de morte, mas ela não ligou: estava
apaixonada e tinha apenas 16 anos!

No dia 13 de março de 2011 Adrieli (que tinha apenas 16 anos!) desapareceu.
O corpo só foi encontrado nesta terça-feira, dia 05 de abril de 2011,
em uma propriedade vizinha à do fazendeiro, que é pai do amor de
Adrieli (que foi assassinada e tinha apenas 16 anos!)
O Irmão do amor de Adrieli (uma menina assassinada aos 16 anos, porque
estava apaixonada!), uma criança de 13 anos de idade (ele tem apenas
13 anos de idade!) confessou o crime.
O menino disse que o irmão, um adolescente de 16 anos (um assassino,
incitado pelo pai, que também tinha apenas 16 anos!), matou Adrieli a
facadas e que os dois esconderam o corpo.
Dizem que o crime chocou a cidade de Goiânia.
A menina Adrieli (que tinha apenas 16 anos, estava amando e foi
assassinada pela família de seu amor) cometeu um crime punível com a
morte: ela amava uma outra menina (que também tem apenas 16 anos! E
que convive hoje com a realidade crua de que seus irmãos, de 13 e de
16 anos, com a orientação (e participação?) de seu pai, assassinaram e
esconderam o corpo de sua amada, Adrieli, que tinha apenas 16 anos!).
Me pergunto qual foi a influência que estes assassinos tiveram de
declarações do tipo feitas pelo Dep. Jair Bolsonaro (PP-RJ) sobre o
comportamento que os pais devem ter ao descobrirem filhos (e filhas)
homossexuais – declarações repetidas perto do dia em que o corpo de
Adrieli foi encontrado, o que deve ter causado um certo alívio ao pai
assassino.
Me pergunto quais foram as punições impostas à namorada de Adrieli,
filha e irmã dos assassinos, e se ela conseguirá suportar a pena que
está vivendo desde o dia de ontem até o final de sua vida?
Me pergunto até quando a gente vai ficar lendo matérias como estas,
sem tempo, disposição ou coragem para partir para a ação concreta de
transformar esta realidade absurda, não amanhã, mas hoje?
Quantas Adrielis serão necessárias para que a luta LGBT não seja
apenas da população LGBT?
Não são mais “01 assassinato de homossexuais a cada 03 dias no Brasil”!
Agora são quase 01 assassinato POR DIA (0,70) em todo o Brasil!
Em Goiânia, cidade que sepultará Adrieli, foram 12 no ano de 2010, mas
se fosse apenas Adrieli seria menos sério? Seria menos importante?
Seria menos comovente?
A família do amor de Adrieli “lavou a honra da família” sem questionar
o que isso causaria a menina que a amava, porque o importante aqui não
é a “preservação da família” como apregoam aos gritos os Bolsonaros da
vida. A questão aqui é dizer com quem, quando e como podemos nos
relacionar, preservando a instituição da hipocrisia que move a
sociedade moderna.
Eu não suporto mais conviver com mulheres violadas, mortas, espancadas!
Eu não suporto mais os Skin Heads de Porto Alegre!
Eu não suporto mais os espancamentos a homossexuais da Avenida Paulista!
Eu não suporto mais os estupros corretivos da áfrica (e apologia a
eles nas comunidades da internet)!
Eu não suporto mais o relato de amigas que são expulsas de seus
prédios, que são perseguidas no trabalho, que são assedias para
fecharem bares na República!
Eu sou lésbica e não suporto mais! E você? Você suporta? O que é que
mesmo você tem a ver com isso?

Ana Naiara Malavolta*
Articuladora Estadual da Liga Brasileira de Lésbicas

Quando o preconceito está implícito e fica explícito


Reportagem especial de Zero Hora desta segunda-feira - ilustrada com 06 fotos, das quais 03 eram de beijos homossexuais - explicita mais do que o preconceito, mas a falta de visão social de vários problemas.
A primeira surpresa vem com a manchete: "vandalismo, drogas e sexo a céu aberto" ilustrada com 03 casais homossexuais se beijando, de forma absolutamente "normal", em três diferentes situações.
Minha primeira surpresa foi perceber que nunca tinha visto tantos beijos gays numa mesma reportagem de ZH, infelizmente, com conotação tão pejorativa e distorcida. Espero que, daqui para adiante, tais demonstrações de afeto e carinho entre pessoas do mesmo sexo deixem de ser tabu para este veículo e seus afiliados (e amadrinhados) país afora.
A segunda surpresa, ao ler a reportagem buscando os fatos, foi me deparar com tanta falta de sensibilidade com relação a um problema que há anos se arrasta na cidade de Porto Alegre: a falta de alternativas para adolescentes e jovens com relação a atividades culturais e mesmo com relação a pontos de encontro na capital.
Em mais de um trecho da "reportagem" - se é que se pode chamar de
reportagem uma matéria que aborda apenas um lado do problema - pude
perceber a preocupação com os comerciantes da região "invadida" pelos
jovens, e com a descrição de que um referido supermercado (o mesmo que
vende bebidas alcóolicas a baixos preços a garotada) é obrigado a
fechar seus banheiros. Me pergunto quantas vezes os jovens que compram
garrafas de cachaça (também visível em uma das fotos) foi obrigado a
apresentar carteira de identidade para comprovar que era maior na hora
da compra da bebida no caixa do supermercado?
O problema na região da cidade baixa não é frequência de lésbicas e
gays, como sugere a malfadada matéria, mas a presença de um conjunto
de jovens de todas as orientações sexuais que, sem alternativas na
cidade, vítima da falta de políticas públicas para esta população, com
completo acesso a álcool e drogas as mais variadas, encontra, nos
arredores do parque que frequenta de dia, a continuidade da
socialização peculiar de sua faixa etária durante o final da tarde e a
noite.
Tivéssemos na cidade - como já tivemos em outros tempos - shows
públicos, mostras de teatro, cinema a baixos preços, praças seguras e
iluminadas e esta garotada teria um destino diferente.
Ao invés de ficarmos preocupados com o lucros de domingo de alguns
comerciantes rançosos, que evitam em seus espaços a circulação de
gente que não lhes pareça como uma imagem de espelho, preocupemo-nos
com a segurança e o desenvolvimento (afetivo, cultural, social) desta
garotada que grita que não será como aqueles que lhes torcem o nariz.
Espero que o mesmo espaço reservado às fotos de gays e lésbicas em
situação tão negativa (não pelos beijos, é claro, mas pela insinuação
grotesca do texto) seja dada a esta população nos momentos em que
reivindicamos o fim da homofobia, a aprovação da PLC122/06, o
casamento gay, a adoção por casais do mesmo sexo. Espero ver este
jornal contribuir para a imagem positiva de nossa população e para a
conquista de direitos e oportunidades, ao invés de fomentar o ódio
anti-gay, anti-lésbica, anti-travesti que se subentende de reportagens
como esta.
Aos responsáveis pela matéria (jornalistas?
gustavo.azevedo@..., marcelo.gonzatto@...),
sugiro a dignidade de entrevistar a população que ali foi retratada,
procurando as suas razões para os excessos que foram apontados. Tenho
certeza que poderão perceber que esses meninos e meninas são mais
vítimas sociais do que vândalos incontroláveis que perturbam a ordem
de nosso "Porto tão Alegre dos Casais". Assim, quem, sabe, consigam
contribuir para que este porto seja para todos os casais, para todas
as idades, para todas as pessoas e não apenas para aqueles que mantém
comércio ou que detém o poder da imprensa.
Cobre-se do poder pública uma ação educativa na região, políticas
definidas para jovens e adolescentes, oportunidades de trabalho e
renda, combate ao tráfico de entorpecentes e à venda de bebidas para
menores de idade e coloque-se na cadeia aqueles que se aproveitam e
lucram com isso. E, por favor, parem de apontar o amor entre pessoas
do mesmo sexo como a causa do problema. Não somos marginais - ainda
que muitos queiram nos manter à margem - e não permitiremos que nos
tratem como se fôssemos!

Ana Naiara Malavolta
Articuladora Estadual daLiga Brasileira de Lésbicas