segunda-feira, 30 de março de 2020

Os Muros nos Cercam… Mas Eles Cairão!

O texto abaixo integra a campanha #MundoSinMuros que foi publicado em inglês no dia 9 de novembro de 2019 no marco dos 30 anos da queda do muro de Berlim. O objetivo da Campanha contra o Muro do Apartheid está alinhado com o desejo palestino de libertação. É um movimento de base que une a luta dos comitês populares nas aldeias, campos de refugiados e cidades que lutam contra o Muro, construindo alianças na sociedade civil palestina e nos movimentos globais de justiça social. Hoje, dia 30 de março, publicamos o texto em português para somar ao chamado da 5ª Ação Feminista da Marcha Mundial de Mulheres para a Ação das mulheres pela autodeterminação dos povos no Dia da Terra Palestina. Estamos juntas com as companheiras da marcha na resistência ao capitalismo patriarcal e racista que impõe fronteiras e muros e seguiremos em marcha contra os ataques do capital até que todos os povos sejam livres!
Na linha do horizonte, há um muro. Está longe, distante da maioria de nós. Mal o enxergamos, porque acreditamos não fazer parte de nossa realidade. Mas isso é mera ilusão: todo muro nos diz respeito, nos pertence. Então, é importante que apertemos nossos olhos e vejamos melhor. O que é, afinal, aquele paredão maciço no fim da paisagem? De longe, até lembra uma floresta, mas não é nada mais que uma plantação que não deveria estar ali. Com sua voracidade, acabam com o solo, com a água, com a vida no campo. Convertem ricos campos nativos em desertos inóspitos, em que nada cresce, a não ser o lucro de alguns poucos. Tornam reféns as comunidades que lá habitam, que ficam dependentes de uma única fonte para saciar seu desejo de uma vida melhor, encarando a truculência dos bancos ou das balas de jagunços quando rejeitam esse projeto. Muitos não resistem ao ver esse muro se levantar sobre suas terras e partem – do campo para a cidade, onde novos muros os bloqueiam. Podemos vê-los nas monoculturas de eucalipto para a indústria da celulose, nos extensos cinturões agrícolas, em que a soja, a cana-de-açúcar e o milho degradam nossas diversas paisagens, e na queima do Cerrado e da Floresta Amazônica para criação de gado bovino, dizimando ecossistemas inteiros, juntamente às comunidades indígenas e quilombolas que lá habitam. Um muro de morte se ergue no horizonte e nós precisamos derrubá-lo.

No final da rua, há um muro. Embora esteja logo ali, mal o notamos. Naturalizamos os longos e altos muros das cidades. Erguidos pela especulação imobiliária, pelas grandes empresas, pelo Estado, recortam a cidade e restringem o acesso e o movimento. Já envolvem até mesmo nossos parques e nossos rios. Negam a cidade a quem não pode pagar por ela, a quem não quer lucrar com ela. A quem deseja apenas existir e desfrutar de um convívio cidadão com seus vizinhos, seus conterrâneos, seus amigos e colegas. Isolam populações e criam ambientes artificiais de prosperidade e miséria que não se comunicam, não se enxergam e não se ouvem, mas se reforçam. Tomam os centros, deixam nossas cidades inseguras, feias e impessoais. Podemos vê-los no muro que se ergue na expansão de um aeroporto – e expulsão de uma Vila Nazaré inteira – em Porto Alegre, nos inúmeros parques cercados em todo o país, nos condomínios de luxo que ocupam irregularmente áreas públicas e isolam comunidades de seus bens naturais. Um muro de exclusão se ergue no final da rua e nós precisamos derrubá-lo.

Logo em frente à porta, há um muro. E o que acontece dali para dentro sempre dizem que não é da nossa conta. Mas, por ser um muro, nosso muro, nos diz respeito também. E o que ocorre atrás desse muro é perverso e doentio. Violências, violações, abusos. Controle, opressão, ridicularização. Possessividade, desmandos, desatinos. Mulheres e crianças sofrendo constantemente os transtornos do machismo, calcada na violência e no silenciamento sistemático, na brutalidade e no controle, chanceladas por um sistema patriarcal sustentando e sustentado pelo sistema capitalista e por um pacto social escancaradamente desigual. Engana-se, porém, quem pensa que esse muro é físico e que o problema está apenas dentro de casa: ainda que a grande maioria dos casos de agressões aconteçam no ambiente doméstico e por pessoas conhecidas das vítimas, esse muro sutil acompanha mulheres e crianças onde quer que elas vão. São milhares de mulheres espancadas a cada 15 segundos no Brasil, mais de mil mulheres assassinadas apenas por serem mulheres, além das incontáveis crianças que têm suas infâncias torturadas pelo abuso físico, sexual e psicológico de uma sociedade que não dá voz ao seu futuro e substitui o brincar pelo trabalhar. Um muro de violência se ergue em frente à porta e nós precisamos derrubá-lo.
Em frente aos nossos olhos, há um muro. Um muro sutil, erguido pela indiferença e pelo individualismo fomentados pela cultura do capital. Muro que recobre nossos olhos frente o desespero do próximo, que passa fome e humilhação nas esquinas, em frente aos bancos e mercados, implorando com seus olhos e suas mãos por ajuda, por reconhecimento. Mas o muro em frente aos nossos olhos os torna invisíveis: para cada um de nós, para as empresas, para o Estado. Quando os vemos, só enxergamos os problemas. E os seres humanos que ali estão continuam invisíveis, assim como suas vulnerabilidades – fome, doença, insegurança, desconfiança. Mas, também, seus sonhos roubados, seus momentos de alegria escondidos. O aumento da desigualdade social e o aumento da população de rua em até 100% em 3 anos, em uma cidade como Porto Alegre, evidencia o que tentamos não ver. Um muro de invisibilidade se ergue em frente aos nossos olhos e nós precisamos derrubá-lo.

Dentro das nossas cabeças, há um muro. Um muro imaterial que impede nossas trocas, distorcem nossas relações e dificulta nossa compreensão de nós mesmos. Que contém nossas ideias em caixas estanques e nos aprisionam às mesmas ações infrutíferas e viciadas. Nos encerra em bolhas reais e virtuais, em que só falamos as mesmas coisas, mantemos as mesmas discussões, encontramos as mesmas pessoas. Estampa a ansiedade, a depressão e a raiva que nos acomete em profusão epidêmica. Nos dirige à loucura, à apatia, à falta de convívio social. Interdita o diálogo, polariza nossos atos e torna a violência e ódio uma opção política. Um muro de sofrimento se ergue dentro das nossas cabeças e nós precisamos derrubá-lo.

Um muro, contudo, é uma criação humana. Está sujeito a falhas, portanto. E, se observarmos suficientemente de perto, veremos que nenhum desses muros é sólido, rígido e coeso o suficiente: em todos eles, há frestas. Em cada fresta, alguém resiste a esses muros. Resistência que se mostra em ações, muito mais concretas do que esses muros que se erguem contra nossa vontade. Em movimentos agroecológios, de soberania alimentar e reforma agrária de base popular. Nos diversos grupos e comunidades populares que resistem à gentrificação das cidades e gritam bem alto que as cidades também lhes pertencem. Nos incontáveis movimentos feministas que se proliferam ao redor do mundo, na força das mulheres que resistem à tomada de seus corpos, mentes e corações e seguem na luta, em busca de melhores condições de vida e de seus sonhos. Nas muitas iniciativas de inclusão social de pessoas em situação de vulnerabilidade social, em que essas pessoas têm a oportunidade de comer, se abrigar e se relacionar de uma maneira solidária, muitas vezes até mesmo descobrindo um novo ofício. Nos grupos de apoio psicológico, que acolhem as pessoas e oferecem um espaço de conversa franca e reconhecimento mútuo.

Quanto maiores forem os muros, mais frestas eles terão. Se os muros nos cercam, devemos manter conosco a esperançosa certeza de que, um a um, eles serão derrubados. Enquanto o povo seguir de pé, eles cairão!






Campanha: https://book.stopthewall.org/

Fonte: Núcleo de Amigos da Terra

Pela terra palestina, pela paz de existir, por Thayane C. do Nascimento





5º Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheres
Dia da Terra Palestina, 30 de março de 2020*
Nesta 5ª Ação internacional da Marcha Mundial das Mulheres, a luta se fortalece neste dia 30 de março, Dia da Terra Palestina. Essa data de luta das mulheres pelos seus territórios faz parte do nosso calendário como uma ação de solidariedade internacionalista a partir da consciência de que a condição de precariedade da vida de muitos povos revela a condição de permanência de luta das mulheres desses povos. Reconhecemos e nos aproximamos das batalhas travadas pelo feminismo internacionalista que ocorrem além das divisas geográficas.
Sobre aproximações e urgências: o contexto em que estamos inseridas neste momento pela conjuntura de confinamento social, causada pela expansão da pandemia do COVID-19, evidencia as distinções dos povos oprimidos, agudizando as opressões e os territórios cada vez mais armados e bélicos. Assim, destaca-se a necessidade de ações nesta luta que visibiliza a discussão e a conscientização da retirada de direitos do acesso à saúde da população empobrecida.
O Dia da Terra Palestina revela as condições específicas de como vivem as mulheres palestinas e dos corpos de palestinas e israelenses que sofrem em meio às disputas políticas que estão sob a lógica de dominação da guerra. Tal contexto bélico, dentro da sua expansão na história, é identificado como ações de extrema direita nacionalista que se consolida na ideologia do sionismo pelo Estado Islâmico (movimento político de disputa territorial pelo Estado Israelense).

São os corpos e a vida de mulheres que sofrem violência de diversas formas e, de maneira concreta, quando enfrentam a militarização e a perseguição política, sofrendo, assim, violência física e emocional por meio do roubo de suas trajetórias de vida pela verdadeira paz de existir. Aliás, é da motivação pela paz de existir que as mulheres curdas seguem resistindo, e não como opção, mas por necessidade.

Nós marchamos e resistimos pela liberação dos territórios e pela autonomia de uso dos seus próprios bens comuns: naturais e econômicos. Nós marchamos e resistimos pela desapropriação dos corpos destas mulheres.

É de extrema importância marcar as contradições instaladas pelo capitalismo, ou melhor, as do sistema capitalista patriarcal e racista o qual faz uso da “bandeira da morte” e conceitua como “Segurança e Paz” para justificar adentrar aos territórios. Como justificativa promovem e incentivam a indústria armamentista que está instalada nos campos de batalha e que nada perdem a cada eliminação de vida humana. Chamamos a atenção para esse discurso insistente dos EUA pela sua expansão colonizadora ainda presente como uma prática da morte que pouco importa o peso real da violência provocada nas suas sanções imperialistas.

Nesta 5ª Ação Internacional da MMM, voltamos a demarcar que estamos todas em solidariedade às mulheres palestinas, curdas, saharaui, venezuelanas, bolivianas, quilombolas e indígenas. Em memória dos povos originários e das mulheres dos povos originários os quais resistem retomando novos fôlegos de luta contra o imperialismo neoliberal que é hipócrita nas suas chancelas coloniais, ou seja, que faz da sua expansão uma marca. Esse é o seu modo de prática na eliminação dos seus diferentes: por meio de guerras, da promoção do medo e de um estado de controle.

Por isso nossa indignação reforça que devemos resistir e que marchamos pelo direito dos povos terem a sua própria voz e não mais representados, em uma escala global, pelos interesses monetários.
Nós resistimos às sanções imperialistas, à invisibilidade do que acontece nos territórios, ao isolamento diante da falta de consciência que se debruça no imperialismo colonialista, à organização mundial dos interesses no comércio, e ao fim dos “check points” que impedem a livre circulação do povo palestino.
Solidariedade, fortalecimento e resistência frente ao extermínio da diversidade étnica. Resistimos para viver! Marchamos para transformar!
*Por Thayane C. Do Nascimento, cientista social e militante da Marcha Mundial das Mulheres no Rio Grande do Sul, mora em Erexim-RS.





5ª Acción Internacional de la Marcha Mundial de las Mujeres
Día de la tierra Palestina”, 30 de marzo de 2020*
(traduzido por Juliana
Battisti)
En esta 5ª acción internacional de la Marcha Mundial de las Mujeres, la lucha se fortalece este 30 de marzo, Día de la Tierra Palestina. Esta fecha de lucha de las mujeres por sus territorios forma parte de nuestro calendario como una acción de solidaridad internacionalista basada en la conciencia de que la condición precaria de la vida de muchos pueblos revela la condición continua de la lucha de las mujeres de estos pueblos. Reconocemos y nos acercamos a las batallas emprendidas por el feminismo internacionalista que tienen lugar más allá de las fronteras geográficas.
Sobre aproximaciones y urgencias: el contexto en el que estamos insertadas en este momento por la coyuntura del confinamiento social, causada por la expansión de la pandemia de COVID-19, destaca las distinciones de los pueblos oprimidos, agravando las opresiones y los territorios cada vez más armados y guerreros. Por lo tanto, existe la necesidad de acciones en esta lucha que hagan visible la discusión y la concienciación de la retirada de los derechos del acceso a la salud de la población empobrecida.
El Día de la Tierra de Palestina revela las condiciones específicas de cómo viven las mujeres palestinas y los cuerpos de las mujeres palestinas e israelíes que sufren en medio de disputas políticas que están bajo la lógica del dominio de la guerra. Tal contexto bélico, dentro de su expansión en la historia, se identifica como acciones de extrema derecha nacionalista que se consolida en la ideología del sionismo por el Estado Islámico (movimiento político de disputa territorial por el Estado israelí).

Son los cuerpos y las vidas de las mujeres quienes sufren violencia de diferentes maneras y, de modo concreto, cuando enfrentan la militarización y la persecución política, sufriendo violencia física y emocional mediante el robo de sus trayectorias de vida para la verdadera paz de la existencia. Además, es la motivación para la paz de la existencia que las mujeres kurdas continúan resistiendo, no como una opción, sino por necesidad.

Marchamos y resistimos por la liberación de los territorios y por la autonomía de uso de sus propios bienes comunes: naturales y económicos. Marchamos y resistimos por la expropiación de los cuerpos de estas mujeres.
Es extremadamente importante destacar las contradicciones instaladas por el capitalismo, o más bien, las del sistema capitalista patriarcal y racista que utiliza la "bandera de la muerte" y la conceptualiza como "Seguridad y Paz" para justificar la intrusión a los territorios. Como justificación, promueven y fomentan la industria de armas que se instala en los campos de batalla y que no pierde nada con cada eliminación de vida humana. Llamamos la atención sobre este discurso insistente de los EE. UU. por su expansión colonizadora todavía presente como una práctica de muerte que no se importa con el peso real de la violencia provocada en sus sanciones imperialistas.

Esta 5ª Acción Internacional de la MMM señala que todos somos solidarios con las mujeres palestinas, kurdas, saharauis, venezolanas, bolivianas, quilombolas e indígenas. En memoria de los pueblos originales y de las mujeres de los pueblos indígenas que resisten a tomar nuevos alientos de lucha contra el imperialismo neoliberal que es hipócrita en sus sellos coloniales, es decir, que hace que su expansión sea una marca. Este es su método de práctica para eliminar los diferentes: mediante las guerras, la promoción del miedo y un estado de control.

Es por eso que nuestra indignación refuerza que debemos resistir y que marchemos por el derecho que los pueblos tengan su propia voz y ya no estén representados, en escala global, por intereses monetarios.
Resistimos a las sanciones imperialistas, a la invisibilidad de lo que sucede en los territorios, al aislamiento ante la falta de conciencia que se deriva del imperialismo colonialista, a la organización mundial de intereses en el comercio y el fin de los "check points" que impiden la libre circulación del pueblo palestino
Solidaridad, fortalecimiento y resistencia ante al exterminio de la diversidad étnica. ¡Resistimos para vivir! ¡Marchamos para transformar!
*Por Thayane C. Do Nascimento, científica social y activista de la Marcha Mundial de las Mujeres en Rio Grande do Sul.