terça-feira, 30 de junho de 2020

Jornada de Formação Feminista: Economia feminista e economia ecológica, diálogo urgente e necessário

Marchantes,

seguindo com nosso compromisso para o 4º módulo da Jornada de Formação Feminista da MMM RS (ecofeminismos) para 5º Ação Internacional, apresentamos a penúltima publicação do módulo.

Apresentamos um resumo do artigo ECONOMÍA FEMINISTA Y ECONOMÍA ECOLÓGICA, EL DIÁLOGO NECESARIO Y URGENTE escrito pela espanhola, antropóloga, engenheira, professora e ativista ecofeminista Yayo Herrero.

Para conferir o artigo na íntegra, acesse o recém lançado livro Economia feminista e ecológica: resistências e retomadas de corpos e territórios, pela SOF - Sempreviva Organização Feminista (disponível em https://www.sof.org.br/economia-feminista-e-ecologica-resistencias-e-retomadas-de-corpos-e-territorios/) e confira outros textos sobre a temática.



ECONOMÍA FEMINISTA Y ECONOMÍA ECOLÓGICA, EL DIÁLOGO NECESARIO Y URGENTE  por Yayo Herrero[1] 
Resumo do artigo

O artigo de Yayo Herrero fazer um recorrido nos conceitos de economia convencional, economia ecológica e economia feminista. A partir desse recorrido ela enfoca e vincula a economia ecológica e a economia feminista, construindo um conceito de ecofeminismo desde um ponto de vista anticapitalista, marxista e crítico aos conceitos convencionais. A autora deixa claro que não tem intenção de propor um conceito fechado em si mesmo, mas sim, assinalar quais são os eixos fundamentais e inegociáveis para a promoção dos mudanças necessárias desde o ponto de vista ecológico e feminista.
No princípio do texto a autora faz uma crítica à economia convencional afirmando que a mesma "expulsou de seu campo de estudos recursos, processos, práticas e sujeitos que, sendo imprescindíveis para a vida, não são considerados, nem podem ser medidos com a exclusiva vara de medir dinheiro (Naredo, 2006)". Dessa forma, afirma que coisas como "polinização, ciclo da água, parir e o cuidado dos idosos que se faz de forma não remunerada, por exemplo, desaparecem nas análises que se realizam pela economia" (pag.145).
E é assim, de forma muito simples, que ela explica que "a economia convencional se organiza em torno de um crescimento econômico como objetivo e, que, deixa de perguntar-se sobre a natureza da produção que gera esse crescimento; se esse crescimento se dá, fabricando bens ou serviços socialmente necessários ou fabricando artefatos desnecessários -  incluindo os indesejáveis - que "digerem"os recursos e materiais finos e "excretam" quantidades enormes de resíduos" (pag.145). Tal modelo de economia está focado na gestão da oferta, portanto, não se pergunta de que forma as necessidades são satisfeitas, tampouco como se vive a vida cotidiana.

Parte I -  ECO DEPENDENTE E INTERDEPENDENTE: OS LIMITES E A IMANÊNCIA COMO CARACTERÍSTICAS INERENTES À VIDA HUMANA
Nesta parte a autora expõe a ideia de que "o capitalismo heteropatriarcal tem se desenvolvido como se as pessoas e suas sociedades pudessem viver separadas da corporeidade e sua inserção na natureza, no entanto, essa ficção, só pode se sustentar ocultando e sub valorando os aportes da natureza e das relações entre as pessoas (pag.146)
Somo um planeta com limites físico, nos quais a economia ecológica coloca no centro do debate a nossa "ecodependência". Quatro dos limites da natureza (conceitos ecológicos expostos no texto) já estão esgotados, a biocapacidade da terra está superada.
            Portanto a economia ecológica trata de reconectar a economia com a materialidade da natureza, uma vez que a vida na Terra é consequência da capacidade que esta tem de intercambiar energia com o exterior. Uma corrente transdisciplinar que trata de recompor os laços rompidos entre economia e natureza.
O subtítulo segue com a autora afirmando que "somos seres encarnados em corpos: la economía feminista tem o papel de evidenciar tal imanência". E com isso descreve o pensamento ecofeminista: "uma vez que vivemos inseridos na natureza, nós seres humanos, vivemos encarnados em corpos vulneráveis, contingentes e finitos. assumir a corporeidade dos seres humanos, nos leva a consciência da imanência de cada vida humana e da necessária interdependência entre as pessoas. Ao mesmo tempo em que nascemos até morrermos, as pessoas dependem física e emocionalmente do tempo de trabalho e de dedicação que outras pessoas nos dão. Durante toda a vida, mas especialmente em alguns momentos do nosso ciclo vital, não poderíamos sobreviver se não fosse a dedicação de tempo e energia de cuidado dos nossos corpos feitos por outras pessoas. E esse trabalho se encontro invisibilizado e desvalorizado nas sociedades patriarcais. "(pag.148)
O subtítulo segue, agora com a autora tratando de Economia Feminista, a partir de ideias ecofeministas. A economia convencional permanece distante de uma inserção da humanidade com a natureza, e também, ignora as consequências da corporeidade. O tempo das mulheres fica fora das relações econômicas produtivas, mas é social e biologicamente imprescindível, além de satisfazer necessidades imediatas na família e na comunidade.
A Economia feminista põe foco na importância dos cuidados diretos e indiretos para com as pessoas como aspecto central para a reprodução social. Há uma divisão injusta e desigual nos tempos dedicados ao cuidado entre homens e mulheres. A lógica econômica ignora as necessidades humanas. Como afirma Cristina Carrasco, isto "desvela que, a regeneração diária, mas sobretudo a reprodução geracional de mão-de-obra, requer uma enorme quantidade de tempo e energias que o sistema capitalista não podia remunerar sob sua própria lógica"(Carrasco, 2009). Ademais, esta segregação de papéis em função do gênero, "tem permitido aos homens ocuparem-se de tempo completo para o trabalho mercantil, sem as limitações que supõe ocupar-se de cuidar das pessoas da família ou manter as condições higiênicas do lar, apontando uma noção de que o econômico não se ocupa da divisão sexual do trabalho, nem reconhece, embora explore, as tarefas associadas à reprodução diária da vida em benefício da produção capitalista ”(página 147).
Para as feministas há uma crise dos cuidados, uma vez que "há um complexo processo de desestabilização de um modelo prévio de distribuição de responsabilidades pelo cuidado e pela sustentabilidade da vida, o que implica uma redistribuição destes e uma reorganização do trabalho de cuidados."(Pérez Orozco, 2007 - pag 149). Ou seja, o modelo se sustentava com a divisão sexual do trabalho próprio das sociedades patriarcais, funcionava a nível estrutural e se articulava sobre a família nuclear, onde existia uma restrita divisão de papéis, qual seja: o homem provedor (ganhador do pão) e a mulher a dona de casa funcionavam como sustenta a estrutura do mercado laboral e do estado de bem-estar E isso mudou totalmente, mas não a necessidade das mulheres de fazerem as tarefas domésticas e de cuidado. Além disso, temos que ter presente que tem avançado uma agenda neoliberal, e portanto, há um progressivo desmantelamento e privatização dos serviços sociais, que cobriam parcialmente algumas das necessidades de cuidados[2].

É importante destacar que o modelo urbanístico, a vida nas cidades dificulta e intensifica os tempos necessários para os cuidados. Como afirma Vega (2004), nosso modelo atual "modelo de cidade e de progresso foi concebido para homens que não compreendiam a importância do trabalho de cuidados, nem a multiplicidade de dimensões que há que ser atendida para garantir a reprodução social. O modelo urbanístico da cidade higiênica põe a máquina da edificação e do urbanismo a serviço do sistema econômico"(pag.150)

Parte II- O NECESSÁRIO DIÁLOGO ENTRE A ECONOMIA FEMINISTA E A ECONOMIA ECOLÓGICA
Na parte anterior se disse que a economia Feminista destaca que existe uma contradição entre a reprodução natural e social das pessoas e do processo de acumulacao de capital. Já a Economia Ecológica destaca que a inviabilidade de um metabolismo econômico não consciente dos limites biogeográficos e dos ritmos necessários para a regeneração da natureza. Assim, uma soma simples entre as duas visões fornece uma análise de valor indiscutível, mas essa contribuição é multiplicada e ampliada quando as análises são relacionadas e entrelaçadas separadamente, conforme proposto pela abordagem ecofeminista (página 151).
Herrero adverte que "nas análises da economia ecológica, a dimensão corporal e biológica da existência humana não está interiorizada, apesar de alguns trabalhos fazerem referência a necessidade de contar com os aportes da economia feminista". E que algo similar acontece no âmbito da economia feminista, já que "embora existam trabalhos que mencionam a natureza como o espaço e o tempo em que toda a atividade humana está incluída, exceto em muito poucos trabalhos, é difícil encontrar elaborações e propostas que situem a reprodução diária da vida e sua dimensão corporal nos marcos dos limites e restrições que supõe o viver em um mundo cheio de Antropoceno"(Pag.151).
Em seguida a autora faz referência a necessidade do diálogo entre a economia feminista e a economia ecológica em torno do metabolismo social.
Para isso a mesma usa como referencia as ideias de  González de Molina y Toledo (2011) , em que ele afirma que "as relacoes que os seres humanos estabelecem com a natureza sao sempre duplas: individuis ou biológicas e coletivas ou sociais". No entanto, esses autores não discutem aspectos da divisão sexual do trabalho.Contribuição importante que nos traz Herrero, já que afirma que "é certo que a necessidade de nutrição é individual, mas a forma de satisfazê-la não é. A inserção da sociedade na natureza se realiza a partir da encarnação humana e para isso, o papel mediador das mulheres na divisão sexual sexo/gênero produz relações invisíveis entre os seres humanos e o mundo natural, que garam que cada vida individual possa desenvolver-se. Há um trabalho associada às necessidades biológicas que garante a atenção aos ciclos do corpo humano" (pg.152)
O conceito de metabolismo social é algo construído por Karl Marx, que basicamente serve para "descrever as relações entre a sociedade e a natureza e o estudo e cálculo dos fluxos de energia e de matéria que se intercambiam entre as diferentes sociedades e o meio natural". Gonzáles de Molina y Toledo trabalharam muito o conceito desde o ponto de vista da Economia Ecológica. Embora, quando se mescla com a Economia Feminista, a partir dos aportes de Carrasco e Tello (2011), o conceito se amplia. Os autores assinalam que "o metabolismo social se dá em cinco links interconectados: a natureza com a qual interagimos para obter os bens e serviços; o espaço doméstico, em que nascemos, nos criamos e socializamos constitui a principal rede de interdependência; a comunidade próxima em que estabelecemos relações de ajuda mútua e cooperação, que nos permite dar resposta a vulnerabilidade e a incerteza; o estado e o mercado, que constituem as duas esferas de producao e consumo mercantil. A economia capitalista leva em consideração apenas a produção e o consumo realizados nos dois últimos espaços da cadeia de ligação (estado e mercado) e é constituída tomando como garantida e gratuita a contribuição da natureza, do lar e das comunidades. " (p.154).
Por tanto, a autora afirmará que "as mulheres são a ponte e a mediação que permitem o trânsito permanente da sociedade para a natureza. Sua contribuição é natural e ao mesmo tempo social.Seu trabalho permite a satisfação das necessidades individuais que somente tem solução no coletivo. As mulheres têm sido o vínculo entre as pessoas e a natureza. São as mediadoras ao parir (um universal insubstituível) e ao realizar as tarefas de atenção e cuidado (perfeita e necessariamente distribuíveis entre homens e mulheres)"(pag.154)
No entanto, é necessário explicar melhor essa afirmação, pois ela pode se basear em uma idéia essencialista do papel da mulher. Portanto, parece-nos que é importante reproduzir o parágrafo inteiro:
"Não surpreendentemente, as mulheres foram subordinadas e subvalorizadas precisamente assimilando-as a uma natureza instrumentalmente concebida a serviço das sociedades humanas. No entanto, acreditamos que esclarecer o papel que as mulheres desempenham na reprodução social não é essencialista, mas materialista, além de ser um ponto de partida para reorganizar as responsabilidades e obrigações da sociedade, estado, mercado e homens para que essas funções sejam cobertas. A construção do mundo social tem sua base material - além da natureza - no tempo de trabalho dedicado à reprodução diária da vida. A rede de relacionamentos interconectados é uma realidade material, sem ela, não há sociedade.A emancipação da mulher envolve sensibilizar e tornar visíveis essas relações, a fim de exigir e alcançar sua distribuição entre homens e mulheres, a fim de "des feminilizar" o cuidado, transformando-o em uma responsabilidade pela sociedade como um todo. Em nossa opinião, não se trata de "desnaturalizar" as mulheres, mas de "renaturalizar os homens" (Herrero, Cembranos y Pascual 2011)” (pag.154).

Além disso, a autora afirma que "as mulheres estão mais próximas dessas funçoes nao por essência, mas por causa das condições sociais em que elas são socializadas, que as obriga a ser as únicas responsáveis pela corporeidade humana e colocando muito mais tempo e energia para atender essa dimensão física da existência humana"(Pag.154)
Finalmente, há toda uma crítica à dicotomia produção / reprodução: “separando produção e reprodução, o patriarcado criou uma falsa liberdade que ignora parâmetros biológicos e ecológicos. A transcendência individual é construída socialmente contra a natureza e às custas das mulheres que "produzem" tempo, espaço e recursos para outra pessoa "(página 155).
E depois há menção ao autor Martin O'Connor (1994), no qual afirma que o Capital é como parasitismo, um conceito que ele considera mais útil que o de exploração, dominação ou opressão para explicar o relacionamento em questão. Uma vez que "uma minoria humana - principalmente do sexo masculino - pode viver como se não tivesse corpo ou como se não houvesse limites porque é sustentada por outros ou pela terra (...) é esse parasitismo que cria, para o próprio capital, uma crise permanente de reprodução dessas condições de produção ”(página 155)
            Además otra de las críticas a la dicotomía producción /reproducción es que, una vez que se  ignora la satisfacción de las necesidades del tiempo biológico, se genera un concepto de mundo público que divide en compartimentos la existencia humana. La toma de decisiones se basan en las necesidades del espacio público sin tener en cuenta la complejidad de la existencia de las personas. Así tenemos que, ante la crisis global, crear una política para la conectividad personas – naturaleza. Y son las mujeres agentes privilegiados para la reconstrucción porque han sido protagonistas de prácticas que son a la vez sociales y naturales.

Parte III - DIÁLOGOS ENTRE A ECONOMIA FEMINISTA E A ECONOMIA ECOLÓGICA EM TORNO DA SUSTENTABILIDADE
Nesta parte, destaca-se que sendo uma espécie viva, quando relacionamos sistema econômico e sustentabilidade, estamos nos referindo à durabilidade de um certo metabolismo social que permite a reprodução social e econômica, e que é apoiado em uma base física que apresenta limites e restrições. Afirmação muito importante a ser lembrada,
Para aprofundar isso, a autora lembra que o conceito de sustentabilidade é fundamentalmente antropocêntrico. Além disso, a noção de sustentabilidade é ambígua e requer adjetivos (justos, equitativos etc.), especialmente quando a noção substantiva se tornou um adjetivo que pode acompanhar vários conceitos contraditórios.
A autora aborda conceitos gerais de sustentabilidade, mas o mais importante é que a economia ecológica aborda a questão da sustentabilidade, apontando para a relação entre uma população e a energia e os materiais existentes em seu ecossistema, sabendo que o ecossistema é formado pelo conjunto de seres vivos, juntamente com os materiais derivados de sua atividade. No entanto, o aporte da Economia Feminista, que reforça o quão necessário é esse diálogo, trata que "a vida humana possível e permite que se sustenta, mas não se esgota com as relações entre as pessoas e a natureza, senão que as relações de interdependência entre as pessoas são básicas para manter a vida de cada ser humana de forma não só sincrônica, mas também geracionalmente (...) somos cultura e natureza e o trabalho necessário para que os corpos em que vivemos encarnados,  existam e sejam mantidos, são centrais ”(página 157). É por isso que a idéia de sustentabilidade da vida humana foi cunhada na economia feminista. Esse conceito designa "um processo histórico complexo, dinâmico e multidimensional de satisfação de necessidades que deve ser continuamente mantido e reconstruído, o que requer recursos materiais, mas também contextos e relações de cuidado e afeto, proporcionados em grande parte por trabalho não remunerado realizado em residências "(Carrasco 2009) (pag.157)
A partir da união desses campos teóricos, não podemos mais formular mais propostas que busquem a emancipação da mulher e que sejam ecologicamente inviáveis, ou que, reduzindo os impactos na natureza, aprofundem as desigualdades na responsabilidade pela reprodução diária da vida. .
Assim, para Economia Ecológica e Economia Feminista, o conceito de sustentabilidade deve considerar “a possibilidade de manter ao longo do tempo um metabolismo social que se encarrega das relações de ecodependência e interdependência, que responde à condição radicalmente vulnerável de vida humana em um planeta com limites. ” (página 157)                       
Já no final do texto há uma contribuição importante sobre os afetos, um conceito muito distante da análise econômica, mesmo da ecologia. Em resumo e com base em Carrasco e Tello (2011), ele afirma que “é no espaço da socialização, o lar, no qual adquirimos uma identidade sexual, um nome, aprendemos uma linguagem, regras e capacidades técnicas que nos permitem tornar-nos no ser humano, isto é, na natureza culturalmente transformada (Mellor 1997). Somente com esse cuidado nos tornamos alguém autônomo e, ao mesmo tempo, interdependente, que interage com outros seres humanos em redes cada vez mais complexas de interdependência relacional. Nessa perspectiva, ser humano acarreta a preocupação para com os demais (De Waal, 2009). ” (p. 159).                          
                                              
Parte final - ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS: CONSTRUINDO ESPAÇOS DE SEGURANÇA NA FRENTE DO RISCO GLOBAL
Diante do exposto, a autora acredita que o diálogo entre a economia ecológica e a economia feminista pode ajudar a estabelecer uma política dos tempos e uma política do território (Carpintero e Bellver, 2013). Uma vez que é permitido entender e reorientar as relações entre humanidade e natureza e também entre os seres humanos. Uma vez que implica a análise das relações sexo / gênero derivadas da corporeidade e inserção humana na natureza.
E, por fim, encerra o artigo de uma maneira muito bonita, através da releitura do primeiro artigo, da Declaração dos Direitos Humanos, escrita por Carrasco e Tello (2011), a saber:
"Todos os seres humanos nascem do seio de uma mãe e tornam-se iguais em dignidade e direitos, graças a uma imensa dedicação de atenção, cuidado e trabalho diário, de uma geração para outra, que deve ser compartilhada por homens e mulheres como uma tarefa civilizadora fundamental para nossa espécie: graças a este trabalho, as pessoas podem se tornar dotadas de razão e consciência que lhes permitem se comportar fraternalmente, conscientes de habitar um planeta fisicamente limitado, que compartilham com o resto do mundo vivo, e que eles serão obrigados a manter ". (página 160)



[1] Yayo Herrero é associada a organização Ecologistas en Acción da Espanha. Este resumo foi feito por Cintia Barenho. O texto original, em espanhol, está publicado em:http://revistaeconomiacritica.org/sites/default/files/revistas/n22/YayoHerrero_Economia-feminista.pdf 

[2] Nas páginas 149-150 a autora trata mais dessa questão. Importante lembrar que a mesma constrói seu texto a partir da realidade européia.



domingo, 28 de junho de 2020

28 de junho, Dia do Orgulho LGBT



Hoje é 28 de junho, Dia do Orgulho LGBT. E nós, mulheres feministas, múltiplas e diversas, queremos construir um mundo e uma sexualidade sem amarras! Sem violência, sem LGBTfobia, sem trabalho precário, sem apropriação de nossas lutas pelas grandes empresas que nos exploram. Resistimos para viver, marchamos para transformar!








Gostaríamos ainda de relembrar esses dois textos escritos pelas compas da Marcha!

https://mmm-rs.blogspot.com/2019/01/estaremos-nas-ruas-somos-resistencia.html
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https://marchamulheres.wordpress.com/2015/03/27/sobre-descobrir-se-identidades-desconstruidas-e-a-importancia-do-reconhecimento/
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Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres para amar e sermos quem quisermos ser.

quinta-feira, 25 de junho de 2020

Jornada de Formação Feminista: Desmonte o patriarcado para mudar o sistema


Seguindo nosso compromisso com a Jornada de Formação Feminista da Marcha Mundial das Mulheres RS para a 5º Ação Internacional, e também dando sequência ao que assumimos como compromisso em estar compartilhando, estamos no 4º módulo da jornada, publicando uma série de artigos sobre ecofeminismos, feminismo e ecologia, feminismo e meio ambiente e etc. Os encontros estavam organizados em formato presencial, mas frente a Pandemia causada pelo Covid-19, estamos reorganizando as agendas e encontrando a melhor maneira de estarmos conectadas – virtualmente, e manter forte nossa rede feminista durante este período de distanciamento social.

Este é o último da série de traduções da revista Madreselvas - Teciendo Ecofeminismo (disponível em https://amigosdelatierra.org.ar/biblioteca/). Ainda teremos mais duas publicações para este 4º módulo da jornada, porém de outras autoras, nos auxiliando na formação política e na formação de sínteses sobre feminismo e ecologia. O artigo "Desmonte o patriarcado para mudar o sistema" foi escrito por Dipti Bhatnagar e Syeda Rizwana Hasan, integrantes da Confederação Amigos da Terra Internacional, parceiras históricas da MMM. Uma versão original também foi publicada na revista The Ecologist.

Para saber mais sobre a relação do patriarcado e a natureza, você também pode conferir o artigo da companheira Cíntia Barenho, militante da MMM RS, "Do Rio Doce à lama tóxica: para o feminismo, o capitalismo não tem eco" (disponível em https://marchamulheres.wordpress.com/2015/11/23/do-rio-doce-a-lama-toxica-para-o-feminismo-o-capitalismo-nao-tem-eco/)

Resistimos para viver! Marchamos para tranformar!




"Desmonte o Patriarcado para mudar o Sistema
por Dipti Bhatnagar e Syeda Rizwana Hasan

Acreditamos que o desmantelamento do patriarcado internamento e no mundo em geral só é possível se construírmos um entendimento compartilhado de sua natureza.

Nossas sociedades foram organizadas principalmente para maximizar a acumulação de capital em benefício e privilégio das elites e corporações, através da mercantilização da natureza e de nossos territórios, do controle sobre as mulheres e dos seus corpos, e apropriação da força de trabalho de trabalhadores e das trabalhadoras mulheres.
Essa exploração histórica e permanente é possível através da reprodução de estruturas de opressão que se reforçam mutuamente: Patriarcado, capitalismo, opressão de classe, racismo, (neo) colonialismo e a heteronormatividade.
O patriarcado é o sistema que beneficia os homens como um grupo social através da opressão e exploração das mulheres, que se baseia amplamente na divisão sexual do trabalho e é alimentado pelo determinismo biológico dos papéis de gênero socialmente construídos.
"Entendo o patriarcado como um sistema social no qual os homens são os que possuem poder e dominam os papéis de liderança política, autoridade moral, privilégio social e controle de propriedade. O sistema patriarcal de dominância apoia papéis definidos sexualmente, e limita particularmente mulheres para a esfera doméstica, enquanto os homens dominam a esfera pública”. Peruth, NAPE / Amigos da Terra Uganda

A divisão sexual do trabalho organiza o trabalho das mulheres na esfera privada (o lar), e também nos mercados e na produção agrícola e urbana. As trabalhadoras estão concentradas em áreas que são uma extensão do trabalho assistencial (como saúde e educação)[1], e são empregos muitas vezes mal remunerados[2], precários ou informais, ou trabalhos pelas quais recebem menos do que os homens que fazem o mesmo trabalho.

Trabalho e natureza das mulheres
Na exploração paralela do trabalho e da natureza das mulheres, elas são consideradas recursos infinitos e elásticos: gratuitos, prontamente disponíveis, dos quais podem se apropriar sem resistência. Ao mesmo tempo, o patriarcado utiliza o tempo, a energia e as capacidades (re)produtivas das mulheres para "compensar" a destruição e a privatização da natureza.
Isso é especialmente verdadeiro em tempos de crise e austeridade, quando o trabalho emocional e físico não remunerado das mulheres é essencial para a família e a comunidade, e quando a natureza e os bens comuns são mercantilizados, privatizados e minerados. A magnitude catastrófica para o meio ambiente, ciclos naturais e funções ecológicas e as comunidades cujos meios de subsistência dependem deles.
Da mesma forma, empresas transnacionais, agricultura industrial e sistemas de energia suja controlam e exploram a natureza e nossos territórios, de modo que o direito das mulheres sobre seus corpos, vidas e trabalho é controlado por leis regressivas, práticas tradicionais e instituições sociais (como educação, família, religião e sistema judicial).
Devido ao aparente papel "natural", as mulheres são desproporcionalmente afetadas pela injustiça ambiental e social e pelas múltiplas crises interconectadas, como as mudanças climáticas e a fome. Isto é especialmente verdade para mulheres de cor[3], camponesas e indígenas, imigrantes, classe trabalhadora e mulheres LBTQ[4]. Temos que trabalhar mais e mais tempo para produzir alimentos suficientes, manter meios de subsistência e proteger nossos territórios. E, no entanto, muitas vezes nem temos o direito de possuir a terra em que trabalhamos. A sabedoria e a identidade das mulheres como produtoras de alimentos e praticantes de agroecologia são atacadas e negadas pelo sistema capitalista.
Apesar disso, as mulheres são lutadoras, não vítimas[5]. Em grande parte como consequência de nossa conexão histórica com a produção e reprodução da vida nos territórios em que vivemos e lutamos, as mulheres assumem coletivamente uma posição de liderança nas lutas populares pela justiça ambiental para desafiar o modelo econômico injusto e coloque-se na vanguarda da linha de resistência e defesa da natureza. As mulheres são protagonistas da defesa de nossos territórios e da luta pela autonomia de nossos corpos - nosso território principal -, vida e trabalho.
"As mulheres ambientalistas no meu país e também na região enfrentam o duplo desafio de defender seu território e se defenderem mutuamente contra o patriarcado. Elas parecem dois lados da mesma moeda: a destruição do meio ambiente e o ataque às mulheres, que se torna mais virulento quanto mais nos defendemos”.

Desmantelamento do patriarcado para obter justiça
Para a Friends of the Earth International[6], a lta para desmantelar o patriarcado e todas as estruturas de opressão em nossas próprias organizações, estruturas e sociedades é crucial para a mudança de sistema necessária para lidar com as atuais e profundas crises sociais e ambientais interconectadas que afetam o clima, comida e biodiversidade.
A mudança do sistema envolve a criação de sociedades baseadas na soberania dos povos e na justiça ambiental, social, econômica e de gênero.
Aspiramos a nos libertar do patriarcado e de todas as formas de opressão que exploram e desvalorizam as mulheres, os povos e o meio ambiente e caminhamos para uma transformação radical de nossas sociedades, das relações entre os povos e das relações entre os povos e a natureza.
E acreditamos que o feminismo de base e anticapitalista é a chave para essa transformação, tanto como uma estrutura conceitual-ideológica-política   quanto como uma prática e movimento coletivo.
Nosso objetivo é mostrar na prática que o feminismo pode ser construído, e é construído desde o início como relevante para todas as mulheres e homens que resistem à opressão, e, além disso, representa a diversidade regional e diferentes realidades. Nosso feminismo anticapitalista de base tem uma perspectiva de classe e é baseado nas experiências coletivas de mulheres em sociedades nas quais nossos corpos são marcados por opressões que se reforçam mutuamente.
Temos uma visão política forte e holística da justiça, e da mudança do sistema e construímos soluções juntas como mulheres, como povos, como federação internacional e com nossos aliados, como a Via Campesina e a Marcha Mundial das Mulheres, que, como nós estão lutando para mudar o sistema. Apoiamos ativamente a liderança e liderança das mulheres em nossas estruturas, bem como os espaços para as mulheres construírem seu poder coletivo. 
Acreditamos no desmantelamento do patriarcado internamente, mundo em geral só é possível se construirmos um entendimento compartilhado de sua natureza e de como ele funciona com outras opressões estruturais para organizar a sociedade. O treinamento e a formação política em torno do feminismo e da justiça de gênero em todos os níveis da federação são fundamentais para isso.
Integramos a análise e a prática de Justiça de Gênero e Desmantelamento do Patriarcado (JGDP)  em nosso trabalho sobre defensores de direitos humanos e defensores dos territórios (focado em prevenir violações, proteger defensores e levar os responsáveis ​​à justiça) e nossos programas e ações internacionais. A defesa de um relacionamento de harmonia e respeito com a Natureza e os ecossistemas é politicamente inconsistente com relações de poder distorcidas baseadas em gênero, sexo, raça / etnia, classe e outras estruturas de opressão em nossas comunidades e sociedades. O grande ônus do trabalho de assistência imposto às mulheres ou a violência contra as mulheres vai contra os valores da soberania popular, agroecologia, justiça climática e manejo florestal comunitário. Sem justiça de gênero, não há justiça ambiental.
            
Como e por que continuamos a lutar
Questionamos as estruturas de poder em um mundo onde a violência e a ameaça de violência é usada para controlar as mulheres que questionam sua responsabilidade socialmente construída (mas promovida como determinada biologicamente) de realizar   cuidados invisíveis e não remunerados em casa, no espaço do lar. Nesse mesmo mundo, o trabalho produtivo das mulheres permanece invisível, subvalorizado e mal remunerado, e o conhecimento antigo das mulheres sobre ciclos ecológicos, sementes, plantas medicinais, sobre como nutrir a biodiversidade e as florestas não é reconhecido. Este conhecimento é esquecido.
"O Friends of the Earth International está comprometido com uma mudança no sistema que envolve a luta contra o patriarcado e pela justiça de gênero e o desmantelamento do patriarcado e, portanto, exige o fim da exploração dos corpos e do trabalho das mulheres.   Para nós, isso só será possível quando as mulheres forem reconhecidas como sujeitos políticos, acabar com a violência contra as mulheres e negar seus direitos e com a divisão sexual do trabalho, que constitui a base material de exploração e dominação patriarcal ". 


[1] Neste caso a leitura deve ser compreendida como campos, e áreas de atuação que eram massivamente ocupadas por mulheres, dada a limitada compreensão de um papel biologicamente desenvolvido para cuidar, ou seja, maternar o mundo. 
[3] O termo pode ser lido dentro da ideia da diversidade, como para: mulheres pretas, camponesas, indígenas (...).
[4] Compreendendo o período da produção textual e mantendo o original, mas a ressaltar que hoje a nomenclatura se lê como LGBTQI+.
[5]  Podemos interpretar a frase compreendo que às mulheres não são passivas diante da luta agroecológica. A sociedade patriarcal comete muitos crimes, e violências contra as mulheres.

terça-feira, 23 de junho de 2020

Encontro Virtual da Marcha Mundial das Mulheres RS 27/06 (sábado) 14h




Encontro Virtual da Marcha Mundial das Mulheres RS -
27 de junho às 14h, via internet!

Bem vinda, companheira! ♀

Desde a violenta chegada do COVID- 19 ao Brasil, estamos tendo que reinventar a forma de nos organizarmos enquanto mulheres, feministas, antirracistas, anticapitalistas, antilgbtfóbicas e antifascistas. Por isso, a executiva da Marcha estadual convida a todas marchantes, para mais um Encontro Virtual da MMM RS. Precisamos estar atualizadas, alinhadas, e unidas para seguir marchando até que todas estejamos livres!
Que bom saber que você estará conosco em mais um Encontro!

Mandaremos o link de acesso ao nosso Encontro, APENAS para o e-mail ou WhatsApp indicado na inscrição abaixo.
Então, fiquem atentas! Também, pedimos que não compartilhem o link da sala do Encontro para outras mulheres, pela nossa segurança.

•Pedimos que ao entrar na sala, coloque seu nome conforme ao da inscrição!


• Siga nossas redes sociais:
-Instagram: @marchamulheresrs e @marchamulheres
- Facebook: facebook.com/MarchaMundialRS/ e facebook.com/marchamundialdasmulheresbrasil/

RESISTIMOS PARA VIVER! MARCHAMOS PARA TRANSFORMAR!
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ESTRUTURA DO ENCONTRO - 27 de junho às 14h, via internet!

• PARTE I:
-  Abertura Cultural: com Gerusa Bittencourt
 Combinações e Apresentação das Presentes
Análise de Conjuntura macro - com Bruna dos Santos e Gerusa Bittencourt
- Ações de rua antifascistas e antirracistas em meio a pandemia
- Racismo no Brasil e manifestações
- Debate

• PARTE II:
- Expectativas: e o movimento feminista? com Maria Fernanda Marcelino da MMM Nacional
- Resumo das nossas ações como MMM RS e Ações de Solidariedade
- Ação 2020 da MMM
- Expectativas e próximas ações
- Debate
- Encerramento: cuidado e auto-cuidado nas redes; encaminhamentos

* Para a segurança de todas, produzimos um formulário a fim de saber onde e como estão nossas companheiras.
Em tempos difíceis o cuidado deve ser redobrado e o afeto é revolucionário! 

quinta-feira, 18 de junho de 2020

Apoio a permanência dos Indígenas Kaingang na Floresta Nacional de Canela/RS


25/06/2020 - ATUALIZANDO:
O texto abaixo, publicado em 18/06/2020, sobre o apoio da MMM RS e outras entidades ao pedido ao MPF para suspensão das audiências públicas de concessão a Floresta de Canela à iniciativa privada, surgiu efeito e as audiência foram suspensas! Seguiremos em marcha pela soberania dos povos! Confira aqui: https://www.facebook.com/kaingangcanela/photos/a.109496567327245/149808646629370/?type=3&theater



A imagem pode conter: texto que diz "RENMARG CANELA DECISÃO JUDICIAL ACABA COM AUDIÊNCIAS DE PRIVATIZACÃO MARCADAS PARA DIAS 25 E 26."

Nós da Marcha Mundial das Mulheres do Rio Grande do Sul e do Centro de Referência Afroindígena do RS - Ocupação Baronesa apoiamos a permanência dos Indígenas Kaingang na Floresta Nacional de Canela/RS (FLONA Canela). Apoiamos a manifestação entregue ao Ministério Público Federal que solicita a suspensão dos processos de concessão das Unidades de Conservação de Canela e São Francisco de Paula, até que os povos originários sejam devidamente consultados e que tal processo só retorne após o término das recomendações de isolamento social desencadeada pela pandemia de coronavírus no país.

A natureza e os bens comuns são elementos centrais na nossa luta feminista. A soberania dos povos passa pelo direito à terra. Quando se nega o direito a terra não se está negando o direito à vida digna?
Há mais de dez anos a comunidade de Indígenas Kaingang têm reivindicado o uso da FLONA Canela em vista da ancestralidade e das terras por direito.  Sabemos do não interesse político em pautar os interesses indígenas, como fica claro pela atuação pouco ativa nos processos judiciais da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), bem como pelas declarações dos ministros do Meio Ambiente nos últimos 4 anos. 
Nos últimos dois anos, em função da concessão de serviços turísticos à iniciativa privada, estão sendo pressionadas as áreas das Florestas para regularização e, após, para concessão. Entretanto, os indígenas não fazem parte deste novo cenário. Mais uma vez, estão sendo expulsos de sua própria casa.
As agressões contra a biodiversidade do Parque são incontáveis e impossíveis de serem satisfatoriamente fiscalizadas, em função do sucateamento da FUNAI e do descaso do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) com a situação. A FUNAI deixa de cumprir seu papel constitucional de garantir o respeito dos direitos dos povos indígenas. Não bastassem os processos determinando a saída dos indígenas ocupantes da FLONA, em 27 de maio de 2020 o ICMBio noticiou em seu portal eletrônico (https://www.icmbio.gov.br/portal/ultimas-noticias/20-geral/11112-governo-abre-consulta-para-concessao-de-florestas-no-rs) o processo de consulta pública para a concessão das Florestas Nacionais de Canela e São Francisco de Paula.  Na mesma notícia, o ICMBio informa que vem realizando reuniões com diferentes instituições para tratar do processo de concessão das unidades de conservação. Entretanto, jamais houve consulta à comunidade indígena.
Os relatórios de obrigação da FUNAI não foram entregues, sequer o órgão tem conduta de mediação. Há negligência com a situação das pessoas que reivindicam essa terra, não só por deixar de cumprir com os prazos de entrega dos estudos, como pelo descaso em suas defesas, e também pela possibilidade de contágio pelo COVID-19. O processo para desocupação das terras, bem como a consulta pública, retiram a soberania do povo e criam situações para seu extermínio.
A permanência da comunidade indígena na FLONA Canela tem a ver com o uso do território considerado sagrado, sendo questões antropológicas e de direitos humanos. Os povos indígenas afetados pelas alterações da legislação não participam da construção da lei, motivo pelo qual estão sempre a parte do que dizem que devem fazer. O racismo estrutural nos processos judiciais se mostra. Continuamos tentando levar os indígenas para locais que nós julgamos adequados e não aquele que eles entendem justo. As violações aos povos originários são latentes há mais 500 anos. Do acompanhamento deste caso se vê claramente não só o descaso para com a comunidade indígena, como o rompimento de um Estado que deveria proteger, para um Estado que mata. 

Há que se ter claro: se hoje há um país, é devido aos que viveram aqui antes das explorações colonizadoras, são as conexões com a terra e com a natureza. Não há formação de um Brasil justo sem o resguardo dos direitos dos povos originários. Urgente e necessária a atenção ao caso, sob risco de descumprimento de determinação vinculante, bem como de os indígenas perderem seu espaço na FLONA por mero atropelo processual, de descaso da FUNAI.

Nós da MMM RS prezamos pela soberania dos povos e estamos juntas ao Centro de Referência Afroindígena do RS-Ocupação Baronesa nesta luta. Somos solidárias a causa e exigimos que a lei seja cumprida! O direito ao uso da Floresta é dos indígenas. Ali foi construída sua história e estão seus antepassados. Seguiremos em marcha até que os povo originários possam permanecer em seus territórios.

Para saber mais: