terça-feira, 18 de janeiro de 2011

BOICOTE ao filme de Julio Medem

* por Marian Pessah

Um quarto em Roma, uma visão patriarcal-mente irritante de uma história entre duas mulheres.

Fomos empolgadíssimas assistir ao filme Um quarto em Roma, do diretor Julio Medem, também responsável pelo roteiro e por dois filmes anteriores : “Os amantes do circulo Polar” e “Lucia e o sexo”.

Neste, a história conta uma noite de amor entre duas jovens, uma russa e uma espanhola, que se encontram acidentalmente em Roma e passam uma noite de sexo e descobertas mútuas, num belo quarto de hotel. Se a história parece atraente a realização não é nada disso. Pelo contrário, foi com muito esforço que conseguimos chegar até o fim. A decepção e a indignação foram crescendo. Pagar para ver – mais uma vez – as fantasias que um cara faz conosco, é patriarcal-mente irritante.

Imaginem só, quando primeiro uma das meninas conta fascinada para a outra que um milionário árabe, marido da sua mãe, a preferiu em troca de luxo. E ela adorou viver no harém!!
Logo depois, a outra conta quando um dia acorda e percebe que sua irmã gêmea está na cama com o pai. Sua primeira reação é se sentir rejeitada, desvalorizada por não ter sido a escolhida. Escolhida para ser abusada sexualmente!!!!!!! E depois, relata que se excitava com a situação e que se masturbava enquanto a irmã era abusada pelo pai!! HORROR

Os diálogos são tão inconsistentes, as interpretações tão inexpressiva (pobres atrizes, expressar o que??) e o roteiro tão pobre, que o filme é horrivelmente tedioso.
É evidentemente uma história comercial a partir de uma visão de “lésbica lindas” – ou seja - magérrimas, brancas, européias e bem sucedidas.

Mais uma vez que o mercado tenta domesticar a lesbianidade, controlar a rebeldia ajustando-a a uma sexualidade normativa, mostrando-a desde um ponto de vista masculino e deixando ver o quanto rende ainda ás fantasias a os homes.

É por isso que as Mulheres Rebeldes nos levantamos iradas a dizer essa realidade que mostra Julio Medem é uma merda, uma mentira, e além do mais, faz apologia do abuso sexual.

Por tudo isto, estamos convocando todxs a boicotar esse filme. Chega de botar palavras e fantasias nas bocas das mulheres. Queremos incitar a que as próprias mulheres nos manifestemos para mostrar quem somos, como pensamos, como sentimos, qual o nosso erotismo.
Vamos colocar mensagens nas redes sociais, nas listas, nas blogas!

Mulheres em ação contra o mercado machista e capitalista. CHEGA de nos utilizarem como o seu objeto de fantasias.


* Marian Pessah é feminista argentina, fotógrafa jornalítica, integrante do grupo Mulheres Rebeldes, que vive em Porto Alegre desde 2001.
http://radicaldesdelaraiz.blogspot.com/2011/01/boicote-ao-filme-de-julio-medem.html

3 comentários:

  1. ta certo! vamos boicotar então. estamos cansadas de tanto machismo e desrespeito a nossa luta, nosso corpo e nossa sexualidade. parabéns Marian.
    josiane martinez

    ResponderExcluir
  2. Oi amigas! obrigada por postar o boicote.
    Ele faz parte do grupo Mulheres Rebeldes, acontece que eu tinha postado também no na minha bloga, e acabou saindo com o meu endereço, mas foi um erro, a iniciativa não foi só minha.

    Que bom Josiane que nos encontramso na luta então!

    e acho que mais que nunca poderíamos dizer a este cara q se aproveita do mercado capitalista, o nosso corpo não é mercadoria para ser explorado no cinema, também não as nossas vidas para colocar em nossas bocas palavras que duvido alguma mulher diga, como gostar de ser abusada sexualmente.

    um forte abraço e muita raiva!!
    marian pessah

    ResponderExcluir
  3. Sim, com certeza, a vida é simples assim, as mulheres são simples assim e não importa a realidade qual seja (confusa e diversa como é), ela tem que ser como vocês querem. Sensibilidade na veia gente... sensibilidade ao que É, não ao que (vocês acham que) deve ser. A questão a se fazer, neste mundo, existe alguma mulher que se sinta como o Julio Medem expressa nesse seu filme? O que é ser mulher realmente, o que tem sido? Sem ideais... Sugiro também que assistam Caótica Ana, que trata do feminino no tempo, muito interessante.

    ResponderExcluir