sexta-feira, 22 de julho de 2016

E o feminismo um tantão assim!


Fabíola Papini (Babi)* e Raquel Duarte**

A Marcha Mundial das Mulheres é um movimento feminista fundado na auto-organização das mulheres. E é incrível como esta auto-organização muda nossas vidas e redefine as formas de nos encontrarmos no debate e na construção política.
Neste final de semana renovamos nossas energias em mais um espaço coletivo de auto-organização aqui no RS.  Foram dois dias de muita troca e construção coletiva de saberes. Dois dias de muita solidariedade feminista compartilhada a cada momento, desde o café da manhã, lanche da tarde, debates em grupos e também no grande grupo, além da batucada, integração e animação. Tudo isso de forma autogestionada e contando com a participação de todas.
O tema central da formação foi a luta por uma vida sem violência para todas as mulheres. Tendo como referência a educação popular, a partir da realidade das mulheres ali presentes experimentamos um processo de diálogo, de acolhida, de convergência. Circularam idéias, mas também circularam afetividades.
Todas as mulheres têm algo a dizer sobre a violência. Todas as mulheres já passaram por alguma forma de violência ao longo de suas vidas. Afinal, ela se manifesta das mais diversas formas e em todos os lugares: no campo, na cidade, na escola, no trabalho, em casa, na internet; através do racismo, da lesbosfobia, da divisão sexual do trabalho, do assédio, do estupro, do tráfico de mulheres, da criminalização do aborto e no controle sobre os nossos corpos.
A luta pela erradicação da violência contra as mulheres é permanente, está sempre presente no nosso horizonte. Entendemos a violência como estruturante da sociedade patriarcal, uma demonstração do poder dos homens sobre as mulheres. Combater todas as formas de violência é inerente ao outro mundo possível que queremos construir.
Com a cartilha da SOF “Mulheres em luta por uma vida sem violência” pensamos formas de encorajar e fortalecer as mulheres. Propomos ações para denunciar, dar visibilidade e exigir o fim da violência sexista. Debatemos as conquistas e os desafios que ainda existem na construção de políticas públicas que trabalhem na origem da violência, na desigualdade de gênero e raça enraizada em nossa sociedade.
Nos espaços de formação da MMM nos sentimos a vontade para falar sobre tudo isso. Podemos olhar umas nos olhos das outras e falar sobre como o sistema capitalista, racista e patriarcal é cruel. Sobre como o machismo define os caminhos e os esteriótipos que as mulheres deveriam seguir. Mais do que isso, nestes momentos encontramos a solidariedade feminista e com ela nos fortalecemos para organizar nossa resistência e pensar alternativas a este modelo de exploração, dominação e opressão.
Ao nos propormos a promover ambientes acolhedores, de respeito, não negamos nossas diferenças. E este é um aspecto que torna fascinante e revigorante o encontro com as companheiras: um exercício que deveria ser mais valorizado pela caótica esquerda disputista. Abordar um tema que toca em feridas, privilegiando a empatia e o reconhecimento da sua história, a partir de narrativas de outras mulheres, mostra o quanto a luta é de todas e só terminará no dia em que todas estivermos livres. Quando emerge o sentimento de sujeita coletiva e percebemos a potência que temos juntas, a convicção de que o feminismo vai subir, só cresce!
E assim, fortalecemos nossa ciranda, que “não é minha só… ela é de todas nós, ela é de todas nós!”


*Psicóloga e militante da Marcha Mundial das Mulheres no Rio Grande do Sul
**Advogada e militante da Marcha Mundial das Mulheres no Rio Grande do Sul

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