quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Formação Feminista da Marcha Mundial das Mulheres RS

Data: 27 de outubro de 2012
Local: Sindpetrosul, rua Lima e Silva, 818 -

Porto Alegre
Hora: das 8:30 às 18h
Vagas: 50

Programação:

8:30 recepção e credenciamento - entrega dos kits para as organizações
9h Apresentação da proposta de formação e painel 
Painel 1: O pensamento moderno e feminismos nos séculos XVIII e XIX
intervalo para cafézinho e biscoitos
Painel 2 :Os feminismos do século XX – origem do 8 de março

Debate entre as participantes
13h intervalo para almoço
14h - Feminismos no novo milênio (o surgimento da Marcha Mundial das Mulheres)
Oficina - o que é ser feminista?
16h intervalo para café e biscoitos
Debate entre as participantes
17:30 Avaliação da atividade

Formadora: Profª IRIS DE CARVALHO, Historiadora pela Universidade de Santa Maria.

Facilitadoras: 

Raquel P. Duarte, advogada, militante da MMM-Caxias do Sul e integrante da coordenação executiva
Vanessa Nesbeda Gil - Cientista Social, militante da MMM-Porto Alegre e integrante da coordenação executiva

Forneceremos certificado ao final do curso.


Esta é uma atividade voltada para lideranças das organizações mistas, parceiras da MMM-RS.

HOMOFOBIA: violência que ameaça, decide e MATA!

  por Naiara Malavolta*


São muitos os fatores que constróem uma mentalidade preconceituosa e agressiva. Não precisamos ser mestras em psicologia para entendermos isso. No entanto, destes fatores a cultura e a educação - ou a falta da educação para a diversidade - são, sem dúvida, os mais preponderantes.
No Brasil, país de muitos preconceitos, desde muito cedo é comum ver as crianças praticando o hoje chamado bulling preconceituoso: chama-se negros e negras de macacos em qualquer campo de futebol; loiras de burras em salas de aula, meninos sensíveis de veadinhos e meninas com atitude de machorras. Pior: estes xingamentos são considerados "comuns da idade" na maioria das escolas, afastando o enorme grau de preconceito que trazem embutidos neles.
Esta "cultura" reproduzida pelas crianças é formada pelos exemplos domésticos (piadinhas, xingamentos ou termos inadequados usados ao corrigir o comportamento das crianças) e, mais forte que tudo, pelas imagens rotineiras dos programas de televisão e constróem cotidianamente adultos que têm preconceito e muitas vezes não sabem nem mesmo o porquê, ou de onde esta aversão (por isso o uso do termo fobia) veio.
Ensinar a pensar é uma das grandes tarefas que tem a escola na educação das crianças e um dos questionamentos mais importante é sem dúvida: porque existem papéis definidos para homens e mulheres? A quem estes papéis favorecem?
Nos assusta a quantidade de reações violentas com homossexuais nas ruas, praticadas por "cidadãos comuns", sem antecedentes - o que dificulta a punição, quase sempre convertida em trabalhos comunitários ou pagamento de cestas básicas.
O problema é que a falta de ação pública, como política de Estado (e não em ações de governo, como insistem alguns "gênios" hoje em dia), só faz piorar as coisas, transformando a impunidade em fator que reforça a cultura machista, racista e lesbofóbica no Brasil.
O fato, hoje, é que a homofobia no Brasil, assim como o machismo, é violenta: ela escolhe um alvo, ameaça, decide que vai acabar com aquela vida e MATA! Execuções bárbaras, sumárias, geralmente cometidas com requintes de crueldade, por motivos fúteis e, invariavelmente levadas a cabo por homens. Será, mesmo, que isso não quer dizer alguma coisa? Será mesmo que esta cultura tem de ser preservada?
No centro deste debate um fator me solta aos olhos: os fundamentalismos! Falo no plural porque dependendo da cor da pele e do gênero atacado, o fundamentalismo social entra em ação, mas o fundamentalismo religioso, este está no centro da grande maioria dos casos. Igrejas que esolhem ou escolheram alvos durante toda a sua história e que hoje voltam suas armas para nós, homossexuais.
Não que a religiosidade das pessoas seja problema. Entender isso no meu texto seria o equivalente a enteder que quando falo nos crimes cometidos por homens, imagino que todo o homem seja um criminoso. Não, óbvio que não se trata disso. Acontece que a religiosidade não é um problema quando manifesta por pessoas que têm cultura, discernimento, ou foram educadas pela escola ou pela vida de forma inclusiva, compreendendo a natureza e a riqueza da diversidade humana.
No entanto, esta mesma religiosidade, transformada em dogma sectário (como todo o dogma é) e fanático como a ignorância o faz ser, esta religiosidade, sim, é perigosa, porque está sendo usada como motor para o ódio, para a apropriação das mentes das pessoas e, inclsuive, dos espaços de poder nas esferas públicas. A frase "Deus vai te punir" é o recurso da hora quando nos atacam nas ruas, hoje em dia.
Falo tudo isso porque esta semana dezenas de lésbicas, ativistas do movimento LGBT do estado do Paraná, foram alvo de violência direcionada: e-mail e telefonemas ofensivos, ameaçadores, com termos de baixo calão foram direcionados para várias das nossas companheiras. Em muitos deles o termo DEUS apareceu várias vezes.
Tomamos providências, é claro, e certamente encontraremos as pessoas que as fizeram. No entanto, esta situação nos faz pensar a cada noite, antes de dormirmos: até quando? Quanto tempo mais teremos de vencer o medo diário de sairmos às ruas sem sabermos se não seremos nós as próximas vítimas? Até quando esta visbilidade escancarada ou a invisibilidade forçada serão as únicas armas disponíveis para nos defendermos?
Continuaremos lutando diariamente para mudar esta CULTURA que separa homossexuais de heterossexuais, mulheres de homens, negros de brancos, bons de maus, como forma de, polarizando, nos colocar em lados opostos da natureza humana, situação utilizada para justificar o medo, a aversão, o preconceito que leva à agressão, à violência e tantas vezes à morte. Mas não podemos mais fazer isso sozinhas! Esperamos, infelizmente ao som de marchas fúnebres, que todas as vozes se levantem!
"O que está acontecendo? O mundo está ao contrário e ninguem reparou? O que vocês está fazendo? Eu estava em paz, quando você chegou..." - Nando Reis - Relicário.
* Liga Brasileira de Lésbicas - articulação Regional Sul
LBL-RS - Liga Brasileira de Lésbicas - RS lbl.rs@brturbo.com.br

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Os jogos da fome


Esther Vivas

A crise alimentar açoita o mundo. Trata-se de uma crise silenciosa, sem grandes anúncios, que não interessa nem ao Banco Central Europeu, nem ao Fundo Monetário Internacional, nem à Comissão Europeia; mas que atinge a 870 milhões de pessoas, que passam fome, segundo indica o relatório "O estado da insegurança alimentar no mundo – 2012”, apresentado no dia 9 de outubro passado pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO).

Acreditamos que a fome está bem longe de nossos confortáveis sofás; que pouco tem que ver com a crise econômica que nos atinge. Porém, a realidade é bem distinta. Cada vez aumenta mais o número de pessoas que passa fome no Norte. Obviamente, não se trata da mesma fome que atinge aos países da África ou outros; porém, consiste na impossibilidade de ingerir as calorias e proteínas mínimas necessárias; e isso tem consequências sobre nossa saúde e nossas vidas.

Há anos, chegam até nós as terríveis cifras da fome nos Estados Unidos: 49 milhões de pessoas, 16% das famílias, segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, que incluem a mais de 16 milhões de crianças. Números que o escritor e fotógrafo David Bacon põe rosto em seu trabalho 'Hungry By The Numbers' (Famélicos segundo as estatísticas). As caras da fome no país mais rico do mundo.

No Estado Espanhol, a fome converteu-se também em uma realidade tangível. Sem trabalho, sem salário, sem casa e sem comida. Assim estão muitíssimas pessoas golpeadas pela crise. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, em 2009, calculava-se que mais de 1 milhão de indivíduos tinham dificuldades para consumir o mínimo necessário. Hoje, a situação, ainda sem cifras, é muito pior. As entidades sociais estão superlotadas; e nos últimos dois anos, duplicaram-se as demandas de ajuda por falta de alimentos, para comprar remédios etc. E, segundo informa a organização Save the Children, com cifras de 25% de pobreza infantil, cada vez são mais as crianças que comem somente uma vez ao dia, no restaurante escolar e graças a bolsas de estudo, devido a dificuldades econômicas enfrentadas por suas famílias.

Por isso, não é de se estranhar que, inclusive, o prestigiado jornal estadunidense, The New York Times, publicara, em setembro de 2012, uma galeria fotográfica de Samuel Aranda, ganhador do World Press Photo 2011, que, sob o título 'In Spain, austerity and hunger' (Na Espanha, austeridade e fome) retratara as consequências dramáticas da crise para milhares de pessoas: fome, pobreza, despejos, paralisações...; mas, também, muita luta e mobilização. O Estado Espanhol conta com as taxas de pobreza mais elevadas de toda a Europa, ficando atrás somente da Romênia e da Letônia, segundo um relatório da Fundação Foessa. Uma realidade que se impõe e vem a público, apesar de que alguns a querem silenciar.

A crise econômica, por outro lado, está intimamente ligada à crise alimentar. Os mesmos que nos conduziram à crise das hipotecas subprime, que originou o estouro da "grande crise”, em setembro de 2008, são os que, agora, especulam com as matérias primas alimentares (arroz, milho, trigo, soja...), gerando um aumento significativo de seus preços e convertendo-as em inacessíveis para grandes camadas da população, especialmente nos países do Sul. Fundos de investimento, companhias de seguros, bancos... compram e vendem ditos produtos nos mercados de futuros com a única finalidade de especular com os mesmos e fazer negócio. O que existe de mais seguro para investir do que a comida, se todos temos que comer a cada dia...?

Na Alemanha, o Deutsche Bank anunciava lucros fáceis para quem investia em produtos agrícolas no auge. Negócios similares eram propostos por outro dos principais bancos europeus, o BNP Paribas. O Barclays Bank ingressava, em 2010 e 2011, quase 900 milhões de dólares por especular com a comida, segundo dados do World Development Movement. E não temos porque ir muito longe. Catalunya Caixa oferecia a seus clientes grandes benefícios econômicos a custa de investir em matérias primas sob o slogan: "depósito 100% natural”. E o Banco Sabadell contava com um fundo especulativo que operava com alimentos.

Apesar de tudo que falam, a fome não tem tanto a ver com secas, conflitos bélicos etc.; mas com os que controlam e ditam as políticas agrícolas e alimentares e em mãos de quem estão os recursos naturais (água, terra, sementes...). O monopólio do atual sistema agroalimentar por um punhado de multinacionais, com o apoio de governos e instituições internacionais, impõe um modelo de produção, distribuição e consumo de alimentos a serviço dos interesses do capital. Trata-se de um sistema que gera fome, perda da agrodiversidade, empobrecimento camponês, mudança climática... e onde se antepõe o lucro econômico de uns poucos às necessidades alimentares de uma grande maioria.

‘Os jogos da fome’ era o título de um filme de ficção dirigido por Gary Ross, baseado no Best-seller de Suzanne Collins, onde uns jovens, representando suas comunidades, tinham que enfrentar-se para alcançar o triunfo e ganhar comida, bens e presentes para o resto de suas vidas. Às vezes, a realidade não está muito distante da ficção. Hoje, alguns "jogam” com a fome para ganhar dinheiro.

*Esther Vivas, membro de Centro de Estudios sobre Movimientos Sociales (CEMS) UPF. Tradução: Adital.
  Esther Vivas @esthervivas | facebook.com/esthervivas | www.esthervivas.com

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Informativo da MMM-RS out 2012

Companheiras da MMM-RS

Conforme reafirmamos em nossa Plenária Estadual da MMM, de 15 de julho de 2012, que mesmo estando em período eleitoral, nossa ação não deveria parar.
Desta forma, todas as agendas que avaliamos como prioritárias, não deixaram de ser acompanhadas ou organizadas, além de estarmos sempre atualizando nossa lista.

Abaixo algumas ações de carater estadual:

7 de agosto – ato em várias cidades pelos 6 anos da Lei Maria da Penha, a violência contra as mulheres e o feminicídio. Fizemos um material da MMM (panfletos, cartazes e lambes) e os adesivos da ofensiva contra o machismo.

24 de agosto e 29 de agosto → Jornada Lésbica Feminista (24 – debate e 29 ocupação do Largo Glenio Peres). Além de organizarmos nossa participação, tínhamos material específico (panfletos) e adesivos.

1º de setembro – Marcha contra a Mídia Machista, em Porto Alegre e outras cidades. Fizemos uma material específico (panfleto e adesivos contra o machismo, pirulitos e cartazes) e foi distribuído em nossa lista e blog: http:/www.mmm-rs.blogspot.com.br/2012/08/somos-mulheres-e-nao-mercadoria.html


28 de setembro dia Latino Americano de luta pela legalização do aborto - Neste dia como em todos os outros reafirmamos: ABORTO NÃO É CRIME. Ocupamos várias cidades do Estado e em Porto Alegre organizamos colagens e pichações nas ruas do centro de Porto Alegre. A ação foi realizada em conjunto com outros movimentos.
No dia 30 de agosto participamos de uma ação organizada pela Rede Feminista de Saúde e Marcha Mundial das Mulheres RS. Fotos aqui: http://www.flickr.com/photos/cintiabarenho/8040451629/in/photostream

Outubro -
Estado Laico - Estamos num momento fundamental do debate pelo ESTADO LAICO. Sendo esta uma pauta que interessa ao feminismo e a toda a sociedade, precisamos fazer pipocar notícias, textos, matérias sobre o tema.
Tudo que faça com que o debate circule nas redes.
Contamos com a ação militante de cada companheir@ neste momento.
 Além disto estamos, em conjunto com mais de 40 organizações, articuladas para novo pedido de agenda com o Governador do Estado, para o mês de outubro.
Comecem assinando e divulgando a petição, em breve ela será muito útil.
Este debate nos é caro, e temos a certeza que tod@s compreendem a importãncia de agirmos conjuntamente. (informativo da LBL-RS)

27 de outubro – Formação Feminista voltada para lideranças das organizações mistas, parceiras da MMM-RS

Esta é mais uma atividade dentro da nossa política de organizar formação feminista tanto voltada para as militantes da MMM como para mulheres de organizações que tem parceria com a Marcha. Além de pensarmos a metodologia e conteúdo desta formação, também tivemos uma preocupação com nossa autonomia financeira, assim esta formação terá um investimento de R$ 150,00 para as organizações (este valor é para 3 vagas e material de formação). Sortearemos ainda 1 bolsa da Frida Khalo entre todas e todos os colaboradores.

O conteúdo da formação (3 tópicos, sempre fazendo a relação mundo/Brasil):
manhã:
- pensamento moderno e feminismos nos séculos XVIII e XIX
- os feminismos do século XX – origem do 8 de março
- feminismos no novo milênio (o surgimento da Marcha Mundial das Mulheres)
- o que é ser feminsita?

Formadora: Prof. Iris de Carvalho, Historiadora pela Universidade de Santa Maria


29 de outubroSorteio da Rifa feministas de uma Câmera Fotográfica Diana Mini com Flash
Sorteio: 29/10/12  Concurso Loteria Federal - Valor: R$ 4,00
o prêmio: uma câmera analógica criada em 1982 na URSS comunista, que foram produzidas pela empresa LOMO, para que fossem máquinas baratas pequenas e fáceis de usar para que as famílias documentassem amplamente o estilo de vida soviético.
Um jeito divertido e diferente de fotografar ao acaso, de forma imprevisível. A Lomografia não é uma fotografia encenada, produzida; é uma fotografia do quotidiano.
A pequena Diana Mini usa filme fotográfico de 35mm para te dar adoráveis fotos quadradas e em meio frame. O Kit inclui o Diana F+ Flash e um livro. Além disso, há 12 diferentes filtros coloridos para utilizar na Diana F+ Flash.
Todos os talões que foram vendidos tem que retornar urgente para a Cintia com os valores dos cupons. Além da urgência em reunir os recursos, temos que ter os cupons todos juntos no dia do sorteio.


Novembro -
1º mês da Diversidade - TVE MOSTRA da DIVERSIDADE
É um projeto integrado entre Fundação Cultural Piratini e SEDAC, que tem também como parceiros institucionais - GHC (Grupo Hospitalar Conceição),  CODIC e Assembléia Legislativa - além de movimentos sociais de mulheres, negros, índios e LGBT.
A mostra se desenvolve a partir do tema transversal da diversidade, tanto no âmbito da cultura, da economia, da arte popular e dos movimentos sociais, aproveitando que o mês de novembro congrega diversas datas alusivas aos direitos humanos, conquistas sociais e ações afirmativas.
Serão 4 semanas de programação com exibição de documentários e filmes em quatro eixos temáticos principais: negritude, indígenas, diversidade sexual e mulheres. Durante o período, a criação de uma faixa de horário, por exemplo, de segunda a sexta-feira para exibição destes audiovisuais.
Para nós da MMM, sugerimos apenas as seguintes datas:
Dia 25/11, Dia Mundial da Não Violência pela Mulher – atividade com o conjunto dos movimentos feministas – fortalecimento das alianças feministas no RS
Dia 29/11, Dia Internacional da Solidariedade dos Povos Palestinos – com duas atividades autogestionárias – 1 em conjunto com outros movimentos e uma da MMM, nas quais contaremos com a presença de mulheres palestinas.
Dia 10/12, Dia de Ação Internacional – 24 horas de ação feminista ao redor do mundo, com ações em vários países do mundo, que acontecem sempre no mesmo horário - das 12h às 13h.
*Seminário - a proposta de data é de 5 a 7 de dezembro (quarta a sexta-feira), com um ato oficial de encerramento e entrega de documento final do seminário para o governador RS na 2ª feira, dia 10 de dezembro, de manhã
28 de novembro a 01 de dezembro - Fórum Social Mundial Palestina Livre, acontecerá em Porto Alegre, em atividades espalhadas pelo Centro Histórico.
Como divulgamos anteriormente, a MMM participou no dia de 24 de setembro, do seminário de formação promovido pela CMS de preparação rumo ao Fórum Social Mundial Palestina Livre, que contou com a participação da professora Analucia Pereira, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e da deputada Haneen Zoabi, deputada palestina no Knesset (parlamento israelense). Mais informações: www.wsfpalestine.net.

Dezembro - Dia de Ação Internacional – 24 horas de ação feminista da Marcha Mundial das Mulheres, ao redor do mundo, com ações em vários países do mundo, que acontecem sempre no mesmo horário - Dia 10/12, das 12h às 13h. Organize esta importante agenda em seu município também

A coordenação executiva
MMM-RS

domingo, 7 de outubro de 2012

Sementes em perigo


Esther Vivas*

"Grão que em diversas formas produz as plantas e que ao cair ou ser semeado produz novas plantas da mesma espécie". É desta forma que o dicionário define a palavra "semente". Entretanto, na realidade, uma "semente" é muito mais. A semente é o primeiro passo para a vida, para o fruto, para o alimento. Todavia, apesar do papel central que têm na agricultura, hoje muitas sementes se encontram em perigo de extinção.

Se ao longo de 12.000 anos de agricultura se manejaram por volta de 7.000 espécies de plantas e milhares de raças de animais para a alimentação, na atualidade, segundo dados da Convenção sobre a Diversidade Biológica, somente 15 variedades de cultivo e oito de animais representam 90% do nosso alimento. Esta perda de agrobiodiversidade não somente tem consequencias ecológicas negativas, como também implicam no desaparecimento dos saberes, dos princípios nutricionais e dos conhecimentos gastronômicos, e ameaça nossa segurança alimentar, ao dependermos de alguns poucos cultivos.

A globalização alimentar, em seu caminho por mercantilizar e fazer negócios com os alimentos, contribuiu, em poucos anos, com o desaparecimento de centenas de variedades agrícolas e pecuárias. E preferiu aquelas que melhor se adaptam às necessidades do mercado: serem transportadas por longas distâncias, que necessitam de menos cuidados, boa aparência, mais produtivas, etc.

A agricultura industrial e intensiva, a partir da Revolução Verde nos anos 60/70, com a finalidade teórica de melhorar e modernizar a produção agrícola e alimentar, acabou impondo sementes industriais, desacreditando as sementes camponesas e privatizando o seu uso. Através da assinatura de contratos, os camponeses passaram a depender da compra anual de sementes, sem possibilidade de poder guardá-las depois da colheita para plantá-las na temporada seguinte.

As sementes, que representam um bem comum, foram privatizadas, patenteadas, e definitivamente "sequestradas". E atualmente o mercado mundial de sementes está extremamente monopolizado: dez empresas controlam 70% do mesmo.

"Somos vítimas de uma guerra pelo controle das sementes. E o resultado desta guerra será determinante para o futuro da humanidade, porque todos e todas dependemos das sementes para nossa alimentação cotidiana" afirmava o movimento internacional La Via Campesina. Tomemos nota.

*Esther Vivas é membro do Centro de Estudos sobre Movimentos Sociais (Centro de Estudios sobre Movimientos Sociales) da Universidade Pompeu Fabra (Barcelona). Ela é a autora de “Em Pé Contra a Dívida Externa” (En pie contra la deuda externa – El Viejo Topo, 2008) dentre outras publicações. Tradução: Roberta Sá.


+ info: http://esthervivas.com/portugues

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Não se nasce mulher, torna-se mulher*


Por: Pâmela Cervelin**

A palavra cantada, de rima lavrada, abre passagem para uma prosa sobre histórias da caminhada. Na procura de indícios, o possessivo inerente aos escritos sobre histórias de vida não implica somente em uma, pelo contrário, chama para a sua prosa várias histórias, algumas conjugadas, outras desencontradas e todas à mercê de loucuras possíveis, abertas ao ato de perceberem os fios condutores das suas construções com os discursos sociais e culturais, arquitetados, requintados e (de)organizados historicamente. Devorei as palavras de Michelle Perrot e a antropofagia, enquanto processo cultural que me pauta, fez-me deglutição de letras. Comê-las, assimilando a essência e devolvê-las transformadas e transgredidas com os fragmentos do meu corpo. O ato de escrever e arremessar palavras escritas ao público é um fio de algodão que pede licença ao seu silêncio [este ainda destinado às mulheres]. É no silêncio que as palavras germinam. E são nos questionamentos e na subversão deste silêncio que emergimos oralidade e atravessamos as ondas. Ao transcrever vestígios do meu corpo como uma construção política e cultural, integro-o com as marcas da educação destinada às mulheres. Ainda hoje há silêncios, que mesmo silêncios, estão sujeitos à vigilância [tem muita vigilância vestida de certezas, privilégios e autoridade].  
Diários/correspondências: Quando criança e adolescente, a escrita privada e íntima praticada à noite, no silêncio do quarto (p.28) constituiu-se como um dos atos cotidianos. Na pauta, amores, novelas mexicanas, amigas, primas chatas, novelas mexicans, amigas, histórias de eu e os meus gatos bichanos, novelas mexicanase episódios da escola e personagens da literatura.  Perrot conta que o diário íntimo era um exercício autorizado para o controle pessoal das mulheres, já que tal prática exercia uma excessiva introspecção.  As cartinhas para o círculo de amigas na escola e na catequese era outra prática rotineira, me perguntando se a sociabilidade das palavras meigas e com canetinhas coloridas constituem-se como a expressão feminina recomendada pela sociedade. 
Educação: O processo de sexuação, com a educação destinada às meninas e a instrução dedicada aos meninos, persiste ainda? Mesmo requisitadas para todo o tipo de tarefas domésticas, a menina é mais educada do que instruída, mais vigiada, mais cuidada, afinal sentar de pernas abertas é uma afronta!  Na construção das identidades, a glória é masculina e a felicidade, feminina (p.99). Assim, desde pequena, como uma aprendiza de dona-de-casa, fui marcada pelos líquidos simbólicos desta estrutura de identidade feminina que nos é imposta: a água e o leite. Estes líquidos encaixam-se no ciclo mecanizado da vassoura, do pano, da colher e da panela [podemos ainda citar o tanque, o detergente, o rodo, a esponja].  Quando entram em ação, após a prévia das propagandas televisivas dos alvejantes e amaciantes floridos e rosados e das dicas de cozinha dos programas da manhã, protagonizam juntos o varrer, o lavar, o cozinhar, o arrumar, o limpar, o encher-a-pança do marido, dos filhos, dos irmãos, do pai. Lavar a louça é uma terapia e cozinhar uma dádiva cotidiana irresistível, afinal a sedução pela comida é ainda requisitada para o funcionamento da família.  
Menstruação: Além da água, do leite, há um terceiro líquido simbólico: o sangue. A menstruação é tida como um incômodo, logo o sangue tem como destino o lixo do banheiro.  E, se a histeria era considerada doença de mulher nervosa pela sua própria natureza, hoje a TPM é a linha contínua e requintada do controle que a medicina masculinizada e o mundo exercem sobre o nosso corpo.  Mas geralmente o que se vê é o silêncio do pudor, ou mesmo da vergonha, ligado a sangue das mulheres: sangue impuro, sangue que ao escorrer involuntariamente é tido como “perda” e sinal de morte. O sangue macho dos guerreiros “irriga os sulcos da terra” de glória. O esperma é sementeira fecunda (p.44). Pois é, cresci em espaços que o sangue da mulher é impuro, sujo, com odor ruim e colocado no esquecimento do absorvente plástico. 
Como extrapolar as escritas noturnas, a água, o leite e o sangue e re-significá-las num movimento de construção de autonomia dos nossos vidas? Parto para percorrer páginas úmidas das escritoras femininas e da ciranda pelos direitos das mulheres.
* O título da prosa é memória-palavra da Simone de Beauvoir. A prosa multiplicou-se a partir do livro Minha História das Mulheres, escrita por outra francesa, Michelle Perrot. 


**Pâmela Cervelin é estudante de História e militante da MMM no Rio Grande do Sul.

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quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Brasil 2030: Um País justo e desenvolvido

Na edição especial de comemoração de seus 18 anos de existência, a revista Carta Capital convidou especialistas e personalidades de diversas áreas para darem sua opinião sobre como estará o país daqui a 18 anos. Uma dessas personalidades foi a presidenta Dilma, cujo artigo reproduzimos abaixo.  
Por Dilma Roussef *

Na última década, adotamos um modelo de desenvolvimento baseado no crescimento, na estabilidade e na inclusão social. Hoje somos a sexta economia mundial e estamos nos tornando um país de classe média, oferecendo oportunidades para todos os brasileiros. O Brasil de 2030 será a tradução de todo esse esforço que temos feito.
Não haverá pessoas vivendo em extrema pobreza no Brasil de 2030. Desde 2003 perseguimos radicalmente esse objetivo. Por meio do crescimento consistente da economia, da geração de empregos e de instrumentos efetivos de distribuição de renda, estamos chegando lá. Começamos com o Bolsa Família, no governo Lula, que abriu caminho para o Brasil sem Miséria. Elevamos 40 milhões de pessoas à classe média e continuamos, a cada dia, superando metas e desafios para garantir a inclusão dos que ainda vivem na extrema pobreza.
O Brasil de 2030 será um país que cuida de todas as suas crianças. Para isso, demos um grande passo com a criação do Brasil Carinhoso, que complementa a renda das famílias que tenham crianças até 6 anos de idade e uma renda menor que 70 reais per capita.
O Brasil de 2030 será também o país que garante acesso à creche, à educação em tempo integral, à formação técnica e superior a todos os brasileiros. Certamente, farão parte desse futuro os estudantes brasileiros que, por meio do programa Ciência sem Fronteiras, terão ampliado seus conhecimentos nas melhores universidades do mundo.
No Brasil de 2030, qualquer cidadão terá acesso a bons serviços e a um atendimento ágil na rede pública de saúde. Com mais recursos e investimentos numa gestão eficiente, estamos aprimorando e fortalecendo o SUS, um dos maiores sistemas públicos de atendimento universalizado do mundo.
Daqui a 18 anos, o Brasil será um país inovador e tecnologicamente desenvolvido, e também o país do pleno emprego e do empreendedorismo.
Manterá o ritmo de sua evolução nesta primeira década do século, quando foram criados mais de 19 milhões de empregos e formalizados mais de 2 milhões de microempreendedores.
Conseguimos antever também um Brasil mais moderno e competitivo na área de infraestrutura, na qual estamos investindo fortemente. O Plano de Investimento em Logística nas áreas de ferrovias, rodovias, portos e aeroportos dará ao Brasil uma infraestrutura compatível com o seu tamanho e com as necessidades de sua população. Sem abrir mão de seu papel de planejamento e fiscalização, o Estado continuará, em parceria com a iniciativa privada, executando as medidas necessárias para sustentar o crescimento da economia, do emprego e da renda de todos os brasileiros.
O Brasil de 2030 estará colhendo os frutos da opção pela sustentabilidade. Crescer, incluir, proteger e preservar continuará sendo a base de nosso modelo de desenvolvimento. Ainda seremos um país com grandes reservas naturais, que explora racionalmente a sua biodiversidade e tem a matriz energética mais limpa e eficiente do mundo. Ao mesmo tempo, nas próximas décadas, o Brasil alimentará o mundo como maior produtor agropecuário do planeta.
Mantido o ritmo do nosso crescimento, a pujança da nossa democracia e a constante evolução social e econômica do nosso povo - e não vejo motivo para que essa trajetória venha a ser interrompida -, tenho certeza de que no Brasil de 2030 viverão os filhos da igualdade, da inclusão e da justiça social. Uma geração preparada para assumir as rédeas do seu país e viver os benefícios de uma era de prosperidade.
E assim que vejo o país do meu neto. Olho para o Gabriel com um misto natural de curiosidade e preocupação, como acontece com todos os avós. E toda vez que tento imaginá-lo com 20 anos, iniciando a sua vida adulta, começando a lutar para construir sua história pessoal, sou otimista. Eu o vejo, como a milhões de jovens de sua geração, vivendo bem em um Brasil feliz, generoso e justo com todos os seus cidadãos e cidadãs. Um Brasil orgulhoso de ser o que é: um grande país.
* Dilma Rousseff é presidenta da República Federativa do Brasil.