domingo, 25 de abril de 2010

Marcha Mundial das Mulheres e a Luta contra as Mudanças Climáticas

A Marcha Mundial das Mulheres esteve presente à Conferência Mundial dos Povos sobre Mudanças Climáticas em Cochabamba na Bolívia.
Durante essa ocasião realizamos uma atividade de debate em parceria com a REMTE (Rede de Mulheres Transformando a Economia) intitulada: Economia para a vida, justiça para as mulheres e para a Pachamama, onde foram discutidos os impactos das mudanças climáticas na vida das mulheres.
Outro momento importante foi o dia 19 de abril quando nos reunimos com outros movimentos de todo o mundo na Assembléia dos Movimentos Sociais.

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A crise climática afeta mais às mulheres
Durante as catástrofes naturais cada vez mais freqüentes como: secas, terremotos e inundações, as mulheres são as mais afetadas pela crise climática, tendo que sustentar os lares em suas tarefas de cuidado: alimentando, buscando água, produzindo, reproduzindo a vida, tarefas essas que têm que ser cumpridas em condições muito mais difíceis e severas.
“As mudanças climáticas afetam de maneira direta as condições de vida e de trabalho das mulheres, particularmente por sua proximidade aos elementos de vida, como a agricultura, seu contato com a água e para poder cumprir com o ciclo de cuidado da vida que lhe foi transferido como responsabilidade prioritária”, disse Magdalena León, Coordenadora da REMTE Rede Mulheres Transformando a Economia do Equador, ao concluir o painel “Economia para a Vida” realizado no contexto da Conferência Mundial dos Povos sobre Mudanças Climáticas e os Direitos da Mãe Terra, em Cochabamba.
“Nosso papel na alimentação é fundamental, é um dos âmbitos mais afetados; e em todo o ciclo do plantio e de colheita, de processamento de alimentos e no espaço urbano na provisão de alimentos do dia a dia, são geradas situações de escassez e carência, tudo isso torna mais complexa a situação de trabalho das mulheres”, afirmou León.
Frente a essa realidade, o desafio mais importante é sustentar as reivindicações por justiça climática, ecológica a nível internacional; os responsáveis têm que assumir os danos causados mudando suas próprias modalidades de produção industrial poluentes, seus níveis e tipos de consumo contaminantes e depredadores que estão causando este impacto. “É preciso que haja um fluxo de recursos de compensação ainda que tardio e parcial, para reparar e restaurar o dano ocasionado e gerar condições para que possamos impulsionar projetos próprios de bem viver”, enfatizou a Coordenadora da REMTE- Equador.
A historia do protocolo de Kyoto, que entrou em vigor em fevereiro de 1995 e foi ratificado por 190 países, com exceção dos Estados Unidos e China - as potências mais contaminadoras - voltou a repetir-se na cúpula climática de Copenhague em dezembro de 2009, que acabou fracassando.
Frente a esse panorama, Magdalena León, considera que estamos em um momento onde o poder geopolítico dos países desenvolvidos é visto como fragilizado pela própria magnitude da crise planetária e pelos níveis de catástrofes que vão gerando consciência na humanidade.
A Conferência Mundial dos Povos sobre Mudanças Climáticas e Direitos da Mãe Terra tem como horizonte gerar poder geopolítico para os povos frente ao poder das potências. “A convocatória que fez o presidente Evo Morales é uma convocatória aos povos, é atuar como povos, fazer justiça como povos frente a instituições (países desenvolvidos) que estão corrompidas e incapazes de encontrar soluções para o mundo, frente a uma potência que depreda a vida. Agora a voz dos povos tem que alcançar o nível de tomada de decisões, o que até agora não foi conseguido”, finalizou León.

Reconhecer o trabalho das mulheres produtoras e reprodutoras.

“A construção de um novo modelo de desenvolvimento social que combata o capitalismo, deverá reconhecer as mulheres como produtoras, seu trabalho reprodutivo e o reconhecimento de sua liderança social, sem discriminação, para a condução da sociedade”, expressou Rosa Guillen, coordenadora da REMTE do Peru e militante da Marcha Mundial das Mulheres.
Guillen afirmou que: “temos que entender que o capitalismo afetou mais às mulheres porque negou o trabalho cotidiano de cuidar da vida, de cuidar da saúde e das famílias, de cuidar da alimentação, além disso, tornou invisível este trabalho e quer controlar o trabalho em favor da geração de riquezas.”
O modelo capitalista gera desigualdade das mulheres frente aos homens no trabalho, “às mulheres são dados salários baixos, não se valoriza o trabalho e a contribuição das mulheres”, disse.
Um dos grandes desafios da luta das mulheres é conseguir que a sociedade reconheça que as mulheres têm aportes nas lutas comuns, e ter sua liderança respeitada. “Juntos homens e mulheres devemos construir uma transformação que gere igualdade, possibilidades de desenvolvimento sustentável, o Bem Viver para homens e mulheres como família e como sociedade.”

As mulheres indígenas monolíngües são as mais vulneráveis do planeta

A vulnerabilidade afeta de maneira diferente às mulheres e aos homens nos riscos de desastres naturais, pelas desigualdades existentes na educação, falta de informação, alimentação, manifestou Rosa Ribeiro da Marcha Mundial das Mulheres do Peru.
“Enquanto os homens podem chegar a ter nível médio, as mulheres são analfabetas, enquanto eles têm acesso à informação, elas têm menos; enquanto os homens se alimentam melhor, as mulheres sempre ficam com o resto na panela, e sobretudo em tempos de seca, quando há muito pouca comida as mulheres comem muito pouco”, indicou Ribeiro.
Para que uma população seja afetada por um evento “hidro climático”, essa população precisa estar em um nível de vulnerabilidade, sem poder responder nem recuperar-se frente a esse evento. Por exemplo, viver junto a um rio, a torna vulnerável à inundações.
As mulheres mais vulneráveis são as indígenas monolíngües e ao não ter nenhum nível de participação em suas organizações mistas e nos espaços de desenvolvimento local, isso as expõe aos riscos de desastres. “Quando vem uma epidemia, essa enfermidade afeta as mulheres, aos meninos e meninas, essa é a nossa vulnerabilidade”, enfatizou.
Ribeiro argumentou que quando ocorrem os desastres os que migram primeiro são os homens e as mulheres ficam no controle das atividades produtivas e do cuidado dos filhos e filhas. Assim mesmo não contam com um registro que demonstre que são donas de suas moradias, o que é difícil para as mulheres comprovarem. Ainda mais quando elas não têm documento de identidade e não falam castelhano, diante dessas adversidades não podem reconstruir suas casas.
O evento mais catastrófico para as mulheres é a seca, pois não deixa “nada’, as obrigando a estratégias como o tráfico e a prostituição para conseguirem alguma renda e o alimento diário.
De forma geral, segundo Ribeiro, a sociedade torna invisível esses problemas pro sua complexidade. Um desafio das mulheres é fazer respeitar os direitos da Mãe Terra dando visibilidade aos problemas que afetam a vida das mulheres, assim se dará um passo importante para o BEM VIVER.
Harold Santos/REMTE /Minga informativa dos movimentos sociais


Carta da Assembléia dos Movimentos Sociais

Os movimentos, redes e organizações sociais reunidos na Assembléia dos Movimentos Sociais realizada em Cochabamba, no marco da Conferência Mundial dos Povos sobre a Mudança Climática, saudamos a iniciativa do companheiro Presidente Evo Morales Ayma e respondemos à convocação global para enfrentar a mercantilização e a privatização dos bens comuns e do próprio debate sobre as mudanças climáticas.Avaliamos que a questão da mudança climática é importante ao lado de outras manifestações da crise sistêmica global. Para realmente confrontar a ofensiva imperialista devemos frear a militarização de nossos territórios e a criminalização dos movimentos sociais, toda a agenda neocolonial contida nos Tratados de Livre Comércio, o poder das transnacionais e, especialmente, o modelo extrativista e o agronegócio que promovem a privatização da vida e da natureza.

As resistências estão sendo construídas desde a inter-relação de diversas perspectivas anticapitalistas, antipatriarcais, anticoloniais e anti-racistas, que afirmam que os povos não pagarão por esta crise sistêmica, ao mesmo tempo que avançam nas alternativas que buscam outro paradigma centrado na igualdade, no bem viver e na soberania dos povos.
Este processo de articulação em permanente construção tem caráter dinâmico, amplo, popular e descentralizado, e procura uma maior convergência entre os movimentos sociais para fortalecer as mobilizações populares. A partir da Assembléia dos Movimentos Sociais nos comprometemos a ampliar esta articulação fortalecendo os processos na Ásia, a África, América do Norte e a Europa.Reafirmamos que um dos desafios principais é fortalecer nossa plataforma de lutas e alternativas comuns em um processo que se reforça nas regiões e que procura repercutir em nível global.

Este processo da Assembléia dos Movimentos Sociais interage em uma agenda que se compõe de muitos momentos chave, entre os quais a Cúpula dos Povos Enlaçando Alternativas IV em Madri ( 14 a 18 de maio), o Fórum Social dos Estados Unidos, o Fórum Mesoamericano contra os Agronegócios em El Salvador ( 3 a 5 de junho), o IV Fórum Social Américas em Assunção ( 11 a 15 de agosto), o dia 21 de setembro - dia mundial contra os monocultivos - e o Dia de Ação Global contra a Monsanto (16 de outubro), o IV Fórum Social Mundial das Migrações no Equador (outubro), o ato da terceira Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheres na República Democrática do Congo ( 14 a 17 de outubro) e o processo de mobilização para Cancún onde se realizará a COP 16. Neste processo, avaliamos realizar também no mês de outubro uma semana de ação direta global pela justiça climática, unificando lutas, a exemplo do que vêm fazendo os movimentos que resistem à privatização e à mercantilização da água no “Outubro Azul”.

Continuaremos apostando na Assembléia dos Movimentos Sociais como um espaço dinâmico e articulador de nossos processos e ações e mais uma ferramenta para coordenar nossas lutas.
Esperamos que os resultados desta conferência em Cochabamba fortaleçam a mobilização e a resistência, principalmente com o Plebiscito Mundial sobre a Mudança Climática - que devemos promover, impulsionar, debater e articular em nossos movimentos - como parte importante do processo de conscientização para Cancún, assim como com o Tribunal dos Povos sobre Dívida Ecológica e Justiça Climática.Convocamos os movimentos sociais do continente e do mundo a impulsionar uma ampla mobilização unitária e popular para exigir transformações, denunciando os responsáveis pelas falsas soluções à crise sistêmica - incluindo a crise climática.

Conferência Mundial dos Povos sobre as Mudanças Climáticas
Cochabamba - 21 de Abril de 2010

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