segunda-feira, 8 de junho de 2020

Jornada de Formação Feminista: MULHERES LATINO-AMERICANAS EM DEFESA DA VIDA - CUIDANDO NOSSOS CORPOS-TERRITÓRIOS



Olá a todas as marchantes,

Seguindo nosso compromisso com a Jornada de Formação Feminista da Marcha Mundial das Mulheres RS para a 5º Ação Internacional, e também dando sequência ao que assumimos como compromisso em estar compartilhando, estamos no 4º módulo da jornada, publicando uma série de artigos sobre ecofeminismos, feminismo e ecologia, feminismo e meio ambiente e etc. Os encontros estavam organizados em formato presencial, mas frente a Pandemia causada pelo Covid-19, estamos reorganizando as agendas e encontrando a melhor maneira de estarmos conectadas – virtualmente, e manter forte nossa rede feminista durante este período de distanciamento social.


Nesta etapa da jornada, retomamos o artigo "As feministas exigem: Amazônia fica, Bolsonaro sai!", por Natália Lobo, militante da MMM, publicado no site da SOF - Sempreviva Organização Feminista. (disponível em http://www.sof.org.br/as-feministas-exigem-amazonia-fica-bolsonaro-sai/)


"As feministas exigem: Amazônia fica, Bolsonaro sai!

A natureza e os bens comuns são elementos centrais na nossa luta feminista. Segundo a Economia Feminista, paradigma que temos debatido muito nos nossos espaços militantes, nós somos interdependentes como pessoas, e ecodependentes na relação com a natureza. O trabalho das mulheres, que é invisibilizado, garante a sustentabilidade da vida, da mesma forma que a natureza é a base de sustentação da vida, aquilo que torna possível que as comunidades e pessoas existam e se reproduzam. Nos reconhecer enquanto interdependentes e ecodependentes é fundamental na nossa estratégia de luta, e temos afirmado que a libertação das mulheres está intimamente ligada com a autonomia dos povos sobre suas vidas e seus territórios.

 A sociedade está vivendo um momento do neoliberalismo em que a contradição entre o capital e a vida se apresenta como nosso maior conflito. Além de explorar nosso trabalho, o capitalismo nessa fase tem avançado cada vez mais sobre nossos corpos e territórios, expandindo o controle sobre nossas vidas e sobre as bases que a sustentam. Por este motivo, o que tem ocorrido na Amazônia é muito importante para o nosso debate feminista. O avanço do agronegócio e da mineração sobre a floresta é motor de um modelo que, nós sabemos, causa destruição, morte e precarização da vida das mulheres.
 
O ritmo de destruição dos nossos bens comuns tem sido cada vez mais rápido no Brasil, o que coloca a questão da Amazônia no centro de muitos debates, nacionais e internacionais. Nós, mulheres, estamos atentas a isso há muito tempo. Quando os empreendimentos de mineração e agronegócio chegam, as mulheres são as primeiras a terem a vida afetada pela perda de terra para produção de alimentos para o autoconsumo, pela privatização da água, assim como pelo aumento da violência e da exploração sexual.

 Por isso nos preocupa muito o fortalecimento desse modelo, impulsionado pela política do governo Jair Bolsonaro: com a diminuição da fiscalização ambiental, a flexibilização de leis que garantiam a conservação e a retirada de direitos das comunidades, o incentivo a atos de violência e destruição por parte de latifundiários e donos de empresas. Acompanhamos em 2019 no Brasil uma escalada de violência contra comunidades, lideranças e até agentes de órgãos ambientais (como o Ibama). No dia 10 de agosto deste ano, fazendeiros do município de Nova Progresso, no Pará, marcaram a ação que denominaram de “Dia do Fogo”, onde combinaram de realizar incêndios de forma orquestrada. Os incêndios afetaram enormemente a população e uma unidade de conservação da região. Os próprios fazendeiros assumiram que se sentem amparados pela política do governo federal para tomar tais ações: afirmaram que a data tinha o intuito de mostrar para o presidente que eles “querem trabalhar”.

 O caso de Nova Progresso é emblemático dos tempos em que estamos vivendo, mas sabemos através de dados do INPE – órgão que está sendo sistematicamente atacado por Bolsonaro – que o número de queimadas aumentou na Amazônia inteira. O número de focos de incêndio  triplicou em relação ao mês de agosto de 2018, e 1.701km² ( o equivalente a 170.100 campos de futebol) de floresta foram desmatados. A ocorrência de incêndios naturais na Amazônia é muito rara devido a umidade, então é certo que esse aumento não tem relação com alguma possível alteração no clima deste ano. Eles foram ocasionados como um instrumento de desmatamento, com o intuito de aumentar ainda mais a expansão territorial do agronegócio. Depois da queimada, os latifundiários avançam para dominar mais terras, com mais violência.  Os incêndios também aumentaram em quase todos os outros biomas brasileiros e estão ocorrendo também em países vizinhos, na Amazônia Boliviana e no Pantanal Boliviano e Paraguaio.

 Estes casos mostram que este tipo de ataque à vida e às comunidades tem se intensificado não só no Brasil, mas também em outros países da América Latina. A ascensão da extrema direita no Brasil é parte de uma dinâmica internacional, e que impacta particularmente a nossa região, legitimando e incentivando o avanço das fronteiras do agronegócio e da mineração. Por este motivo, nossas lutas também são construídas regionalmente: contra as empresas transnacionais, a financeirização da natureza, a privatização e militarização de nossos territórios, a violência racista e a criminalização dos movimentos sociais. A Jornada Continental Pela Democracia e Contra o Neoliberalismo tem sido um espaço de afirmarmos que nossa estratégia de luta para estes tempos deve necessariamente ser conjunta, e a solidariedade com o povo venezuelano na luta contra o imperialismo estadunidense tem sido um exemplo disso.

 Os governos e empresas ignoram os recentes crimes da Vale em Mariana e em Brumadinho e seguem colocando a vida em risco com esse modelo destrutivo. Eles querem entregar a Base de Alcântara aos Estados Unidos, afetando os povos quilombolas no Maranhão e acabando com nossa soberania. Não podemos permitir que a extração e a exploração predatória que já é um problema, se torne regra. Não admitimos a submissão do nosso povo e do nosso país aos interesses dos Estados Unidos. Queremos viver em um país soberano e que coloque a vida em primeiro lugar!

 A ação das queimadas na Amazônia foi largamente noticiada e gerou rejeição e indignação em diversos setores da população. O governo Bolsonaro começou a ser muito pressionado por organismos e movimentos nacionais e internacionais. Como resposta a estas pressões, o que eles tem nos apresentado é mais das falsas soluções do mercado, que não resolvem os problemas reais da vida das pessoas. O Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, depois de receber inúmeras críticas pela falta de política ambiental que culminou no aumento vertiginoso dos incêndios,  tem mantido um discurso de que só poderemos manter a Amazônia preservada se fizermos ela gerar lucro para as empresas. Em coluna para o Jornal Folha de São Paulo, o ministro afirmou que: “Durante muito tempo se defendeu que a floresta em pé vale muito mais do que deitada. Todos concordamos com isso. Porém, para que esse discurso se concretize, é preciso gerar valor efetivo à biodiversidade: investimentos privados, patentes, pesquisa e desenvolvimento, cadeias produtivas e tudo mais que faça com que valha a pena preservar.”

 Este tipo de discurso já é um conhecido dos movimentos que lutam pela agroecologia e pela defesa dos bens comuns. Sempre que urge a necessidade de conter a devastação ambiental, os agentes do mercado nos oferecem essas falsas soluções. Essa ideia de que a floresta precisa gerar dinheiro para que “valha a pena” preservá-la ignora o fato de que as comunidades tradicionais tem sobrevivido historicamente em harmonia com a floresta justamente por estarem em luta contra sua privatização.

 Sabemos pelos relatos de comunidades que já tem experiências da dita Economia Verde – o mesmo capitalismo de sempre com maquiagem de sustentabilidade – em seus territórios, notadamente no estado do Acre, que este tipo de desenvolvimento não gera nenhum benefício para as comunidades. Ao aceitarem que a floresta seja vendida na bolsa de valores, através dos créditos de carbono, as comunidades perdem seu direito ao território, recebem limitações nas suas práticas tradicionais de agricultura e começam a se sentir mais vigiadas e controladas por mecanismos de fiscalização.

 Portanto, em termos de política ambiental os governos neoliberais têm apresentado apenas duas opções: destruição completa da natureza e dos bens comuns em nome de mega empreendimentos do agronegócio e da mineração, ou financeirização da natureza que culmina em um controle absoluto dos modos de vida das comunidades. Na economia verde, esses são caminhos que se complementam em uma lógica de compensação que só aprofunda a lógica da acumulação capitalista.
 
Como feministas temos rechaçado estas duas opções, afirmando que nenhuma delas servem para ser um projeto emancipatório para as comunidades e para as mulheres. No mundo que queremos viver, e lutamos para construir, a relação com a terra é construída através da agroecologia e da soberania alimentar e energética. As lutas que travamos para isso são amplas, como a luta pela reforma agrária, mas também estão sendo feitas nas vidas cotidianas das mulheres na construção dos comuns: no trabalho em mutirão, na manutenção dos bancos de sementes, nas cozinhas coletivas.

 Com lutas e práticas, mostramos que temos um projeto de longo prazo para a sociedade, que envolve destruir o capitalismo patriarcal e racista, mudar radicalmente nossa relação com a terra e com os alimentos e organizar a economia colocando a vida em primeiro lugar. Não admitimos ter uma vida melhor só quando atingirmos todos os nossos objetivos. No caminho até eles, estamos construindo formas de vida melhores enquanto lutamos contra a privatização de nossos territórios e bens comuns, construímos a agroecologia e o feminismo e afirmamos que nossos corpos, vidas e territórios não estão à venda."




E dando continuidade a série de tradução, apresentamos o texto MULHERES LATINO-AMERICANAS EM DEFESA DA VIDA - CUIDANDO NOSSOS CORPOS-TERRITÓRIOS, escrito por Angela Daniela Rojas Becerra da Rede Latino-americana de Mulheres Defensoras dos Direitos Sociais e Ambientais, publicado na revista Madreselvas - Teciendo Ecofeminismo (disponível em https://amigosdelatierra.org.ar/biblioteca/). 





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"MULHERES LATINO-AMERICANAS EM DEFESA DA VIDA - CUIDANDO NOSSOS CORPOS-TERRITÓRIOS
Por Angela Daniela Rojas Becerra, Rede Latino-americana de Mulheres Defensoras dos Direitos Sociais e Ambientais.

A Rede Latino-americana de Mulheres Defensoras dos Direitos Sociais e Ambientais é uma organização de mulheres latino-americanas que repercute nas políticas, projetos e práticas que contribuem com a defesa dos direitos das mulheres defensoras, direitos ambientais e direitos da natureza, mediante ações de impacto e solidariedade nos cenários regional e global através de encontros, intercâmbios, espaços de formação, de acompanhamento de casos e de processos de organização social. As ações da rede buscam fortalecer e tecer novas pontes entre os feminismos e os ecologismos, entre a defesa dos direitos dos povos, das mulheres e da natureza.
Denunciamos publicamente as múltiplas e sistemáticas violências cometidas pelo extrativismo mineral, que em muitos casos com a conivência do Estado e do crime organizado, são praticadas com total impunidade contra as defensoras dos territórios na América Latina. Neste sentido, promovemos uma campanha que se intitula “Reexistir” e busca informar e promover um papel mais ativo de denúncia e defesa, assim como repercutir no seguimento e cumprimento de políticas públicas e instrumentos que garantam os direitos das defensoras (www.reexistir.com).
Para seguir unindo forças como mulheres defensoras, nos reunimos em Chachimbiro (Equador) de 4 a 10 de agosto de 2018, quando assumimos a tarefa de analisar o contexto político na América Latina e o papel das mulheres nas lutas pela autonomia dos territórios, principalmente as mulheres que fazem frente à mineração.
Convocamos mulheres do Peru, Bolívia, Equador, El Salvador, Chile, Colômbia e contamos com convidadas do Brasil, Venezuela, Argentina e México, a partir da chamada: Reforçando os fios do nosso tecido entre mulheres pela defesa da vida e de nossos corpos-territórios.
Neste cenário, reconhecemos que são várias situações problemáticas que temos em comum nesses países a cerca da defesa de nossos territórios, como consolidação da economia baseada no extrativismo, que por sua vez coincide com a tomada de poder pela direita em alguns governos; violação sistemática dos Direitos Humanos vinculada a defesa dos territórios, disputa pela água e iniciativas contra sua privatização; disciplinamento e controle dos “territórios corpo” e dos “territórios terra” através do medo e da violência; violência e criminalização de lideranças; aplicação do discurso “interesses nacionais em recursos naturais estratégicos” para argumentar políticas de mau uso das terras, como também o progresso e o crescimento econômicos como único caminho, entre outros.
Frente a este panorama de repressão e violência, identificamos e analisamos também a força que tomaram as lutas das mulheres a cerca da defesa da natureza e nossos corpos. Testemunhamos a articulação de mulheres diversas da América Latina que lutamos para que as autonomias sejam o princípio da nossa existência.
Neste sentido, trazemos nosso trabalho como Rede, como organizações e como mulheres em defesa da vida, os desafios que temos no contexto mencionado previamente, entre os quais estão:
- Seguir dando voz as mulheres que se encontram em contexto de conflito ambiental;
- Fortalecer as mulheres defensoras em cenários desfavoráveis as lutas por terra e meio ambiente, mas também em suas lutas contra o sistema patriarcal, colonial e capitalista;
- Identificar, visibilizar e partilhar iniciativas de ações autônomas propostas por mulheres que sejam alternativas às ideias de progresso e desenvolvimento impostas;
- Impulsionar a articulação de lutas feministas urbanas com as lutas em territórios rurais-periféricos.
Finalmente, como Rede Latino-americana de Mulheres Defensoras dos Direitos Sociais e Ambientais apostamos na união a partir da construção de autonomias. Reforçamos nossa identidade ecofeminista em uma luta radical contra a mineração baseada na sororidade e em uma perspectiva territorial e diversa que nos permita nutrir os processos de defesa de nossos “territórios corpos” e “territórios terra”."

sexta-feira, 5 de junho de 2020

#FORABOLSONARO - Dia nacional de agitação contra o Bolsonaro


Em 05 de junho 1972, em Estocolmo, durante uma das conferência da ONU sobre o meio ambiente, foi instituído o Dia Mundial do Meio Ambiente. Neste 05 de junho de 2020, em meio a uma crise causada pela pandemia do Coronavírus, não há o que se comemorar. A pandemia é fruto de um sistema econômico capitalista, patriarcal e racista, que tem o lucro como centralidade e objetivo primordial, assim considerando os territórios e os bens comuns como “recursos” e espaços a serem explorados ao máximo, muitas vezes até a degradação. A complexa relação globalizada entre as importações e exportações de alimento, lixo, explorações minerais, desmatamento, violação de direitos humanos, proporcionou o cenário para a crise sanitária. 


Aonde há resistência, há violência, expulsão e morte. Lembramos dos rompimentos das barragens de mineração na bacia do Rio Doce, do desastre da usina nuclear de Chernobil, da expulsão de milhares de famílias que moravam entorno do rio Xingu para construção de Belo Monte, a violência estatal contra quem vivia nas áreas urbanas sedes dos megaeventos como copa do mundo e olimpíada, o genocídio há 500 anos dos povos indígenas, entre tantos outros. A lista é gigantesca.


Neste 05 de junho de 2020, algumas semanas depois do ministro do meio ambiente do governo Bolsonaro, Ricardo Salles, declarar que é um bom momento para “passar a boiada” enquanto a mídia está voltada para o Covid, declarou, em outras palavras, que o momento está favorável para afrouxamento de legislações protetoras de territórios, de desmonte de políticas públicas de fiscalização dos crimes socioambientais como, por exemplo, o desmatamento, articulando ações que facilitam e legitimam a violência e o acaparamento*. O incentivo ao agronegócio para as empresas transnacionais, das grandes monoculturas que não matam a fome do povo e negam o direito a terra e ao trabalho pra milhões de famílias, em vez do incentivo de uma agricultura familiar e ecológica, é também incentivar o aceleramento das mudanças climáticas e de novos cenários às novas pandemias. Aqui, percebe-se que o exercício do pensar e, não menos importante, do sentir as relações entre todos esses elementos, naturais, culturais e energéticos, apesar de muito complexos, é potência de luta para resistir e transformar.


O recesso da economia e o distanciamento social humano em tempos de pandemia não deve ser visto como “bom para a natureza”, pois esta forma de pensar exclui os seres humanos como seres naturais, animais, que em um longo e contínuo processo de interação com o planeta terra e seus elementos evoluiu, construindo uma biodiversidade riquíssima. Este momento está sendo cruel com aqueles que historicamente são vítimas de processos de exclusão, segregação, violação de direitos, e será assim com as mudanças climáticas (que já estão acontecendo). As mulheres, ainda mais as mulheres negras, estão sofrendo imensamente com a falta de renda, emprego, aumento da violência doméstica e tantas outras faltas e dificuldades para garantir vida digna para si e para suas famílias. Se é ruim para uma grande parte dos seres humanos, é ruim para natureza – essencialmente. 


Os acordos internacionais estabelecidos pela ONU de venda e compra de carbono e da lógica de compensação, mercantilizando a natureza, não transforma as raízes profundas desses problemas. Manter a visão dos bens comuns como mercadorias a serem valoradas apenas sob valores monetários, é sustentar essa economia de devoção ao lucro que tanto faz mal à natureza.

A natureza não é mercadoria, assim como o corpo das mulheres não são. 

Para o feminismo, o capitalismo não tem eco e que isso ecoe a todos os cantos, urgentemente, antes que voltemos pós pandemia ao mesmo ritmo frenético de exploração e violência ou, em pior cenário, mais intenso numa busca de compensação do tempo “perdido”. A consigna da MMM mudar o mundo para não mudar o clima, e mudar o mundo para mudar a vida das mulheres em um só movimento, é também, em última instância, conservar a biodiversidade e os bens comuns, essenciais para sustentabilidade da vida. 

#ForaBolsonaro #ForaSalles #MarchaEmAção2020


*processo de monopólio do todo existente nos territórios






quinta-feira, 4 de junho de 2020

NOTA DE REPÚDIO Á VIOLÊNCIA E APOIO ÀS MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA NAS CIDADES DE NOVA PRATA, NOVA BASSANO, NOVA ARAÇÁ, PARAÍ E SERAFINA CORREA-RS.


NOTA DE REPÚDIO Á VIOLÊNCIA E 
APOIO ÀS MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA 
NAS CIDADES DE NOVA PRATA, NOVA BASSANO, NOVA ARAÇÁ, PARAÍ E SERAFINA CORREA-RS.


Nós, mulheres ativistas do estado do Rio Grande do Sul, da Marcha Mundial das Mulheres queremos primeiramente trazer NOSSO APOIO às mulheres que tiveram a coragem de denunciar a violência sofrida por homens destas cidades.
Temos assistido todos os dias a casos de violência contra mulheres e meninas e às mortes de tantas outras que não tiveram a chance de seguir suas vidas, livres da opressão e do machismo. Vivemos em um país que passa por crescentes casos de violência contra as mulheres e feminicídio em isolamento social da Covid-19, somado a um governo conservador e fundamentalista de extrema-direita, misógino, armamentista, que propaga discursos de ódio contra as minorias e promove retirada de direitos. Em 2019, o Rio Grande do Sul foi o terceiro estado do país com mais casos de feminicídio e no início de 2020 já apresentava um aumento de 233%. Aqui salientamos que o governo estadual fez um repasse de apenas R$20.000,00 para políticas de enfrentamento a violência contra mulher. Em anos anteriores, como 2014, o investimento chegou a cerca de R$10.000.000,00.
Pode-se observar que dos municípios de Nova Prata e Paraí registraram casos de estupro conforme dados do Observatório da Violência Contra Mulheres (Secretaria Estadual de Segurança Pública). Os cinco municípios (Nova Prata, Nova Bassano, Nova Araçá, Paraí e Serafina Correa) registram casos de ameaças e lesão corporal contra mulheres. É importante lembrar que em pesquisa realizada pelo jornal Pioneiro em janeiro de 2019, no período de 2012 a 2018, na serra gaúcha foram registrados 47.190 mil casos de violência contra mulher e 30 cidades registraram 92% das comunicações de feminicídios e suas tentativas, lesões corporais, crimes sexuais e ameaças. Dentre as 30 cidades mais violentas estão Nova Prata (7º), Nova Bassano (27º) e Paraí (30º), além disso, registraram feminicídios durante o mesmo período Nova Prata (1), Serafina Correa (2) e Nova Bassano (2).
 Agora, chega até nós que, a partir de um espaço virtual público, um grupo de mulheres abriu caminho para que outras tantas vítimas trouxessem seus casos de violência sofrida, fossem casos de assédio, violência psicológica e até estupro. Tão grave quanto às denúncias é o silêncio de instituições que deveriam proteger estas jovens, onde não encontraram apoio. Muitas ainda vivem estas violências, como no caso de um professor de educação física (e já soubemos de outro professor na mesma escola), que ainda permanece dando aulas e praticando seu sexismo no interior da escola onde mais casos de adolescentes assediadas são relatados.
Nenhum profissional de ensino têm o direito de tocar, de acariciar os corpos das estudantes, pedir seus nudes ou constrangê-las com piadas de duplo sentido, cantadas e olhares.

O SILÊNCIO É CÚMPLICE DA VIOLÊNCIA.

Os respectivos conselhos tutelares foram acionados visto que diversas vítimas são menores de idade. A rede estadual de ensino também deve se pronunciar e encaminhar as devidas providências junto as autoridades do Estado, assim como Ministério Público deve proteger estas jovens tanto das violências quanto das ameaças que estão sofrendo por terem a coragem de denunciar.

Mas é claro que os agressores não se calaram e tentam inverter os fatos, culpabilizar as vítimas, além de negar o que ocorreu. O assédio sexual é uma violência que se perpetua por meio do pacto de silêncio que protege os agressores. Quando rompido, espera-se que a sociedade, as instituições e as famílias acolham de modo humano aquelas que ousaram denunciar.

A CULPA NUNCA É DA VÍTIMA!

Diante da gravidade das denúncias tanto as que envolvem uma escola da rede estadual como outros casos, nós da MMM RS queremos demonstrar nosso REPÚDIO aos casos de assédio sexual e violência vividos pelas jovens da cidade de Nova Prata e Nova Bassano, assim como repudiamos todas as tentativas de calar as vítimas ou quem, no intuito de apoiar e não deixar que estas histórias sejam jogadas para baixo do tapete, estão criando espaços para que mais jovens tragam suas denúncias à luz de uma investigação e punição de todos os agressores. A escola, como representante maior da educação, base de qualquer processo transformador, deveria, no mínimo, aproveitar o contexto e o ensejo das denúncias, para iniciar um grande projeto de fortalecimento dessas meninas e uma mudança radical no pensamento do corpo docente e discente no que se refere às violências de gênero, lesbotransfobia e racismo.

MEXEU COM UMA MEXEU COM TODAS!

Depois que o espaço de denúncia foi criado, várias outras chegaram, pois toda a denúncia é direito legítimo e urgente de quem se sente violada. Quem assiste também tem obrigação de denunciar. Assistir e se calar é ser conivente com o agressor, é manter o opressor mais forte e encorajado a seguir derrubando corpos pelo seu caminho.

A MANUTENÇÃO DA VIOLÊNCIA NÃO SERÁ TOLERADA!

Exigimos que os agressores sejam responsabilizados por suas ações e que os poderes municipais se comprometam a promover estratégias e políticas de enfrentamento a todas as violências cometidas contra as mulheres. O primeiro passo para mudar este cenário de violência é reconhecer que ela acontece e que pode ser praticada por qualquer homem, dentro ou fora de casa.
Enquanto isso, continuaremos na luta contra o sexismo, o machismo, a misoginia, as lgbttfobias, o racismo e todas as formas de opressão e violência contra mulheres e meninas, sempre na luta por transformação, autonomia e liberdade.

Nova Prata, 03 de junho de 2020.

Marcha Mundial das Mulheres – Rio Grande do Sul.

terça-feira, 2 de junho de 2020

A história do cerca à Amazônia!

O Núcleo de Amigos da Terra, lançou no dia 31/5, a série A história do cerca à Amazônia!  São reportagens em texto e vídeo expondo os ataques aos povos e territórios da Amazônia, que não param mesmo em meio à pandemia do coronavírus. Vai ter publicação nova todo domingo e terça ao longo do mês de junho - não perde! O material foi feito em parceria com a Terra de Direitos e com os sindicatos rurais de Santarém e de Alenquer/PA.

Aqui o primeiro vídeo da série:














E aqui a matéria completa: https://bit.ly/3eAN91T

E por hoje ser hoje, vale ressaltar que as histórias mostram muito da luta quilombola na região amazônica. A luta do povo negro é muitas vezes invisibilizada. A titulação dos territórios tradicionais é urgente! #FogoNosRacistas


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