segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Circular 2 - Preparando a Plenária Estadual - Salve Zumbi, Salve Dandara! dia 20 de novembro 2021 das 9h às 15h

 


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Circular 2


MARCHA MUNDIAL DAS MULHERES RS

Preparando a Plenária Estadual - Salve Zumbi, Salve Dandara!

Porto Alegre, 20 de novembro 2021 das 9h às 15h

ATENÇÃO - MUDANÇA DE LOCAL:

nossa plenária vai acontecer no CPERS - Av. Alberto Bins, 480 - Centro Histórico




Olá companheiras, 


Como todas já sabem, no próximo dia 20 de novembro de 2021 ocorrerá nossa Plenária Estadual da MMM RS!


A Plenária Estadual ocorrerá de forma híbrida, já que estamos na transição da pandemia da COVID-19, e desta maneira contamos com sua presença para acompanhar os debates da melhor maneira possível entre a presencial ou a online.


Neste momento enfrentamos uma luta política por justiça social, e dignidade de existir, e por isso nos somamos por um Fora Bolsonaro, pela vida das mulheres, e basta de fome e desemprego.


Para as que estiverem em Porto Alegre, após a Plenária estaremos em caminhada pela Marcha Zumbi Dandara, onde sairemos de forma conjunta do local da nossa atividade até o local da concentração, que será no Largo Glênio Peres (depois vamos em Marcha pela Borges de Medeiros, até o Largo Zumbi dos Palmares!)


Junte-se a nós!


Traga tua bandeira e cartazes que traduzam nossa luta contra o racismo estrutural, contra o fascismo, contra a fome e por vacina para todas e todos – por um grandioso Fora Bolsonaro!!!


Salve Zumbi, Salve Dandara! 


Te organiza, e não esquece de fazer a tua inscrição através do link: https://docs.google.com/forms/d/1Tj60iiDHXi-FPwIQ_OrTzYmqZIP-3l3yOCV-GPiD-m4/prefill



Leia outras informações sobre deslocamento e hospedagem na Circular 1:

http://mmm-rs.blogspot.com/2021/11/preparando-plenaria-estadual-porto.html



Atenção para hospedagem solidária:


  1. Para as que estão precisando de pouso solicitamos que escrevam diretamente para Maria do Carmo (51) 993619985, pois iremos organizar a casa de uma companheira para te hospedar.

     Não esqueça de todos os protocolos de segurança.


Atenção para reembolso transporte:


  1. Para as que vierem do interior e precisam de reembolso das passagens estamos solicitando que paguem sua vinda e na hora faremos o reembolso de ida e volta. Guarde os comprovantes.


     Caso o coletivo precise de adiantamento para a vinda da companheira para Porto Alegre, entre em contato com a Cláudia Prates (51) 996832739 que fará a transferência via pix ou depósito em conta.



Alimentação 


  1. Esta ficará por conta de cada marchante (ou do núcleo) pois não teremos como contribuir com este apoio. No entanto, estamos sugerindo que cada uma traga um lanche que poderemos fazer um picnic. Ofereceremos café, sanduíches e algumas frutas durante a plenária.



Para a participação presencial iremos solicitar de todas:

- comprovante de vacina para participação presencialmente


Pauta da Plenária:

9h Manhã inicia com apresentação das presentes virtual e presencial


1) Salve Zumbi, Salve Dandara!

O significado histórico do 20 de novembro e uma abordagem sobre as violências e discriminações que o povo negro sofre até hoje.

Jeanice Dias Ramos, jornalista, Diretora do Sindicato dos/das Jornalistas do RS, integrante suplente no Conselho Estadual de Cultura, e militante feminista da MMM RS


2) A conjuntura ambiental: sustentabilidade e os impactos das privatizações na vida das mulheres

- Setor hídrico/água - Ana Lúcia Pereira Flôres Cruz mulher preta, bióloga, trabalhadora da área de saneamento, do Sindiágua e atualmente Secretária da Mulher Trabalhadora da CUT RS

- Privatização dos serviços de saúde - Gerusa Bittecourt, Enfermeira, Enfermeira, funcionária pública, militante do MNU e militante feminista da MMM RS

- Privatização dos setores energéticos - Gabriela Oliveira da Cunha – Engenheira Ambiental e Sanitarista e militante feminista da Marcha Mundial das Mulheres RS.


3) Por que as feministas debatem sobre a pobreza menstrual?

Any Moraes - Militante da Marcha Mundial de Mulheres, graduanda em Ciências Sociais, mãe, moradora da periferia.


Intervalo para almoço - vamos parar por 1hora para um pic nic


4) Aliança feminismo popular - resgatar a importância das alianças para construção do feminismo, e pensar as próximas ações para  fortalecer o que já fizemos.

Cintia Barenho, bióloga, militante feminista da MMM e da Aliança Feminismo Popular.

A solidariedade feminista internacional é princípio de luta e organização

Proposta de formação - linkando com a Aliança, formação no tema da Economia Feminista. Thay está participando do curso sobre economia feminista de extensão da Economia da UFRGS e contará mais pra nós.


5) Informe sobre o LesboCenso Nacional - 1º Mapeamento Sociodemográfico Nacional de Lésbicas e Sapatão 2021 - https://lesbocenso.com.br/

Ana Naiara Malavolta, Militante Lésbica Feminista da MMM e Rede LesBi Brasil - Diretora  SINTRAJUFE RS 


6) Reorganização da executiva -

Sugestão de critérios para a participação de marchantes na próxima executiva:

1)    marchantes que estão em representação da MMM nos temas prioritários:

 Temas: Aliança Feminismo Popular; aborto, Ambiental; Pobreza menstrual;  economia feminista (todas as participantes do curso da sof) comunicadoras;

2)    outras marchantes podem ser indicadas pelos seus núcleos, lembrando que este é um espaço operacional, de pronta resposta nos grupos de whats e signal e que possa dividir as tarefas da executiva.


7) Informes gerais da MMM Nacional e Internacional


Já fez tua inscrição? : https://forms.gle/NGnczNE7tq8ThAEBA
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Resistimos para viver, Marchamos para transformar

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Circular 1 - Preparando a Plenária Estadual - Porto Alegre, 20 de novembro 2021 das 9h às 15h

 

Circular 1


MARCHA MUNDIAL DAS MULHERES RS

Preparando a Plenária Estadual

Porto Alegre, 20 de novembro 2021 das 9h às 15h

 

O Brasil é o país com a maior população negra fora do continente africano, somos mais de 110 milhões de pessoas negras no país, segundo IBGE. Mas pouco, ou nada sabemos sobre a história do povo negro no Brasil, que muito trouxe de contribuição e formação da sociedade brasileira.

 O Dia da Consciência Negra é fruto da luta e resistência dos movimentos sociais contra o racismo e o apagamento histórico. A história do povo negro precisa ser reverenciada, recontada, reconstruída e reconhecida por todas nós. E mais, precisamos manter viva esta história não só no 20 de novembro, mas durante todos os dias precisamos olhar para a possibilidade de reparação e inclusão das populações tradicionais que estão sendo ameaçadas todos os dias de extinção.

 Quando dizemos que estamos enfrentando uma crise sistêmica, esta que estamos atravessando agora, podemos fazer um mapa para mostrar quem são as pessoas mais atingidas com esta crise e em quais lugares do planeta vivem.

 “Nesse momento de profunda crise social, ambiental, econômica, política e sanitária, ficou ainda mais evidente como o trabalho de cuidados é indispensável para o bem estar da vida humana. Como resposta ao desemprego atordoante e à fome, vimos emergir ações de solidariedade organizadas por mulheres, hortas comunitárias se multiplicarem, assim como outras ações autogestionadas de solidariedade, que só foram concretizadas por iniciativas femininas que têm no horizonte o cuidado e a sustentabilidade da vida.

É justamente nesse momento que a economia solidária e feminista renova a sua atualidade. Isso porque ela parte da ampliação das noções de trabalho e trazem para o centro do debate as necessidades reais dos seres humanos e sua relação com a natureza.”

Trecho extraído do artigo escrito por Maria Fernanda Marcelino, militante da MMM-SP.

Leia o texto na íntegra: https://www.brasildefato.com.br/2021/10/26/protecao-social-feminismo-e-trabalho-autogestionario-respostas-ao-desemprego-e-a-fome

 Tanto no Brasil, quanto no RS estamos enfrentando o desmonte do estado, através das privatizações, e das demissões, além do sucateamento da aparelhagem que estrutura o funcionalismo público. Estamos vivendo sob a ameaça constante aos nossos direitos, e a incessante aplicação de reajustes nos preços de itens essenciais para a sobrevivência das famílias. Na frente de tudo (do cotidiano) estão as mulheres, mais pobres e sobrecarregadas, mais ameaçadas com a precarização do trabalho, em riscos constantes da violência doméstica, e do feminicídio.

Mas foram os movimentos sociais que mesmo enfrentando o negacionismo do governo federal em relação aos cuidados sanitários e às vacinas, que deram seguimento nas ruas, em uma luta constante contra o avanço do fascismo. E foi criado neste cenário, que nasceu a Aliança Feminismo Popular, com iniciativas emancipatórias e populares, construindo ações concretas de solidariedade de classe, com alternativas viáveis, em um propósito transformador, mesmo que dentro do contexto da perversidade do governo presente.

O racismo está escancarado e todos os dias somos insultadas, ofendidas, desrespeitadas, humilhadas. Neste 20 de novembro queremos saudar esta data com um bom debate, para que juntas possamos nos fortalecer para enfrentar o próximo período.

Depois de quase dois anos de pandemia no mundo entendemos que agora estamos prontas para retomar nossos encontros estaduais de forma presencial.

Como muitas sabem, costumávamos fazer nossa plenária estadual uma vez por semestre. Em função da pandemia, não fizemos nenhuma neste ano de 2021. Com o aumento da vacinação, acreditamos ser possível realizarmos nossa plenária estadual de forma híbrida, porém com um número limitado na forma presencial. Todos os cuidados para evitar contágio serão adotados.

As agendas de luta contra o racismo nesta data 20 de novembro, prometem algum ato, no qual iremos nos somar em Porto Alegre e os demais núcleos somarem em suas regiões (se houver).

Para a participação presencial iremos solicitar de todas:

- comprovante de vacina para participação presencialmente

 

Faça sua inscrição: https://forms.gle/NGnczNE7tq8ThAEBA

 

 Pauta da Plenária:

9h Manhã inicia com apresentação das presentes virtual e presencial


1) Salve Zumbi, Salve Dandara!

O significado histórico do 20 de novembro e uma abordagem sobre as violências e discriminações que o povo negro sofre até hoje.


Jeanice Dias Ramos
, jornalista, Diretora do Sindicato dos/das Jornalistas do RS, integrante suplente no Conselho Estadual de Cultura, e militante feminista da MMM RS

 




2) A conjuntura ambiental: sustentabilidade e os impactos das privatizações na vida das mulheres

 

 - Setor hídrico/água

Ana Lúcia Pereira Flôres Cruz
Mulher preta, bióloga, trabalhadora da área de saneamento, do Sindiágua e atualmente Secretária da Mulher Trabalhadora da CUT RS

 

 - Privatização dos serviços de saúde


Gerusa Bittecourt 

Enfermeira, funcionária pública, militante do MNU e militante feminista da MMM RS


 




 - Privatização dos setores energéticos


Gabriela Oliveira da Cunha Engenheira Ambiental e Sanitarista e militante feminista da Marcha Mundial das Mulheres RS

 






3) Por que as feministas debatem sobre a pobreza menstrual?


Any Moraes
- Militante da Marcha Mundial de Mulheres, graduanda em Ciências Sociais, mãe, moradora da periferia.

 




Intervalo para almoço - cada uma leva seu lanche e paramos por 1hora

 

4) Aliança feminismo popular - resgatar a importância das alianças para construção do feminismo, e pensar as próximas ações para  fortalecer o que já fizemos.


Cintia Barenho, bióloga
militante feminista da MMM e da Aliança Feminismo Popular 




5) Informe sobre o LesboCenso Nacional - 1º Mapeamento Sociodemográfico Nacional de Lésbicas e Sapatão 


- Ana Naiara Saupe Malavolta,
Militante Lésbica Feminista da MMM e Rede LesBi Brasil - Diretora do SINTRAJUFE RS

 







6) Reorganização da executiva -

Sugestão de critérios para a participação de marchantes na próxima executiva:

1)    marchantes que estão em representação da MMM nos temas prioritários:

 Temas: Aliança Feminismo Popular; aborto, Ambiental; Pobreza menstrual;  economia feminista (todas as participantes do curso da sof) comunicadoras;

 

2) outras marchantes podem ser indicadas pelos seus núcleos, lembrando que este é um espaço operacional, de pronta resposta nos grupos de whats e signal e que possa dividir as tarefas da executiva.

 

Informações importantes sobre a organização da plenária:

Deslocamento para Porto Alegre – como sempre fizemos, queremos contribuir com o deslocamento das marchantes que optaram pela participação presencial. Nossos recursos não são muitos e como todas devem imaginar, neste período de pandemia não tivemos arrecadação, não pudemos vender nossos materiais da banca, nem contar com apoio de companheiras que sempre doaram voluntariamente para manter nosso caixa.

 Porém queremos manter esta tradição e contribuir com os núcleos que não tem formas de arrecadação local. Nos informe o quanto antes quantas marchantes estão dispostas e virem para a Plenária em Porto Alegre e vamos fazer o possível para ajudar todos os núcleos que solicitarem.

 

Alimentação – Esta ficará por conta de cada marchante (ou do núcleo) pois não teremos como contribuir com este apoio. No entanto, poderemos indicar locais próximos com preços bem acessíveis.

 

Hospedagem – Caso haja necessidade de alguma necessitar ficar em Porto Alegre pedimos que nos informe se irá necessitar de hospedagem solidária na casa de marchantes da cidade.

 

Ciranda para crianças – solicitamos, até por questões sanitárias, que as marchantes não tragam crianças pequenas. No entanto, se isto for muito difícil, entre em contato que tentaremos resolver juntas, sempre buscando construir um espaço de acolhimento. Lembrando que não temos estrutura de cuidados para bebês de colo, mas faremos de tudo para que a marchante possa participar de todas as atividades.

 

Sobre a indicação das representantes dos núcleos: a executiva orienta para que todos os núcleos façam reunião antes da Plenária Estadual, avaliem suas ações de 2021, assim como tirem o nome que representará o núcleo/cidade desta reunião e nos informe o mais breve possível para que possamos nos organizar.

 

Participação online: enviaremos o link meia hora antes da atividade apenas para as inscritas, não compartilhe o acesso à sala de reuniões, peça que todas que desejarem participar façam sua inscrição.

 

Contribuição de alimentos para a Cozinha Solidária da Azenha em Porto Alegre.

Solicitamos às marchantes que puderem trazer 1 kg de alimento para doação.

 

Para outras questões não levantadas aqui, entre em contato e resolveremos juntas.

Faça sua inscrição: https://docs.google.com/forms/d/1Tj60iiDHXi-FPwIQ_OrTzYmqZIP-3l3yOCV-GPiD-m4/prefill

terça-feira, 5 de outubro de 2021

O Ato Contra Bolsonaro reúne milhares em Porto Alegre*



No último sábado, dia 2 de outubro, as marchantes de Porto Alegre se encontraram no Largo Glênio Peres e se juntaram a milhares de manifestantes contra o governo de Bolsonaro. Após falas de líderes do PT, PC do B, PSOL, PSB, PDT PCB, CUT, dos sindicatos e das frentes Brasil Popular, Povo Sem Medo e Povo na Rua, o trajeto seguiu um pouco mais curto que dos últimos atos: passou pela Júlio de Castilhos, Sarmento Leite e por fim pela Loureiro da Silva, terminando no Largo Zumbi dos Palmares.

Foi um protesto gigante, as marchantes estavam com três bandeiras e uma faixa florida escrita "Resistimos para viver! Marchamos para transformar!" e puxaram gritos "fora bolsonaro", pelo impeachment, contra a fome e pelo SUS, principalmente, durante a caminhada. O povo estava animado por estar nas ruas e todos pareciam ter muita raiva do presidente. Mas as pessoas também pareciam cansadas. Em meio a trocas de olhares de solidariedade, cruzamos o viaduto da Conceição com gritos mais curtos, ainda que fortes. Já que o caminhão de som em nossa frente era grande demais para passar por ali, teve que nos encontrar depois do túnel, então por um longo caminho o povo seguiu gritando e marchando, de maneira bastante organizada.

Bolsonaro tem que cair, a manifestação de ontem demonstrou que o povo não quer esperar até ano que vem, quer que o genocida caia logo e, de lá, vá preso. O que Bolsonaro fez nesses dois anos e meio, entre crimes contra saúde pública, ambientais, além de estar desmontando a universidade pública e armando a população dizendo que assim vai diminuir a violência. Também criminalizou movimentos sociais do povo para o povo, enfraqueceu instituições e empobreceu a população. A lista é longa, então como que ele continua na presidência? Acho que esse era outro sentimento da população nas ruas: um não entendimento de como chegamos até aqui e como ele segue lá, mas com a certeza de que seguiremos em marcha até que todas sejamos livres.

*Por Clarice Schreiner, militante da Marcha Mundial das Mulheres no Rio Grande do Sul. Texto elaborado para o curso interno sobre comunicação do coletivo de comunicadoras da MMM Brasil. 

terça-feira, 31 de agosto de 2021

O alerta da realidade do Afeganistão: o avanço do patriarcado capitalista no mundo

Shamsia Hassani retrata a força, os desejos e a dor das mulheres afegãs em grafites pelas ruas de Cabul e do mundo
Shamsia Hassani retrata a força, os desejos e a dor das mulheres afegãs
em grafites pelas ruas de Cabul e do mundo.


Denise Mantovani*
Cláudia Prates** 
Isabel Freitas***

Em agosto de 2021 o mundo voltou a olhar para o Afeganistão depois da retomada do poder em todo o país pelo Grupo islâmico Talebã e a fuga dos Estados Unidos, deixando à própria sorte milhões de pessoas, sobretudo mulheres e crianças. Um povo assolado por guerras perpetradas por Estados imperialistas desde 1979. Infelizmente, são as mulheres, crianças e idosos os principais alvos dessas violências de guerras, como os sequestros, os estupros, a escravização sexual, a fome, as doenças, o abandono, tortura e a morte. Em que pese as conquistas das mulheres afegãs nesses últimos anos na luta por mais direitos, das quais elas são as protagonistas, estamos vivenciando momentos terríveis, assombradas pela ameaça de aprofundamento dessas violências por governos de orientação misógina. Temos consciência dos limites dessa análise pelos filtros da luta ideológica hegemonizada pela versão do Norte global que afetam as informações que chegam até nós, apesar da internet, ainda que ela própria seja um meio controlado. Fazemos essa ressalva porque corremos o risco de olhar para um mundo do qual não conhecemos usando as ferramentas de análise que dispomos. Por mais que nosso ativismo feminista, antirracista e anticapitalista nos aproxime de um olhar crítico à dominação colonialista do Norte global sobre os países do Sul global, precisamos estar atentas para não reforçar estigmas e preconceitos ocidentais sobre as mulheres muçulmanas. Nossa luta é comum contra o discurso misógino, contra as interpretações sexistas e patriarcais das religiões contra nosso direito humano à igualdade, direito à educação, à sexualidade plena, a uma vida sem violências de nenhum tipo. Nossa aliança feminista é em favor dos direitos à autoafirmação dos povos e no interior dessas culturas, a luta contra as desigualdades e hierarquias naturalizadas. Nos unimos às nossas companheiras no mundo para desconstruir releituras misóginas e sexistas do sagrado para impor uma vida de subordinação e violências. Nossas lutas enfrentam visões colonialistas, racistas e machistas. Nossa solidariedade é sustentada no respeito e na consciência de que não detemos a palavra final, nem tampouco a verdade sobre o que acontece no Afeganistão. Estamos sujeitas a esses limites historicamente definidos por barreiras invisíveis construídas pela hegemonia da cultura etnocêntrica, masculina, branca e colonizadora do ocidente. Apesar do nosso ponto de partida estar nesse lugar ocidental, podemos e devemos nos associar ao combate e denúncia dessas violências provocadas por conflitos e guerras onde nossos corpos são os alvos, numa aliança com o patriarcado. 

Embora o patriarcado se expresse de forma muito articulada com sistemas de poder como o capitalismo, o colonialismo, o racismo ou as hierarquias religiosas, vemos ao longo da história da Humanidade que o patriarcado vai se adaptando às transformações sociais e políticas para manter como eixo de sustentação do poder a dominação e o controle dos corpos e da sexualidade feminina. São poderes e guerras controlados pela ideologia da supremacia dos homens sobre as mulheres. Essa realidade afeta as mulheres em todo o mundo. É possível dizer que na maior parte das sociedades contemporâneas os direitos de grupos são, de fato, antifeministas. E isso também envolve sociedades ocidentais, onde a naturalização das violências contra as mulheres se expressam nos ambientes públicos, na vida doméstica ou familiar.

A realidade de nossas irmãs afegãs expõe de forma brutal a realidade de direitos individuais que são retirados de todas nós em muitos lugares do mundo (ir e vir, estudar, trabalhar fora, ter seu próprio salário), assim como o direito de controlar sua sexualidade ou decidir sobre a vida reprodutiva (casamento, ter ou não filhos, custódia dos filhos, divórcio, aborto, salário ou patrimônio familiar). Como ideologia, o patriarcado define práticas culturais violentas sobre as mulheres ao longo da História. Esse sistema de poder, que tem mais de 5 mil anos, se manifesta na organização familiar, nas relações econômicas, nas instituições de poder, nas definição de leis (laicas ou religiosas), pelas burocracias religiosas, pela hierarquia, pela naturalização da subordinação. Ao longo da história humana, o patriarcado vem se transformando e se aliando a sistemas de poder político, econômico e religioso. Seja no caso dos estados teocráticos, seja no caso de democracias liberais e capitalistas, no ocidente.

No livro “A criação do patriarcado”, Gerda Lerner, explica que foi por volta do 3.000 antes da era Cristã que foram identificados os primeiros registros de vida em sociedade que se baseavam em conflitos e guerras, onde as mulheres dos povos derrotados eram estupradas, subjugadas e levadas como escravas sexuais, como troféu e marca da supremacia e poder dos vencedores. Os homens dos povos derrotados eram mortos. É nesse contexto histórico de imposição pela violência e pela força que o modelo da hierarquia masculina nasceu e foi sendo adaptado às várias formas de interpretar e definir a organização social ao longo de milhares de anos. A história de formação das sociedades no mundo é uma história contada por homens patriarcais em que a liberdade de uns é forjada na subjugação das mulheres, sobretudo pelo controle de seus corpos e de sua sexualidade. Por isso é importante perceber que o patriarcado não age sozinho. Está em aliança com sistemas produtivos baseados na exploração humana, como é o capitalismo e as guerras em nome dele. Com as hierarquias religiosas, em geral comandadas por homens, interpretações morais legitimam a subordinação e violência contra as mulheres. Para o patriarcado, a guerra sempre é um elemento fundamental de consolidação do sistema de poder. Mas não estamos generalizando, pois se trata de denunciar um tipo de masculinidade que se sustenta pela violência, pelo uso da força para exercer o poder, que naturaliza a hierarquia e a opressão, impondo suas vontades à força. O machismo que existe no mundo é a expressão desse tipo de ideologia que desrespeita as mulheres, suas vontades, seus desejos e o direito a uma vida autônoma. É o tipo de homem que se impõe pela força, pelas ameaças, pelas armas.

A realidade brutal enfrentada por nossas irmãs afegãs chama a atenção para o papel do patriarcado no mundo. O esfacelamento daquela sociedade coloca em evidência o “lugar” específico em que o patriarcado nos quer, seja na família ou na sociedade. A agenda antigênero, reacionária e misógina também vem assolando os países ocidentais patrocinados por grupos políticos racistas, neonazistas, autoritários, armados e militarizados com novos arranjos de poder sustentado pela extrema direita cristã espalhada pelo ocidente. A aliança internacionalista das mulheres é fundamental. Precisamos denunciar os retrocessos e as violências que ameaçam as conquistas fruto das lutas das mulheres afegãs, assim como a ameaça heteropatriarcal misógina, autoritária, capitalista e racista que ameaça as mulheres no mundo Ao contrário de uma versão colonialista, disseminada pelo mundo ocidental, as conquistas das mulheres afegãs não é resultado da bondade do poder invasor, mas do protagonismo e das lutas delas no contexto da realidade cultural e religiosa em que vivem.  

A questão religiosa é um ponto importante na aliança do patriarcado. Precisamos romper com um olhar ocidentalizado que desrespeita a realidade de lutas das feministas afegãs que seguem os preceitos do pensamento islâmico. Assim como as feministas cristãs (no Brasil), assim como as mulheres da matriz africana, as mulheres dos povos indígenas originários vem lutando para mostrar que o heteropatriarcado religioso tenta impor pela força uma ideia de sujeição e obediência, distorcendo visões do sagrado. Somos solidárias às lutas das feministas islâmicas que questionam visões tradicionalistas e hierárquicas e lutam pela revalorização da identidade das mulheres muçulmanas, numa dinâmica de lutas pela igualdade e respeito, contra visões essencialistas, estereotipadas, de subalternidade cultural e colonialista.

Nosso desafio é buscar esse diálogo respeitando nossas diferenças culturais lutando contra o patriarcado, o capitalismo e o racismo. Cremos que é possível estabelecer um diálogo respeitoso com as nossas irmãs afegãs porque não se trata de julgar ou discutir os preceitos relacionados à fé, à espiritualidade ou à relação das pessoas com a transcendência e as ancestralidades que organizam a diversidade e distintas visões de mundo. Mas de denunciar a forma como historicamente o patriarcado e as hierarquias religiosas vêm construindo arranjos de poder sustentados por interpretações dos acontecimentos sociais por homens que detém o poder. Apenas para situar um exemplo, o feminicídio no Brasil é mais elevado do que no Afeganistão. De acordo com dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), os países que mais mataram mulheres no mundo em 2020 foram: El Salvador, Colômbia, Guatemala, Rússia e Brasil. Esse paralelo mostra que aqui no Brasil vemos homens (e mulheres também) onde defendem um conservadorismo religioso e patriarcal quer que achemos natural e que silenciemos diante de um cotidiano de violências físicas, morais ou econômicas. Por isso, quando abordamos a questão religiosa, não estamos falando da concepção do Sagrado como concepção de vida.

Precisamos nos unir para denunciar como e por quem as histórias dos povos vêm sendo contadas ao longo dos séculos e quais interesses de poder atendem. A aliança patriarcal, capitalista, religiosa e colonialista quer o controle sobre o corpo e a sexualidade das mulheres. No caso brasileiro, por exemplo, o racismo gerado por essa aliança coloca sob risco permanente a vida das mulheres negras, indígenas e migrantes pela exploração de seu trabalho, seus corpos, usurpação de seus territórios, pelos assassinatos diários de seus filhos e parentes, pelo desemprego, a fome e a miséria que o governo racista e misógino de Bolsonaro e seus aliados oligarcas no Congresso e no mercado financeiro estão impondo para a maioria da população brasileira, destruindo tudo, sem se importar com a vida das mulheres. 

Esse paralelo tem o objetivo de reforçar que nossas lutas são pelo direito universal à igualdade, pelo respeito e autonomia sobre nossos corpos, contra as opressões e desigualdades que atingem as mulheres em todo o mundo. A misoginia predominante nas interpretações patriarcais das religiões colocam as mulheres em perigo em todo o mundo. Estamos em solidariedade permanente com nossas companheiras feministas afegãs, sírias, palestinas, mulheres africanas, latinas, negras, indígenas, mulheres antirracistas, anticapitalistas, mulheres feministas que reivindicam o direito de manifestar suas identidades como mulheres onde a espiritualidade é parte constituinte do ser, sem que isso signifique se submeter a interpretações patriarcais, colonialistas e misóginas sobre a relação com o Sagrado. Nossa solidariedade deve ser uma relação de troca, de denúncia e acolhimento da forma que for possível. Reforçar as lutas e resistências que elas vêm empreendendo.

Não sabemos o que vai acontecer. A cada dia as informações são mais aterradoras pelo nível de violência e descontrole provocado por conflitos, bombardeios, atentados e guerras intermináveis. Nossa luta contra o patriarcado capitalista e misógino é internacional. Porque se trata de enfrentar o crime organizado, de comércio ilegal de armas, de drogas, de corpos humanos femininos escravizados no ocidente e oriente que ganham muito dinheiro no sistema financeiro mundial. As violências que estão acontecendo no Afeganistão afetam diretamente as mulheres e seus filhos, sustentam o sistema capitalista financeiro, em sua nova fase devastadora. A guerra e a destruição dos povos está nas entranhas de sustentação do capitalismo financeiro em seu momento atual. É o capitalismo que gera e se alimenta dessas guerras, que no fundo, são guerras contra as mulheres e sua memória ancestral.  Nossa luta é comum contra a exploração dos nossos corpos, contra o capitalismo e o heteropatriarcado. Por uma nova sociedade sem violências, de respeito entre mulheres e homens, de respeito às nossas diferentes culturas, compartilhando valores universais de paz e igualdade, estamos unidas com nossas irmãs afegãs.

Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!

Resistimos para Viver, marchamos para transformar!

 

*Denise Mantovani é jornalista, doutora em Ciência Política, militante feminista da MMM RS

**Cláudia Prates - educadora popular, militante feminista da MMM RS, integrante da Aliança Feminismo Popular

***Isabel Freitas - assistente social especialista em saúde mental e coletiva, educadora popular, militante feminista da MMM RS




domingo, 1 de agosto de 2021

É também sobre bananeiras! de Isabel Freitas.

É também sobre bananeiras!


Hoje, 1 de agosto de 2021, foi dado mais um passo na desconstrução do pensamento e prática que a indústria da comida quer afirmar como caminho único para a humanidade. Foi também a semana em que os movimentos sociais do nosso continente ergueram-se para protestar, organizar e resistir à ofensiva do mercado em mandar na nossa comida.

A caminhada para construção da pequena e potente horta comunitária no Morro da Cruz, é a prova de que temos condições de apaixonar as pessoas, principalmente as mulheres, da nossa capacidade coletiva de plantar comida em toda parte.  Comida boa, limpa, produzida coletivamente. Pode ser que a produção da horta, não dê conta de forrar tantos estômagos quanto seja necessário. Estamos vivendo um momento duro de desemprego massivo e precarização dos serviços públicos, principalmente nos serviços de assistência social. Tão importante como a comida é o resgate das possibilidades de produzi-las em qualquer terra, já dizia Ana Primavesi “não existe terra morta, a terra é um organismo vivo, precisamos alimentá-la". Pra quem não sabe, Ana é uma mulher pioneira no pensamento e pratica agroecologia no Brasil. A mística da Horta é também um espaço de troca das militantes feministas, antirracistas e anticapitalistas, com as mulheres do morro. É uma energia poderosa movida pela esperança de dias melhores. Enquanto os poderosos do mundo se acantonam para pensar como dominar o mercado do alimento; como dominar totalmente a natureza; como dominar os povos, as sementes, as águas, como nos matar envenenados pela comida que eles fabricam, as mulheres sobem o morro para alumiar as possibilidades de redesenhar essa história.

Um dia, depois de uma exposição tensa sobre a ofensiva do capital sobre a vida das mulheres feita pela companheira Miriam Nobre, estudiosa do tema da agroecologia e do feminismo, eu perguntei a ela, qual alternativa que temos? Ela, calmamente respondeu: “em tempos de crise extrema a nossa melhor alternativa é acender nossas lanternas em cima das coisas boas que as mulheres sabem fazer, isso nos dá força”, concluiu a Miroca, como a chamamos carinhosamente.  Eu sempre penso nessa frase dela. Estamos num período em que as vezes nem enxergamos o túnel, quem dera a luz que deveria estar no seu final. Nossa horta ainda está engatinhando mas, nossa esperança galopa! Vieram muitas mulheres, muitas crianças. As mulheres logo pegaram na enxada e perceberam que a terra do morro era muito dura.

No entanto, a dureza não ensaiou desistência. Hoje plantamos bananeiras para filtrar um vazamento de esgoto. Diz a lenda que bananeira é uma planta feminina, ela produz um cacho apenas, depois não teria mais utilidade. Na base da bananeira nascem filhas que vão reproduzir netas e assim a vida da bananeira se reproduz contando a história da planta mãe.  Nos sistemas agroecológicos as plantas mães, alimentam a pobre terra pobre.  Hoje na horta comunitária a planta mãe também vai servir para filtrar o descaso do poder público com o esgoto onde brincam as crianças filhas dos mais pobres de cima do morro.

E nós seguimos ressignificando nossas práticas fazendo resistência e também plantando bananeiras!  

Isabel Freitas é Assistente Social especialista em saúde mental coletiva e educadora popular agricultora urbana, militante feminista da Marcha Mundial das Mulheres.