segunda-feira, 24 de outubro de 2016

As mulheres resistem! Desafios para o feminismo em tempos de ofensiva conservadora

Está disponível para download o jornal da Marcha Mundial das Mulheres sobre a Jornada Continental pela Democracia e contra o Neoliberalismo.

Para baixar a versão em português, clique aqui. Para baixar a versão em espanhol, clique aqui.


Companheiras
o dia 4 de novembro marca a Jornada Continental pela Democracia e contra o Neoliberalismo.
Somos parte dessa construção coletiva dos movimentos sociais. O enfrentamento às transnacionais e ao livre comércio, a defesa da democracia e da integração dos povos estão diretamente conectados com a resistência do povo brasileiro ao golpe, aos retrocessos e ataques aos direitos, e por isso a Jornada é processo que é parte da nossa resistência. A Frente Brasil Popular também aderiu à Jornada Continental.

A Jornada é uma resposta internacional dos movimentos sociais aos ataques que se concretizam no Brasil e que se espalham e se expressam na ofensiva do capital em todo o continente. As mobilizações das jornadas serão um momento importante de manifestação da solidariedade continental ao povo brasileiro que resiste ao golpe.
Enviamos em anexo materiais da Jornada Continental que contribuem para a formação política e foram feitos a partir dos acordos políticos deste processo de construção.

Caso forem tirar copias nos estados, atenção para o tamanho do folheto: é em formato Tabloide!
2 – Revista da Jornada com os documentos sobre os eixos: defesa da democracia, integração regional, enfrentamento às transnacionais e acordos de livre comércio.Link para download à http://bit.ly/2eQ0mIQ
Para o dia 4 de novembro, não existe um formato definido para as atividades. A orientação é que sejam públicas e que contribuam com o nosso processo de resistência aos retrocessos em curso no Brasil. Podem ser realizadas atividades a partir dos processos de luta e construção que estamos envolvidas com os movimentos sociais em cada estado, batucadas da MMM e intervenções urbanas e lambe-lambe, rodas de conversa, panfletagens, etc.

ASSISTA O VIDEO DA JORNADA: CLIQUE AQUI

Seguimos em marcha,
MMM

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Informe e relato da reunião da executiva da MMM RS – 13 de outubro 2016



Informe e relato da reunião da executiva da MMM RS – 13 de outubro 2016


Depois de passadas as eleições, para a grande maioria dos municípios, reunimos a executiva no dia 13 de outubro para organizar nossa agenda para os próximos 3 meses além de propor uma data para nossa Plenária de final de ano.



1)    Frentes de lutas e resistências diante ao resultado das eleições

Nossa resistência deve ser expressa tanto em nossas atividades internas de formação quanto nas ruas. Temos atuado fortemente na Frente Brasil Popular e continuaremos ainda mais mobilizadas, resistindo e ocupando as ruas contra as consequências do golpe.

A RESISTÊNCIA se faz nas rua e nas ações de formação. Devemos sempre investir em nossa batucada como parte da formação assim como para aproximar as mulheres, fortalecer nossa intervenção e integração com outros movimentos feministas.
Nossa autorganização é fundamental para fortalecer nossa capacidade de AVANÇAR nas lutas e nas pautas com nossa militância feminista.                       
A unidade na luta continua! Fora Temer!


2)    Levantamento das agendas que temos até o final do ano

Outubro

24 outubro – Votação da PEC 241 – mobilização em todo o país – mulheres em luta contra a pec do retrocesso e do sucateamento da saúde e da educação
Em Porto Alegre - *Ato* *em* *Defesa* *da* *Educação* – Contra a PEC 241a MP 746/2016 (Reforma do Ensino Médio) e a Lei da Mordaça.       Concentração às 8h30, em frente à sede do CPERS (Av. Alberto Bins, 480).
A batucada da MMM estará ao meio dia na FACED – UFRGS
Temos mobilização em todo o Estado - Técnicos da Furg e UFPEL estão em greve.
8:00 - concentração para distribuição de panfletos e passagem em salas

🔸🔸passagem em salas durante a manhã🔸🔸

🔸12h - agitação das minas e roda de conversa: O impacto da PEC241 na vida das mulheres 

🔸13h - ato dos sindicatos da ufrgs

🔸16h - Assembléia ampliada das licenciaturas: Contra PEC e MP  

🔸17h - Concentração da frente universitária/ das licenciaturas para o ato do centro 


🔸18h - Saída para a esquina democrática onde o ato inicia às 18:30


Mandem fotos e videos das mobilizações da MMM em todos os municípios para circular nas redes, contra a PEC 241 e a Lei da Mordaça.

24 a 26 outubro – Seminário Nacional contra os Agrotóxicos em Porto Alegre (confirmar o local)
29 outubro - Plenária da FBP, às 9h, no CPERS. Duas representantes da MMM participam  da FBP. Nessa reunião, será tirada uma agenda de panfletagem de conscientização acerca das medidas que impõem perda de direitos e mobilização para a Greve Geral.
29 outubro - Formação da MMM em Jaguarão.


Novembro 
4 novembro – Jornada Continental pela Democracia e contra o Neoliberalismo – 11 anos da derrota do Acordo de Livre Comércio das Américas, que era imposta pelo governo de Busch EUA em 2005.
10 novembro – Jornada contra a criminalização dos movimentos populares e o Estado de Exceção.
11 novembro – GREVE GERAL – mobilização nacional

12 e 13 novembro – Encontro LGBTT da UEE Livre (local a confirmar)

13 novembro – 20ª Parada Livre e 9ª Marcha Lésbica de Porto Alegre – 14h – Parque da Redenção - https://www.facebook.com/paradalivrepoa/?fref=ts

14 novembro - Reunião de Retomada da Campanha contra os Agrotóxicos e a favor da vida. Onde haverá o relato da reunião dos dias 24 e 25 que será em São Paulo.

Dia 20 – Dia Nacional da consciência negra: convergência da luta de combate ao racismo no Brasil: um milhão de negros e negras nas ruas. Fora Temer. 

22 novembro – Atividade das mulheres de Ibirubá (Cintia participará)
25 novembro -  Dia Latino-americano e Caribenho de combate à violência contra a mulher. 
 - para o 25 de novembro orientamos todos os núcleo da MMM RS a se envolverem nas atividades locais, promoverem formação no tema do combate à violência contra as mulheres; que organizem atos, audiências públicas ou outras atividades denunciando a violência e cobrando ação do poder público para prevenção e punição dos agressores, cumprimento das medidas protetivas e proteção das mulheres em situação de violência.
Importante denunciar o feminicídio que vitima centenas de mulheres todos os dias em nosso estado e nosso país.
Em nossa última formação distribuímos os Cadernos de Formação da Sof para trabalhar o tema da violência. É fundamental que este material possa contribuir com as atividades organizadas nos municípios do RS pelas marchantes.

Em Porto Alegre o Comitê de Mulheres da Frente Brasil Popular está organizando:
Dia inteiro no Largo Glênio Peres e culminando num grande ato na Esquina Democrática, a partir das 18h.
- 7h, Largo Glênio Peres: Intervenção contra o feminicídio. (Que duraria o dia inteiro).
- Ao longo do dia, Largo Glênio Peres: atividades auto-gestionárias, em tendas simultâneas - promovidas pelas diversas organizações feministas de POA.
- 18h, Esquina Democrática: Intervenção artística contra o estupro e grande ato público.
Primeira tarefa operacional do *dia* *de* *Combate* *à* *violência* *contra* *a* *Mulher*: convidar todos os coletivos, movimentos, organizações, entidades feministas e de mulheres de POA para comporem a organização desse dia e para participarem de reunião organizativa.

30 novembro – 1º Colóquio sobre Aborto Legal no RS, onde a MMM participa da organização junto com outras organizações. Enviaremos a programação assim que ficar confirmada. Contaremos com a presença da Sonia Coelho da SOF e da MMM Nacional numa das mesas.

Dezembro –
01 dezembro – Formação para formadoras da MMM sobre autonomia do corpo e autonomia das mulheres com Soninha
02 e 03 dezembro – Formação e Plenária da MMM RS (informações em breve)
08 dezembro – Atividade sobre Aborto Legal em Caxias do Sul

Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!

Mmm Rs - marchamundialdasmulheresrs@gmail.com



segunda-feira, 17 de outubro de 2016

TODO APOIO À GREVE DAS MULHERES ARGENTINAS!



TODO APOIO À GREVE DAS MULHERES ARGENTINAS!

O movimento feminista da Argentina se mobiliza para uma greve nacional de mulheres, que acontecerá neste dia 19 de outubro. Das 13h às 14h, as mulheres paralisarão todas as suas atividades. A partir das 17h, terá início a concentração para as manifestações de rua. Os atos reunirão as resistências contra a violência e o feminicídio, exigir do Estado respostas e políticas públicas, e homenagear Lucía Pérez, uma jovem de 16 anos que foi brutalmente estuprada, violentada e assassinada no último dia 8.

“Com as novas medidas econômicas do governo nacional, das províncias e do que se vive na América Latina com o avanço da direita, parece-nos indispensável entender o vínculo entre o econômico e o exercício da violência, que inclui, em graus extremos, o feminicídio”, disse Alejandra Angriman, secretária de Gênero da CTA-Autónoma, ao portal argentino Notas.

Nas redes, as tags #NiUmaMenos e#VivasNosQueremos serão usadas para visibilizar a mobilização e difundir as reivindicações das mulheres.

Além deste caso, outros sete assassinatos de mulheres foram registrados na Argentina nos últimos sete dias, em seguida do XXXI Encontro Nacional de Mulheres, que reuniu mais de 90 mil mulheres na cidade de Rosário, em três dias de formação, reflexão coletiva e manifestação.

No Brasil, a violência contra as mulheres é frequente, cruel e suas raízes patriarcais não são tão diferentes do que acontece na Argentina. Também são próximas as políticas de Temer e Macri, com cortes sociais, ajustes econômicos e a insuficiência no combate à violência e na emancipação das mulheres.

Ao mesmo tempo, a luta das mulheres ultrapassa as fronteiras e mostra que há caminhos. A Marcha Mundial das Mulheres do Brasil se solidariza e se inspira na mobilização histórica das argentinas. Reforçamos a urgência da ampla organização feminista, em terras brasileiras, pelo fim da violência contra as mulheres e por outra política econômica, livre do conservadorismo, do golpismo e do neoliberalismo. A América Latina vai ser toda feminista! Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!

http://www.marchamundialdasmulheres.org.br/todo-apoio-a-greve-de-mulheres-na-argentina/


quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Nota de solidariedade da Marcha Mundial das Mulheres à atriz Monica Iozzi



Há muito tempo, o movimento feminista denuncia que a violência sexista se reproduz tão facilmente porque a sociedade capitalista, patriarcal e racista aceita, justifica e trata a violência contra as mulheres como uma violência menor, algo possível na convivência humana. Não à toa, os criminosos desta violência são muitas vezes tratados pela justiça de maneira mais complacente.  Em 2008, o ex-médico Roger Adbelmassib foi denunciado por um estupro e, em seguida, se tornou pública uma enxurrada de outras denúncias de pacientes do ex-médico que eram estupradas durante o atendimento para a Reprodução Assistida. O estupro acontecia quando elas ainda estavam sedadas ou voltando da sedação.
Esse estuprador foi preso em 2009 e ficou 4 meses em detenção. O STF, na figura de Gilmar Mendes, concedeu um Habeas Corpus, alegando que este estuprador, que violentou 52 mulheres, não apresentava risco e nem disposição de fugir. Evidentemente, ele fugiu. Foi morar no Paraguai, onde vivia em meio a uma vida de luxo em um bairro rico.
Em 2010, foi condenado pela justiça de São Paulo a 278 anos de prisão, passou quase quatro anos foragido e, em 2014, foi recapturado graças à luta da associação das vitimas que atuou incessantemente pressionando a justiça para encontrá-lo. Hoje, o estuprador cumpre pena na Penitenciaria de Tremembé.
O caso volta à cena com a condenação da atriz Monica Iozzi, que comentou e criticou Gilmar Mendes por conceder o Habeas Corpus para Roger Abdelmassih após sua condenação.
O Ministro processou Monica Iozzi pedindo uma indenização de 100 mil reais por danos morais. A justiça do Distrito Federal a condenou a pagar trinta mil reais.
O crime pelo qual foi condenada: um post em rede social, com uma foto do ministro do STF e a legenda "Gilmar Mendes concedeu habeas corpus para Roger Abdelmassih, depois de sua condenação a 278 anos de prisão por 58 estupros" e escreveu: "Se um ministro do Supremo Tribunal Federal faz isso... Nem sei o que esperar".
Monica expressou toda a indignação pela complacência e impunidade com que se tratam agressores de mulheres.
A indignação de Mônica expressa não só o sentimento das vítimas, mas o de todas as brasileiras que tomaram conhecimento do caso. 
A Marcha Mundial das Mulheres vem a público expressar a nossa solidariedade a Monica Iozzi, bradando alto: basta de violência contra a mulher!
A justiça errou ao dar o Habeas Corpus ao estuprador, pois reforçou a ideia de que violentar mulheres “não dá em nada” no Brasil, desestimulando que outras vítimas desse e de outros casos se colocassem. Agora, a justiça erra quando condena uma pessoa que tem todo o direito de expressar sua indignação.
A violência contra mulher não é o mundo que a gente quer!
Seguiremos em Marcha até que todas sejamos livres!
Outubro de 2016

Seguiremos em Marcha até que todas sejamos livres!

Marcha Mundial das Mulheres

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Sobre o 20 de setembro, “Dia da Revolução Farroupilha”

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*Por Cheron Moretti
Sobre o 20 de setembro, “Dia da Revolução Farroupilha”: numa semana como essa em que a gauchada se vangloria de feitos e de sua identidade regional, escondem que homens brancos e livres, é claro, tanto imperiais como farrapos podiam colocar homens escravizados (negros) em seu lugar para virar bucha de canhão.
Essa “revolução” que se comemora era uma guerra entre brancos onde morriam, preferencialmente, negros. E o lugar das mulheres? Só pra gente ter uma ideia -porque esse “detalhe” da história universal boa parte dos homens esquecem ou apagam- no século XVIII se discutia se as mulheres eram seres humanos. Os homens brancos iluminados debatiam se estávamos mais próximos deles ou de animais.
Foi apenas no final do século XIX que pudemos ter direito à educação (!). Isso me faz concluir que eles concluíram que estávamos mais próximos deles, homens. Ufa, nos atribuíram alguma racionalidade! Porém, foi só no século XX que se “descobriu” que as mulheres têm uma história – século em que nós nascemos! Bem, uma das questões é a de que o fato de reconhecerem que temos uma história e que nós mesmas podemos contá-la para transformá-la incomoda muito os machos, inclusive os esquerdomacho!
Então, a gente pode contar a história das mulheres nessa mesma “revolução” desde diferentes perspectivas. 1) como as mulheres apoiaram os farrapos ou os imperiais e se engajaram na disputa pela república ou pelo império (por uma questão de classe…pode ser, né?); 2) como as mulheres viveram a violência da guerra, enfrentaram a miséria, os estupros e as privações durante e pós guerra desses “homi”; 3) como as mulheres escravizadas -negras-foram duramente atingidas pela guerra (colocadas ainda mais próximas ao não-humano).
Não existe romantismo nessa data que não seja invenção e versão de um dos lados. A outra questão, então, é a de que a tal “dúvida” que pairava lá no século XVIII não foi superada! O sistema-mundo (colonial-imperial-patriarcal e capitalista) tá aí. Enfim, no fundamental, qualquer história que se conte sobre esse 20 de setembro sem as mulheres, não será a história de todas e todos nós.
Não há novidade no fato de mulheres que se unem pelo #ForaTemer e defendem a democracia tenham que enfrentar os macho dos/nos piquetes por aí. Afinal, a política é para poucos e tem cor e sexo.
*Cheron Moretti é militante da Marcha Mundial das Mulheres no Rio Grande do Sul.

sábado, 3 de setembro de 2016

Nota da MMM contra a repressão policial em Caxias do Sul


14138005_1016519011780387_6620546669789314442_oA Marcha Mundial das Mulheres vem a público através desta nota denunciar a violência fascista a que a polícia militar submeteu participantes do Ato Contra o Golpe, em Caxias do Sul, no momento da dispersão, na noite do dia 31 de Agosto de 2016.
Nessa data, o Congresso Nacional passou por cima de mais de 54 milhões de votos legítimos, empossando um presidente golpista sem o aval do povo. A partir disso, em mais de 15 estados do país aconteceram manifestações de urgência contra este retrocesso na democracia. Em Caxias do Sul, a partir de uma convocação espontânea, cerca de 300 pessoas se reuniram na Praça Dante e depois saíram em caminhada pelas ruas para denunciar o golpismo orquestrado pela mídia, judiciário, parlamento e poderosos interesses econômicos.
Por volta das 23hrs, o ato se encerrou e os manifestantes se dirigiam para suas casas, entre elas uma de nossas companheiras, militante da MMM. Duas viaturas policiais pararam e a abordaram, junto com outro jovem, que se dirigiam ao ponto de ônibus próximo. A alegação da abordagem foi flagrante por pichação. De forma truculenta, houve violência policial e abuso de autoridade. Constrangimentos, misoginia, racismo e repressão deram o tom da abordagem.
Vendo isso, um advogado se prontificou a ajudá-los e foi espancado pela polícia. Não era coincidência que fosse negro. Seu filho, diante da violência, reagiu em legítima defesa (ver vídeo na página Mídia Ninja) e todos foram conduzidos algemados para a Delegacia de Polícia Civil, onde o tratamento desumano prosseguiu.
A jovem sofreu revista vexatória realizada por duas policiais, tendo sido obrigada a ficar sem roupa em um corredor onde passavam os polícias militares e também outros detidos, o tempo todo sendo xingada com palavras de baixo calão, racistas e machistas. Também não é coincidência a condição de classe e a origem racial.
Nos manifestamos profundamente indignadas com este tipo de violência, que expõe as veias mais fascistas e autoritárias que ainda permanecem incrustadas na nossa sociedade. Tal violência é inadmissível, já que o direito a manifestação é garantido pela Constituição Federal Brasileira.
Desta forma, neste momento difícil que todas e todos enfrentamos, nos colocamos ao lado da democracia e dos direitos constitucionais que todo povo deste país deveria possuir. E neste momento em específico nos colocamos ao lado de nossas bravas companheiras e de nossos bravos companheiros que foram covardemente agredidas e agredidos.
Nenhum direito a menos!
Por todos e todas que lutam, nenhum minuto de silêncio!
Seguiremos na luta contra o golpe.
Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres.

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

A face da barbárie nas Olimpíadas



*Por Paola Bettamio

Se não bastasse todo o aparato segregador e violento que foi construído no entorno das Olimpíadas, começando pela própria estratificação social dos territórios periféricos, neste mês foi aprovado pela Câmara dos Deputados e Deputadas um projeto de lei (PL 5.768-A de 2006) que autoriza a mudança da competência dos crimes dolosos contra vida cometidos por militares e contra civis durante o período inicial das olímpiadas até o dia 31 de dezembro.
Isto significa dizer que, até o dia 31 de dezembro a Justiça Militar, Justiça está que é composta apenas por homens brancos, será responsável por analisar e julgar qualquer crime doloso contra vida realizado por militares sob a justificativa de segurança pública.
Entendemos que a Justiça Comum é machista, elitista, lgbtfóbica e racista e que não será através do Direito Penal que iremos resolver questões que tangenciam problemas de cunho social. Acontece que transferir a competência da Justiça Comum para a Justiça Militar, que é tão machista, elitista, lgbtfóbica e racista quanto a comum, é na verdade um método para garantir que não haja qualquer tipo de discussão jurídica sobre o assunto e muito menos uma possível mediação de conflitos.
O processo que militariza soldados é composto por uma hierarquia reflexiva de conduta. Então, os soldados são cópias dos seus superiores, copiando muitas vezes as condutas do que é considerado senso comum entre a corporação. Não precisamos ir muito longe para entender isso, o próprio ciclo de formação da Polícia Militar já nos garante que o espaço é criado não para refletir e sim para reproduzir práticas inquisitórias de violência.
O soldado e o policial são, na verdade, o fruto da sua própria corporação, corporação esta que garante a repressão e a violência como seu carro-chefe. Este é o sentido da criação deste Projeto de Lei: o intuito aqui é garantir que o militar que venha a ser truculento e violento com qualquer civil seja julgado por quem legitimaria sua conduta, ou melhor, por quem ensina que esta é a conduta correta. Este Projeto de Lei serve para legitimar a ação violenta que virá dos militares sobre os civis durante as Olímpiadas, seja ela qual for, inclusive, a morte.

Imagem: Mantelli

Não é de hoje que o extermínio no Brasil é legalizado, basta olharmos para os dados e informações disponíveis sobre a violência. O mapa da violência de 2015 mostra que quase cinco brasileiros morrem por hora no País. 59% das mortes por armas de fogo registradas (24.882) foram de pessoas na faixa de 15 a 29 anos. O Mapa da Violência Contra Mulher mostra que 13 mulheres são assassinadas por dia, em média, no país. Os dados do GGB mostram que 318 gays foram mortos em 2015 em todo o País. Desse total de vítimas, o GGB diz que 52% são gays, 37% travestis, 16% lésbicas, 10% bissexuais. E os dados da Anistia Internacional dos 30.000 jovens vítimas de homicídios por ano no Brasil, 77% são negros. Os crimes dolosos contra vida neste país têm cor e gênero. Contudo, devemos nos atentar com projetos que surgem no intuito de legitimar ainda mais a institucionalização do extermínio, porque no fim das contas nós sabemos que os corpos que estarão no chão serão de negros, mulheres e LGBT’S.
E como isto interfere na vida das mulheres? Com a notória criminalização dos movimentos sociais, intensificada cada dia mais pelo governo golpista interino, sabemos que as mulheres são alvos de perseguição. Não é à toa que vivemos de todos os lados a criminalização do feminismo, começando na própria educação com a proposta da escola sem estudo de gênero.
Estamos na mira do conservadorismo e qualquer prática de repressão às mulheres também perpassa sobre seus corpos. Não é a toa que sempre escutamos relatos de mulheres que foram assediadas ou violentadas sexualmente durante a lavratura de um flagrante, ou até mesmo quando são as próprias vítimas de alguma conduta desviante.
Fato é que a militarização já nos reprime e nos violenta, se formos suspeitas de alguma intervenção contra a segurança pública durante as Olimpíadas estará legalizado qualquer tipo de repressão violenta contra nossos corpos, inclusive, o estupro como forma de penalização. E aí fica o questionamento, como a Justiça Militar responderá a violência machista que é um dos fundamentos para a própria existência da militarização?
A resposta vocês já imaginam qual seja: sangue. Se não bastasse o fantasma da mercantilização dos nossos corpos que nos persegue durante os megaeventos, estaremos agora na mira dos militares que poderão, inclusive, se apropriar dos nossos corpos caso decidam que somos uma afronta a segurança das Olimpíadas.
Está é só mais uma face da barbárie destas Olimpíadas, vamos nos preparando porque a vitória do Brasil nas modalidades olímpicas pode não ser certa, mas o luto não só está garantido como legitimado por Lei.

*Paola Bettamio Mendes é militante da Marcha Mundial das Mulheres no Rio de Janeiro, Advogada e Mestranda em Direitos Humanos e Políticas Públicas na UFRJ.