segunda-feira, 2 de março de 2009
8 de março: Dia Internacional das Mulheres de Luta
8 de março: Dia Internacional das Mulheres de Luta
*Analine Specht
“As feministas burguesas demandam igualdade de direitos sempre e em qualquer lugar. As mulheres trabalhadoras respondem: demandamos direitos para todos os cidadãos, homens e mulheres, mas nós não somos somente mulheres e trabalhadoras, também somos mães; E como mães, como mulheres que teremos filhos no futuro, demandamos um cuidado especial do governo, proteção especial do Estado e da sociedade.” Alexandra Kolontai**
Pensar no 8 de março, Dia Internacional da Mulher nos remete à compreender a luta histórica das mulheres socialistas. A história mostra que a construção de uma data de demarcação e mobilização, de lutas e de conquistas das mulheres tem sua primeira referência na II Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, realizada na Dinamarca, em 1910, a partir da proposta da revolucionária russa Clara Zetkin, apresentando a resolução de instaurar oficialmente um Dia Internacional das Mulheres.
O Dia Internacional das Mulheres, ao contrário do que o senso comum tenta fazer crer, está intrinsecamente vinculado a ação e mobilização das mulheres de esquerda, especialmente das mulheres socialistas.
Foi a partir da ação política das operárias sufragistas norte americanas, que em 3 de maio de 1908 é proposto o “Woman’s Day” (Dia da Mulher), reivindicando igualdade econômica e política para as mulheres, denunciando a exploração e a opressão das mulheres e pautando especialmente o direito ao voto. Posteriormente o ”Woman’s Day”, ainda sem uma data fixa, ganhou adesão e se expandiu para além das mobilizações sindicais e das mulheres operárias, passando a ser promovido pelos Partidos Socialistas e Comunistas.
Em 1914 o Dia Internacional da Mulher foi comemorado pela primeira vez no 8 de março, sendo a data escolhida por praticidade apenas, sem nenhuma referência maior. A definição do 8 de março tem uma importante relação, também, com a atuação das operárias russas que preparavam a revolução de 1917, com a realização de uma ação política em 23 de fevereiro pelo calendário russo ou 8 de março pelo calendário gregoriano.
Consta que na Conferência Internacional das Mulheres Comunistas em 1921 "uma camarada búlgara propõe o 8 de março como data oficial do dia internacional da mulher, lembrando a iniciativa das mulheres russas". (textos SOF). O Dia Internacional da Mulher passa a ser celebrado oficialmente em 1922.
Outro fato atribuído ao 8 de março é o incêndio numa fábrica têxtil em 1857 em Nova Iorque, que teria levado a morte de 129 operárias. Sobre este fato não existem referências concretas, entretanto, este episódio não é descartado, pois muitas são as ligações entre as ações e movimentos das mulheres norte americanas de esquerda e a construção do Dia Internacional da Mulher.
Nesse sentido, é fundamental compreender e considerar o processo histórico que culminou com a constituição do Dia Internacional da Mulher, não pautando o mesmo apenas por um fato em determinado momento da história. É Imprescindível analisar que desde o século XIX as mulheres socialistas já denunciam as condições de opressão e de exploração do sistema capitalista patriarcal, já reivindicam o direito a igualdade econômica, política e social.
Hoje em pleno século XXI as bandeiras de luta das mulheres socialistas feministas ainda estão centradas na luta pela superação do sistema capitalista patriarcal, denunciando as mesmas condições de exploração e opressão, só que agora exercidas com novos instrumentos e de forma muito mais violenta. No século XXI para além da exploração do trabalho das mulheres vivemos uma realidade em que a vida e o corpo das mulheres são meras mercadorias, em que a opressão ocorre por meios subjetivos, imateriais que formam a lógica do senso comum da sociedade capitalista.
Os desafios e as lutas das mulheres do século XXI são mais complexos, todavia, hoje contam com uma forte atuação política de novos movimentos sociais. Se no contexto do início do século passado as participação e visibilidade das mulheres ocorria pelos partidos socialistas e comunistas e pelo movimento das operárias, hoje existem várias organização feministas, movimentos altermundistas como a Marcha Mundial das Mulheres.
Recuperar a história e o verdadeiro protagonismo no processo de construção do Dia Internacional da Mulher é de fundamental importância, pois ao longo dos anos o capitalismo patriarcal conservador foi se apropriando desta data como o objetivo de anular o sentido político do 8 de março, buuscando transformar esse dia de luta em mais uma data “comercial”.
Para isso o sistema promove o “Dia da Mulher” como promove o " dia da criança" ou o "Natal", u seja, como se os antagonismos de classe e a exploração das mulheres não tivessem nenhuma importância. Assim sugerem flores e presentes às mulheres (consumidoras) e parabenizam o fato de "ser mulher", conformando um senso comum rasteiro e superficial.
O mesmo senso comum despolitizado que enaltecem as mulheres (porque nasceram com este sexo e não pelo que representam como proposta política), como Yeda Crusius, Mônica Leal, Martha Medeiros, Lya Luft, Rita Camata, Mirian Leitão, Hillary Clinton, Angela Merkel, Condoleezza Raise entre muitas outras que se notabilizam por representar politicamente o conservadorismo neoliberal que condena na atualidade milhares de mulheres trabalhadoras à miséria.
Em sua ação política, sequer conseguem ter uma vaga compreensão do que seja opressão e exploração de gênero, pois são produtos do sistema, que apenas reproduzem a sua lógica burguesa, ocidental, racista, xenófoba e maschista. Mulheres como estas envergonham as verdadeiras mulheres de luta.
Por isso neste 8 de março de 2009, devemos saudar as grandes mulheres que fizeram e fazem a história, que contribuíram e contribuem cotidianamente para transformação social, que lutaram e lutam por uma sociedade realmente emancipada, ou seja, socialista.
Saudemos o exemplo de luta de mulheres como Rosa Luxemburgo, Alexandra Kolontai, Frida Kahlo, Simone de Beuvoir, Patrícia Galvão, Anita Malfati, Tarsila do Amaral, Gertrudis Gómez de Avellaneda y Arteaga, Ana Betancourt Agramonte. Bertolina Sisa, entre outras que fizeram a história, que não se calaram e continuam a nos inspirar.
Saudemos a Maria da Penha, Dilma Rouseff, Rosa Guillen, Marilena Chauí, Renée Coté, Nalu Farias, Rejane Oliveira, Rigoberta Menchú, Luiziane Lins entre muitas outras que fazem do cotidiano o espaço de lutas.
Saudemos a todas as trabalhadoras socialistas assalariadas, servidoras públicas, trabalhadoras autogestionárias da Economia Solidária e as militantes, todas mulheres fortes e de luta que enfrentam duplas, triplas jornadas e não abandonam as trincheiras da ação política ideológica.
Saudações feministas às mulheres de luta!
*militante da Marcha Mundial das Mulheres RS e Rede Economia e Feminismo RS
** fragmento do artigo fragmento do artigo “8 de marzo de 1913, o Dia da Mulher” publicado em 17 de fevereiro de 1913, disponível em http://www.kaosenlared.net/noticia/8-marzo-1913-dia-mujer
Referências:
- 8 de março Dia Internacional da Mulher: em busca da memória perdida – SOF, disponível em http://www.sof.org.br/
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Gostaria de saber como se expandiu o "DIA INTERNACIONAL DA MULHER" no mundo!
ResponderExcluirse possivel enviar texto para meu email
gaozinho_pacheco@hotmail.com
Grato!!