quinta-feira, 12 de março de 2009
SOMOS TODAS CLANDESTINAS
por Sirlanda Selau
Militante da Marcha Mundial das Mulheres
A aliança capitalismo–patriarcado faz de todas nós clandestinas.
Clandestinas, de uma ordem economicamente injusta e socialmente desigual.
E quando inventamos uma economia solidária, quando anunciamos que não pagaremos a conta da crise econômica mundial.
Clandestinas porque amamos uma outra mulher e denunciamos a lesbofobia renegante do direito de amar.
Clandestinas pela criminalização do aborto e quando negamos a função social da reprodução.
Clandestinas porque queremos ser donas dos nossos corpos e nossas vidas.
Clandestinas quando o patriarcado coloca na gaveta nossa produção literária e elaboração cientifica.
Clandestinas porque na desobediência civil denunciamos com ação direta o latifúndio improdutivo e a ameaça dos transgênicos e da monocultura, como uma ameaça à agricultura familiar, a soberania alimentar e a aceleração da degradação ambiental do planeta.
Clandestinas por querer desnaturalizar a hierarquização e valorização das tarefas socialmente definidas para homens e mulheres.
Somos todas clandestinas quando denunciamos a violência sexista e exigimos que a agressão, a violência física e psíquica, seja banida das nossas vidas, como uma condição para a igualdade.
Clandestinas quando cobramos a promessa constitucional de um Estado laico e de direitos sociais, econômicos e culturais, que até hoje não encontraram as mulheres.
Clandestinas quando realizamos o direito de manifestação e expressão e recebidas por um estado policialesco somos noticiadas como criminosas.
Somos clandestinas, porque queimamos na fogueira e porque hoje nossos corpos são vendidos como mais uma mercadoria: nas propagandas de cerveja, nas revistas de moda e nas prateleiras do varejo.
Clandestinas, quando cumprimos uma jornada de trabalho para receber 30% a menos do que os homens. E quando realizamos o trabalho doméstico, de cuidados e de manutenção da família, que fica invisível no cômputo geral da economia dos homens.
Somos clandestinas quando rechaçamos as guerras e hasteamos a bandeira da paz no mundo, contrapondo aqueles que lucram com a indústria bélica e produzem a morte de milhares de inocentes ao redor do planeta. Maioria mulheres e crianças.
Clandestinas porque denunciamos a intolerância, a desigualdade e a submissão entre os sexos.
Esta clandestinidade é o que nos faz marchar!
No 8 de março de 2009 marchamos na fronteira, de mãos dadas: brasileiras, uruguaias e argentinas. Marchamos ao redor do mundo, contra esta clandestinidade imposta, para reafirmar que marchamos para mudá-lo.
As feministas marcham, porque como sujeitas de sua própria história, não se sujeitam a esta condição de clandestinidade socialmente construída.
Que se cuidem os machistas, pois, marcharemos sempre, até que sejamos todas livres!
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