quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Escritores negrxs, por que não?

No mês da Consciência Negra, uma reflexão sobre a literatura afro-brasileira

Por Jeanice Dias Ramos

Com a promulgação da Lei N. 10.639, em 2003, que tornou obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira, muitos diziam que não existia bibliografia suficiente para açambarcar necessidades. Bebendo de fontes como os Estados Unidos, onde Angela Davis, ativista, pensadora, com suas obras: Mulheres, Raça e Classe; Mulheres, Cultura e Política; e A Liberdade é Uma Luta Constante, trilogia que é tratada como bíblia entre as feministas negras. Ela afirma: “Se não tivermos medo de adotar uma postura revolucionária – se desejarmos, de fato, ser radicais em nossa busca por mudança, precisaremos atingir a raiz da nossa opressão. Afinal, radical significa simplesmente compreender as coisas desde a raiz. Nossa pauta de empoderamento das mulheres deve, portanto, ser inequívoca na contestação do capitalismo monopolista como o maior obstáculo para a conquista da igualdade”.
Já a escritora Bell Hooks, em sua obra Olhares Negros – Raça e Representação, registra: “Se destinam a desafiar, inquietar, subverter e ser disruptivos”. Essas e outras ativistas tornaram-se referências para o movimento negro, mesmo que suas obras tenham chegado com mais de 30 anos de atraso. Na época, existia pouco autor negro brasileiro publicado.
Pois bem, atualmente, desde a literatura, com Conceição Evaristo, que marca o espectro da escritora brasileira com seu romance Ponciá Vicêncio e Olhos D’Água, entre outros achados, aborda temas como a discriminação racial, de gênero e de classe.
Elisa Lucinda, rica na poesia, desenvolveu uma obra de fôlego, o romance Fernando Pessoa, O Cavaleiro de Nada. Reinventando-se, recria a biografia de Fernando Pessoa através de um personagem-narrador, criatura moldada pela poeta.
A mestre em Filosofia e feminista, Djamila Ribeiro, se posicionando, reage com a seguinte fala: “Queremos e reivindicamos que a história sobre a escravidão no Brasil seja contada por nossa perspectiva também e não somente pela perspectiva de quem venceu”.
Uma das maiores intelectuais do Brasil, Sueli Carneiro, filósofa, é ativista e uma das principais autoras do feminismo negro no Brasil, fundadora e atual diretora do Geledés – Instituto da Mulher Negra. É ela quem afirma em sua obra Escritos de Uma Vida: “A mulher negra é a síntese de duas opressões, de duas contradições essenciais; a opressão de gênero e a da raça. Ser mulher negra é experimentar essa condição de asfixia social”.
E para que não deixemos de citar um escritor negro, aí vai, Akins Kintê. Possui várias obras eróticas como InCorPoros – Nuances de Libido, em co-autoria com Nina Silva. Publicou o projeto 4° Escuro – cartões eróticos; organizou em parceria com o escritor Cuti a antologia Pretumel de chama e Gozo – Antologia da poesia erótica negro-brasileira.
Podemos citar ainda o Falange Gaúcha, livro-reportagem de Renato Dornelles que trata sobre o Presídio Central e a História do Crime Organizado no Rio Grande do Sul.
Todas as obras citadas são referência para uma leitura instigante e verdadeira. Os autores negros estão aí, presentes, pulsantes, instigantes. Leia-os!

segunda-feira, 30 de setembro de 2019


ALERTA FEMINISTA
O RS NÃO QUER MAIS PROJETOS DE MEGAMINERAÇÃO


Mulheres reunidas no dia 28 de setembro de 2019, na sede Sindicato dos Bancários do Litoral Norte-RS, com o intuito de criar um Núcleo da Marcha Mundial de Mulheres do Litoral Norte, em sua primeira ação deliberaram, preocupadas com os impactos sociais e ambientais que está preste a ser sofridos pela região metropolitana podendo se estender até a Lagoa dos Patos  a médio prazo, caso aprovem a instauração da Mina Guaiba no Rio Grande do Sul, reivindicamos audiências públicas em todos os municípios afetados pelos projetos de megamineração para o seu licenciamento. O Projeto em debate de licenciamento pela FEBAM, o Mina Guaiba, que irá ocupar uma área de 5000 hectares, para que esta decisão final aconteça reivindicamos plebiscitos e audiências em todos os municípios da região.



“SIM A VIDA, NÃO À DESTRUIÇÃO”

A Mina Guaíba, que está localizada a 16 km da capital do estado irá invadir uma área de preservação ambiental- APA do Delta do Jacuí-  haverá contaminação da água e rebaixamento de lençóis freáticos, pois encontra-se a 1,5 km do rio Jacuí, responsável por mais de 80% da água que chega ao Guaíba, abastecendo Porto Alegre e parte da Região Metropolitana sem contar com poluição do ar nas cidades próximas. Será o fim da produção agroecológica, em especial o arroz, produzido no assentamento da reforma agrária Apolônio de Carvalho. O estudo de impacto desconsiderou comunidades indígenas do entorno afetando 4 milhões de pessoas da região metropolitana; 7.500 desempregos diretos afetando agricultores(as) e pescadores(as); impacto imobiliário com a desvalorização de imóveis na região.



PARA O FEMINISMO O CAPITALISMO NÃO TEM ECO!

Sabemos por experiência de nossas companheiras nas outras regiões de mineração do país que estes Mega projetos, com a promessa de desenvolvimento econômico e empregos, acabam por empobrecer mais ainda as populações vulneráveis das cidades, acabam com a agricultura de subsistência que muitas mulheres tem no seu quintal e desestruturam totalmente as relações comunitárias e afetivas que as famílias em especial as mulheres tem com seu território, o que a médio prazo traz aumento de adoecimentos mentais aumentando inclusive os índices de suicídios, como os já registrados em outras regiões de populações atingidas pela megaminneração.

MULHERES TERRA, ÁGUA E ENERGIA NÃO SÃO MERCADORIAS!

Temos o direito de decidir, de maneira soberana, entre a vida ou a destruição.
Esta luta não é apenas das entidades ambientalistas, mas de todos e todas que se importam com a vida no RS e no planeta.


SEGUIREMOS EM MARCHA ATÉ QUE TODAS SEJAMOS LIVRE!
RESISTIMOS PARA VIVER, MARCHAMOS PARA TRANSFORMAR!


Marcha Mundial de Mulheres – Rio Grande do Sul
Osório, 28 de setembro de 2019.


sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Mulheres em marcha por água, terra e agroecologia e contra a Megamineração no RS



Por Gabriela Cunha, Isabel Freitas e Isabella Madruga da Cunha, militantes da Marcha Mundial das Mulheres no RS

O papel do Brasil na economia mundial capitalista é essencialmente o de fornecedor de minérios, dentre outras commodities. Vejamos, em 2017 o Brasil foi o segundo maior exportador de minérios do mundo [1]. Mesmo que o extrativismo esteja intrinsecamente relacionado com a colonização, o que se percebe é que nos últimos 30 anos tem ocorrido uma intensificação do extrativismo nos países do sul global ou de terceiro mundo, como o Brasil. Maristela Svampa, socióloga argentina, aponta uma tendência dos países do norte em deslocar das suas fronteiras as primeiras fases da atividade extrativa, no sentido de preservar a natureza em seus territórios, porquanto isso significa em maior destruição nos países do sul global utilizados como fonte de recursos e sumidouro de resíduos [2].
Nesse contexto é que o Estado do Rio Grande do Sul também se tornou alvo, estando seus territórios ameaçados pela expansão do que chamamos de “fronteira da mineração”. Há mais de 160 projetos planejados por empresas privadas transnacionais para extração de diversos tipos de minérios, na sua grande maioria localizados nas regiões do bioma Pampa.
Até então, já ocorreram audiências públicas em alguns dos municípios de interesse minerários [4], que é parte obrigatória do processo administrativo de licenciamento ambiental visando a participação da comunidade nas decisões. Porém, é sabido que apenas uma audiência pública não cumpre a função de garantir a democracia nos processos, e há casos de projetos que foram efetivados mesmo tendo a maioria da população se manifestado contrária [5]. Através destas audiências públicas, iniciou-se uma mobilização intensa por moradores das regiões atingidas, movimentos sociais populares, estudantes, pesquisadores, entidades ambientalistas e população local em geral, com objetivo de elaborar questionamentos, sanar dúvidas, apontar lacunas e instaurar um amplo e profundo debate público para garantir que suas vozes sejam ouvidas, e que a atividade minerária não seja simplesmente imposta à população gaúcha.
Os recentes casos de desastres ambientais provocados pela mineração trouxeram os impactos e as violações de direitos humanos causados por essa atividade econômica para o centro do debate público nacional. O rompimento das barragens em Mariana e Brumadinho em Minas Gerais, causaram a morte de mais de 320 pessoas, mataram a vida dos rios Doce e Paraopeba e o meio de sustento de alimento e trabalho de diversas famílias [6]. Em 2018 houve vazamento de Bauxita no rio Pará, na região do município de Barcarena no Estado do Pará [7]. O avanço do garimpo na Amazônia, em busca de principalmente ouro, desmata e contribuí com o extermínio dos povos indígenas e tradicionais que resistem duramente para proteger seus territórios, modos de vida e a natureza. Agora, o governo federal articula para liberação de mineração em terras indígenas já demarcadas [8]. A mineração de Cobalto na África, na cidade do Cabo, uma das regiões mais biodiversas do mundo como a Amazônia, é realizada por um trabalho extremamente explorado da população pobre, dominada por facções, e que no seu cotidiano fazem parte os estupros coletivos de meninas e mulheres [9]. É fato o aumento da pobreza das regiões que se instalam cavas de mineração, acompanhada do aumento de depressão, do alcoolismo, do suicídio e da prostituição da população trabalhadora nas minas ou moradora do entorno [10].
Os projetos de tornar o Rio Grande do Sul mais um território da mineração no Brasil, não podem ser impostos pelos poderes privados das empresas transnacionais interessadas e do Estado cúmplice. Toda atividade mineradora causa profundos e definitivos impactos socioambientais. Assim, este é o momento de refletir sobre algumas questões: Qual o tipo de desenvolvimento que queremos? A quem serve o “desenvolvimento” supostamente proporcionado pela mineração? Qual o modelo energético que queremos? E como efetivar um desenvolvimento verdadeiramente sustentável [11]?
Um dos projetos previstos para o RS é a maior mina de carvão mineral a céu aberto do Brasil. Denominada Mina Guaíba, ela se localizaria em área de assentamento rural do INCRA no qual as famílias produzem alimento agroecológico, especialmente o arroz orgânico, entre outros [12], a pouco mais de 500 metros da Área de Proteção Ambiental do Delta do Jacuí, onde o Rio Jacuí deságua no lago Guaíba, área alagadiça com alta biodiversidade e diversas espécies de flora e fauna protegidas por lei. Uma possível contaminação das águas do entorno da onde pretende se instalar a mina, compromete o abastecimento de água de toda a Região Metropolitana de Porto Alegre (4.3 milhões de habitantes) que depende das águas do Guaíba e do Jacuí para produção de água potável [13]. A Mina Guaíba atende a Política Estadual do Carvão Mineral e que institui o Polo Carboquímico do Rio Grande do Sul, aprovada por quase unanimidade por todos os deputados em 2017 [14]. Caso concretizado, o projeto de instalação da Mina Guaíba elevará o RS a outro patamar nacional e internacional quanto a exploração, produção e venda de carvão mineral e a maior questão a ser posta neste momento é de quem será beneficiado com esta atividade? Quem será atingido? Há, de fato, benefícios para as e os trabalhadores? E os pequenos produtores rurais, assentados, povos e comunidades indígenas e tradicionais cujos territórios serão atingidos?
Nós, feministas antirracistas, anticapitalistas, na luta por outra sociedade que tenha como centralidade a sustentabilidade da vida, nos últimos anos, sob a consigna “a natureza não é uma mercadoria, as mulheres também não” participamos ativamente das lutas contra a mercantilização de recursos naturais que são bens comuns dos povos. No Brasil, o modelo de desenvolvimento defendido pelos governos, a partir de megaprojetos regionais, seja de mineração, seja de usinas hidroelétrica, seja de polo “produtivo” para livre circulação de mercadorias, visa somente atender aos interesses do grande capital em seu estágio de extrema violência contra a vida [19]. A partir das trocas de experiências entre as mulheres de diversos países, acumulamos o quanto é degradante para a vida, e mais ainda para as mulheres [20], os impactos de uma mineração que não está a favor das demandas básicas da população para produção e reprodução da vida, mas sim para venda de matéria prima para outros países a preços baixos, como no caso do Brasil.
As mazelas deixadas pelos projetos de mineração que expulsam pessoas dos seus territórios recaem implacavelmente sobre as mulheres. Somos nós as principais vítimas da histórica e injusta divisão sexual e racial do trabalho, somos as que cuidamos da saúde física e mental da família e da comunidade, cuidamos da alimentação e da água que a cada dia estão mais envenenadas. Portanto, nossa luta é por terra para morar e produzir alimentos saudáveis e, trabalho com dignidade, pelo uso consciente dos bens comuns naturais por todas/os que dela necessitam para viver [21]. Nós feministas da Marcha Mundial das Mulheres denunciamos há tempos os impactos degradantes gerados pelo modelo de desenvolvimento capitalista, entre eles, os provocados pela mineração predatória. [22].  Nossa tarefa tem sido dialogar sobre como esse modelo passa a ter como território em primeiro lugar, o corpo das mulheres e meninas, precarizando a vida em todos os sentidos. A promessa do emprego, do desenvolvimento das regiões, coloca trabalhadores contra trabalhadores e o discurso dos gestores públicos se fundem com o discurso dos “empreendedores” do grande capital [23]. Num contexto de completa desregulamentação extinção dos direitos sociais, o emprego propagandeado pelos capitalistas é trabalho precário, e os direitos da constituição de 1988 passam a ser difamados como privilegio.
A história recente das lutas dos povos latino-americanos tem demonstrado que é chegada a hora de dar um basta na aposta em modelos de desenvolvimento alinhados com o capitalismo financeiro neoliberal. É preciso abandonar a visão de que crescimento econômico, compreendido no sentido limitado de aumento do PIB, da produção de dinheiro no país, seja igual a produção de benefícios para toda a população.
Diante deste contexto, foi criado o Comitê em Combate a Megamineração no RS, reunindo visões diversas do campo socioambiental, composto por mais de 150 entidades que lutam para barrar esses projetos e debater com a sociedade um modelo energético e minerário que seja soberano e popular [24]. A Marcha Mundial das Mulheres do RS compõe este comitê [25] contribuindo com o acúmulo do movimento feminista para as estratégias e mobilização das ações do Comitê, pois só com a conscientização das populações gaúchas e seu protagonismo é que será possível barrar esses projetos e concretizar a criação de alternativas de desenvolvimento que sejam socialmente justas e sustentáveis. Fortalecer a produção agroecológica de alimentos e a soberania dos povos com suas relações culturais e afetivas, entre si e com a terra, é um caminho possível [26].

Para o feminismo, o capitalismo não tem eco. Por isso, seguiremos em marcha! Por água, terra e agroecologia e contra a Megamineração no RS!   

Links de referências:
[2] SVAMPA, Maristela. Modelo de desarrollo e cuestión ambiental em América Latina: categorias y
escenarios em disputa. In: WANDERLEY, F. (coord.). El desarrollo em cuestión: reflexiones em América
latina. La Paz: CIDES, OXFAN y Plural, 2011. p. 411-441. Disponível em: https://bit.ly/2kxa73x.

quarta-feira, 22 de maio de 2019

Saneamento básico e a vida das mulheres: porque dizemos não a MP 868/2018

Por Gabriela Oliveira da Cunha – militante da Marcha Mundial das Mulheres RS e acadêmica de Engenharia Ambiental e Sanitária

Os ataques aos diretos básicos e duramente conquistados da classe trabalhadora do Brasil por uma “onda” política reacionária e conservadora, que ascendeu através do golpe de estado em 2016, já estão sendo sentidos no cotidiano da esmagadora maioria dos e das brasileiras, e deve vir mais por aí. Esta “onda” é essencialmente machista e alicerçada na ordem patriarcal, pois é promovida por homens brancos e serão as mulheres as mais atingidas e prejudicadas. Neste texto apresentarei o porquê disto aprofundando o pensamento sobre um dos setores da nossa sociedade no qual é direito fundamental e uma atividade essencial à produção da vida digna e saudável: o saneamento básico. 

O saneamento básico é um conjunto de atividades, infraestrutura e serviços que cuidam do abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, gestão de resíduos (lixo), limpeza urbana e gestão das águas pluviais (chuva). É reconhecido e estabelecido como um direito básico e fundamental para todas pessoas, pois ninguém cresce e se desenvolve com saúde e felicidade sem água potável, em um meio insalubre, sujo, fedorento e com alto potencial de transmitir diversas doenças. O saneamento básico é o cuidado com os meios em que vivemos e com a natureza, e está profundamente ligado com a qualidade das águas do planeta.

No final do ano de 2018, a MP 868 foi aprovada sem nenhum diálogo com o setor do saneamento e da saúde pública, pelo ilegítimo presidente Temer que assumiu de maneira antidemocrática e perversa. Esta medida provisória altera a legislação do setor, modificando nossa Política Nacional de Saneamento Básico de 2007 que foi criada e aprovada como um compromisso com a sociedade brasileira em valorizar o bem-estar e a saúde a partir do desenvolvimento do saneamento básico. Esta medida abre espaço para o setor privado, no momento que alterou o artigo que diz que os municípios e as empresas estaduais públicas de saneamento podem fechar contrato sem precisar passar por todo um processo burocrático e competitivo licitatório. Agora, com esta alteração, as empresas públicas devem entrar em um processo de competitividade junto a empresas privadas, perdendo nossa garantia de prestação de serviço por entidade pública que visa a universalidade e não o lucro individual de seus proprietários. Outro impacto significativo será a perda do subsídio cruzado, uma maneira que as empresas públicas encontravam para subsidiar os investimentos nas pequenas cidades e regiões mais periféricas usando dos rendimentos das grandes cidades e regiões mais ricas. Com a mudança, as empresas privadas vão disputar pelo o atendimento destas áreas mais lucrativas e não vão subsidiar as menores e mais pobres. Hoje, a MP encontra-se em discussão no congresso pois estamos em luta contra a implementação do texto atual. Queremos que as mudanças e reformas sejam feitas de maneira democrática, com diálogo com a população e principalmente com os mais atingidos como, por exemplo, as mulheres.

As mulheres são as mais atingidas e prejudicadas quando não acessam o saneamento básico, uma vez que, desde que nascem, são ensinadas a dar conta de toda a responsabilidade dos cuidados da família. Historicamente as mulheres se veem sobrecarregadas de trabalhos domésticos no qual não é reconhecido e remunerado, além de muitas vezes também estarem ocupando cargos de trabalhos ditos formais, tendo jornadas triplas de trabalho. Onde não há saneamento básico, há doenças, e são as mulheres as responsáveis por cuidar dos doentes. Também, são as mulheres responsáveis pela seguridade da alimentação e, caso não haja água de qualidade, isto torna-se uma tarefa arduamente difícil. Quando as comunidades e famílias estão doentes, significa que mulheres estão doentes, porém mais sobrecarregadas que os restantes de trabalho, preocupação e carentes de cuidados de si mesmas.      

Este é apenas um setor, dos muitos, que estão sendo pauta de discussão no congresso nacional que ferem nossos direitos. A MP 868/2018 vem disfarçada de “medida necessária para conquistar o acesso universal do saneamento básico já que o setor público não tem recursos”. Há um grande lobby acontecendo, e não é de hoje, com o objetivo de enfraquecer o setor público que fornece esses serviços, construindo uma imagem de insuficiência e incapacidade perante a sociedade. Afinal, na lógica do lucro, grande ideia mercantilizar este setor, não é mesmo? Pois, sendo a água o bem mais essencial para se viver, absolutamente todas as pessoas necessitam dela. Assim, dominam e decidem, mercantilizando o setor. Consequentemente decidem por nós, pelo bom desenvolvimento da nossa vida ou não, decidem as áreas prioritárias para avançar os serviços, decidem quem merece ou não merece acessá-lo. E, por óbvio, as áreas escolhidas são as quais podem gerar mais lucros e manter os privilégios aos privilegiados. É por isso que este serviço deve ser público, no qual a prioridade seja a universalidade e que os rendimentos sejam investidos em mais expansão de qualidade de vida há quem ainda não têm. 

Por isso resistimos para viver e marchamos para transformar esta realidade. Estamos juntas aos movimentos sociais que lutam pela defesa do meio ambiente saudável e dos bens comuns, e somos contra a mercantilização da água assim como o patriarcado faz com os nossos corpos. Lutamos pelo acesso ao saneamento básico àqueles territórios que atualmente são precarizados, pois só assim é possível transcender a situação de pobreza, doença e violência. Transformar esta realidade é transformar a vida das mulheres.



quarta-feira, 15 de maio de 2019

MULHERES CONTRA OS CORTES DE VERBA NA EDUCAÇÃO!

Hoje, dia 15 de maio, milhares de brasileiras e brasileiros vão as ruas defender a educação livre, pública e de qualidade! O corte de verbas para educação do governo Bolsonaro, que pode levar instituições a falência, mostra o quanto desprezam o desenvolvimento da educação pública e de qualidade. As universidades já vem sentindo os cortes desde a aprovação da EC 95 lá no governo Temer, pós golpe de 2016, e mais cortes irá impossibilitar a continuidade destas instituições.

Defendemos a educação pública e de qualidade pois defendemos a autonomia das pessoas, que se desenvolve com conhecimento e troca de saberes. O acesso a educação universal, e o livre pensamento dentro destes espaços, é fundamental para o desenvolvimento da ciência e da tecnologia brasileira para nossa soberania.

É por isso que as mulheres são contra o projeto Escola Sem Partido, que fere o livre pensar, que se diz imparcial e não ideológico, quando na verdade aprofunda a realidade que é desigual, aprofunda a pobreza e a violência que milhares de mulheres que sofrem todos os dias. Pois, sendo a educação socialmente referenciada, esta acaba sendo referenciada na sociedade racista e machista como é. Não permitir o pensamento crítico e diverso, é impossibilitar a construção de uma outra sociedade coletiva que transcenda esta realidade tão cruel.

Defender a educação pública é defender o direito de todas e todos a ter acesso a escolas e universidades, sem seletividade baseada em renda, cor e privilégios.

Hoje vamos as ruas fazer balbúrdia contra todos os retrocessos e retiradas de direitos que este governo promove. 

Vamos marchar!

Em Porto Alegre as atividades começam desde cedo nas ruas. A partir das 14h concentração no Instituto de Educação General Flores da Cunha (Avenida Osvaldo Aranha). Depois, abraço ao Instituto e a Faced - Faculdade de Educação da UFRGS. Após, caminhada passando pela UFSCPA, IFRS e INSS.

Às 18h, concentração na esquina democrática!

Acompanhe as atividades de Porto Alegre pelas redes: 

Acompanhe as atividades de outras cidades do RS:
https://www.facebook.com/events/435119220579263/ - Ato em Defesa da Educação - Caxias do Sul
https://www.facebook.com/events/417283392162708/ - ATO - Tira A Mão Do Nosso IF! Campus Sapucaia Em Luta!
https://www.facebook.com/events/457689675002748/ - Dia de mobilização em defesa da educação em Canoas


segunda-feira, 13 de maio de 2019

Negação da Violência Obstétrica: mais uma medida machista do Governo Bolsonaro

Violência obstétrica é a recusa de atendimento, intervenções e procedimentos médicos não necessários, além de agressões verbais e ameaças, muitas vezes veladas. Pode ocorrer no pré-natal, no parto ou pós-parto e no atendimento em casos de abortamento. A maioria das mulheres sequer percebe que sofreu a violência, uma vez que são muito comuns os maus-tratos durante o ciclo da gravidez, parto e puerpério.
A prática da violência obstétrica revela a naturalização e obrigação da maternidade, reduzindo a mulher a um útero, a um processo reprodutivo do qual tem de se recuperar facilmente e sem queixas, reproduzindo a “máxima” de que as mulheres são mais tolerantes à dor.
Segundo estudo realizado em 2010 pela Fundação Perseu Abramo em parceria com o Sesc, uma em cada quatro mulheres é vítima de violência obstétrica no Brasil. As mulheres negras são as mais afetadas pois predomina a ideia de que são fortes e dão conta de aguentar tudo. 
Negando uma realidade presente na vida da mulher brasileira, uma nova orientação do Ministério da Saúde recomenda que seja evitado e, na medida do possível, abolido o termo” violência obstétrica”. O documento emitido pela pasta (e assinado por uma mulher: Mônica Almeida Neri ) afirma que a definição tem um viés ideológico socialista e que o termo se refere ao uso intencional da força e, portanto, não é aplicável a todos os incidentes que ocorrem durante a gestação, parto ou pós-parto.
Mais uma vez, o Governo Bolsonaro dá um passo atrás no avanço de políticas de saúde e de direito das mulheres, reforçando um atendimento desumanizado em um dos momentos mais difíceis na vida de uma mulher.
A própria Organização Mundial de Saúde reconhece a existência dessas agressões e define o termo violência obstétrica como “uso intencional de força física ou poder, em ameaça ou na prática, contra si próprio, outra pessoa ou contra um grupo ou comunidade que resulte ou possa resultar em sofrimento, morte, dano psicológico, desenvolvimento prejudicado ou privação.

TIPOS DE VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA
Violência por Negligência
Esse tipo de violência impõe à gestante uma peregrinação por atendimento durante o pré-natal e por leito na hora do parto, dificultando o acesso da gestante aos serviços de Saúde. Também diz respeito à privação do direito da mulher em ter um acompanhante, o que é protegido por lei desde 2005.

Violência Física
A violência física é uma das mais comuns na hora do parto, marcada pela prática de intervenções desnecessárias e violentas, tais como lavagem intestinal, posição de parto não escolhida pela mulher, não oferecimento de alívio para dor, uso de fórceps, ruptura artificial da bolsa, pressão sobre a barriga, ponto do marido (para deixar a vagina mais apertada), além da imposição da cesariana, ainda que sem indicação clínica. O Brasil, segundo a Organização Mundial de Saúde, é o segundo país com maior percentual de partos realizados por cesárea.

Violência Verbal
É corriqueiro que as mulheres, durante a gestação e no momento do parto, sofram com agressões verbais por meio de comentários constrangedores, ofensivos e humilhantes, inferiorizando as mulheres por sua raça, idade, orientação sexual ou número de filhos. É comum que no momento do parto as mulheres sejam pressionadas a fazer força porque senão, matarão seu próprio filho. As gestantes também costumam ouvir que “na hora de fazer tava bom, não gritou de dor”.

Violência Psicológica
A violência psicológica é marcada por toda ação que causa na mulher sentimento de inferioridade, vulnerabilidade, abandono, instabilidade emocional e insegurança.

Violência Obstétrica em caso de abortamento
Em casos de abortamento é muito comum que as mulheres sejam humilhadas com a negação ou demora no atendimento, acusação sobre a causa do aborto, procedimentos invasivos, culpabilização e denúncia criminal. A mulher é condenada de antemão por não ter levado a gestação adiante influenciando uma depressão pós-parto e um processo vexaminoso durante o atendimento.
A violência obstétrica pode ser cometida por médico obstetra, por enfermeiras, anestesistas e toda equipe de saúde, inclusive os atendentes do hospital.
Enfrentamento ao Governo Bolsonaro
Nós, da Marcha Mundial das Mulheres, continuaremos denunciando toda a forma de violência contra a vida, o corpo e os direitos das mulheres. Denunciaremos e enfrentaremos esse governo reacionário, machista, misógino todos os dias!
Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!